sábado, 13 de setembro de 2014

Lula e petistas darão abraço na Petrobrás

Lula vai dar abraço simbólico na Petrobras no próximo dia 15, é a manchete dos jornais de hoje, 13 de setembro de 2014. Pode ser o tal abraço de tamanduá, porém mais sofisticado. 

Dizem que Brutus também abraçou César, escondendo o punhal que cravou nas costas do imperador romano. Punguistas, igualmente, abraçam a vítima e retiram dela a carteira recheada que estava no bolso de trás das calças. 


A presença de tantos malfeitores juntos, num mesmo local, seria uma boa oportunidade para a polícia fazer uma produtiva campana. Vai encher o camburão de gatunos. Estes, conforme se sabe, gostam de voltar ao lugar do crime original.

O povo do Rio de Janeiro deveria saudar a quadrilha lançando sobre ela moedas de centavo e notas rasgadas (aquelas do popular jogo Banco Imobiliário).

A gata borralheira tropical (a partir do original dos irmãos Grimm)


Era uma vez um homem muito rico, cuja mulher adoeceu. Esta, quando sentiu o fim aproximar-se, chamou a sua única filha à cabeceira e disse-lhe com muito amor:

- Amada filha, continua sempre boa e piedosa. O amor de Deus há de acompanhar-te sempre. Lá do céu velarei sempre por ti. E dito isto, fechou os olhos e morreu.

A menina ia todos os dias para junto do túmulo da mãe chorar e regar a terra com suas lágrimas. E continuou boa e piedosa. Quando o inverno chegou (há neve nos trópicos também), a neve fria e gelada cobriu o túmulo com um manto branco. Quando o sol da primavera o derreteu, seu pai casou-se com uma mulher ambiciosa e cruel, fugida da Bulgária, que já tinha duas filhas gêmeas, parecidas com ela em tudo.




Mal se cruzou com elas a pobre órfã percebeu que nada de bom podia esperar delas, pois logo que a viram disseram-lhe com desprezo:

- O que é que esta moleca faz aqui? Vai para a cozinha, que é lá o teu lugar!!! E a madrasta acrescentou:

- Tens razão, filhas. Ela será nossa empregada e terá que ganhar o pão com o seu trabalho diário.

Tiraram-lhe os seus vestidos, vestiram-lhe um macacão muito velho e deram-lhe tamancos de madeira para calçar.

- E agora já para a cozinha! - disseram elas, rindo.

E, a partir desse dia, a menina passou a trabalhar arduamente, desde que o sol nascia até altas horas da noite: ia buscar água ao poço, acendia a lareira, cozinhava, lavava a roupa, costurava, esfregava o chão...

À noite, extenuada de trabalho, não tinha uma cama para descansar. Deitava-se perto da lareira, junto ao borralho, razão pela qual botaram lhe o apelido de Gata Borralheira.

Os dias se passavam e a sorte da menina não se alterava. Pelo contrário, as exigências da madrasta e das suas filhas eram cada vez maiores.

Um dia, o pai ia para a cidade e perguntou às duas enteadas o que queriam que ele lhes trouxesse.

- Lindos vestidos - disse uma.

- Joias - disse a outra.

- E tu, filhinha, Gata Borralheira, o que queres? - perguntou-lhe o pai.

- Um ramo verde da primeira árvore que encontrares no caminho de volta.

Terminada a viagem, ele comprou os vestidos para as enteadas e as joias que tinham pedido e, no caminho de regresso, cortou para a filha um ramo da primeira árvore que encontrou: uma seringueira. Ao chegar em casa, deu às enteadas o que lhe tinham pedido e entregou à filha um galho da seringueira, árvore que produz borracha. Ela correu para junto do túmulo da mãe, enterrou o ramo na terra e chorou tanto que as lágrimas o regaram. Começou a crescer e tornou-se uma bela árvore.

A menina continuou a visitar o túmulo da mãe todos os dias e certa vez ouviu uma bonita pomba branca dizer-lhe:

- Não chores mais, minha querida. Lembra-te que, a partir de agora, cumprirei todos os teus desejos.

Pouco tempo depois desses acontecimentos, o rei anunciou a todo o reino que ia dar uma festa, durante três dias, para a qual estavam convidadas todas as jovens que queriam casar-se, a fim de que o príncipe herdeiro pudesse escolher a sua futura esposa.

Imediatamente as duas filhas da madrasta chamaram a Gata Borralheira e disseram-lhe:

 - Penteia-nos e veste-nos, pois temos que ir ao baile do príncipe para que ele possa escolher qual de nós duas será a sua esposa.

A Gata Borralheira obedeceu humildemente. Mas quando viu as duas luxuosamente vestidas, desatou a chorar e suplicou à madrasta que também a deixasse ir ao baile.

- Ao baile, tu? - respondeu ela - Já te olhaste ao espelho? Olha só esse rosto cheio de alergias. E as perebas nos braços e nas pernas? Cruzes!

A madrasta, face à insistência da Gata Borralheira, acrescentou, ao mesmo tempo em que atirava um pote de lentilhas para as cinzas:

- Está bem! Se separares as lentilhas em duas horas, irás conosco.


A menina saiu para o jardim a chorar e lembrando-se do que a pomba lhe tinha dito, expressou o seu primeiro desejo:

- Dócil pombinha, rolinhas e todos os passarinhos do céu, venham ajudar-me a separar as lentilhas.

- Os grãos bons no prato, e os maus no papo.

Duas pombinhas brancas, seguidas de duas rolinhas e de uma nuvem de passarinhos entraram pela janela da cozinha, e começaram a bicar as lentilhas. E muito antes de terminarem as duas horas concedidas, separaram os grãos. Entusiasmada, a menina foi mostrar à madrasta o prato com as lentilhas escolhidas.

- Muito bem. – disse a madrasta com ironia - Mas que vestido vais usar? E além disso, tu não sabes, dançar. Será melhor ficares em casa.

Desconsolada, a Gata Borralheira começou a chorar, ajoelhou-se aos pés da madrasta e voltou a suplicar-lhe que a deixasse ir ao baile.

- Está bem - disse ela com cinismo - Dou-te outra oportunidade.

E voltou a espalhar dois potes de lentilhas sobre as cinzas.

- Se conseguires escolher as lentilhas numa hora, irás ao baile.

A meiga marina saiu a correr para o jardim e gritou:

- Dóceis pombinhos, rolinhas e todos os passarinhos do céu, venham ajudar-me a separar as lentilhas.

- Os grãos bons no prato, e os ruins no papo.







De novo, duas pombas brancas entraram pela janela da cozinha, depois as pequenas rolas e um bando de passarinhos, e pic-pic-pic escolheram-nas e voaram para sair por onde entraram.

A menina logo correu e mostrou à madrasta as lentilhas escolhidas, mas isso de nada lhe serviu.

- Deixa-me em paz com as tuas lentilhas! Vais ficar em casa e pronto! Ponto final! Et c’est fini!

Virou-lhe as costas e chamou as filhas.

Quando já não havia ninguém em casa, a Gata Borralheira foi junto ao túmulo da mãe, debaixo da seringueira, e gritou:

- Arvorezinha.Toca a abanar e a sacudir. Em vez de borracha, atira ouro e prata para eu me vestir.

A pomba que lhe tinha oferecido ajuda, apareceu sobre um ramo e, estendendo as asas, transformou os seus farrapos num lindíssimo vestido de baile e os seus tamancos em luxuosos sapatos bordados a ouro e prata.

Foi para a festa no palácio real. Quando entrou no salão de baile, todos os presentes se admiraram perante tamanha beleza. Mas as mais surpreendidas foram as duas filhas da madrasta que estavam convencidas que seriam as mais belas da noite. Porém, nem elas, nem a madrasta ou o pai reconheceram a Gata Borralheira.

O príncipe People (este era seu nome, pois era de ascendência inglesa), ficou fascinado ao vê-la. Tomou-a pela mão e os dois começaram a bailar. Durante toda a noite esteve ao seu lado e não permitiu que mais ninguém dançasse com ela.

Chegado o momento de se despedirem, o príncipe ofereceu-se para acompanhá-la, pois ardia de desejo por saber quem era aquela jovem e onde morava. Mas ela deu uma desculpa para se afastar, por momentos, e aproveitou para abandonar o palácio a correr e deixar em baixo de uma árvore o seu formoso vestido e os sapatos.

A pomba, que estava à sua espera, pegou neles com as suas patinhas e desapareceu na escuridão da noite. Ela vestiu o macacão cinzento, o avental e os tamancos e, como de costume, deitou-se junto à chaminé e adormeceu. No dia seguinte, quando se aproximou a hora do início do segundo baile, esperou até ouvir partir a carruagem e correu para junto da árvore:

- Arvorezinha. Toca a abanar e a sacudir. Atira ouro e prata para me vestir.

E de novo apareceu a pomba e a cobriu com um vestido ainda mais lindo que o da noite anterior e calçou-lhe uns sapatos que pareciam de ouro puro. Sua aparição no palácio causou sensação maior ainda do que da primeira vez. O próprio príncipe, que a esperava impaciente, sentiu-se ainda mais deslumbrado. Pegou-lhe na mão e, de novo, dançou com ela toda a noite.

Ao chegar a hora da despedida, o príncipe voltou a oferecer-se para acompanhá-la, mas ela insistiu que preferia voltar sozinha para casa. Mas desta vez o príncipe seguiu-a. De repente, parecia que tinha sido engolida pelo chão. Em vez de entrar em casa, a jovem Gata Borralheira, de vergonha, escondeu-se atrás de uma frondosa seringueira que havia no jardim. O príncipe continuou a procurá-la pelas redondezas, até que decepcionado regressou ao palácio.

A Gata Borralheira abandonou então o seu esconderijo, e quando a madrasta e as filhas chegaram ela já tinha tirado as vestes faustosas  e posto os seus trapos velhos.

No terceiro dia, quando o pai fustigou o cavalo e a carruagem se afastou com a sua esposa e filhas, a menina aproximou-se de novo da árvore e disse:


- Arvorezinha. Toca a abanar e a sacudir. Atira ouro e prata para me vestir.

E a pomba, uma vez mais, trouxe-lhe um vestido de sonho, de seda com aplicações, um suntuoso chale de renda renascença e uns sapatos bordados a ouro para os seus pequeninos e delicados pés. E depois, colocou-lhe sobre os ombros uma capa de veludo dourado.

Quando entrou no salão de baile, a belíssima Gata Borralheira foi recebida com uma exclamação de assombro por parte de todos os presentes. O príncipe apressou-se a beijar-lhe a mão e a abrir o baile, não se separando dela toda a noite.

Pouco antes da meia-noite, a jovem despediu-se do príncipe e pôs-se a correr. O príncipe não conseguiu alcançá-la, mas encontrou na escadaria uns sapatinhos dourados que ela tinha perdido durante a sua precipitada fuga. Apanhou-os e apertou-os contra o coração.

Na manhã seguinte, mandou os seus mensageiros difundirem por todo o reino que se casaria com aquela que conseguisse calçar o precioso sapato. Depois de todas as princesas, duquesas e condessas o terem inutilmente experimentado, ordenou aos seus emissários que o sapato fosse provado por todas as jovens, qualquer que fosse a sua condição social e financeira.

Quando chegaram à casa onde vivia a Gata Borralheira, a irmã mais velha insistiu que devia ser ela a primeira a experimentar e, acompanhada pela mãe que já a imaginava rainha, subiu ao quarto, convencida que lhe servia. Mas o seu pé era demasiado grande. Então a mãe, furiosa, obrigou-a a calçá-los à força, dizendo-lhe:



- Embora te apertem agora, não te preocupes. Pensa que em breve serás rainha e não terás que andar a pé nunca mais.

A jovem disfarçou a dor que sentia e subiu para a carruagem, apresentando-se diante do filho do rei.

Embora ele tenha notado de imediato que aquela não era a bela desconhecida que conhecera no baile, teve que considerá-la como sua prometida. Montou-a no seu cavalo e foram juntos dar um passeio. Mas, ao passar diante de uma frondosa árvore, viu sobre os seus ramos duas pombas brancas que o advertiram:

- Olha para o pé da donzela, e verás que o sapato não é dela...

O príncipe desmontou e tirou-lhe o sapato. E ao ver como o pé estava roxo e inchado, percebeu que tinha sido enganado. Voltou à casa e ordenou que a outra irmã experimentasse os sapatos.

A irmã mais nova subiu ao quarto, acompanhada da mãe, e tentou calçá-los. Mas o seu pé também era demasiado grande.

E a mãe obrigou-a a calçá-los à força, dizendo-lhe:

- Embora te apertem agora, não te preocupes. Pensa que em breve serás rainha e não terás que andar a pé nunca mais.

A filha obedeceu, enfiou o pé no sapato e, dissimulando a dor, apresentou-se ao príncipe que, apesar de ver que ela não era a bela desconhecida do baile, teve que considerá-la como sua prometida. Montou-a no seu cavalo e levou-a a passear pelo mesmo sítio onde levara a sua irmã. Ao passar diante da árvore onde estavam as duas pombas, ouviu-as de novo adverti-lo:

- Olha para o pé da donzela, e verás que o sapato não é dela...

O príncipe tirou-lhe o sapato e ao ver que tinha o pé ainda mais inchado que a irmã, percebeu que também ela o tinha enganado.

- Aqui vos trago esta impostora. E dai graças a Deus por não ordenar que sejam castigadas. Mas se ainda tendes outra filha, estou disposto a dar-vos nova oportunidade e eu mesmo lhe calçarei o sapato.

- Não. Não temos mais filhas - disse a madrasta.

Mas o pai acrescentou:

- Bem, a verdade é que tenho uma filha do meu primeiro casamento, a qual vive conosco. É ela que faz a limpeza da casa e por isso anda sempre suja. É a Gata Borralheira.

- As minhas ordens dizem que todas as jovens sem exceção devem experimentar o sapato. Tragam-na à minha presença. Eu mesmo lha calçarei.

A Gata Borralheira tirou um dos pesados tamancos e calçou o sapato sem o menor esforço. Coube-lhe perfeitamente.

O príncipe, maravilhado, olhou bem para ela e reconheceu a formosa donzela com quem tinha dançado.





- A minha amada desconhecida! - exclamou ele - Só tu serás minha dona e senhora.

O príncipe, radiante de felicidade, sentou-a ao seu lado no cavalo e tomou o mesmo caminho por onde tinha ido com as duas impostoras. Pouco depois, ao aproximar-se da árvore onde estavam as pombas, ouviu-as dizer:

- Continua, Príncipe, a tua cavalgada, pois a dona do sapato já foi encontrada.

As pombas pousaram sobre os ombros da jovem e os seus farrapos transformaram-se no deslumbrante vestido que ela tinha levado ao último baile.

Chegaram ao palácio e de imediato foi celebrado o casamento. Quando os habitantes do reino souberam da forma como o malvado e desnaturado pai, a madrasta e as duas filhas tinham tratado aquela que agora era a sua adorada princesa, começaram a desprezá-los de tal modo que eles tiveram que abandonar o país e fugiram para o Caribe.

A princesa, fiel à promessa feita à mãe, continuou a ser piedosa e bondosa como sempre, e continuou a visitar o seu túmulo e a orar debaixo da árvore, testemunha de tantas dores e alegrias. E Marina foi feliz para sempre. E o povo também.



Abençoado por Deus e roubado com naturalidade (Fernando Gabeira)


"Tá lá o corpo estendido no chão. Acabou uma época imprensada entre a crise econômica e uma profunda desconfiança da política. Não quero dizer com isso que o atual governo federal, com sua gigantesca capacidade, milhões de reais e a máquina do Estado, perderá a eleição. Não o subestimo. Quando digo que acabou uma época quero dizer que algo dentro de nós se está rompendo mais decisivamente, com as denúncias sobre o assalto à Petrobrás.

De um ponto de vista externo, você continua respeitando as leis e as decisões majoritárias. Mas internamente sabe que vive uma cisão. A contrapartida do respeito à maioria é negada quando o bloco do governo se transforma num grupo de assaltantes dos cofres públicos.

Uma fantástica máquina publicitária vai jogar fumaça nos nossos olhos. Intelectuais amigos vão dizer que sempre houve corrupção. Não se trata de um esquema de dominação. Ele tem seus métodos para confundir e argumentar.

O elenco escolhido pelo diretor da Petrobrás para encenar o grande assalto na política não chega a surpreender-me. O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Alves, são atores experimentados. A diferença agora é que decidiram racionalizar. Renan e Alves viveram inúmeros escândalos separadamente. Agora estão juntos na mesma peça. Quem escreve sobre escândalos deve ser grato a eles. Com a presença num mesmo caso, Renan e Alves nos economizam um parágrafo. Partimos daí: os presidentes do Senado e da Câmara brasileira são acusados de assaltar a Petrobrás.

Deixamos para trás um Congresso em ruínas e vamos analisar o governo. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi acusado, o tesoureiro do PT também foi denunciado. As declarações deixam claro que Lula levou o diretor para o posto e elogiava seu trabalho na Petrobrás.

Em termos íntimos, não há governo nem Congresso para respeitar. Ambos já mudaram de qualidade. Os que se defendem afirmando que sempre houve corrupção não percebem a fragilidade do argumento. É como se estivessem diante do incêndio do Rio e alguém sussurrasse: "O Nero, lembra-se? O Nero também incendiou Roma".

Grande parte dos analistas se interessa pela repercussão do escândalo na corrida presidencial. Meu foco é outro: a repercussão na sensação de ser brasileiro. Quem talvez conheça melhor essa sensação são as pessoas que vivem em favelas, dominadas pelo tráfico ou pela milícia.

Existem diferenças entre as favelas e o Brasil que as envolve. Diante de escândalos políticos somos livres para protestar, o que não é possível nos becos e vielas. E contamos com a Justiça. No caso do mensalão, o processo foi conduzido por um juiz obstinado e com dor nas costas, pouco tolerante a artifícios jurídicos. Neste caso da Petrobrás há indícios de que o juiz Sérgio Moro, competente em analisar crimes de lavagem de dinheiro, pretende avançar nas investigações. E avançar por um território que não é virgem, mas extremamente inexplorado: o universo das empreiteiras que subornam os políticos.

Lembro-me, no Parlamento, dos esforços do velho Pedro Simon para que se investigassem também as empreiteiras nos escândalos de suborno. Falar disso no Congresso é falar de corda em casa de enforcado. Ele não conseguiu. Mas Simon queria mostrar também que os políticos não se corrompem sozinhos. Desgastados, polarizam tanto a rejeição que poucos se interessam por quem deu dinheiro e com que objetivo.

Leio nos jornais que as empreiteiras fizeram um pool de excelentes advogados e, pela primeira vez na história, vão se defender de forma coordenada. Vão passar por um momento crucial. Ainda no Congresso, apresentei projeto regulando suas atividades no exterior. A presunção era de que mesmo no exterior o suborno era ilegal para uma empresa brasileira. Alguns países já adotam essa política.

Sinceramente, não sei se o caso das empreiteiras é apenas de bons advogados. Em muitos lugares do mundo, algumas empresas assumem seus erros e se comprometem com um novo tipo de relação com as leis. Isso no Brasil seria uma decisão audaciosa. Sem o suborno, devem pensar, não há chance de ter contratos com o governo.

Se, como no mensalão, a justiça for aplicada com severidade, também as empreiteiras serão punidas. Mais uma razão para pensar numa mudança de comportamento para a qual o País já está maduro. Todo esse processo de corrupção pode ser combatido, parcialmente, a partir de nova cultura empresarial. Os outros caminhos são transparência, Polícia Federal, Justiça, liberdade de imprensa e internet.

Quando afirmo que uma época acabou, repito, não excluo a vitória eleitoral das forças que assaltam a Petrobrás. Mas, neste caso, o governo sobreviverá como um fósforo frio. Maduro, na Venezuela, vê Chávez transfigurado em passarinho. Esse truque não vale aqui, pois Lula está vivo. E no meio da confusão.

Não creio que o Congresso será melhor nem que a oposição, que não soube combinar a crítica econômica com a rejeição moral, possa realizar algo radicalmente novo. O próprio Supremo não é mais o mesmo. Modestamente, podemos esperar apenas alguma melhoras e elas vão depender de como o povo interpretará o saque à Petrobrás. Na minha idade já não me posso enganar: Senado, Câmara, governo, tudo continua sendo formalmente o que é; no juízo pessoal, são um sistema que nos assalta.

O PT, via Gilberto Carvalho, acha que a corrupção é incontrolável e propõe financiamento público de campanha. Bela manobra, como se o dinheiro da Petrobrás não fosse público. Os adversários têm tudo para desconfiar da tese. Ficariam proibidos de arrecadar com empresas, enquanto dinheiro a rodo é canalizado das estatais para o PT, que se enrola na Bandeira Nacional e grita: "O petróleo é nosso!".

Na medida em que tudo fique mais claro, talvez possamos até economizar palavras, como Renan e Alves nos economizaram um parágrafo participando do mesmo escândalo. Poderíamos usar a frase do mendigo em Esperando Godot, ao ser questionado sobre quem o espancou: os mesmos de sempre".

(Publicado no Estadão, em 12/09/2014)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dilma: "eu não sabia"


Declarações de dona Dilma sobre o petrolão, em entrevista ao jornal O Globo, de 12 de setembro de 2014, repetindo a resposta de Lula a respeito do mensalão:

                  
"Se eu tivesse sabido qualquer coisa sobre o Paulo Roberto, ele teria sido demitido e investigado. Eu tirei o Paulo Roberto com um ano e quatro meses de governo. Eu não sabia o que ele estava fazendo. Eu tirei, porque não tinha afinidade nenhuma com ele.”


Quer dizer, a madame que controlava com mão de ferro a Petrobrás - a mãe de todas as corrupções - só demitiu o "Paulo Roberto" por falta de afinidade. Qual afinidade? Aquela afinidade eletiva referida por Goethe? Afinidade erótica ou amorosa? Afinidade ideológica?  Quer dizer, conviveu intimamente com o ex-diretor por quase uma década e só então descobriu que "não tinha afinidade com ele". Essa mulher sofre de cretinismo.

O Ideb e o desastre na educação (editorial do Estadão)

Quase cinco dúzias de reitores prestaram vassalagem a dona Dilma, hipotecando-lhe apoio eleitoral, sob a alegação ufanista de que o Brasil estaria no rumo certo. Certamente as magnificências não estavam informadas dos resultados do Ideb. Compreensível, portanto, a subserviência palaciana. Devem viver no mundo da lua. O editorial do Estadão pode ajudar a repor as coisas no devido lugar.
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                 O IDEB e o desastre na educação


"O País venceu a barreira da universalização do ensino, mas continua muito atrasado com relação à qualidade da educação. Essa é a conclusão do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) referente a 2013, divulgado de dois em dois anos e calculado a partir das notas dos alunos em provas de português e matemática e das taxas de reprovação nos anos iniciais e finais dos ensinos fundamental e médio.

Criado em 2005, o Ideb também serve para monitorar o desempenho das secretarias estaduais e municipais de Educação e verificar se os municípios, Estados e União estão cumprindo as metas para cada ciclo escolar. Em 2013, o ensino médio obteve 3,7 pontos, numa escala de zero a dez. Foi a mesma nota do Ideb de 2011, o que mostra a estagnação desse ciclo. No ensino fundamental, o índice subiu de 4,1 para 4,2, entre 2011 e 2013, mas o patamar esperado pelas autoridades educacionais era de 4,4. Dos 27 Estados, 16 tiveram em 2013 uma nota no ensino médio pior do que a obtida em 2011.

Outros seis, apesar de terem registrado resultados melhores, não atingiram as metas esperadas. Em São Paulo, as escolas públicas de duas em cada três cidades do Estado também não atingiram as metas.

As péssimas notas fizeram soar mais um sinal de alerta, mostrando que a educação continua muito abaixo dos padrões necessários a um a economia competitiva e capaz de ocupar mais espaços no comércio mundial. A qualidade da educação básica estagnou - e, mais grave, em patamares muito baixos. Os anos finais do ensino fundamental e do ensino médio encontram-se numa situação crítica, sem transmitir informações mínimas para justificar a diplomação dos alunos. Assim, mesmo quando os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental avançam, o ganho se perde nas séries à frente. O Ideb de 2013 revelou que até as escolas particulares pioraram.

Os resultados medíocres contrariam as expectativas das autoridades, que imaginavam que as pontuações de 2013 seriam melhores do que as de 2011. "Imaginávamos que teríamos uma onda de melhoria que passaria dos anos iniciais e acabaria chegando ao ensino médio. O impacto não foi o esperado. Há a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre isso", reconheceu o ministro da Educação, José Henrique Paim. Ao justificar o fracasso da política educacional, ele atribuiu a culpa, entre outros fatores, à falta de formação superior dos docentes dos anos finais do ensino fundamental e médio e ao descompasso do currículo deste último ciclo com relação ao mercado de trabalho.

Os pedagogos reconhecem que o ensino médio é o maior gargalo da educação brasileira, mas atribuem as péssimas notas do Ideb de 2013 à falta de articulação entre União, Estados e municípios. "Os resultados são frustrantes. Existia uma expectativa de que, com mais investimentos, haveria um avanço, o que não ocorreu", afirma Mozart Ramos Neves, do Conselho Nacional de Educação. "Os dados refletem um cenário onde temos muito esforço, mas ainda pouco foco na aprendizagem e no que acontece em sala de aula. Boa parte do debate público educacional recente foi centrada no porcentual do Produto Interno Bruto ou nos recursos do pré-sal que seriam destinados à educação. Não existe o mesmo engajamento e mobilização para discutir as práticas escolares e as reformas estruturantes que fazem a diferença para o aluno aprender efetivamente", afirmam Denis Mizne e Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann.

O fracasso da política educacional, que há mais de uma década é marcada por prioridades equivocadas e orientada por modismos pedagógicos e interesses eleiçoeiros, nega às novas gerações a formação escolar de que necessitam para se inserirem num mercado de trabalho cada vez mais exigente. Também dificultam sua emancipação social e condenam jovens e adolescentes, por falta de escolas de qualidade, a um futuro de dificuldades. Fica evidente agora por que o governo tentou adiar a divulgação do Ideb de 2013: para não prejudicar a campanha da presidente da República pela reeleição".


(O ESTADO DE S.PAULO - 12 Setembro 2014)

54 puxa-sacos

O dia 11 de setembro é uma data aziaga. Entre outros acontecimentos trágicos, do mesmo dia e mês, encontra-se a destruição das torres gêmeas em Nova York, o mais impactante ataque terrorista já visto até hoje. 

Pois não é que 54 reitores das universidades federais brasileiras resolveram inscrever seus nomes na rica história das infâmias pátrias? A Folha de São Paulo desta sexta feira noticia que, ontem, estupenda coluna das magníficas autoridades acadêmicas visitou dona Dilma. Não se sabe se no Palácio do Planalto ou no da Alvorada; se na hora de trabalho ou já fora do expediente. A propósito, teriam eles recebido diárias e passagens aéreas para a visita, ou custearam seu mini-comício com recursos próprios? 

O beija-mão teve um propósito claro: levar a dona Dilma uma carta de apoio na qual os doutos burocratas dizem reconhecer que "o Brasil está no rumo certo". A notícia divulgada não informa se Suas Magnificências estavam de joelhos, ou se algum dos osculadores lambeu ou babou nas mãos papudas da esquisita dama.

O reitoral puxa-saquismo neste 11 de setembro pode ser equiparado àqueles atos terroristas que abalaram a civilização ocidental. Com seu gesto vergonhoso, aquela mais de meia centena de dirigentes universitários sacudiu os pilares da ética e da moralidade públicas, que deveriam, por princípio, amparar as mais ilustres instituições de ensino superior do Brasil. De que vale a lei 9.504/97?

No fim, restaram todos com o nariz marrom. Agora fica claro qual a razão do silêncio da Academia nos últimos anos (com raras exceções), frente aos desmandos, a incompetência e a corrupção que grassam no governo federal. Achar que o Brasil está no rumo certo? É bem capaz de nem os petistas acreditarem em tal insanidade. Os ditos reitores, entretanto, conseguiram ver coisas que ninguém, normal ou mesmo fronteiriço, conseguiu. 

O famoso espírito crítico, de tão alardeada existência nas instituições de ensino, pelo visto virou fumaça. Deve ter sido abafado pelos favores pecuniários (bolsas de montão, isentas de imposto de renda), que tanto agradam à moçada. Isso prova o quão equivocados estão aqueles que criticam os pobres, das periferias e dos grotões nordestinos, brindados com pouco mais de R$100 reais ao mês, em média, para sustentarem suas famílias, por votarem como votam. Há bolsistas mais gulosos e mais favorecidos nas classes médias. Seus votos vão também para dona Dilma. A diferença está no preço: eles custam um pouco mais caro.

   

CEMIG, COPASA, CODEMIG: olhos gulosos as espreitam...

A gulosa turma do PT e associados (onde o PMDB é cúmplice preferencial), faz relembrar versos de Augusto dos Anjos:

              "Já o verme, este operário das ruínas,
               que o sangue podre das carnificinas 
               come, e à vida em geral declara guerra,

               Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
               e há de deixar-me apenas os cabelos,
               na frialdade inorgânica da Terra".

Diferentemente do poeta amargo que se via condenado a tão lúgubre destino, a turma do Pimentel lança seu olhar cúpido para as poderosas empresas públicas de Minas Gerais, candidatas a ter seus olhos e bolsos roídos implacavelmente. 

Próxima de ser enxotada das bocadas no governo federal (onde, nos últimos doze anos, assaltaram a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios, a Eletrobrás e outras mais, tantas, inumeráveis), a quadrilha lulo-petista já imagina a farra que poderá fazer com as ricas instituições mineiras. Até babam em antecipado gozo, caso vençam as eleições locais.

Minas Gerais já viveu experiência semelhante a essa que nos ameaça - de desastre anunciado - no período em que Newton Cardoso foi governador. Quem conhece a história do estado é capaz de recuperar os fatos daquele período, bem como suas consequências políticas e econômicas para o cidadão mineiro. Pelo frondoso currículo, gente como Newtão (e, quem sabe, até Zé Dirceu, mineiro da gema pronto a retornar à terrinha mãe), já estão a postos para assumir a Secretaria da Fazenda de Fernando Pimentel, famoso ex-ministro do catastrófico governo Dilma, a dona ensandecida que ainda governa o Brasil.  

As altas tecnologias do saqueio do dinheiro público estão perfeitamente dominadas pelo petismo (mensalão, petrolão etc.). Os rombos e roubos são divulgados quase que de hora em hora pela imprensa. Não furtam mais aquele troco extraído da conta do Custeio do orçamento público. O negócio, agora, é mais grosso, a começar pelas propinas dos empreiteiros. O Investimento passou a ser o objeto do desejo dessa nuvem de gafanhotos capitaneada por Pimentel. 

Minas Gerais está em risco. A ameaça se torna mais preocupante em vista do destino dos gatunos que serão afastados da órbita federal, com a mais que provável vitória das oposições. Aos corruptos e imorais fariseus locais, serão acrescidos os de outras plagas, configurando um quadro de verdadeira calamidade. Os terroristas de ontem (com novas técnicas, porém com os mesmos objetivos), voltam a assombrar a vida pacata dos que só querem viver em paz.  

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O bom de serviço e sua herança maldita

Fernando Pimentel quer governar Minas Gerais. Propaga aos quatro ventos, para justificar a pretensão, ser um sujeito muito bom de serviço. Seu cartel de realizações como ministro da Indústria de dona Dilma, no entanto, o desmente se maneira clara e insofismável. A economia brasileira, em geral, e a mineira, em particular, crescem igual rabo de cavalo, conforme se pode ver nas informações divulgadas pelo IBGE. O engraçado da situação é que ele, tendo quebrado a indústria brasileira, quer se vender agora como grande realizador, o homem providencial que vai tirar Minas do buraco.  

Se pelo dedo se conhece o gigante, a mão suja do pretendente, conforme se viu nas trapaças eleitorais da primeira campanha de dona Dilma (Pimentel foi o responsável pela equipe de aloprados petistas especializada em dossiês falsos contra adversários), sinaliza para um futuro negro nos próximos quatro anos. Na hipótese infamante e absurda de sua vitória, os mensaleiros amigos, bem como a gulosa turma do petrolão (que perderá as boquinhas no governo federal), certamente virão, todos, aportar em Belo Horizonte, para fazer aqui o que sabem fazer de melhor com os cofres públicos. 

Terrível, assombrosa ameaça pairando no âmago da mineiridade. Prefeito medíocre, divulga como uma das mais importantes realizações do período em que mandou e desmandou na prefeitura da capital mineira, uma dita "escola plural". Foi um fracasso tão retumbante que nem eles, os inventores da tal estrovenga, falam mais qualquer coisa a respeito. Hilariante também é o título que teria recebido de melhor prefeito do mundo, em votação feita pela internet. Pelo que corre nos bastidores da Prodabel - empresa que faz processamento de dados para a administração local - seus computadores foram largamente utilizados (lançando mão de robôs), para entupir de votos a candidatura do moço ao bizarro título de melhor prefeito do mundo, pura obra de fanfarronice marqueteira e caipira. Tal conduta deve ter inspirado o genial humorista Sacha Cohen no roteiro de Borat. No divertido filme, o personagem se vangloria de ser o "segundo melhor repórter do Cazaquistão". Uma piada incomparável. Melhor dizendo, só comparável com a babaquice de Pimentel.

Para que tais considerações não fiquem soltas no ar, para que se ancorem em fatos e dados, segue abaixo a transcrição de notícia divulgada pelo jornal O TEMPO, de Belo Horizonte, sobre o desempenho ridículo da indústria brasileira (no período em que o responsável pela política industrial brasileira era o agora candidato Fernando Pimentel). 

Evidentemente não poderia ser outro o resultado do esforço de um indivíduo, cuja maior experiência, com as graves questões do setor industrial brasileiro, se resumia a conselhos dados a micro fabricante de tubaína instalado num galpão infecto de fundo de quintal nos grotões de Pernambuco. Os conselhos foram todos pagos a peso de ouro, registre-se por importante. A fábrica faliu. Outro cliente de seus conselhos foi a empresa responsável pelo viaduto que caiu recentemente em Belo Horizonte. Com certeza não acatou as sábias orientações do consultor especialista em política e gestão industrial. A Federação das Indústrias de Minas Gerais, igualmente, foi brindada com suas recomendações sobre como crescer e ser feliz nos negócios. Pelos resultados divulgados a respeito da indústria mineira, a cúpula da entidade não levou muito a sério as luminosas palavras proferidas por Pimentel. Bem feito para eles. Mas os pelegos patronais não deixaram, em absoluto, de pagar mais que generosamente pela consultoria que ninguém viu ou ouviu falar. Mineiro é assim mesmo: só dá conselhos ao pé do ouvido. Sussurrantes. Melífluos. Nem o destinatário consegue captar a mensagem.

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"Emprego na indústria em julho tem a maior queda desde 2009.


Quando analisadas as variações na comparação com mesmo período do ano anterior, a pesquisa mostra que julho foi o 34º mês seguido de queda.

A indústria brasileira teve queda de 0,7% no emprego em julho, na comparação com junho, divulgou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior queda desde 2009. Em 2014, o setor já acumula perda de 2,6%.
Desde abril do ano passado, o patamar de trabalhadores na indústria apresenta trajetória descendente, e julho foi o quarto mês consecutivo de queda. Na comparação com o mesmo período de 2013, a queda chegou a 3,6%, e o dado anualizado - que leva em conta o período de 12 meses encerrado em julho - aponta retração de 2,2%. Quando analisadas as variações na comparação com mesmo período do ano anterior, a pesquisa mostra que julho foi o 34º mês seguido de queda.
Os 14 locais pesquisados pelo IBGE tiveram queda do pessoal ocupado, na comparação com juho de 2013. Maior parque industrial do país, São Paulo perdeu 5,1%, com redução em 16 das 18 atividades pesquisadas. No estado, os produtos de metal tiveram queda de 12,2% e a indústria de meios de transporte, de 7,2%.
O Paraná (5,6%), Rio Grande do Sul (3,8%), Minas Gerais (2,3%) e o Rio de Janeiro (2,9%) também apresentaram queda no número de trabalhadores na indústria.
A pesquisa mostra ainda que houve queda de 0,3% no número de horas pagas em relação a junho, e de 4,2% em relação a julho de 2013. De janeiro a julho, o número de horas pagas caiu 3,1%.
A retração nos dois índices foi acompanhada pela redução da folha de pagamento real, com queda de 2,9% ante junho, e de 3,4% na comparação com julho do ano passado.
Nos dois indicadores, São Paulo manteve impacto negativo, com quedas de 5,4% no número de horas pagas e de 4,2% na folha real de pagamento. Todos os locais pesquisados tiveram redução nas horas pagas e 12, de 14, caíram na folha de pagamento real. As duas exceções foram a Bahia, que teve alta de 2,4%, e as regiões Norte e Centro-Oeste, cujo indicador subiu 0,5%”.

(PUBLICADO EM O Tempo, de 10/09/14)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Dilma, a espancadora de projetos

Dona Dilma tem um estranhíssimo costume, segundo relata o insuspeito Mercadante, atual ministro da Casa Vil, com cadeira permanente no núcleo decisório do Planalto. Segundo ele, dona Dilma costuma "espancar" os projetos que lhe são apresentados, prática gerencial que deve ter aprendido nos porões da ditadura: com ela é na porrada! Qualquer vacilo do apresentador de eventual proposta, ele caía num corredor polonês e entrava no cacete. Com um jeitão que muito favorece o desempenho de papel tão exótico, a dona presidente devia comparecer às reuniões munida de taca e salmoura: a taca para nela cortar os desavisados, e a salmoura para aliviar os lanhos provocados na cacunda das vítimas. 

Com sua habitual finesse, a madame, então, interrogava, perquiria, questionava, bancava a advogada do diabo; queria saber tudo a respeito do assunto, tintim por tintim. Obcecada, ao que consta, e rigorosa nas avaliações dos projetos e dos subordinados, dona Dilma tratorava a moçada e ai de quem não se saísse a contento com ela. Essa foi, pelo que se viu em anos passados, a imagem da gerentona que ela vendeu e outros revenderam a bom preço. Dizem que ela metia o bedelho até nos planos de vôo do AeroLula-51, quando este se deslocava para o exterior. A dama seria uma sumidade. Com ela é assim: não senta não, mas se sentar no pinico, tem que obrar!   

Pois bem, se tudo dito anteriormente for verdade, como uma criatura tão talentosa, aliás, talentosa pra chuchu, pode alegar que não fazia a menor ideia do que acontecia, sob os fios de seu volumoso buço, nas entranhas da Petrobrás? Ela não espancou o suficiente as propostas de jerico do Paulo Roberto Costa, do Cerveró e do tal Gabrielli? Qual dirigente, seja de simples botequim ali da esquina, ousaria assinar uma ordem de compra de qualquer coisa sem ao menos ler o que está escrito? Dona Dilma confessou que fez isso. A espantosa leviandade da espancadora de projetos lesou o povo brasileiro em centenas de milhões de reais. Mandou adquirir um monte de ferro velho nos Estados Unidos, a preço de ouro vinte e quatro quilates. Por qual fantástica razão ela não desconfiou do apoio, amplo e generalizado, de tantos partidos à permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria da empresa? Não era possível; não era crível que o prestígio do agora presidiário dirigente fosse quase igual ao de Papai Noel, e ela não desconfiasse de nada. Ora, teria a madame sofrido uma espécie de síndrome de Pangloss? Também não parece plausível, dado o reduzido número de neurônios de seu oco cabeção. A ingenuidade, e o otimismo delirante do personagem de Voltaire, exigem uma certa capacidade intelectual para as devidas justificações. Nenhum idiota consegue ser tão panglossiano assim.

Por mais que tente explicar sua conduta nas roubalheiras da Petrobrás, dona Dilma não tem como fazê-lo sem cair em grossas contradições. O povo brasileiro está começando a entender a defesa insana que a madame faz da Petrobrás e de suas potencialidades, como o pré-sal, engodo que trás para o presente, como se já existisse, um futuro mais que incerto ou que só existe na imaginação. Dona Dilma e sua corriola querem continuar usufruindo, à larga, dos vultosíssimos recursos que a empresa, apesar de saqueada permanentemente pelo lulo-petismo, ainda consegue produzir. O petróleo, como já foi dito alhures, é dos brasileiros, mas a Petrobrás é de dona Dilma e sua equipe de saqueadores.   

Para onde vai o dinheiro do petrolão?

O desvio de bilhões de dólares pela quadrilha da Petrobrás permite fazer algumas indagações. Onde, por exemplo, essa gente vai amoitar a grana surrupiada? É verdade que tem gente, como dona Dilma, que guarda fortunas debaixo do colchão. Mas esse é um comportamento atípico. Igualmente verdade que o presidente do Banco do Brasil tem, também, o mesmo estranho cacoete. A maioria das pessoas, no entanto, prefere proteger seu dinheiro com aplicações seguras e rentáveis, como caderneta de poupança. Agora, que é esquisito, é, um presidente de Banco não depositar na instituição que preside a grana excedente que possui. É uma prova de extremada desconfiança. 

Pouco se sabe das operações financeiras do regime cubano com o restante do mundo. É possível que a aprazível ilha caribenha venha a se tornar, se é que já não se tornou, um paraíso fiscal para os bolivarianos de todas as nações. Países capitalistas não são confiáveis. Maluf, para ficar apenas em nome notório, que o diga. O longo braço da lei pode, em algum momento, interromper as operações ilícitas e confiscar o capilé que se encontra em outros países.

O doleiro Alberto Youssef andou passeando em Cuba tempos atrás. Fazia parte de comitiva de empresários que, a convite do governo brasileiro, visitava o país. Youssef é um homem de negócios. Negócios financeiros, por suposto. Cuba é controlada por um regime que ainda pratica a escravidão. Não seria difícil convencer sua elite das vantagens do tráfico financeiro. Renderia mais, além de ser mais limpo e mais civilizado. 

Tudo isso pode ser não mais que simples e inocente especulação. Mas as suspeitas são fundadas, em vista dos níveis babilônicos da corrupção dos bolivarianos nas Américas. O dinheiro roubado, afinal, tem que estar em algum lugar.   

Anões canibais

As facções internas do PT estão se entredevorando. Agem como se fossem um bando de anões canibais, para pedir emprestada uma imagem cunhada pelo marketeiro oficial de dona Dilma. A espinhenta senhora achou agora de levar, para o coração de sua campanha, um tal de Miguel Rosseto, antigo militante trotskista da facção Democracia Socialista, ou DS, articulador e fiador da entrada de dona Dilma no PT, negociada com sua concomitante saída do PDT. A troca valeu à madame a permanência no secretariado de Olívio Dutra, então governador do Rio Grande do Sul. Brizola, sempre cáustico e perito em imagens bíblicas, acusou-a de se comportar como Esaú, vendendo-se por um mero prato de lentilhas. 

A oportunista dama, pelo menos neste caso, conseguiria fazer Brizola morder a língua, caso ele ainda estivesse entre nós. O prato de lentilhas transformou-se em algo muito mais suculento e valioso - a presidência da república - bem como seu desdobramento objetivo: o controle de todo o vasto sistema energético brasileiro, com especial predileção pela lama, embebida em petróleo, produzida pela Petrobrás, a mãe de todas as corrupções.

A ala lulista, de sindicalistas e pelegos profissionais, perde espaço nos porões palacianos para a parte do aparelho partidário mais à esquerda, com pendor revolucionário. Dona Dilma, forjada nos manuais leninistas, compartilha com os trotskistas o ideário da revolução permanente. Aos trancos e barrancos, vai a obesa criatura rompendo e atropelando quem se atrever a lhe passar à frente. Operando com um nível de escrúpulos próximo do zero, fará o diabo, como já prometeu, para vencer essa eleição, que para ela é uma guerra. 

A suprema ironia é que sua derrota nas próximas eleições se dará para antiga militante do PRC - Partido Revolucionário Comunista - composto por dissidentes do PC do B (considerado muito à direita), cujos nomes mais destacados eram os de José Genoíno e Tarso Genro, que se agruparam no PT, posteriormente, sob o codinome original de Nova Esquerda. 

A sopa de letrinhas das facções, grupos, tendências e similares caminha para uma desintegração irreversível. O Brasil, com efeito, vai se tornar um lugar melhor para se viver. 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

CUT, a amiga dos banqueiros

A imprensa noticia que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) vai tentar espalhar que Marina vai governar a favor dos bancos. A pelegada acha que o país se esqueceu da primeira emenda constitucional patrocinada por Lula da Silva, no início de 2003, logo após sua posse (a famosa EC-40). A memória deles é fraca, porém há gente que se lembra muito bem. Para atender aos companheiros banqueiros, Lula mandou o PT suprimir o parágrafo 3º do inciso VIII, constante do artigo 192 da Constituição Federal (a bem da precisão, ficou apenas o caput, ligeiramente alterado). Aliás, nunca é demais lembrar que o PT (capitaneado por Lula) votou contra o projeto final e recusou-se a assinar a Constituição, tal como aprovada em outubro de 1988. 

Para evitar qualquer dúvida, segue abaixo o importante trecho do artigo supra referido, no seu inciso VIII, afastado da ordem constitucional brasileira em maio de 2003:

"Parágrafo 3º - As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar." 

Os banqueiros se regozijaram. Estava livre o caminho para a cobrança de juros estratosféricos, como os cobrados em operações de crédito direto ao consumidor, cartões de crédito e cheque especial, que chegam a alcançar 150% ao ano. À época da alteração, houve a ruptura de Brizola com Lula, motivada por essa emenda. Brizola viu na medida tomada uma rendição à banca internacional. Não por acaso, os lucros do sistema financeiro alcançaram, durante o governo Lula e Dilma, níveis estelares. O PDT foi, então, para a oposição; só voltou ao colo de Lula depois que o velho caudilho faleceu. Mas aí não era mais o PDT. Era tão somente um amontoado de picaretas sob a chefia de um aventureiro inescrupuloso. 

A canalha cutista e petista, no entanto, se arvora em defensora do povo contra a volúpia dos bancos. E nem pedem desculpas por terem - no início de 2003 - nomeado Henrique Meireles, ex-presidente do BankBoston, para dirigir o Banco Central brasileiro. Meireles, além de banqueiro internacional, tinha sido eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás. Nem tomou posse do mandato. Renunciou e foi cumprir as ordens que o grande capital estabelecera para enquadrar Lula e seu séquito de vigaristas. 

Em vista de tais fatos cabe indagar: quem é mesmo a amiga dos banqueiros? Quem subordinou a política brasileira aos ditames dos grandes financistas internacionais? Dona Dilma e sua turma deveriam ter um pouquinho mais de vergonha na cara.     

Sindicatos de caras de pau

A pelegada do PT e Cia começa a botar as asinhas de fora. Estão homiziados principalmente na CUT mas, também, em outras centrais amigas. O bando de cafajestes passou agora a se devotar a ataques injustos a Marina Silva. Parasitas profissionais a serviço do petismo - recebem sem trabalhar para ficar de plantão na defesa de suas boquinhas - não se envergonham de nenhuma indignidade. São capazes de tudo. 

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) teve a coragem de questionar Marina a respeito dos seus posicionamentos sobre a atuação da Petrobrás, a mãe de todas as corrupções. Dos canos da empresa jorra petróleo, é verdade, mas o maior volume que ela expele, de fato, é de lama fétida, a lama do petrolão. Quando os inumeráveis casos de roubalheira envolvendo a cúpula petroleira vieram à luz, não se viu qualquer manifestação dos pelegos da FUP contra o saqueio efetuado. Silêncio. Silêncio absoluto. Silêncio cúmplice e vergonhoso coonestando a bandidagem dos companheiros amigos. 

De um certo ponto de vista essa gente que defende a ladroagem governista tem razão. A Petrobrás é deles; engana-se quem julgar o contrário, pois ela já foi privatizada há muito tempo: A Petrobrás é uma empresa dos funcionários da Petrobrás. Sabem os pelegos petroleiros que ao se repartir o butim, uma parte substanciosa do numerário fica nos seus bolsos. O povo brasileiro que se dane. E pague a conta, logicamente, sem mugir nem tugir. 

Até uma criatura tosca como Severino Cavalcanti - aquele vulgar achacador de dono de lanchonete que presidiu a Câmara dos Deputados - percebeu o tamanho da bocada. O ex-deputado queria, porque queria, indicar alguém de sua confiança para "aquela diretoria que fura poço". Gatuno primitivo, Severino percebeu no entanto, por onde passava o trilho que o levaria à independência e riqueza futuras. A mãe de todas as corrupções lá estava, pronta para se deixar esquartejar, a um comando de Lula ou Dilma.

Severino, por bronco essencial, não desconfiou que a tal diretoria que fura poço (e as outras também), já tinham donos. Dona Dilma estava a postos - na presidência do Conselho de Administração da Petrobrás -  para garantir o bom andamento dos negócios e, claro, das negociatas, conforme a imprensa vem constatando e divulgando. Feroz como Cérbero, o cão de guarda do inferno, dona Dilma rosnava, no tom de costume, para espantar qualquer outro aventureiro que tentasse meter a mão no soutien da comadre. A preferência no enricar, lógico, era de Lula, o senhor e controlador dos caminhos. 

Alguém ouviu o mais leve muxoxo da pelegada em defesa da Petrobrás? Nada de nada, nadica mesmo! A matilha de cães vai, no entanto, fiel ao espírito cínico, latir para Marina Silva, que ameaça acabar com a farra da corja, caso ganhe as eleições presidenciais. 

Outro caso de pelegagem explícita se dá com os sindicatos de bancários afiliados à CUT. Em Belo Horizonte, a pretexto de campanha salarial, afixaram nas paredes externas do Banco Itaú, e somente nele, ofensas aos acionistas majoritários - a família Setúbal - que teriam demitido alguns funcionários. Pretendem, de fato, com tal referência explícita, atingir politicamente Marina Silva, pelos vínculos de amizade desta com Neca Setúbal. Os garbosos defensores dos eventuais demitidos, entretanto, não se manifestaram, em nenhum momento, quando o Banco Santander mandou para a rua, por solicitação de ninguém mais, ninguém menos, que Lula da Silva, gente que criticou a política econômica do governo. Inacreditável que Lula - de todos os pelegos e picaretas, o mais pelego e picareta de todos - teve a ousadia de pedir a um patrão que demitisse um trabalhador, violência inominável agravada pela torpeza da motivação.

Pois, então, é gente desse tipo descrito acima que está questionando Marina Silva. Por ocasião do saqueio do Banco do Brasil (de onde a turma petista se locupletava junto com Marcos Valério), e da Caixa Econômica Federal, a pelegada parasitária da CUT também ficou no mais obsequioso dos silêncios. Para refrescar a memória, o mensalão que levou a cúpula do PT para a prisão, e a compra pela Caixa do falido banco de Silvio Santos - o Panamericano - não mereceram a mais leve censura por parte dos parasitas profissionais da CUT. Mas eles se querem juízes das propostas de governo de Marina Silva. 

A esperança dos que anseiam por uma limpeza, em regra, dessas estruturas sindicais carcomidas, começa com a obrigatoriedade da pelegada fazer prestação de contas dos recursos que recebem do governo. Esse é o temor que os anima a defender dona Dilma com unhas e dentes. Temor de que seus indefensáveis privilégios - principalmente o de não terem seus gastos auditados pelo Tribunal de Contas da União - venham a ser extintos.

Com dona Dilma no governo, a gatunagem sindical continuará, igualmente, assim como se dá com todas as outras empresas públicas, em especial com a Petrobrás, a mãe de todas as corrupções. Mais que cúmplices, eles são sócios que compreendem muito bem a natureza dos seus negócios pecuniários.