sábado, 1 de outubro de 2016

PT prometeu e cumpriu

O PT prometeu; o PT cumpriu. O partido, verdade seja dita, não fez qual dom Pedrito - aquele do clássico bolero dedicado a Dolores Sierra - que "prometeu e não cumpriu", mandando a jovem inocente por ele seduzida para as trevas da prostituição em Barcelona.

Justiça, portanto, se faça ao PT e aos petistas pela sinceridade algo envergonhada como se houveram. O povo é que não soube ler e ouvir adequadamente. Quem quiser relembrar basta acessar o vídeo.


O PT não mentiu


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Reforma do ensino médio

Sinais vêm indicando que a reforma do ensino médio pretendida pelo presidente Temer está no rumo certo. Quando tipos como o ministro Lewandowski, e "educadores" provindos das universidades, se posicionam contrários às mudanças, uma primeira e óbvia conclusão se impõe: o governo acertou. Parabéns ao ministro da Educação, deputado pernambucano Mendonça Filho. A lógica nesse caso é simples: se um bando de irresponsáveis quer ir para uma direção, a saída instintiva é marchar em direção oposta. 

O ministério da educação deveria insistir na manutenção do tripé - língua pátria, matemática e inglês - como suporte necessário ao desenvolvimento de outras linguagens. As fraudes pedagógicas envolvendo o suposto ensino de sociologia, filosofia, história, geografia, artes e outras menos votadas penduradas no varal curricular, hão que ser extirpadas em prol de genuína educação básica. 

Física e química são derivações necessárias do conhecimento matemático, assim como o domínio da língua portuguesa é o suporte imprescindível à compreensão de outros campos discursivos. O inglês é a língua franca universal e, portanto, obrigatória. Na pior das hipóteses, seu efetivo domínio serviria para facilitar a saída do Brasil em busca de novas oportunidades. Não se deve cair na tentação de dar opções - como as línguas espanhola, italiana ou francesa - cuja aprendizagem deve ficar restrita aos ricos e bem nascidos. Pobre precisa conhecer, mesmo, é a língua inglesa. No mundo globalizado que temos, não saber inglês é um anátema. 

A falência do modelo que o lulopetismo criou para a educação popular é inquestionável. Essa gente que aprecia a pobreza, porém, não os pobres, gostaria que prevalecesse no Brasil aquela situação em que o "nós pegou o peixe" fosse o símbolo da aprendizagem da língua pátria. Já a operação da lógica matemática no mundo petista é bem visualizada nas tolices e erros bisonhos que Lula e Dilma nos brindaram nos últimos anos. Dá, até, preguiça enumerar suas bizarrices e cretinices; são sobejamente conhecidas.

O ministério da educação deveria considerar a hipótese de se recorrer a franquias - tipo Cultura Inglesa e Kumon - para sustentar a base educativa dos jovens. Ficaria, provavelmente, mais barato e mais vantajoso para todos. Se os desmiolados habituais preferem fingir que ensinam alguma coisa, ao inflar o currículo com banalidades fraudulentas, o governo central pode reagir com outros caminhos que levem a juventude ao patamar civilizatório compartilhável com o restante do mundo. 

Para os justamente desconfiados da sinceridade dos educatecas forjados pelo PT, PC do B e congêneres que se opõem às mudanças postas em foco, basta indagar a eles se seus próprios filhos estão matriculados nas escolas públicas modais. A resposta, com toda probabilidade será negativa. Esses mandarins da educação são clientes felizes das grandes escolas da rede privada. As maluquices que inventam, e defendem, servem apenas para formar militantes partidários, visando "a grande revolução popular que irá libertar os povos oprimidos do perverso neoliberalismo estadunidense..." Haja saco!
    

O terceiro beijo no poderoso dom Paló (José Nêumanne)


Nunca antes na História deste país um ex-ministro da Fazenda havia sido preso na vigência do Estado Democrático de Direito. Agora foram dois numa semana. O primeiro, o economista Guido Mantega, foi acusado de haver achacado um grande empresário, Eike Batista, estrela do time dos privilegiados amigos do reizinho Lula entre os campeões mundiais no usufruto de benesses do BNDES. O outro, o sanitarista Antônio Palocci, dom Paló, é suspeito de ter beneficiado a maior empreiteira brasileira, a Odebrecht, para a qual trabalhou como despachante de luxo na mais alta cúpula do governo federal, que, na prática, foi posto por ele a serviço dela em negócios escusos em África, Zoropa e Bahia. Ambos, como é público e notório, foram ministros de Lula e Dilma. Mas, como é voz geral no território nacional e no planeta, Lula e Dilma são gente honrada.

A frase que abre o primeiro parágrafo deste texto é reconhecida como parte essencial da retórica grandiloquente, arrogante e fantasiosa com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vendeu o sonho do consumo compartilhado, que virou pesadelo coletivo. Ao longo de 13 anos, 4 meses e 12 dias, ele e sua afilhada, protegida e sucessora, Dilma Vana Rousseff Linhares, assumiram o poder na República por três mandatos e quase a metade do quarto, todos abençoados pela vontade popular. A última frase parodia um dos mais brilhantes textos já produzidos por um poeta e dramaturgo, o britânico William Shakespeare. Na tragédia Júlio César, Marco Antônio, candidato a sucessor do conquistador e, como este, também um brilhante tribuno, carregando nos braços o cadáver esfaqueado do chefe político e militar que com tropas e leis erigiu a Europa, insistia o tempo todo que seu assassino, Brutus, era um homem honrado. Com a junção dessas frases, este autor pretende desmascarar a verdade dolosa e dolorosa que começa a emergir da ilusão gloriosa com um legado de miséria e dor de uma era de mentira e engodo.

Guido Mantega subiu com vagar os degraus do panteão petista até atingir o máximo que poderia alcançar, prestando os serviços que dele poderiam esperar seus manipuladores. Economista formado na USP, professor da Fundação Getúlio Vargas, virou espírito santo de orelha do grande líder popular quando o colega Aloizio Mercadante Oliva caiu em desgraça por ter soprado um palpite infeliz e fatal na primeira eleição disputada pelo chefe contra o sociólogo, também da USP, Fernando Henrique Cardoso. Filho do general Oliva, que fez carreira militar na ditadura, ocupando postos de comando à época da guerra suja contra a esquerda armada, Mercadante convenceu o candidato do PT à Presidência em 2002 a denunciar o Plano Real do adversário tucano como “estelionato eleitoral”. Mantega fora assessor de Paul Singer, figurão petista, quando o respeitado colega chefiara a Secretaria de Planejamento na gestão municipal de Luiza Erundina em São Paulo. Mantega publicou seu livro de estreia com prefácio do figurão tucano. Depois, com Palocci e Mercadante Oliva no ostracismo, foi ministro do Planejamento, presidente do BNDES e, enfim, ministro da Fazenda, após um escândalo ter derrubado o ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Ribeirão Preto do alto posto no qual conspirava contra o chefe da Casa Civil de então, José Dirceu, pela ambicionada sucessão do chefão de todos no lugar mais alto da República.

Não dá para comparar Guido Mantega com Antônio Palocci Filho. Este passou pela prefeitura de Ribeirão Preto, onde, prestando um  tributo ao passado de lutas, instalou um escritório de representação das Farc colombianas no município que governava. Lá deixaria um rastro de suspeitas da corrupção. Por elas, contudo, passou, incólume colosso, administrando com jeito, talento e sorte seu surfe na crista da onda do poder petista. Tudo começou quando Celso Daniel foi executado e Palocci ocupou o lugar do ex-prefeito de Santo André no comando da primeira campanha vitoriosa do chefão do PT à Presidência. Em seu governo tornou-se poderoso czar da economia, como antes haviam sido Delfim Netto na ditadura e Pedro Malan no duplo mandarinato do PSDB sob a égide do Real. Fiador do compromisso do ex-sindicalista com o mercado financeiro local e mundial, afugentou na campanha a ameaça do calote internacional e deu continuidade à gestão da política austera e bem-sucedida do antecessor. Tornou-se enfant gaté da burguesia cabocla, jogando por terra quaisquer desconfianças e construindo um sólido pacto com o capitalismo, de forma a dar a impressão de que nada mais deteria a prosperidade com conteúdo social, que parecia tornar possível um futuro sustentável de fartura e paz.

Mas Palocci protagonizou um dos espetáculos mais nefandos da História da República ao violar, para evitar a própria degola, o sigilo bancário do caseiro de uma mansão suspeita montada por amigos do interior de São Paulo, onde circulavam prostitutas de luxo e malas de dinheiro. Francenildo dos Santos Costa nunca mais se recuperou dos danos provocados pelo asqueroso episódio. Mas muito não tardou para o ex-guerrilheiro que virou jardineiro do fino canteiro de flores da plutocracia nacional voltar por cima do filé com champã. Coordenou a campanha da sucessora indicada pelo sindicalista, Dilma Rousseff. E dom Paló assumiu a Casa Civil, enquanto seu antigo rival José Dirceu enfrentava dissabores com a polícia e a Justiça no mensalão. Só que, uma vez mais, derrubaram-no seus métodos heterodoxos de usar os cargos de poder na República como vias ilícitas para lhe engordar as contas privadas. O instrumento da trajetória, uma consultoria, devolveu-o ao conforto do esquecimento. Mas não à pobreza. Em recente entrevista coletiva, auditores da Receita, procuradores da República e policiais federais contaram à imprensa detalhes de como ele continuou acumulando fortuna no oblívio.

Seu advogado, ex-presidente da OAB e também defensor de Mantega e Lula, José Roberto Batochio, apelou para uma comparação estapafúrdia com a ditadura de 1964 para livrá-lo de todo mal, amém. O criminalista também acusou o preconceito contra a origem peninsular de dois dos clientes e dele próprio de comprovar que a denominação da Operação Omertà (do dialeto napolitano humildade, que define o pacto de silêncio dos mafiosos) deve-se a preconceito contra oriundos da Itália. É compreensível. Que mais argumentar para enfrentar a lógica implacável e os detalhes inquestionáveis dos fatos arrolados pela acusação?

Uma semana antes, o sucessor de Palocci no comando da economia sob Lula, e que foi mantido por exigência deste no governo Dilma, já tinha sido preso para não destruir provas na Operação Arquivo X. Nela o outro ex-ministro da Fazenda fora acusado de achacar, como nunca antes tinha ocorrido, um empresário e beneficiário da “nova matriz da política econômica” que infelicita o povo pobre do Brasil. O jeito foi Batochio acusar o juiz federal que decretou a prisão, Sérgio Moro, de desumanidade, pois a ordem de prisão foi cumprida no estacionamento do hospital, no qual acompanhava a dita mulher num procedimento de saúde.

Nossa tragédia bufa é um ex-ministro da Fazenda de dois ex-presidentes da República ser preso, sob a acusação de achacar no próprio gabinete e o juiz que manda prendê-lo, criticado, porque a mulher do dito cujo tem câncer. E, em seguida, outro, flagrado gerindo uma conta conjunta do partido dito operário com uma empreiteira, ser tratado como vítima de um novo Estado de exceção por seu ilustre causídico na semana em que, numa ironia da deusa da História, Clio, as Farc depunham as armas na Colômbia. O poderoso dom Paló é duro na queda e já sobreviveu a dois tropeções. Resta saber se, após este terceiro beijo mortal da justa, o cappo di famiglia sairá vivo. Assim como o chefe de todos os chefes e sua herdeira presuntiva.

Mas não tem nada, não: que importância tem isso, se o ilibado Lula de nada sabia e a imaculada Dilma nunca nada autorizou? E se sua melhor defesa é, ao ser pilhado, perguntar sempre com ar de espanto: cadê os outros?

Autismo: de criança para criança (Estadão)


Plataforma online colaborativa aborda diferentes temas sob a ótica dos pequenos.

"Um dia, Juninho ganhou um brinquedo enorme. Mas não gostou do brinquedo; ele gostou da caixa." Foi assim que uma criança começou a explicar o autismo na história que enviou para a plataforma colaborativa online De Criança Para Criança.
O site reúne relatos de crianças sobre diversos temas, que vão de princesas ou robôs até bullying e autismo. De forma singela e com a ajuda dos pais, os pequenos contam histórias e explicam temas, muitas vezes complicados, a partir de seus próprios pontos de vista. 
As histórias são analisadas por profissionais da área de educação e pela equipe do projeto, e algumas são selecionadas para virarem animações em 2D. Depois, viram vídeos de até 3 minutos com a história, ilustração e narração das próprias crianças.

Autismo: de criança para criança

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Autista: multinacional contrata (Estadão)


A Everis, multinacional de consultoria que oferece serviços voltados ao desenvolvimento e manutenção de aplicações tecnológicas e serviços de terceirização, tem um programa global que forma, prepara e inclui no mercado de trabalho pessoas com Transtorno do Espectro Autista  (TEA), em projetos na área de TI.

No Brasil, a primeira funcionária contratada pela Everis com esse quadro é  Vitoria Gimenez, de 21 anos.  Estudante de Mecatrônica, ela trabalha no Centro de Certificação de Aplicações com 12 consultores. De acordo com a empresa, a receptividade a Vitória  foi “extremamente positiva” e os primeiros resultados da experiência se mostram bastante estimuladores. A Everis diz que foram detectadas melhorias quantitativas e qualitativas na produtividade da equipe, na formação dos líderes e no clima organizacional, informa a multinacional.

A gerente de Pessoas da companhia, Rita Souza, afirma que os profissionais com TEA podem até ter dificuldades para compreenderem algumas situações, estados emocionais ou mesmo nos relacionamentos sociais. “Mas, por outro lado, têm alta capacidade de concentração e produção, talento para executarem atividades repetitivas e metódicas, ótima memória visual e de longo prazo e, ainda, boa identificação de padrões.”

Vitória, por sua, vez afirma, segundo informe divulgado pela empresa, que viu seu trabalho gerar impacto positivo no projeto em que atua. ” O clima de colaboração da minha equipe é emocionante, eu nunca fui tratada dessa forma, sem distinções. Não é um problema as pessoas saberem lidar ou não comigo, mas o respeito que elas têm me motiva”, diz.

Rita afirma que o projeto para contratar pessoas com TEA pretende gerar mudança de perspectiva sobre o autismo na empresa, promover a questão da diversidade entre seus profissionais e mostrar a grande capacidade que as pessoas com TEA têm de executarem um bom trabalho, serem autossuficientes e contribuírem para o sucesso dos projetos dos clientes.

O projeto TEA tem apoio da Specialisterne Foundation, organização dinamarquesa que atua na capacitação de profissionais com TEA na área de TI e na inserção dessas pessoas no mercado de trabalho. A denominação TEA é utilizada desde 2013 para classificar as síndromes marcadas por alterações do desenvolvimento neurológico como o Autismo Clássico, o Autismo de Alto Desempenho, a Síndrome de Asperger e o Distúrbio Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação (DGD-SOE). Cada uma dessas variações envolvem situações, apresentações e graduações diferentes entre si, que vão de leves a graves, por isso o uso do termo “espectro”.


Todas, porém, em menor ou maior grau, estão relacionadas às dificuldades de comunicação e de relacionamento social, características que podem levar à discriminação e à exclusão. No entanto, informa a Everis, as pessoas com TEA são capazes de produzir ideias próprias e originais, têm sensibilidade para as artes, são ótimas observadoras do espaço, de si mesmas e dos outros. A qualquer mudança, manifestam surpreendentes e adequadas observações.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Empreiteiros: penicos de palácio

Os empreiteiros são ligados aos governantes de maneira tão umbilical que não deveriam ser tratados como "empresários", ou homens da iniciativa privada convencional. Eles, de fato, configuram uma espécie de ente autárquico especial, organicamente vinculados aos governos da esfera municipal, estadual e federal. O Estado é, com efeito, seu cliente preferencial, quando não é o único. Certamente por tais características eles, empreiteiros, se sintam tão à vontade na convivência com os políticos, não desgrudando destes em nenhuma hipótese em degenerada intimidade.   

Sai governo, entra governo, mude ou não o partido hegemônico, os empreiteiros lá permanecem impávidos em seu nicho negocial. Os reis de antanho se sucediam no trono trazendo novas configurações cortesãs; uma coisa, no entanto, não mudava. Ao olhar debaixo da cama, o imperador constatava que o mesmo penico de louça decorada (que pertencera a seus vetustos avoengos), lá pairava, silencioso, imóvel, e pronto para cumprir sua função habitual e indelegável. Os empreiteiros, também irremovíveis, são uma espécie de penicos de palácio. 

Minicérebros para tratamento de autismo (G1, em 27/09/2016)


Um novo laboratório localizado em São Paulo criará “minicérebros” para ajudar no tratamento personalizado de pacientes com autismo.
Inaugurado neste sábado (24), a startup de biotecnologia Tismoo é uma parceria entre o biólogo molecular Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia, e a professora Patrícia Beltrão Braga, da USP. Eles pretendem, por meio da análise genética dos pacientes, obter um tratamento mais certeiro para a doença.

De acordo com Muotri, o laboratório é o primeiro do tipo no mundo. O passo inicial do tratamento é fazer a análise genética detalhada de cada indivíduo ou família, e detectar a mutação que causou o autismo. Ele defende que a técnica, em alguns casos, seja feita pelo menos com o pai, mãe e filho -- no caso de o casal desejar um segundo filho, isso é importante.

O segundo passo é analisar a mudança nos genes e mapear os tratamentos possíveis. Boa parte das mutações não está catalogada, por isso o laboratório irá rastrear na literatura médica tudo o que está em fase de pesquisa.

O último passo é o dos “minicérebros”. Com o mapa genético do paciente em mãos, é feita uma reprogramação celular por meio de células-tronco e são criados esses "minicérebros" com a genética do autista. São pequenas estruturas de neurônios que recriam em certa medida o funcionamento cerebral. Desta forma, é possível testar quantos medicamentos forem necessários para o tratamento.

Mas o "minicérebro" não tem uma estrutura completa e não é um cérebro em miniatura. Ele não tem consciência, mas simula de forma rudimentar o tipo de organização que existe no cérebro humano.
A vantagem de usar "minicérebros" em laboratório é que eles crescem como culturas de células e formam naturalmente uma estrutura em camadas – similar à que existe no córtex, a superfície do cérebro, responsável pelo processamento mais sofisticado de informações no sistema nervoso.

Possuindo tamanho médio em torno de 30 micrômetros — largura de um fio de cabelo de bebê – essas estruturas são maiores que os grupos isolados de neurônios em cultura de células bidimensionais. É possível, assim, medir os impulsos elétricos que trafegam por essa estrutura e verificar se estão ocorrendo de forma normal.
“Você pode criar 100 ou 200 'minicérebros', gerados a partir de células-tronco. E com isso pode testar 100 drogas ao mesmo tempo, o que é uma coisa que jamais um médico conseguiria em um ser humano”, explicou Muotri.

Por enquanto, o laboratório deverá focar no tratamento de autismo. Muotri diz que, no futuro, devem expandir para outras síndromes.

domingo, 25 de setembro de 2016

Uma eleição melancólica (Estadão)


Causa profunda decepção perceber que, às vésperas da votação para a escolha do novo prefeito de São Paulo, nenhum candidato tenha se mostrado realmente à altura do enorme desafio de governar esta cidade. As semanas de campanha revelaram um nível de mediocridade poucas vezes visto na história paulistana, com os postulantes engalfinhando-se por irrelevâncias, que só dizem respeito ao embate político dos caciques partidários, totalmente indiferentes ao destino de São Paulo. Decerto desencantados, os moradores, que esperavam ouvir propostas sérias para resolver os inúmeros problemas locais, terão agora de se esforçar para escolher o candidato menos ruim.

Infelizmente, São Paulo revelou-se, nesta eleição municipal, um microcosmo da política nacional. Naquela esfera, como se sabe, vem triunfando, há mais de uma década, além do fisiologismo e da corrupção, o profundo descompromisso com o interesse nacional. Certos políticos parecem trabalhar apenas para si mesmos, de acordo com uma rasteira contabilidade de ganhos e perdas pessoais. Para que o saldo dessa conta seja sempre positivo, mente-se compulsivamente, recorre-se ao gangsterismo puro e simples, pisoteia-se a verdade.

Ignorando as reais necessidades do País, esses políticos disputam acesso aos recursos públicos não para investir na melhoria da vida dos brasileiros, mas para obter lucros eleitorais e arrancar vantagens pessoais ou partidárias. Os que não estão envolvidos em corrupção se revelam profundamente incapazes de apresentar-se como alternativa política viável, em razão de sua patente mediocridade. E há também aqueles que ninguém sabe quem são – os aventureiros que, sem nenhum patrimônio político, tudo podem fazer porque nada têm a perder.

Desse modo, os paulistanos veem-se diante de uma escolha muito difícil – e desde já sabem que o próximo prefeito será ou um autêntico representante da velha política carcomida ou algum desconhecido que se apresenta como novidade, explorando o desejo de mudança dos eleitores. Nos dois casos, o perigo de desastre é grande.

A eleição em São Paulo está repleta de rostos conhecidos – além do atual prefeito, Fernando Haddad (PT), estão na disputa duas ex-prefeitas, Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL). Essa turma já disse ao que veio. Todos eles representam experiências fracassadas, ou por desvios ideológicos, que reduzem tudo à surrada luta de classes, ou por pura e simples incompetência administrativa.

Entre os não testados, João Doria (PSDB) e Celso Russomanno (PRB) tentam explorar o desencanto dos eleitores com os velhos políticos de sempre, mas, sob qualquer ângulo que se olhe, o voto neles é um salto no escuro. E a experiência desastrosa da gestão de Haddad mostra o que acontece quando se elege alguém totalmente desconhecido. Apelidado de “poste” pelos próprios petistas, o atual prefeito foi uma invenção do ex-presidente Lula, que com isso pretendia provar seu poder demiúrgico. Provou, mas o resultado é uma administração autoritária, inepta e divorciada da realidade.

A mediocridade da campanha paulistana ficou ainda mais evidente graças à saudável proibição das doações eleitorais por parte de empresas. Com menos dinheiro para gastar com pirotecnias marqueteiras, os candidatos acabam por se expor mais, deixando evidentes as suas limitações.

É claro que não se pode esperar que os candidatos de uma cidade importante como São Paulo deixem de abordar temas que têm mobilizado as atenções nacionais, ainda mais em tempos de profunda crise política, econômica e moral, que a todos afeta. O problema é que a campanha, graças à indigência política dos candidatos, se tornou um mero tira-teima sobre quem lucrou mais com a debacle petista no plano federal, coisa que nada tem a ver, por exemplo, com a qualidade do asfalto nas cronicamente esburacadas ruas e avenidas de São Paulo. Portanto, resta aos eleitores a tarefa de informar-se melhor sobre o candidato em quem pretendem votar e, principalmente, de cobrar do eleito que se preocupe não com o grande jogo político de Brasília, mas com os graves problemas desta cidade.