quarta-feira, 15 de julho de 2020

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Harmonia e cacofonia

Ministros do Supremo Tribunal Federal, bem como presidentes do Senado e da Câmara dos deputados, não se cansam de, dia sim, dia não, proclamar as altas virtudes da separação dos poderes, a fim de justificarem suas abusivas intromissões no campo de competência do presidente da república. Tais manifestações de tão altos juízes togados criam, ao contrário da harmonia estipulada constitucionalmente, uma infernal cacofonia. Algo parecido com uma orquestra composta por vuvuzelas, caxirolas e berimbaus agrupados num bando de dimensões equivalentes ao somatório do número de magistrados das Cortes Superiores. Obedecido o critério, isso vai pra lá de meia centena de participantes, todos vuvuzelando, caxirolando e berimbausando. Nem Dante imaginou ruídos tão infernais para seus condenados. Seria esta, de fato, a mais perfeita imagem de cacofonia, com a orquestra de vuvuzelas, caxirolas e berimbaus comandada por um ensandecido Barbarícia. Somente este,  postado como maestro da turma, demônio indecente que era, portava instrumento diferente daqueles outros, ao fazer de tuba o traseiro rodopiante, conforme apontou o memorável poeta florentino.   

Harmonia, ao contrário, exige instrumentos de outra ordem. No paraíso a bem aventurança é gozada não apenas pela presença de Deus, mas pelas melodias harmoniosas que brotam do violino de Bach, e se espalham eternamente pelo éter, para gáudio das almas escolhidas, aquelas que buscaram com sinceridade cultivar a harmonia como princípio, em todas as oportunidades com as quais se depararam em vida.