sábado, 15 de outubro de 2016

A cor das uvas


Ressentido pela impossibilidade de obter apoio de gente respeitável à sua campanha para prefeito de Belo Horizonte, o empreiteiro Kalil deu uma de mané: recusou o que nunca teria, numa bravata típica da chamada antipolítica. As uvas, afinal, estão verdes. Empreiteiros, de fato, não andam por aí com o prestígio em alta. Os escândalos que protagonizam são sobejamente conhecidos. Ninguém os ama, ninguém os quer. Apelando à imagem produzida pelo próprio candidato, os empreiteiros parecem contagiados por um mal de natureza política. 

Um silogismo esclarece a questão: os empreiteiros estão com lepra; Kalil é empreiteiro; logo, Kalil está leproso. Disfarçado com a máscara de "empresário",  tenta de toda maneira escapar do estigma. Não tem pudor de cuspir no prato em que comeu, nem de posar de vítima para tentar explicar seus calotes e falências, mesmo tendo recursos para saldar suas obrigações. Dormem na sua garagem veículos de alto luxo, além de motocicletas cinematográficas. Mas ele não paga as contas, e ponto final. 

Seria o caso de relembrar o perfil do Marquês de Pombal, numa referência de Camilo Castelo Branco: o moço é falido, sim, falido de brios. As classes médias de Belo Horizonte já conhecem o roteiro a ser cumprido por gente como Kalil. Por isso foram às ruas nos últimos anos. Foram protestar contra os aventureiros e os aventureirismos encarnados no PT, no petismo e assemelhados (PC do B, Rede Sustentabilidade, PCB, Psol, PSTU), e toda uma vasta sopa de letrinhas de escassa representatividade social.

Quais dos grandes ícones e lideranças do PV e da Rede Solidariedade teriam coragem de, batendo no peito, declarar que apoiam Kalil e o que ele representa? Caroneiro da insatisfação popular, o postulante do PHS à prefeitura de BH se sustenta nas pesquisas com o voto do petismo, ainda encroado na administração pública. Nem os petistas, porém, notórios pela ausência de pudor e pelo apreço a boquinhas, ousam se manifestar abertamente em prol do parvenu

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Kalil e Marina: ambientalismo de montão


Em Belo Horizonte desenrola-se campanha eleitoral das mais bizarras. Aqui há alianças e alianças. Uma delas se deu entre as forças políticas majoritariamente anti-petistas da cidade, em torno do deputado estadual João Leite. Compreensível. Em BH, sempre é bom relembrar, a rombuda Dilma foi derrotada, apesar de ter sido vitoriosa no restante do estado, em 2014. Cumpriu papel relevante para os resultados obtidos pela chapa petista nos grotões mineiros o inefável Walfrido Mares Guia, eminência pardacenta, verdadeiro Rasputin de todas as eleições
ocorridas em Minas nos últimos 30 anos. 

Mares Guia, aliás, e não por acaso, coordena a campanha para prefeito de exótico empreiteiro que, tendo falido suas empresas, agora se devota ao projeto de falir Belo Horizonte. Também não é mera coincidência o empreiteiro Kalil, em sua trajetória, ter seguido os passos de dona Dilma (com quem irmana a torcida pelo Atlético, clube glorioso que não tem culpa, porém, de atrair simpatizantes de todos os tipos). A especialista que quebrou o Brasil, quebrou antes uma lojinha de produtos de R$1,99 no mercado popular de Porto Alegre. Os brasileiros, infelizmente, não souberam ler nos fatos os sinais que alertavam para o que viria no futuro, ao votar na madame para presidente do país. O povo bem parece gostar do flerte com o perigo.

Kalil se compôs com o petismo, capitaneado pelo governador Pimentel e com os doidões verdes, ansiosos por uma boquinha na prefeitura, além dos ecochatos de Marina Silva, que lhe forneceu um vice extraído das hostes da Rede Sustentabilidade, um sobredito ex-petista, o deputado estadual Paulo Lamac, configurando um novo e verdadeiro exército de Brancaleone.  Curioso é que os companheiros do falido empreiteiro nada falam, nada argumentam, nada justificam frente ao eleitorado de Belo Horizonte a opção que fizeram. Seria, no mínimo, ridículo assistir Kalil e Marina Silva desfilando de mãos dadas pelas ruas esburacadas de BH, secundados pelos mais vistosos ambientalistas da cidade. 

Realmente, não há como explicar a aliança da pueril Marina com um empreiteiro fabricante de asfalto. Só haveria uma suspeita para dar conta do fato que, dadas as características da moçada, se torna bem plausível. Acendida a fogueira das comemorações, haveria mato inadequado (molhado, quem sabe?), quando tomaram as decisões fundamentais. Mato molhado dá fumacê. Fumacê demais intoxica, e turva, o juízo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O Brasil se salvará: saiu a bruxa, entrou a princesa


A velha sede de justiça que sempre existiu entre os homens foi satisfeita, ao menos, em um aspecto. No palácio do Planalto, saiu a bruxa malvada e entrou a linda e boa princesa. 


Temer: a cara da felicidade

Convenhamos, um homem que se faz amar por tão bela criatura, com todo o respeito, há-de ter qualidades suficientes para conduzir o Brasil. Temer foi decisivo, também, para afastar as outras parcas que infestavam a cúpula da administração do país; pavorosas como Ideli, Eleonora, Maria do Rosário, Iriny e outras campeãs, em especial as que brotam, abundantes, no PC do B. 

Mulheres nos tempos sombrios do PT e a bondade do STF


"Passados quase dez anos do trágico episódio, a juíza que assinou, em 23 de outubro de 2007, o auto de prisão em flagrante da menor L.A.B., encarcerada durante 26 dias numa cela da cadeia de Abaetetuba, no Pará, ocupada por trinta homens, foi finalmente punida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Clarice Maria de Andrade ficará afastada das funções por pelo menos dois anos. Ele segue, contudo, recebendo salário.

Na ocasião, a adolescente tinha 15 anos, menos de 40 quilos e um metro e meio de altura. Foi estuprada incontáveis vezes, teve cigarros apagados em seu corpo e as plantas dos pés queimadas enquanto procurava dormir. Acusação: tentar furtar um telefone celular. Depois de 10 dias de cativeiro, a garota foi levada à sala da juíza Clarice de Andrade. Informada de que a prisioneira tinha 15 anos, a magistrada ainda resolveu devolvê-la à cela. E ali ficaria muito mais tempo se um dos detidos não saísse da cadeia disposto a relatar o que ocorria ao Conselho Tutelar.
Confirmada a veracidade da denúncia, uma funcionária da entidade procurou o promotor Lauro Freitas, que foi à delegacia no dia seguinte. Quando Freitas a encontrou, os carcereiros providenciaram documentos falsos para transformar a adolescente numa mulher de 20 anos, e obrigaram os pais da vítima a assinar uma certidão de nascimento fraudada. A farsa foi implodida quando a história ultrapassou as divisas do Pará e pousou nos jornais e revistas de todo o país.
Segundo os autos, em 7 de novembro de 2007, a magistrada recebeu ofício da autoridade policial de Abaetetuba solicitando “em caráter de urgência” a transferência da menina, uma vez que ela corria “risco de sofrer todo e qualquer tipo de violência por parte dos demais”. De acordo com o apurado, apesar da gravidade do caso, somente no dia 20 daquele mês a juíza encaminhou ofício à Corregedoria de Justiça do Pará pedindo a transferência para um estabelecimento prisional adequado. Em sua defesa, Clarice Maria de Andrade afirmou ter delegado ao diretor da secretaria do juízo a tarefa de comunicar a Corregedoria em 7 de novembro, o que foi desmentido pelo servidor e por outros funcionários e comprovado por perícia feita no computador da serventia.
Os magistrados presentes à sessão no CNJ seguiram o voto do relator Arnaldo Hossepian, segundo quem “não é admissível que, diante da situação noticiada no ofício – presa do sexo feminino detida no mesmo cárcere ocupado por vários presos do sexo masculino, algo ignominioso – a magistrada Dra. Clarice, no exercício da jurisdição, tenha simplesmente delegado para seu subordinado a expedição de comunicados pelas vias formais, curvando-se às justificativas que, segundo ela, foram apresentadas pelo servidor para postergar o cumprimento da determinação, o que se deu mais de dez dias após o recebimento do ofício. Evidente, portanto, a falta de compromisso da magistrada com suas obrigações funcionais”.
Em 2010, ao analisar o processo, o CNJ decidiu pela aposentadoria compulsória da magistrada. Mas a decisão foi revista pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dois anos depois. De acordo com os ministros do STF, não havia provas de que Clarice Maria de Andrade tinha ciência da circunstância em que foi cumprida a ordem de prisão da adolescente. Na oportunidade, o Supremo determinou que o CNJ analisasse o caso novamente – o que foi feito na terça-feira".

(Texto publicado pela revista VEJA)

Belo Horizonte: todo o poder aos empreiteiros


Do conúbio perverso entre a voracidade e os governos nasceram os empreiteiros. Estes, filhos devotados aos pais, nunca deixaram de prestar-lhes as devidas homenagens com a generosa abertura da sua fornida cornucópia. De maneira vagamente assemelhada com os empresários comuns (que buscam atentamente oportunidades de negócios, com um olho no mercado e outro na concorrência), os empreiteiros têm aqui, claramente definido, um aspecto que marcará sua natureza: diferentemente dos verdadeiros empresários privados, os empreiteiros, na prática, só negociam com o governo, seu único cliente, quer seja no âmbito municipal, estadual ou federal. 

As operações conduzidas pela justiça e pela polícia, em especial a chamada Operação Lava-Jato, escancarou os subterrâneos onde se movem os empreiteiros. A ousadia dessa gente é simplesmente inacreditável. Um dos mais audaciosos dos empreiteiros (Marcelo Odebrecht) chegou a criar um específico departamento para gerenciar as propinas e capilés, com os quais alimentava a cobiça dos políticos, do Brasil e de outras plagas. O corruptor sabia que tal cobiça, universal segundo também denuncia a Palavra, é igual ao abismo e igual ao inferno: nunca se satisfaz. 


Tal conduta deletéria não se restringe, porém, aos grandes empreiteiros. Os ratos são ratos, independentemente do seu tamanho. A grande imprensa não se cansa de apontar exemplos dessa rede corruptora que se espraia do norte ao sul e do leste ao oeste. Apesar do pendor cleptocrático dos   governantes e da burocracia pública, sempre houve uma espécie de "ética" entre estes e os empreiteiros; os governantes, bem ou mal, governavam e os empreiteiros ficavam no seu pedaço, a distribuir os pixulecos que sustentavam e acalmavam aqueles. O mecanismo era simples. As propinas não passavam de custos a serem embutidos no preço final de qualquer obra ou serviço prestado. Por isso o espanto quando se tem notícia de empreiteiro que faliu. Empreiteiro falido é um oxímoro
: se é empreiteiro não é falido; se é falido não é empreiteiro. Empreiteiro falido, somente com fraude.

Imagine-se, agora, um empreiteiro, como Marcelo Odebrecht (o corruptor-mór da República), postulando a presidência do Brasil, ou um Léo Pinheiro se credenciando a governar São Paulo. Seria tão chocante quanto botar o bicheiro Carlinhos Cachoeira na chefia da Polícia Federal. Ou designar Fernandinho Beira Mar para uma delegacia de tóxicos.    


Em Belo Horizonte, contudo, um desses paradoxos corre o risco de se viabilizar. Um empreiteiro está na disputa da prefeitura. Esse exotismo dos mineiros pode ser a senha acenada aos plutocratas do país. Chega de políticos, como diz Kalil? Não. Chega de intermediários entre os empreiteiros e os cofres públicos. Os lucros da turma aumentarão. O sindicato dos patrões das obras públicas esfrega as mãos de alegria. Kalil, quem sabe, até traga um resultado socialmente desejável. Talvez, passe a pagar seus tributos municipais, coisa que ele evita fazer, fugindo do fisco como o diabo foge da cruz. 



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Faroeste em Belo Horizonte (O rei do gatilho)


Se a campanha para eleger o prefeito da capital mineira fosse um filme, certamente não seria um folhetim meloso, nem uma tragédia. Estaria mais próximo de um pastelão narrado como faroeste, em nada, porém, similar àqueles filmes de bangue-bangue clássicos da filmografia americana. Sua genética estaria com os faroestes espaguetes italianos, pastelões mais próximos da comédia que dos dramas que marcaram aquele gênero. O estilo, indefectível, é o mesmo que o de Kid Morengueira.


Dick Vigarista



Começa o filme. No salão alguns dançam, outros bebem e aqueloutros jogam um carteado amigo. Misturam-se os diferentes tipos humanos. O zumbido aumenta alguns decibéis antes de tudo ficar naquele silêncio que antecipa graves decisões. A cafetina, acostumada aos tiroteios, puxa suas pupilas pelos braços rumo a um canto protegido do salão. O mocinho e o bandido caminham um em direção ao outro. Um bêbado pergunta a uma criança escondida debaixo de uma mesa quem é quem os que vão duelar. A criança, sempre ela, tal como no caso da roupa do rei, não quer perder nenhum movimento das próximas cenas. Responde rápido ao interlocutor: tá na cara. Um é o mocinho e o outro é o bandido. Dick vigarista se dá fácil a conhecer. A seu lado, Muttley, rindo sarcasticamente. O cão se aloja no topo da escada, para melhor apreciar o combate.  

Cuidado, Moreira! Bang, bang, bang....


Muttley Pimentel
  

Na fita real que se desenrola agora na capital mineira, bem frente aos nossos olhos, em flagrante imitação da arte pela vida, os contendores do cabaré de Belo Horizonte respondem pelos nomes de João Leite e Kalil. Prevalecerá o julgamento comprometido com a verdade feito pela criança? Quem é o mocinho e quem é o bandido, é a pergunta que não quer calar. Lombroso é a chave do enigma.