quinta-feira, 13 de agosto de 2009

LULA, COLLOR E SARNEY: UMA HIPÓTESE FANTÁSTICA

Em tempos tão delirantes um delírio a mais outro a menos não fará muita diferença. Explicações para a insólita aliança entre oligarcas do sindicalismo com herdeiros de capitanias hereditárias do norte e do nordeste já foram ensaiadas por muitos. Ao fixar-se no nome de Sarney como presidente do Senado, Lula da Silva estaria conduzindo uma operação preventiva de garantia do futuro. Do seu futuro, principalmente. Eis aí uma situação com incrível plausibilidade. Trata-se da possível candidatura de Lula da Silva a um mandato de senador. Isto implicaria no seu afastamento do cargo atual, conforme prevê a legislação, seis meses antes das eleições. Na hipótese da candidatura oficial ser bem sucedida, sinaliza-se para um mandato de oito anos (tal como ocorreu com Fernando Henrique e o próprio Lula da Silva). E este resistirá tanto tempo no sereno esperando que tenha novamente outra hora e outra vez? Sabe ele, ainda, que o Senado da república é um lugar tranquilo, ideal para gente afeita ao ócio, cheio de ex-presidentes e ex-governadores. Só faltam Lula da Silva, Itamar Franco e Fernando Henrique, para que o adorno das colunas senatoriais esteja completo (juntando-se a Sarney e Collor). Lá se trabalha pouco e se usufrui muito. Um lugar adequado para o repouso do guerreiro do "nunca dantes na história deste país"! Lugar para ser feliz, feliz qual um pintinho no lixo. Um lugar, enfim, melhor que o paraiso, conforme já dizia Darcy Ribeiro, pois não é necessário morrer para lá estar.

Pois bem, um presidente com eventual alta popularidade, sobraçando uma candidata obscura à sua sucessão, pode perfeitamente ser bem sucedido. E, ainda, de lambugem consegue se eleger senador em algum estado do norte ou do nordeste. Seria Lula da Silva, portanto, no futuro, o condestável da República, sem a obrigação detestável de ficar envolvido com as rotinas da administração. Para isto serviria a tal "mãe do PAC". Mas para implantar projeto tão incrível é importante que a presidência fosse ocupada por alguém confiável (em vista do precário estado de saúde do atual vice-presidente). E confiável, para Lula da Silva, é Sarney. Pois, na linha sucessória, o presidente da Câmara - deputado Michel Temer - dificilmente assumiria para não ficar inelegível no ano que vem. Se bem que não deixa de ser tentador para a biografia de qualquer político a ocupação do mais importante cargo do país durante nove meses. Ou seja, e se Temer não topar perder a precedência em prol de Sarney, terceiro na linha, logo após José Alencar e o ilustre deputado? A caneta presidencial em mãos erradas pode tumultuar tudo. E este governo tem muitos esqueletos que, se mostrados, tumultuariam o mais bem urdido e ousado dos planos. Num país onde o realismo fantástico é, simplesmente, realismo do bom, imaginar qualquer possibilidade não é obra vã. Essa gente é capaz de tudo. Aliás, os exemplos nos últimos seis anos e meio são uma prova definitiva desta capacidade.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Marina Silva e o efeito "Jô Morais"

O experimento eleitoral de Belo Horizonte pode se repetir em escala ampliada nas próximas eleições presidenciais. Vejamos as similitudes entre a situação local e a nacional. Inconformada com a escolha autocrática feita pelo então prefeito petista Fernando Pimentel (que impôs ao seu partido o nome de um estranho no ninho, o obscuro Márcio Lacerda), a chamada esquerda petista embarcou na candidatura de Jô Morais, medíocre deputada federal do PC do B. Márcio Lacerda era uma espécie de dona Dilma, a candidata chapa branca de Lula da Silva. Ambos sem luz própria e sem votos, verdadeiros bonecos de engonço nas mãos de seus patrocinadores. Com uma poderosa máquina administrativa nas mãos (após 16 anos de poder), o então prefeito Pimentel moveu céus e terras e, principalmente, vultosos recursos para alavancar seu candidato (vale à pena lembrar aqui o peso de empreiteiras como a Andrade Gutierrez na execução de obras na capital mineira bem como dos remanescentes ocultos do mensalão, não o mensalão mineiro, mas o mensalão mesmo, o suculento esquema federal cuja gênese está em Belo Horizonte).

Nos momentos iniciais da campanha a turma que apoiava Jô Morais chegou, até, a acreditar na possibilidade de vitória. Afinal, a deputada era mulher, de esquerda, estridente, nordestina e outros qualificativos usuais vistos como positivos pelos adeptos de seu denominado "campo político". Mais importante, a candidata apresentava índices expressivos de intenção de voto nas pesquisas publicadas na primeira fase do processo de disputa. Na medida que a campanha avançava, ela foi se desidratando e findou a jornada com pouco mais de 5% dos votos (vale lembrar aqui a advertência de César Maia no tocante ao desempenho eleitoral de candidatos monotemáticos). No segundo turno, claro, as bases sociais e operativas dos dissidentes do postulante oficial (que apoiavam Jô Morais), voltaram ao redil costumeiro, com exceção de uns gatos pingados sem qualquer expressão eleitoral (inclusive a própria deputada e os áulicos comensais da mesa do vice-presidente José Alencar). Por baixo do pano lideranças expressivas do PT histórico se moveram em envergonhado apoio à deputada, porém, nem o apoio de Patrus Ananias, nem o de Luiz Dulci, resultou em grandes benefícios à candidata que teve uma "entrada de leão e uma saída de cão".

Na hipótese de um eventual segundo turno eles se ajuntam tudo de novo, tal como fizeram para enfrentar o adversário de Márcio Lacerda em Belo Horizonte, à época o deputado federal Leonardo Quintão, do PMDB. Brandindo o velhíssimo discurso stalinista de "campo político", os grupos que apoiavam Jô Morais desencadearam a mais sórdida campanha contra o deputado Quintão e abraçaram - agora, docemente constrangidos - o obscuro e suspeitíssimo Márcio Lacerda, ponta de lança da parcela do mensalão destinado a Ciro Gomes e tocador de uma das obras mais nefastas do período Lula da Silva: a transposição do Rio São Francisco. A engenharia do projeto continuista para o próximo ano parece que seguirá o mesmo roteiro da experiência belorizontina. Afinal de contas, o sucesso da empreitada mostrou sua viabilidade além de indicar os pontos fracos da estratégia adotada. Ou alguém imagina que os malucos do MST, que devem apoiar uma eventual candidatura Marina Silva, iriam votar num nome do PSDB, do DEM ou do PMDB no segundo turno da eleição presidencial?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

CARTA AO PT (Marcelo Tás)

Por não ser petista, sempre fui considerado "de direita" ou "tucano" pelos meus amigos do falecido Partido dos Trabalhadores.Vejam, nunca fui "contra" o PT. Antes dessa fase arrogante mercadântica-genoínica, tinha respeito pelo partido e até cheguei a votar nos "cumpanheiro". A produtora de televisão que ajudei a fundar no início da década de 80, a Olhar Eletrônico, fez o primeiro programa de TV do PT. Do qual aliás, eu não participei.Desde o início, sempre tive diferenças intransponíveis com o Partido dos Trabalhadores. Vou citar duas.Primeira: nunca engoli o comportamento homossexual dos petistas. Explico: assim como os viados, os petistas olham para quem não é petista com desdém e falam: deixa pra lá, um dia você assume e vira um dos nossos.Segunda: o nome do partido. Por que "dos Trabalhadores"? Nunca entendi. Qual a intenção?Quem é ou não é "trabalhador"? Se o PT defende os interesses "dos Trabalhadores", os demais partidos defendem o interesse de quem? Dos vagabundos?E o pior, em sua maioria, os dirigentes e fundadores do PT nunca trabalharam. Pelo menos, quando eu os conheci, na década de 80, ninguém trabalhava. Como não eram eleitos para nada, o trabalho dos caras era ser "dirigentes do partido". Isso mesmo, basta conferir o currículum vitae deles. Repare no choro do Zé Genoníno quando foi ejetado da presidência do partido. Depois de confessar seus pecadinhos, fez beicinho para a câmera e disse que no dia seguinte ia ter que descobrir quem era ele. Ia ter "que sobreviver" sem o partido. Isso é: procurar emprego. São palavras dele, não minhas. Lula é outro que se perdeu por não pegar no batente por mais de 20, talvez 30 anos... Digam-me, qual foi a última vez, antes de virar presidente, que Luis Ignácio teve rotina de trabalhador? Só quando metalúrgico em São Bernardo. Num breve mandato de deputado, ele fugiu da raia. E voltou pro salarinho de dirigente de partido. Pra rotina mole de atirar pedra em vidraça.Meus amigos petistas espumavam quando eu apontava esse pequeno detalhe no curriculum vitae do Lula. O herói-mor do Partido dos Trabalhadores não trabalhava!!! Peço muita calma nessa hora. Sem nenhum revanchismo, analisem a enrascada em que nosso presidente se meteu e me respondam. Isso não é sintoma de quem estava há muito tempo sem malhar, acordar cedo e ir para o trabalho. Ou mesmo sem formar equipes e administrar os rumos de um pequeno negócio, como uma padaria ou de um mísero botequim?Para mim, os vastos anos de férias na oposição, movidos a cachaça e conversa mole são a causa da presente crise. E não o cuecão cheio de dólares ou o Marcos Valério. A preguiça histórica é o que justifica o surto psicótico em que vive nosso presidente e seu partido. É o que justifica essa ilusão em Paris... misturando champanhe com churrasco ao lado do presidente da França... outro que tá mais enrolado que espaguete.Eu não torço pelo pior. Apesar de tudo, respeito e até apoio o esforço do Lula para passar isso tudo a limpo. Mesmo, de verdade. Mas pelamordedeus, não me venham com essa história de que todo mundo é bandido, todo mundo rouba, todo mundo sonega, todo mundo tem caixa 2... Vocês, do PT, foram escolhidos justamente porque um dia conseguiram convencer a maioria da população (eu sempre estive fora desse transe) de que vocês eram diferentes. Não me venham agora querer recomeçar o filme do início jogando todos na lama.Eu trabalho desde os 15 anos. Nunca carreguei dinheiro em mala. Nunca fui amigo dessa gente. Pra terminar uma sugestão para tirar o PT da crise. Juntem todos os "dirigentes", "conselheiros", "tesoureiros", "intelectuais" e demais cargos de palpiteiros da realidade numa grande plenária. Juntos, todos, tomem um banho gelado, olhem-se no espelho, comprem o jornal, peguem os classificados e vão procurar um emprego para sentir a realidade brasileira. Vai lhes fazer muito bem. E quem sabe depois de alguns anos pegando no batente, vocês possam finalmente, fundar de verdade um partido de trabalhadores.(*) Marcelo Tas, multimídia, atualmente chefia o programa da BAND, CQC, e esta carta é de 2007.