quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Dilma venceu com uma campanha defensiva (Ex-blog do Cesar Maia)

          
"1. É pura ilusão de ótica imaginar e afirmar que Dilma fez uma campanha agressiva.  Não é verdade.  Vamos usar uma linguagem de guerra. Um país em guerra com outro define seus bastiões fundamentais e, em torno deles, concentra suas forças físicas e equipamentos para defendê-las.
          
2. Uma campanha agressiva se dá quando um país tenta avançar sobre os espaços ocupados por seu adversário.  Isso em nenhum momento ocorreu nesta campanha eleitoral.
         
3. Desde bem antes da campanha que todas as pesquisas mostravam com todas as letras e números que Dilma dependia de dois espaços fundamentais.  Perder parte deles - por menor que fosse - seria a morte eleitoral, seria a derrota.
         
4. Pode-se buscar as pesquisas de um ano antes da eleição, de seis meses antes, de três meses antes e qualquer pesquisa durante a campanha e se tem o mesmo resultado.  Dilma tinha sempre dois bastiões: os mais pobres e o Nordeste. E em boa medida há um significativo cruzamento entre os dois.
          
5. Para manter esses dois fortes guarnecidos, valia tudo. Para isso - em primeiro lugar - concentrou sua presença no Nordeste e centrou sua comunicação num suposto anti-nordestinismo do Sul maravilha. A polarização aí é claramente defensiva. Não quer ganhar nada, mas manter o que tem.
          
6. Em segundo lugar, reintroduziu o velho e surrado discurso dos pobres contra os ricos.  E repetia à exaustão os riscos que os pobres correriam se ela perdesse: o bolsa-família, o emprego, minha casa-minha vida, pro-uni..., foram as baterias antiaéreas que usou.  E sua tática defensiva funcionou.
          
7. Os excessos verbais e publicitários tinham só esses objetivos, evidentemente defensivos.  A defesa de seu forte nordestino funcionou bem. Manteve a proporção de votos de 2010 em 2014.
          
8. E o binário pobres x ricos funcionou, mas parcialmente. Afinal, se é verdade que houve uma ascensão social de milhões de pessoas, a receptividade daquele binário tinha que ser menor.  Mas funcionou parcialmente.
           
9. O exército de Aécio entrou pelo norte, pelo centro-oeste, pelo sul, por S.Paulo, pelo Rio. Só não entrou pelo bastião mais importante de Aécio: Minas. Aí caberia colocar suas baterias defensivas (agressivas): cuidado, porque querem acabar com Minas. Não fez e entrou no jogo de que fez um bom governo ou não.

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NOS VOTOS, PARANÁ = MARANHÃO E S.PAULO = BAHIA+PERNAMBUCO+CEARÁ!
         
(Monica Bergamo - Folha de SP, 28) 1. Na contabilidade regional, a frente de quase 7 milhões de votos obtida por Aécio Neves no Estado de São Paulo foi compensada pela vantagem de Dilma Rousseff nos três maiores Estados do Nordeste: Bahia (2,9 milhões), Pernambuco (1,9 milhão) e Ceará (2,4 milhões), que somaram 7,3 milhões a mais para a petista.
          
2. Já a vitória do tucano no Paraná, com uma dianteira de 1,3 milhão de votos, foi neutralizada por uma votação esmagadora da petista no Maranhão, onde proporcionalmente Dilma teve sua maior votação (78,76%), uma vantagem de 1,8 milhão".

                                    

Oposições

As oposições, ao que parece, estão querendo assumir o papel a que foram relegadas: fazer oposição ao governo atual, algo que é tão normal em qualquer lugar do mundo, mas que no Brasil soa como motivo de espanto e de aplausos.

Como tergiversar nos parlamentos, por exemplo, quando os governos agem sistematicamente de maneira autoritária e ilícita? As chamadas Medidas Provisórias são um campo fértil para se entender o papel que as oposições devem cumprir. O Congresso Nacional foi reduzido à função de chancelador de qualquer tolice ou aberrações enviadas a ele pelo palácio do Planalto. A pauta legislativa na Câmara dos Deputados e no Senado é definida pelo Executivo, isto quando não o é pelo Judiciário, que também gosta de tirar suas casquinhas na pusilanimidade reinante. Mais que fiscalizar, as oposições devem se opor. O uso dos meios de comunicação e da mobilização social configuram o cerne do oposicionismo. Unidade de posicionamento com a situação, só em momentos de guerra ou de calamidade pública de grandes proporções. Fora desse âmbito, a regra inafastável é simples: dizer NÃO! Não e Não, sempre não. Se não houver defeitos evidentes a serem criticados, que sejam construídos. O governo não deve ter refresco em nenhum instante. 

Aos governantes cabem a responsabilidade e o dever de tomar as medidas que atendam ao interesse público: para isso foram eleitos. Às oposições cabe atacar o governo nos seus pontos frágeis, nas linhas de  menor resistência. Obrigá-lo a se explicar e a ficar com o desgaste pelas suas concepções, erros, omissões e fracassos. Não oferecer, jamais, qualquer tipo de apoio que permita à situação encontrar aplausos junto à sociedade. 

A postura oposicionista aos grandes temas deve se alastrar para todos os espaços onde houver representação política. Tal unidade de ação permitiria desgastar os governantes e seus aliados, mesmo nos espaços cujo foco esteja concentrado em questões locais ou regionais. Câmaras municipais e Assembleias estaduais precisam ser vistas como arenas expandidas da mesma batalha, como parcela, mesmo que reduzida, do Parlamento nacional. Agindo assim, talvez as oposições consigam se fortalecer, e se credenciar, para as sucessivas eleições - municipais, estaduais e federais - fazendo do enfrentamento permanente dessa guerra sem fim o alfa e o ômega da atividade política.