quarta-feira, 7 de outubro de 2009

PRIVATIZAÇÃO DO VESTIBULAR

O estilo petista de privatizar o patrimônio coletivo é bem conhecido. Seus maiorais gostam de transferir para o controle de particulares aquelas atividades de governo situadas no âmbito dos chamados "serviços". Manobrando aqui e ali, com ou sem licitações (principalmente sem), sempre sobra uma bocada para os alegres companheiros, seus cúmplices ou testas de ferro. Lixo, por exemplo, é uma verdadeira festa. São notórias as relações da companheirada do PT com as empresas de limpeza - ligadas ou não a grandes empreiteiras - em diferentes cidades do Brasil. Contratos lesivos aos cofres públicos permitem, afinal de contas, as gordas contrapartidas nos períodos eleitorais por parte de empresários agradecidos.

A desfaçatez da turma chega a um ponto tal, que não se preocupam em lançar formalmente, nas prestações de contas aos tribunais eleitorais, as contribuições assim recebidas (que são ilegais, vindas de concessionários de serviços públicos, pois que proibidas por lei complementar). O ex-prefeito Fernando Pimentel (de Belo Horizonte) é um destes casos, que ficou e permanece impune, apesar de denúncia tempestiva efetivada junto à Justiça mineira, por ocasião de sua reeleição em 2004. Para quem tem qualquer dúvida basta conferir as vultosas doações feitas pela empresa de lixo CONSITA ao então candidato Pimentel. Lixo e varrição de ruas se juntam ao transporte coletivo, aos serviços de vigilância e outros mais no exercício costumeiro de morder o componente Custeio do orçamento público.

Como essa gente não faz obras ("isto é coisa da burguesia capitalista", dizem), fica impossibilitada de retirar as comissões de praxe creditadas pelos empreiteiros da construção pesada. Há nisto também um fator de natureza filosófica para as opções feitas pelo petismo. Saquear o Investimento é algo muito focado, que só beneficia um pequeno número de agentes. Prática de leões, para usar uma metáfora. Agora, saquear o Custeio implica a socialização dos benefícios, abrangendo toda uma ampla e gulosa companheirada. É um exercício concreto do que chamam de "inclusão" corrupta, ou seja, reparte-se o butim entre muitos, numa criação de mafiosa e efetiva solidariedade. Em metáfora similar à outra - saquear o Custeio - repita-se, é a prática de bandos de ratos ou de nuvens de gafanhotos. Simplificando: companheiros que roubam unidos, permanecem unidos!

Neste último escândalo protagonizado pelo governo Lula da Silva (sob a responsabilidade direta do ministro Fernando Haddad), os auto-proclamados "estatistas" do PT e satélites resolveram privatizar o vestibular, entregando de mão beijada a um consórcio de negocistas da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo a incumbência de executar o chamado ENEM. Tradicionalmente o processo seletivo era realizado de forma descentralizada pelas diferentes universidades do país. Com uma experiência acumulada de várias décadas estas instituições conseguiam realizar a triagem necessária com eficiência e segurança. Inovações pontuais acrescentadas ao longo do tempo não conseguiam, no entanto, superar a inescapável contradição de ser o cocho pequeno para uma manada tão grande. Ou seja, uma Universidade com 5.000 vagas, por exemplo, ao receber a inscrição de 50.000 candidatos teria, forçosamente, de eliminar 45.000 pretendentes. Em suma, nada muda no que diz respeito à elasticidade da demanda em relação à fixidez da oferta, como diriam os economistas.

Mas, os negócios, ah! os negócios, os bons negócios que poderiam ser feitos sob o patrocínio do Ministério da Educação não deixariam de ser percebidos pela quadrilha governante, como de fato não o foram. Resolveram, então, unificar ao máximo a seleção entregando para negociantes privados o encargo de viabilizá-la ao preço de dezenas e dezenas de milhões de reais (sem concorrência, é claro, para respeitar e manter o costume da turma).

A indústria privada de concursos ainda tinha outra vantagem. Estaria muito mais susceptível a adotar questões com claro viés ideológico pois, afinal, o cliente é quem manda. Cumpriria desta forma, sem maiores questionamentos, as exigências de natureza gramsciana que permeiam o pensamento hegemônico entre as autoridades educacionais. Produziria uma massa de candidatos ao ensino superior mais afinada ideologicamente com a concepção de "homem novo" buscado pelos nefelibatas ministeriais. Facilitaria a doutrinação política e partidária futura pela imposição de uma certa maneira de ver o mundo, que se tornaria compulsória no ensino médio, em vista dos resultados medidos pelo "vestibular do Haddad" a que todos estariam sujeitos no futuro. Esta reflexão pode estar incorrendo em equívoco mas será elucidativo avaliar as questões das provas que foram fraudadas.

Provavelmente serão similares àquelas que eram usuais nos concursos patrocinados pelos petistas do Rio Grande do Sul quando Olívio Dutra era o governador. Provas estas mais para selecionar militantes partidários que para selecionar professores, tal como o ocorrido nas plagas gaúchas e já devidamente conhecido. E o tal Haddad ainda quer ser governador de São Paulo... Imagine-se o risco que correriam os paulistas se isto se concretizasse!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

OS VAMPIROS ALIADOS FESTEJAM A AMPLIAÇÃO DO BANCO DE SANGUE (do blog de Augusto Nunes)

"Menos de um mês depois de promover o Brasil a potência petroleira, Lula promoveu-se a presidente de uma potência olímpica. Em 6 de setembro, Dia da Segunda Independência, não precisou de um só barril a mais para apresentar ao mundo o caçula da OPEP. O que resolveu que vai acontecer daqui a 10 ou 15 anos pareceu-lhe suficiente. Em 2 de outubro, depois de derrotar os ianques, os espanhóis e os japoneses na Batalha da Dinamarca, não precisou de uma única medalha de bronze para instalar o país no clube dos colossos esportivos. Bastou o que resolveu que vai acontecer no Rio em 2016.
O curto espaço entre os dois assombros avisa que a metamorfose ambulante sofreu mais uma mutação para pior. Lula sempre se apropriou do passado para fingir que fez o que outros fizeram. Quem ouve a discurseira imagina, por exemplo, que a inflação liquidada em 1994 pelo Plano Real foi banida em 2003. Pois o maior governante da história agora deu de também expropriar o futuro para moldá-lo às conveniências do presente ─ e fingir que já foi feito o que está por fazer. O craque que vive assumindo a paternidade de gols alheios passou a reivindicar a autoria dos que nem aconteceram.
A fantasia seria menos inverossímil se Lula não inaugurasse o futuro sempre em companhia de gente que eterniza o passado. No descobrimento do pré-sal, protagonizou uma superprodução futurista à frente de um elenco de cinema mudo liderado pelos canastrões José Sarney e Edison Lobão. No comício em Copenhague, anunciou a ascensão do Brasil à primeira divisão do planeta num palanque de segunda. O país não tem sequer arremedos de política esportiva. Investe apenas, e equivocadamente, no esporte de alto rendimento. O Brasil coleciona fiascos a cada Olimpíada por falta de direção e de verbas.
Dinheiro existe de sobra, esclareceu o presidente ao comunicar que serão investidos no Rio quase R$ 30 bilhões. A bolada vai ser muito maior, corrigiu o sorriso de empreiteiro malandro no rosto da cartolagem. E boa parte vai engordar o patrimônio dos campeões do salto sobre cofres públicos, modalidade não-olímpica praticada com muita competência por figurões federais e supercartolas.
Só os olhos gulosos dos bandidos e a miopia dos idiotas incuráveis enxergam um Brasil dividido entre nacionalistas grávidos de patriotismo com o triunfo incomparável e traidores da nação em aliança com os mortos de ciúme da Cidade Maravilhosa. O Brasil não precisa hospedar a Olimpíada para afirmar-se como nação em marcha acelerada para longe das cavernas. O Rio não precisaria virar sede dos Jogo de 2016 para merecer as atenções, o respeito, o carinho e os investimentos que a mais bela das cidades reclama há décadas. Consumada a escolha, ninguém minimamente sensato vai torcer pelo naufrágio. Mas o desastre só será evitado se a tripulação for trocada a tempo.
Em 2003, os cariocas souberam que o Pan-2007, orçado em R$ 400 milhões, traria como dote a linha de metrô da Barra, a despoluição da Baía de Guanabara, a ressurreição da Lagoa Rodrigo de Freitas e outros espantos. A conta ficou em R$ 4 bilhões e os milagreiros nada santos esqueceram o prometido. Tudo será feito agora, reincide Carlos Nuzman, que presidiu o comitê do Pan, preside o COB e presidirá o comitê dos Jogos de 2016. É errando que a gente aprende, recita Orlando Silva, ministro do Esporte desde 2006, que forma com Nuzman uma dupla que anda fazendo bonito nos torneios de gastança suspeita promovidos pelo Tribunal de Contas da União.
O cinismo dos vendedores de ilusões só não é mais espantoso que a euforia da multidão de iludidos. Com o mesmo entusiasmo dos vampiros encarregados da administração, os doadores festejam a ampliação do banco de sangue."

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CONCURSOS PÚBLICOS E MANIPULAÇÃO

O Brasil assiste a uma verdadeira explosão de concursos para o ingresso em alguma carreira disponível no governo (administração direta, indireta e empresas públicas ou de economia mista), no âmbito federal, estadual ou municipal. Muitas das vêzes, no entanto, tais disputas nem se destinam a abrir uma perspectiva real para os interessados. Trata-se, tão somente, de criar uma expectativa de ingresso pois destinam-se (os referidos concursos), à construção de quadros de reserva para uma futura possível chamada, dentro dos prazos de validade convencionais (geralmente de dois anos prorrogáveis por mais dois). Não é incomum, entretanto, que o tempo passe (caducando o concurso), e aqueles "classificados" fiquem sem ser chamados para os cargos que disputaram.

Em alguns casos notórios as inscrições contam-se não em milhares, mas, em centenas de milhares. Certamente serão poucas as famílias brasileiras que não tenham algum de seus membros aspirando um emprego público de qualquer nível. Mais que o salário perseguem a estabilidade e a garantia de renda permanente, numa indicação da situação insegura em que vive a maioria da população, apesar da ufanista propaganda oficial sobre a prosperidade do país. Carreiras da burocracia especializada do executivo (fisco, diplomacia, Banco Central etc), e, principalmente, aquelas do judiciário e do legislativo são desejadas como se fossem prêmios da loteria. Isto enseja custosa preparação e a correspondente criação de verdadeira indústria de cursinhos preparatórios.

As classes intermediárias, historicamente tributárias do emprego público, são as que mais perseguem o que julgam ser um lugar ao sol em termos profissionais. Seus membros inscrevem-se em vários concursos ao mesmo tempo, sempre na esperança de que em algum deles seus objetivos serão atingidos. Afinal, quando se está em um engarrafamento dentro de um túnel, pensa-se sempre que o andar de uma das filas é uma sinalização de que as outras irão se mover também. Subjacente a este raciocínio está o aforisma de Augusto Matraga: todos têm sua hora e sua vez; basta ter paciência para esperar.

Se é verdade que concursos são necessários para o recrutamento de quadros profissionais, parece, no entanto, estar em ação um projeto que visa manipular a esperança das pessoas, provocando um entorpecimento crítico daqueles que aspiram um emprego público. A tolerância com a qual amplas parcelas da sociedade brindam o governo mais corrupto da história da república pode ter nos fatos acima enumerados um dos seus fundamentos. Seria interessante colocar em alguma pesquisa de opinião algum ítem que verificasse se o informante, ou algum parente próximo, é pretendente a algum emprego público.