quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

As acusações de abuso sexual a líder religioso: outra Escola Base?

O caso da Escola Base, em São Paulo, no início dos anos 90 do século passado, expôs a dignidade e a honra do casal que dirigia aquela instituição de educação infantil. Foram acusados de praticarem atividades sexuais com as crianças postas aos seus cuidados. Há relato pormenorizado feito pelo jornalista Alex Ribeiro sobre o assunto (Cf. o livro "Os abusos da imprensa", publicado pela Editora Ática, no ano 2.000).

Acusações das mais cabeludas destruíram a vida dos donos e dos demais professores da escolinha. Ao final de todas as provações, os mestres foram absolvidos. Mas, e daí? As acusações já eram uma condenação. Não há qualquer presunção de inocência, conforme deveria ser a praxe. Caiu na boca do leão (como ocorria na antiga Roma), está ferrado.

O momentoso caso de agora - as acusações ao médium e líder espiritual de Abadiânia - sinaliza penoso prognóstico para o "suspeito" de inumeráveis crimes contra a dignidade sexual das mulheres . Para estudiosos dos crimes contra a honra, um prato cheio para bem ilustrar teses e monografias.

Freud e a psicanálise silvestre

No artigo "Psicanálise Silvestre", em que discorre sobre a má compreensão a respeito do assunto por parte de neófitos, Freud tece alguns comentários que deveriam, ainda hoje e mais que nunca, ser levados em consideração.

Procurado por duas mulheres já maduras, que lhe relataram os "conselhos" recebidos de outro médico bem jovem para uma delas, recém divorciada (voltar a conviver com o ex-marido, arrumar um amante ou, então, masturbar-se), Freud assinala, de início, que o "conceito do que é sexual vai muito além de sua posição vulgar". Tão má compreensão científica pode acarretar danos aos pacientes, bem como ao próprio médico. 

Deixemos, então, que o grande pensador austríaco fale por si, segundo conferência pronunciada em 1905:

"Longos anos de experiência me ensinaram - como podem ensinar a qualquer outro - a não aceitar de imediato como verdade o que os pacientes, especialmente os pacientes nervosos, relatam acerca de seus médicos. Não apenas facilmente se torna o especialista em doenças nervosas o objeto de muitos dos sentimentos hostis de seus pacientes, qualquer que seja o método de tratamento que empregue; ele deve também, muitas vezes, resignar-se a aceitar, por uma espécie de projeção, a responsabilidade pelos desejos reprimidos ocultos de seus pacientes nervosos. É um fato melancólico, mas significativo, que tais acusações em nenhum outro lugar encontrem crédito mais prontamente do que entre os outros médicos" (p. 207, 208 do vol. XI, das obras completas de Freud, editadas pela Imago).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Olavo de Carvalho, Santo Josemaría Escrivá e o apostolado dos palavrões

Em favor de Olavo de Carvalho, no uso de palavrões, pode-se invocar, igualmente, o insuspeito depoimento de outro santo da Igreja, o espanhol Josemaría Escrivá, agora já no século XX, quatro séculos após Santo Thomas Morus.

No ponto 850, de seus Caminhos, cultiva o por ele denominado Apostolado dos Palavrões, ao orientar jovens discípulos.

Em tom provocativo afirma o criador da Opus Dei:

"Que conversas! Que baixeza e que ... nojo! E tens de conviver com eles, no escritório, na universidade, no consultório ... no mundo. Se pedes por favor que se calem, ficam caçoando de ti. Se fazes má cara, insistem. Se te vais embora, continuam.

A solução é esta: primeiro, pedir a Deus por eles e desagravar; depois ... ir de frente, varonilmente, e empregar o apostolado dos palavrões. Quando te vir, hei de dizer-te, ao ouvido, um bom repertório".

Olavo de Carvalho e Santo Thomas Morus

O ilustre pensador Olavo de Carvalho é conhecido, também, por suas irreverências e uso de linguagem obscena.
Em seu favor pode-se avocar o exemplo de Santo Thomas Morus, mártir da Igreja , beatificado por Leão XIII, em 1886, e canonizado por Pio XI, em 1935.

Em sua célebre "Responsio ad Lutherum", o padroeiro dos intelectuais e dos professores questiona  o monge alemão por sua contestação a um tratado teológico de autoria de Henrique VIII, rei da Inglaterra. Além de usar os mais chocantes palavrões disponíveis, repete-os e, ainda, os floreia.

A justificativa dada por Morus para o emprego da linguagem chula  foi simples: responder com puras contestações eruditas à baixeza de Lutero seria conceder-lhe uma honra imerecida, motivo que o levou, então, a fazê-lo nos termos a seguir.

"Enquanto continuardes a dizer essas desavergonhadas mentiras, a outros será permitido que joguem de volta na vossa boca cheia de merda, verdadeiro depósito de toda merda, a sujeira e merda inteira que vossa execrável podridão vomitou, e esvaziar todos os esgotos e privadas na vossa coroa despida da dignidade da coroa  sacerdotal, em prejuízo da qual decidistes bancar o palhaço". 

Para maiores informações, vale a pena consultar, no original, os textos do iracundo santo.

(The complete works of St. Thomas More, ed. John M. Headley, vol. V, New Haven: Yale University Press, 1969, pag. 181 ss.)