sexta-feira, 9 de setembro de 2011

ENIGMA DO PROFESSOR DELÚBIO

Entre os réus mais notórios do mensalão está o professor Delúbio. É professor de matemática (bem como o professor Luizinho, outro dos acusados). Ambos são homens acostumados a fazer operações numéricas: somar, dividir, multiplicar e, ao que parece, subtrair. Em princípio, contas devem fechar, igual se faz na Contabilidade, ou seja, o crédito será sempre igual ao débito, o dever igual ao haver. Dito de outra maneira, a despesa e a receita apontarão sempre para o mesmo valor, porém com o sinal trocado. Se a receita, no entanto, for superior à despesa, haverá superavit; caso contrário, haverá deficit. São contas simples de fácil compreensão para todos, refletindo uma verdade universal. A menos que se admita a existência de duas matemáticas: uma, capitalista e burguesa e, outra, popular e socialista, relativizando os resultados e considerando-os igualmente válidos. É verdade que o Ministério da Educação andou distribuindo (ainda recentemente), material didático, talvez com assessoria dos dois mestres matemáticos, onde considerava-se correta a conta 10 - 4 = 7.

Vamos, então, ao caso cabeludo em que os já citados professores estão envolvidos - o tal de mensalão. O professor Delúbio, ex-tesoureiro do PT, sustenta, em sua defesa, que inexiste lei que proíba a um partido "fazer alianças que impliquem a divisão dos custos das campanhas eleitorais, especialmente quando pagos com o dinheiro proveniente de empréstimos privados, não com dinheiro público”. Está correto o argumento. De fato, não há como proibir uma organização qualquer de pedir dinheiro emprestado e dar a ele finalidade lícita. Como ficaria o procedimento do mútuo devidamente contabilizado? O partido se endividou em tantos reais junto a um banco qualquer e deu o destino que quis ao dinheiro assim obtido. A receita vai, portanto, fechar com a despesa.

O enigma do professor Delúbio surge no momento em que se avalia a lógica dos empréstimos por ele referidos. Bancos não são entidades filantrópicas. Eles existem para ganhar dinheiro e, não, para distribuí-lo com prodigalidade. Não há nada, que se saiba, ao menos até o presente, que apontasse qualquer intenção do professor Delúbio no sentido de quitar os empréstimos. E o mais espantoso: o banco emprestador também não parece manifestar real interesse em receber de volta os valores emprestados. Os tais empréstimos têm, sim, um jeitão de mecanismo de lavagem de dinheiro (algo como legalização de comissões devidas por bons negócios propiciados pela turma do tesoureiro ao banco emprestador).


Um Ministério Público mais operante e mais sagaz investigaria as operações bancárias com fornecedores de governos petistas. Credores de prefeituras, por exemplo, se arrochados por falta de recebimento de seus créditos, poderiam ser forçados a pedir empréstimos a um banco determinado. O banco, então, com garantias de recebimento dadas em confiança, mesmo que informalmente, por autoridades do Executivo, faria a operação e, frente aos lucros obtidos, pagar a devida e de praxe comissão de agenciamento. O mecanismo mais simples, sem deixar quaisquer digitais, seria "emprestar" os valores correspondentes às comissões a alguém indicado pelo verdadeiro "dono" do dinheiro. Nesse momento, vão se cruzar os caminhos do professor Delúbio e do estafeta Marcos Valério, este nada mais que um simples testa de ferro.