Estudo realizado pelo Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas indicou que uma terça parte dos alunos de ensino médio da rede particular de São Paulo já se embriagou ao menos uma vez na vida. Quem se espantou com a informação precisa saber que os caminhos do vício, no entanto, parecem começar mais cedo. Estudantes da sétima e oitava séries, em proporção equivalente a 14% da amostra entrevistada, relatam também terem se embriagado no último mês à data da entrevista. Já a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas divulgou mais recentemente que 86% dos estudantes universitários já consumiram álcool e 49% declinaram ter usado drogas ilícitas, conforme outra pesquisa agora realizada pela USP.
Os dados parecem indicar que, do lado das famílias e da sociedade, há visível tolerância, ou indiferença, em relação ao consumo de bebidas alcoólicas pelos mais jovens. As instituições educativas, por sua parte, não ficam em melhor situação nesse dramático retrato. No caso das escolas, há um agravante fornecido pela autoencomiástica postura ética que alardeiam, em flagrante contradição entre os valores que proclamam e os valores que praticam (deformação antiga no Brasil, denunciada há meio século pelo grande educador Anísio Teixeira).
Exemplos evidentes não faltam aos olhos de quem quer ver. As conhecidas festas juninas, realizadas em ambientes escolares de todos os níveis, são fartamente irrigadas com quentões, cervejas e outros destilados; e tudo com uma naturalidade e sem-cerimônia que qualquer questionamento fica parecendo coisa de excêntricos.
Não é incomum que solenidades em instituições públicas brindem aos seus convidados com copiosas taças financiadas, provavelmente, pela cornucópia do erário (que assume ainda custos de eventuais danos ao patrimônio no decorrer da esbórnia). Ora, são os costumes, diria um distraído; qual o problema? Essa é a alegação usual, de fato. Tais práticas seriam parte da tradição. Colar nas provas e levar vantagem em tudo também fazem parte dos tais costumes. Nem por isso se deve condescender com tais aberrações.
A imprensa da capital mineira divulgou, há poucas semanas, evento oficial comemorativo em notória instituição de ensino superior devotada à formação de educadores. Como parte dos festejos, promoveu-se generosa distribuição de bebidas para professores, alunos e outros lá presentes (isso no horário das aulas, obviamente comprometidas para a viabilização da fuzarca). Não seria fantasiosa a hipótese que apontasse, no festim em tela, consumo alcoólico individual superior ao legalmente permitido, com múltiplas implicações, desde as pedagógicas até as de saúde pública. Graves acidentes, aliás, demonstram a correção da Lei Seca, apesar de esta confrontar os "inocentes" costumes em vigor, sempre defendidos por paladinos da ética proclamada.
No tocante às drogas, escolas deveriam dar exemplos, mais que proclamar virtudes.
(Publicado no jornal O TEMPO em: 04/07/2010)
Os dados parecem indicar que, do lado das famílias e da sociedade, há visível tolerância, ou indiferença, em relação ao consumo de bebidas alcoólicas pelos mais jovens. As instituições educativas, por sua parte, não ficam em melhor situação nesse dramático retrato. No caso das escolas, há um agravante fornecido pela autoencomiástica postura ética que alardeiam, em flagrante contradição entre os valores que proclamam e os valores que praticam (deformação antiga no Brasil, denunciada há meio século pelo grande educador Anísio Teixeira).
Exemplos evidentes não faltam aos olhos de quem quer ver. As conhecidas festas juninas, realizadas em ambientes escolares de todos os níveis, são fartamente irrigadas com quentões, cervejas e outros destilados; e tudo com uma naturalidade e sem-cerimônia que qualquer questionamento fica parecendo coisa de excêntricos.
Não é incomum que solenidades em instituições públicas brindem aos seus convidados com copiosas taças financiadas, provavelmente, pela cornucópia do erário (que assume ainda custos de eventuais danos ao patrimônio no decorrer da esbórnia). Ora, são os costumes, diria um distraído; qual o problema? Essa é a alegação usual, de fato. Tais práticas seriam parte da tradição. Colar nas provas e levar vantagem em tudo também fazem parte dos tais costumes. Nem por isso se deve condescender com tais aberrações.
A imprensa da capital mineira divulgou, há poucas semanas, evento oficial comemorativo em notória instituição de ensino superior devotada à formação de educadores. Como parte dos festejos, promoveu-se generosa distribuição de bebidas para professores, alunos e outros lá presentes (isso no horário das aulas, obviamente comprometidas para a viabilização da fuzarca). Não seria fantasiosa a hipótese que apontasse, no festim em tela, consumo alcoólico individual superior ao legalmente permitido, com múltiplas implicações, desde as pedagógicas até as de saúde pública. Graves acidentes, aliás, demonstram a correção da Lei Seca, apesar de esta confrontar os "inocentes" costumes em vigor, sempre defendidos por paladinos da ética proclamada.
No tocante às drogas, escolas deveriam dar exemplos, mais que proclamar virtudes.
(Publicado no jornal O TEMPO em: 04/07/2010)
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