segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dilma é o Golem de Lula

Dona Dilma - a candidata oficial do PT - recusou-se a responder à indagação "Por que quero ser presidente do Brasil", tal qual foi formulada pelo jornal O Globo. Outros dois candidatos - Serra e Marina - não tiveram dificuldade em dar suas razões. O espantoso comportamento da madame soa inicialmente inexplicável a qualquer pessoa sensata. Não tanto, porém, caso se pense em outra hipótese. Em famoso poema - El Golem - Jorge Luiz Borges descreve a criatura forjada pelo delírio de um cabalista. O mago fez tudo certo, porém algo saiu errado. Por um erro de grafia em tão alta feitiçaria, não aprendeu a falar o aprendiz de homem. Dona Dilma é o Golem de Lula. Segue abaixo, para apreciação, a obra prima do genial argentino.


El Golem (J. L. Borges)

Si (como afirma el griego en el Cratilo)
el nombre es arquetipo de la cosa
en las letras de 'rosa' está la rosa
y todo el Nilo en la palabra 'Nilo'.

Y, hecho de consonantes y vocales,
habrá un terrible Nombre, que la esencia
cifre de Dios y que la Omnipotencia
guarde en letras y sílabas cabales.

Adán y las estrellas lo supieron
en el Jardín. La herrumbre del pecado
(dicen los cabalistas) lo ha borrado
y las generaciones lo perdieron.

Los artificios y el candor del hombre
no tienen fin. Sabemos que hubo un día
en que el pueblo de Dios buscaba el Nombre
en las vigilias de la judería.

No a la manera de otras que una vaga
sombra insinúan en la vaga historia,
aún está verde y viva la memoria
de Judá León, que era rabino en Praga.

Sediento de saber lo que Dios sabe,
Judá León se dió a permutaciones
de letras y a complejas variaciones
y al fin pronunció el Nombre que es la Clave,

la Puerta, el Eco, el Huésped y el Palacio,
sobre un muñeco que con torpes manos
labró, para enseñarle los arcanos
de las Letras, del Tiempo y del Espacio.

El simulacro alzó los soñolientos
párpados y vio formas y colores
que no entendió, perdidos en rumores
y ensayó temerosos movimientos.

Gradualmente se vio (como nosotros)
aprisionado en esta red sonora
de Antes, Después, Ayer, Mientras, Ahora,
Derecha, Izquierda, Yo, Tú, Aquellos, Otros.

(El cabalista que ofició de numen
a la vasta criatura apodó Golem;
estas verdades las refiere Scholem
en un docto lugar de su volumen.)

El rabí le explicaba el universo
"esto es mi pie; esto el tuyo, esto la soga."
y logró, al cabo de años, que el perverso
barriera bien o mal la sinagoga.

Tal vez hubo un error en la grafía
o en la articulación del Sacro Nombre;
a pesar de tan alta hechicería,
no aprendió a hablar el aprendiz de hombre.

Sus ojos, menos de hombre que de perro
y harto menos de perro que de cosa,
seguían al rabí por la dudosa
penumbra de las piezas del encierro.

Algo anormal y tosco hubo en el Golem,
ya que a su paso el gato del rabino
se escondía. (Ese gato no está en Scholem
pero, a través del tiempo, lo adivino.)

Elevando a su Dios manos filiales,
las devociones de su Dios copiaba
o, estúpido y sonriente, se ahuecaba
en cóncavas zalemas orientales.

El rabí lo miraba con ternura
y con algún horror. '¿Cómo' (se dijo)'
pude engendrar este penoso hijo
y la inacción dejé, que es la cordura?''

¿Por qué di en agregar a la infinita
serie un símbolo más? ¿Por qué a la vana
madeja que en lo eterno se devana,
di otra causa, otro efecto y otra cuita?'

En la hora de angustia y de luz vaga,
en su Golem los ojos detenía.
¿Quién nos dirá las cosas que sentía
Dios, al mirar a su rabino en Praga?

Dunga ministro de Dilma

Analogias e metáforas sempre nos ajudam a pensar o mundo. Apenas para relembrar, “metáfora é a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem cria a metáfora. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo comparativo não está expresso, mas subentendido. Na comparação metafórica (ou símile), um elemento A é comparado a um elemento B através de um conectivo comparativo (como, assim como, que nem, qual, feito etc. )”. As referências futebolísticas, por exemplo, fazem parte do anedotário político brasileiro atual. O presidente da república, aliás, é mestre na sua utilização. Uma inspeção em seus discursos nos últimos anos encontrará milhares de demonstrações neste sentido. Pois bem, o espantoso, porém, não surpreendente fracasso da seleção brasileira nos campos da África do Sul permite uma reflexão sobre o momento vivido pelo Brasil. Seria possível uma comparação entre dona Dilma e o volante Felipe Melo? Ou entre Lula e Dunga? Ou melhor, entre os pares afins Lula/Dunga e Dilma/Felipe Melo? Já circula, até, um pesadelo imaginado por alguns: Dunga ministro de Dilma.

Há possibilidade desta tragédia acontecer, pois os quatro personagens compartilham muitas coisas. Truculentos e de escassa formação cultural, todos eles espancam a palavra e a bola em bestiais demonstrações públicas de primitivismo. Note-se que a eventual presença em escolas formais não garante – como nunca garantiu - um necessário aprimoramento individual de uma pessoa qualquer. A estupidez do bando dos quatro é de raiz, quase que genética. O tipo de caráter da turma dificulta sua lapidação. Um seixo grosseiro será sempre um seixo, nunca um diamante ou um topázio imperial, por maior que seja o refinamento de seu corte e a competência do lapidador. A experiência acumulada na convivência em ambientes melhores do que o originário, no entanto, ao substituir a freqüência à escola, poderia cumprir uma função civilizatória. Mas alguns nunca saíram da sarjeta onde nasceram, ou das névoas totalitárias onde foram forjados, mesmo quando fisicamente coabitaram em ambientes mais amigáveis. A adoção de adereços materiais, penteados e botox faz lembrar os anéis de ouro em focinho de porco; enfeitam, mas o espírito deste permanece imutável.

Lula, Dunga, Dilma e Felipe Melo parecem se aproximar também no apreço a valores. Valores monetários, claro, e não aqueles que presidem a ética geral, os comportamentos e as relações com os semelhantes. Se for preciso assaltar bancos para arrumar dinheiro e, no caminho houver pessoas atrapalhando, que sejam elas assassinadas! Se for necessário atropelar e ferir outro ser humano a fim de garantir os objetivos pessoais perseguidos, que se danem as vítimas! Se para garantir uma vitória a qualquer custo for imperativo pisar no tornozelo de um colega ou chupar-lhe a carótida, faça-se isto sem qualquer piedade ou dor de consciência!
O bando dos quatro representa de maneira marcante o indivíduo amoral, aquele que não encontra limites internos para quaisquer de seus atos. Constituem, assim, uma ameaça concreta à vida e à civilização humanas. Gente com tal perfil deu vida e sustentação a aventuras sanguinárias, como as sofridas na Rússia e na Alemanha nazista em tempos recentes. Que o senso de humanidade ainda prevaleça na maioria do povo brasileiro na hora em que for votar em outubro próximo.

DROGAS NAS ESCOLAS

Estudo realizado pelo Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas indicou que uma terça parte dos alunos de ensino médio da rede particular de São Paulo já se embriagou ao menos uma vez na vida. Quem se espantou com a informação precisa saber que os caminhos do vício, no entanto, parecem começar mais cedo. Estudantes da sétima e oitava séries, em proporção equivalente a 14% da amostra entrevistada, relatam também terem se embriagado no último mês à data da entrevista. Já a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas divulgou mais recentemente que 86% dos estudantes universitários já consumiram álcool e 49% declinaram ter usado drogas ilícitas, conforme outra pesquisa agora realizada pela USP.

Os dados parecem indicar que, do lado das famílias e da sociedade, há visível tolerância, ou indiferença, em relação ao consumo de bebidas alcoólicas pelos mais jovens. As instituições educativas, por sua parte, não ficam em melhor situação nesse dramático retrato. No caso das escolas, há um agravante fornecido pela autoencomiástica postura ética que alardeiam, em flagrante contradição entre os valores que proclamam e os valores que praticam (deformação antiga no Brasil, denunciada há meio século pelo grande educador Anísio Teixeira).

Exemplos evidentes não faltam aos olhos de quem quer ver. As conhecidas festas juninas, realizadas em ambientes escolares de todos os níveis, são fartamente irrigadas com quentões, cervejas e outros destilados; e tudo com uma naturalidade e sem-cerimônia que qualquer questionamento fica parecendo coisa de excêntricos.

Não é incomum que solenidades em instituições públicas brindem aos seus convidados com copiosas taças financiadas, provavelmente, pela cornucópia do erário (que assume ainda custos de eventuais danos ao patrimônio no decorrer da esbórnia). Ora, são os costumes, diria um distraído; qual o problema? Essa é a alegação usual, de fato. Tais práticas seriam parte da tradição. Colar nas provas e levar vantagem em tudo também fazem parte dos tais costumes. Nem por isso se deve condescender com tais aberrações.

A imprensa da capital mineira divulgou, há poucas semanas, evento oficial comemorativo em notória instituição de ensino superior devotada à formação de educadores. Como parte dos festejos, promoveu-se generosa distribuição de bebidas para professores, alunos e outros lá presentes (isso no horário das aulas, obviamente comprometidas para a viabilização da fuzarca). Não seria fantasiosa a hipótese que apontasse, no festim em tela, consumo alcoólico individual superior ao legalmente permitido, com múltiplas implicações, desde as pedagógicas até as de saúde pública. Graves acidentes, aliás, demonstram a correção da Lei Seca, apesar de esta confrontar os "inocentes" costumes em vigor, sempre defendidos por paladinos da ética proclamada.

No tocante às drogas, escolas deveriam dar exemplos, mais que proclamar virtudes.

(Publicado no jornal O TEMPO em: 04/07/2010)