sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Ratos, baratas e outras criaturas



Novo símbolo para os petistas

Forças políticas costumam utilizar animais como símbolos de suas agremiações partidárias. Nos Estados Unidos, Republicanos e Democratas são identificados pelo elefante e pelo burro, respectivamente. No Brasil, o PSC tem o peixe como marcador de sua identidade cristã. Já o PSDB é mais conhecido pela referência ao tucano que pela alcunha socialdemocrata.  
Outros partidos, como o PT, tentaram se aproveitar da simbologia da estrela - muito comum nos países comunistas, mas não somente neles - para criar uma referência imaginária universal. O PDT aproveita-se do símbolo internacional do socialismo - a rosa vermelha - sem muito sucesso, no entanto, apesar da profecia de Eça de Queirós, ainda no século XIX, em suas Notas Contemporâneas.
Na ebulição de projetos de fundação e refundação de partidos pelos quais passamos, vale uma amigável sugestão para os petistas. Nenhuma criatura se parece mais, no recôndito de sua natureza, com a turma petista, que o onipresente rato. Tal associação, aliás, já  está bem difundida e consolidada no seio da população brasileira. 
A figura do rato, porém, nem sempre é negativa. Basta olhar os desenhos animados onde Jerry pontifica contra o gato Tom. Walt Disney também elevou às alturas a simpatia pelo mouse Mickey. Por alguma ironia do destino, o eventual possível futuro do petismo está vinculado às obras produzidas na odiada Hollywood. Em comum com a Disneylândia, a Petelândia desfilaria pelas ruas com um broche de rato enfeitando a lapela.    
Há, no entanto, um porém: por um atávico antiamericanismo, o PT pode repudiar o rato e preferir a kafkiana figura da periplaneta americana - nossa popular barata - inseto de prodigiosa ancestralidade que resiste até a bombas nucleares. Aí, então, a nova agremiação poderia se denominar, em homenagem ao bolivarianismo circundante, de Partido dos Cucarachas, em vez de Partido dos Ratos.



Convenção dos novos petistas

Estão postas duas boas opções, ambas com sólidas fundamentações históricas e ideológicas. Petistas, sirvam-se. 


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Pimentel e a febre amarela


A grande imprensa nacional noticia reforço recebido pela administração petista em Minas Gerais. Foi nomeado para a FUNED, fundação estadual devotada à pesquisa e produção de medicamentos, de mais um suspeito de mutretas com recursos públicos, um ex-prefeito de obscuro município, igual a tantas centenas de outros espalhados no vasto grotão das gerais. É verdadeiramente incrível a mútua atração de certos personagens e instituições, como se fossem macho e fêmea, goiabada com queijo, Romeu e Julieta... 

Cabe aqui, no entanto, o benefício da dúvida. Talvez um dono de farmácia, como é o caso, possa ajudar na efetiva neutralização de moléstias medievais que vêm prosperando impávidas no território mineiro - como a febre amarela - esta supostamente erradicada do Brasil, desde os tempos do grande sanitarista Osvaldo Cruz, ainda no início do século XX. Uma coisa, entretanto, é certa. Ficará como parte da herança maldita de Pimentel e petistas, a triste nódoa a ser deixada pela febre amarela, que já ceifou algumas vidas nos vales da miséria - Mucuri e Jequitinhonha, secundados pelo vale do rio Doce - e se prepara para atingir outras. 

O governador Pimentel, enquanto a desgraça atinge suas vítimas preferenciais, borboleteia por aí de helicóptero com familiares e vai despreocupadamente às compras em luxuosas lojas de São Paulo, esquecendo-se - oh memória! - de pagar a tempo e à hora o funcionalismo que vive de modestos salários, agora recebidos à prestação. Em sua homenagem a mortífera febre deveria ser denominada, a partir de agora, de febre "vermelha". Ficaria mais fácil de lembrar no futuro.    

Justiça por linchamento (Elias Canetti)

Nunca a leitura do grande livro Massa e Poder, de Elias Canetti, foi tão necessária como nos dias que correm. As maltas aludidas por ele, ferozes e intolerantes, das quais temos notícias e imagens permanentes, caçam-se e trucidam-se de maneira implacável: fazem justiça a seu modo e estilo. Não tardará o dia em que os corações das vitimas serão degustados em ritualizado banquete de canibais. Tal festim pode lançar mão, ainda, de outra receita tradicional: moquear o corpo de algum chefão, pilar com banana e obter assim a mesma paçoca ancestral que alimentou o corpo e o espírito de inumeráveis antepassados.


Segundo Canetti, "a expressão (justiça por linchamento) é tão descarada quanto aquilo que ela designa, pois trata-se aí, na verdade, de uma supressão da justiça. Não se considera digna dela a pessoa inculpada. Tal pessoa deve morrer feito um animal, sem direito a nenhuma das formalidades usuais entre os homens. (...) As crueldades que os homens se permitem no ato do linchamento explicam-se possivelmente pelo fato de não poderem eles devorar sua vítima. Provavelmente, veem-se como homens porque não cravam nela os dentes" (p. 117).

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Jorge, 47 anos depois (José Casado)


Na manhã de segunda-feira, 2 de março de 1970, quatro homens assaltaram um veículo em Canoas (RS). Roubaram o equivalente a R$ 565 mil da Ultragraz.

Na ação estava um jovem de 19 anos, alto, magro, emplastro no rosto e revolver calibre 38 na mão. O mineiro Jorge era da VAR-Palmares, derivado do Comando de Libertação Nacional (Colina) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), devotados à luta armada contra a ditadura.

Mês seguinte, interceptaram outro carro, em Porto Alegre. Naquela noite de sábado, 4 de abril, Jorge desceu do Fusca apontando um calibre .45 para o cônsul americano Curtis Carly Cutter, 42 anos. Veterano da guerra da Coreia, Cutter acelerou seu vigoroso Plymouth Fury. Levou bala no ombro. Deixou um deles estirado, com o tornozelo ferido pela roda — logo foi preso, torturado, e amargou três anos na cadeia.

O manquejar de Fernando Pimentel, governador de Minas, é herança desse confronto, quando vestia a máscara do terrorista Jorge na liderança da “Unidade de Combate Manoel Raimundo Soares” da VAR-Palmares gaúcha.

Passaram-se 47 verões. Pimentel agora é um governante recluso, sitiado pela calamidade administrativa e processos por corrupção.

Em dezembro, arriscou passeio num shopping em São Paulo. Saiu hostilizado, sob gritos de “ladrão”. Semana passada foi flagrado usando helicóptero do governo para resgatar parente em festa de ano-novo num balneário, a 270 quilômetros da capital. Minas, na falência, descobriu que o governador gastara R$ 21,8 milhões em dois novos helicópteros.

Aos 65 anos, Pimentel é um político na sala de espera do tempo. Aguarda que o correr da vida embrulhe tudo, como dizia Guimarães Rosa. Governa com finanças em desgraça, por efeito da recessão num estado dependente de indústrias antigas, como siderurgia, mineração e automóveis. 

Os danos ao Erário foram potencializados por decisões errôneas suas e dos antecessores, mas atribui a eles toda culpa pelo infortúnio.

Minas se destaca no grupo dos falidos. Ampliou isenções fiscais e aumentou em 78% o gasto com pessoal, entre 2009 e 2016. Mantém um buraco de R$ 8 bilhões, pelo segundo ano.

O governador resiste ao socorro federal. Prefere parcelar salários, reduzir gastos na Saúde e insistir na loteria dos cenários. Num deles, o governo Temer seria pressionado a atender a todos, sem condicionalidades. Noutro, haveria imediata retomada da economia nacional.

Pimentel joga também com o tempo em processos nos quais é acusado de ter transformado em balcão de negócios o Ministério da Indústria, no governo Dilma. Seu antigo aliado, Benedito Rodrigues, detalhou a lavagem de R$ 10 milhões recebidos do grupo Caoa em troca de benefícios fiscais na importação de autopeças. Relatou, ainda, propina de R$ 15 milhões do grupo Odebrecht para liberação de créditos do BNDES em obras no exterior.

Pimentel aposta na chancela do Supremo à Constituição mineira, pela qual processos contra ele só seriam possíveis com autorização da Assembleia — onde tem maioria.

Ao conquistar o governo do segundo maior colégio eleitoral do país, em 2014, o ex-guerrilheiro Jorge foi saudado como símbolo da renovação de um PT em crise. Pimentel chegou à metade do mandato isolado, dentro e fora do partido, prisioneiro de si mesmo.


Deficit e financiamento de vagas penitenciárias

Para acabar com o déficit atual de 250 mil vagas no sistema penitenciário nacional, seria necessário um investimento de pelo menos R$ 10 bilhões. Os números, foram apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em documento enviado em outubro à presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Carmen Lúcia.

O dinheiro necessário aparenta ser volumoso, principalmente em vista da crise geral na qual o país vive. Os R$10 bilhões, no entanto, assumem dimensão de troco, ou de gorjeta (2%), se ponderados com os R$500 bilhões que são pagos anualmente a título de juros aos rentistas habituais. 

Em vez de pensar na recriação da famigerada CPMF, o governo bem poderia criar uma outra contribuição, na ordem de 2%, tendo como base os fabulosos juros da dívida pública que engordam sistematicamente os banqueiros do país. Estaria, assim, coberta a necessidade orçamentária destinada a garantir a ultrapassagem do deficit de vagas no sistema penitenciário. 

A segurança pública agradeceria e mesmo a banca toparia o "sacrifício". Afinal de contas, um clima social pacificado interessa em especial aos mais ricos e mais poderosos.   

domingo, 8 de janeiro de 2017

Versos íntimos (Augusto dos Anjos)




Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!