terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O prestígio de Lula

As pesquisas de opinião pública permanentemente divulgadas possuem vários significados. Eles devem ser buscados além daqueles que são óbvios. O ambiente (“é a economia, estúpido!”), que favoreceu uma expansão das atividades produtivas no Brasil, em linha de continuidade com o quadro geral que afetou todo o mundo, não explica por si só todas as coisas. Muito mais eficiente para a construção da imagem do atual presidente é a atuação do esquema publicitário governamental, única área onde o petismo é sabidamente eficiente (há, inclusive, muitos que suspeitam do uso de ilegais técnicas de propaganda subliminar). À bonança econômica dos últimos cinco anos não correspondeu o governo, de fato, com atos correspondentes que lhe dessem qualquer protagonismo no processo. O componente mais marcante da ação pública foi o fomento ao consumo do governo e das famílias, além da farta distribuição de benesses corporativas. Com baixa capacidade de investimento e uma enorme dificuldade de tornar reais os projetos voltados para a infra-estrutura (portos, estradas, energia, comunicações etc.), o governo Lula surfou, melhor dizendo, boiou na onda da dinâmica seguida pelos ventos econômicos. Tudo isto é sabido de maneira geral. Pode-se arriscar uma interpretação dizendo que o bom do governo Lula é que ele não fez nada! E ao não fazer deixou as forças do mercado agirem segundo sua própria lógica.

Aliás, quando o governo Lula se meteu a protagonista as coisas foram um fracasso retumbante (vide as reformas política, sindical e o Fome Zero, por exemplo). Se há uma influência oculta neste período, por mais paradoxal que pareça, ela é mais tributária de Hayek, o melhor dos economistas liberais, que do estatista Keynes (aquele foi um crítico feroz da intervenção do Estado na vida econômica, questionando a suposta racionalidade que procederia de uma autoridade superior). Assim, enquanto o mundo real da economia brasileira se movia pelo planejamento descentralizado (tal como era concebido por Hayek a livre concorrência), a gigantesca máquina governamental girava em torno de seu próprio umbigo. Enquanto Lula se divertia com viagens e festas pelo mundo afora, sua azeitada máquina de propaganda operava a pleno vapor, atribuindo-lhe a responsabilidade por tudo de bom que acontecia e creditando os eventuais malefícios ao tucanato e a FHC, este bey de Tunis redivivo.
Mas eis que chega a crise. Acostumado a nada fazer, o atual presidente se vê em apuros com as medidas que os agentes econômicos vão tomando por si sós. Não há como Lula agir, se nunca agiu antes. As viagens pelo mundo são cansativas e Lula não é de ferro. Lula vai assistir à banda passar, dado que pouco amigo do estudo e do trabalho. Quando a percepção popular sobre sua incompetência melhor se caracterizar, o encanto das pesquisas de opinião se esvairá como sonho de uma noite de verão. Este cenário está mais próximo do que podemos imaginar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O TRIO ASSOMBRO

O regime autoritário pós 1964 – tão criticado por aqueles que se julgam paladinos da democracia – deixou-nos dupla herança: uma de coisas boas e outra de coisas atrozes. Este reconhecimento é necessário caso se pretenda fazer justiça histórica àquele período. Algumas das maiores obras de infra-estrutura do país (como a usina de Itaipu, por exemplo), podem ser enquadradas na categoria das coisas positivas, ao lado do arraigado sentimento de nacionalidade e da implantação de processos gerenciais modernos no campo da administração pública. Os generais, no entanto, se traziam consigo o cacoete castrense de rigidez comportamental e de cultivo da hierarquia e da disciplina, não podiam ser acusados de falta de zelo com a coisa pública. Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu, Geisel e Figueiredo foram homens probos e de vida modesta. O único com alguma devoção pessoal extravagante e algo aristocrática (pelo desabrido amor aos cavalos), foi o último deles. Mas ele podia dizer que sua Arma de origem era a Cavalaria, o que justificava seus atos.

Se estiverem estes velhos generais em algum lugar no universo do qual possam observar o Brasil de hoje, eles estarão saboreando o prato frio da vingança contra os que lhes fizeram oposição. Os que os sucederam por mais tempo formam um verdadeiro exército de Cacos (Caco era o rei dos ladrões, na mitologia grega, que teve a audácia de roubar os rebanhos de Hércules). Do lixo político do norte-nordeste vieram os piores deles. O Maranhão brindou-nos com Sarney e sua laboriosa família e extensa famulagem; Alagoas deu-nos o inolvidável Collor (que cometeu a façanha de se permitir cassar por roubalheira tal sua gravidade e extensão); Pernambuco, em íntima associação com São Paulo, imolou no altar da compostura este ícone que nos governa presentemente, na mais sórdida aliança entre os grossos capitais da banca nacional e internacional, e os não menores interesses das corporações de todos os tipos que nos avassalam.

O trio Sarney, Collor e Lula está aí em íntima e operante articulação. São públicos e efetivos aliados no controle da portentosa máquina governamental, da qual tiram fabulosos ganhos materiais e políticos. Os generais, pelo menos, se sucediam e se afastavam do processo governamental quando acabava o seu tempo de serviço. Já a herança maldita deste trio assombro (parida e cevada nos grotões habituais), é como uma craca que não se desgrudam do casco do navio. Agarrou ali, não sai nunca mais. Gulosos e insaciáveis têm no atual presidente a mais perfeita encarnação do ideário que sempre alimentaram: voar pelo mundo e abrigar os amigos nas boquinhas inumeráveis do erário. E para uso externo a mesma concepção: “tudo pelo social”, de Sarney, “o presidente dos descamisados”, de Collor e “bolsa família e inclusão social”, de Lula. A mesma genética política só poderia dar este resultado. Afinal, quem sai aos seus não degenera!

Lula e Obama

Os resultados eleitorais americanos têm provocado curiosas avaliações sobre eventuais paralelismos com outros países. Uma das mais equivocadas refere-se à suposta similitude entre a eleição de Lula da Silva aqui no Brasil e esta recente eleição de Obama. O próprio Lula arriscou esta comparação, insinuando que a eleição de um metalúrgico (ou seja, ele), teria o mesmo valor simbólico da eleição de um “negro” na América. Obama, no entanto, não é negro: é um mestiço ou, como ele mesmo gosta de dizer, um brown (marrom), filho de mãe branca com pai africano (queniano morador eventual nos Estados Unidos onde fazia pós-graduação). Não traz consigo a herança da escravidão sofrida pelos genitores dos negros de diferentes tons que hoje abundam em todo o continente americano e que é peculiar, por exemplo, aos mulatos brasileiros (frutos da miscigenação de pais brancos com mães pretas). A mestiçagem brasileira teve início com o estupro da mulher, inicialmente a indígena e, depois, a africana trazida aos magotes para o novo mundo. Obama é fruto do amor entre dois adultos, não da violência costumeira que preside as relações entre senhores e escravos. Talvez por isso sua compreensão não racializada da política, ao contrário da forma como a compreendem lideranças de outros tempos e lugares.

Obama é egresso da elite pensante americana e, em nada, lembra o atual presidente brasileiro (apesar deste ser egresso de uma elite: a sindical que sempre foi sócia da elite empresarial do Brasil). Ouvir os discursos e tomar contato com os posicionamentos de Obama é um agradável exercício para os sentidos: claro, sereno, inteligente e profundo. Em nada lembra a tronchice usual do mandatário brasileiro. Aliás, a bem da verdade, Lula se parece muito mais com Bush que com qualquer outro líder existente no resto do mundo civilizado. Lula da Silva e George Bush se irmanam, para começar, no desprezo que dedicam ao pensamento e às formas corretas de expressá-lo. Seria uma obra prima, digna de ser exibida no Youtube, um diálogo (?) entre os dois. A mímica seria, naturalmente, usada com largueza. Charles Chaplin e Monsier Hulot morreriam de inveja por não terem inventado algo parecido em suas fantasias cinematográficas. Faz, pois, enorme sentido imaginar algo assim entre os dois atuais presidentes - Lula da Silva e George Bush - em vista de nenhum deles falar o inglês, e muito menos o português. O contato pessoal deles (caso fosse mostrado ao público) ficaria, desta forma, recheado de caras e bocas em profusão, dedos e mãos em diferentes posições e movimentos, guinchos, arrotos e flatulências sem limites, numa composição final onde o grotesco seria, com certeza, o tom predominante, como se estivessem, ambos, sob o efeito da marvada (de cuja devoção nenhum dos dois ficou imune ao longo de suas vidas).

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O POVO DE FORA (profecia feita em 17-06-2008)

"Lá o presidente negro, aqui...

O POVO DE FORA

O sistema de eleições prévias nos Estados Unidos é difícil de ser implantado em outros lugares. O federalismo que lá se pratica é muito diferente do nosso e de outros países. Mas é inegável que há uma grande participação popular na escolha dos candidatos dos dois principais partidos. O mundo inteiro conhece hoje o negro Barack Obama, suas idéias, sua vida, seus compromissos e ligações, além dos principais pontos de seu programa de governo. Para nós, brasileiros, ainda existe a lembrança da premonição genial de Monteiro Lobato quando escreveu “O Presidente Negro ou o Choque das Raças”, no longínquo ano de 1926. Parece que o livro está sendo relançado.
Aqui os partidos políticos têm até o dia 30 de junho para escolherem os seus candidatos a prefeito e a vereadores. A propaganda eleitoral começa no dia 6 de julho, segundo as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. Como não existe democracia nos partidos e nem interesse da população, saberemos pela imprensa quem são os candidatos e quais as coligações que se fizeram para que cumpramos a obrigação de votar no dia 5 de outubro, sob as penas da lei, porque o voto é obrigatório. Os candidatos se apresentarão, com imagens preparadas por publicitários (mais vale o que parece ser do que aquilo que é...), as cidades se encherão de cartazes, as ruas de “santinhos”, promessas e tapinhas nas costas não faltarão, o horário eleitoral gratuito(?) das televisões e dos rádios irritará a população e chegaremos ao dia das eleições com as ruas cheias de cabos eleitorais pagos para conquistar o voto dos indecisos entre os milhões de desinteressados.
Este é um resumo triste e pessimista da nossa dura realidade, reconheço. Mas o que fazer se, como dizem os mais jovens, “está tudo dominado”? Vejam o exemplo de Belo Horizonte. Quando o ano começou já havia um candidato escolhido pelo prefeito Pimentel e pelo Governador Aécio que sempre se deram muito bem, embora de partidos adversários. Esta boa relação, tradicional entre prefeitos e governadores de Minas Gerais, transformou-se em um valor, mais do que numa obrigação. Nenhuma proposta para a cidade, nenhuma discussão com os partidos (afinal eles se julgam os donos, dos partidos e da verdade). Os eleitores? Ora...os eleitores. Eles farão o que nós decidirmos. Este é o caminho mais curto para um ser presidente e o outro governador. Isto é o que importa. O que vale é a conquista do poder. Os instrumentos de comunicação que “fazem a cabeça” do povão estão em nossas mãos. Não somos os campeões em gastos com publicidade?
Como a direção nacional de um dos partidos não aprovou a coligação a imprensa se ocupou, durante cinco meses, diariamente, dos conchavos para superar a divergência. O povo de fora, como sempre. E se, no dia da eleição, o eleitor tomar consciência de que só ele é que manda no próprio voto?"

(Artigo não publicado na imprensa de autoria de Antônio Faria - advogado)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

YES, CONTINUAMOS BANANAS!

Márcio Lacerda não perde a oportunidade de nos lembrar o que somos: bananas. Não é qualquer banana, não. Somos bananas daquelas de tostão, daquelas bem vagabundas que são vendidas na xepa das feiras livres. Em recente entrevista ao jornal HOJE EM DIA o homem da rima (que rima! Meu Deus, que rima rica seu nome propicia!), perdeu as estribeiras e falou merda. Merda tão grande quanto à nossa dimensão bananosa. Em profética antecipação (pois atirou no que viu, ontem, e acertou no que não viu, hoje), Juca Chaves já dizia que...”lugar de feijão é na mesa, e Lacerda é em outro lugar...” Cada um imagine o lugar que bem lhe aprouver.

Pois bem, na referida entrevista o rimoso candidato a prefeito de Belo Horizonte assumiu seu lado hard, fugindo do script de bom moço que os publicitários lhe receitaram. Soltou os cachorros em cima da UFMG, corporação que em boa parte é petecana (quer dizer, vota no PT ou no PSDB). Como eles se ajuntaram num pacto meio anormal, vê-se que o tal Lacerda está cuspindo no prato que comeu. Ingratidão é um negócio muito feio, apesar de se saber que não há gratidão na vida política. E, para falar a verdade, nem em outras esferas da existência. Jesus, por exemplo, Ele, o próprio filho de Deus não recebeu o devido reconhecimento por parte dos doentes e estropiados que Ele curou. Consta no Evangelho que dois, apenas dois, voltaram para Lhe agradecer.

O lado mais hard ainda do Lacerda foi quando, na mesma entrevista, ele ameaçou dar porradas em quem divulgasse as verdades que ele não quer ver divulgadas. Parece que o espírito do general Figueiredo encostou nele. Prendo e arrebento, na inesquecível formulação de cavalariça. Lacerda deveria ter usado imagens mais coerentes consigo próprio (por exemplo, mandar andar na prancha, como nos filmes de piratas de capa e espada, em vista de seus vínculos com a navegação marítima, e as sutis afinidades com o capitão Gancho, também marinheiro). Sua valentia verbal, aliás, só se sustenta por andar cercado de guarda-costas. Assim, até eu. Com um bando de praticantes de artes marciais ao meu lado, eu também desafiaria a Deus e ao mundo. Napoleão já dizia, numa de suas mais famosas boutades que com baioneta pode-se fazer tudo; só não pode se assentar em cima delas.

Sangrando na veia da verdade, sente-se incomodado com o pipocar de denúncias que comprometem a origem lisa de sua grande fortuna: denúncias de sonegação de impostos em Belo Horizonte (em Betim, por sinal, um processo rigorosamente igual ao que a prefeitura da capital mineira está lhe movendo já foi julgado em instância final e o mesmo sonegador foi condenado - basta conferir o Recurso Especial 917751 no site do STJ); denúncias no PROCON, em São José dos Campos-SP; denúncias de apropriação de ações da Telebrás no Mato Grosso do Sul (cuja Assembléia Legislativas chegou a propor a abertura de CPI, abortada no Supremo por ação do sócio de Lacerda – o inefável Daniel Dantas); recebimento de propina do mensalão (conforme afirmou um dos trapaceiros envolvidos na negociata – o carequinha Marcos Valério, e constante nos autos de CPI promovida pelo Congresso Nacional), e vai por aí afora.

Quer dizer, uma figura, no mínimo, controvertida para ficar numa avaliação generosa. Seu passado de Secretário disto e daquilo (de Lula e de Aécio), posto em sua propaganda como aval de seu preparo para o cargo de prefeito, faz lembrar outra figura nefanda da política brasileira que tinha um perfil similar: Celso Pitta, ex-diretor da Casa da Moeda, ex-Secretário de Paulo Maluf e, também, jejuno de qualquer disputa eleitoral anterior quando se elegeu prefeito de São Paulo. Pitta era um negão de cara meio sonsa e olhos esbugalhados (postura estudada da milenar subserviência, numa humildade tão verdadeira quanto uma nota de três reais), arrebatou o eleitorado paulista e, depois, fez a merda que fez. Maluf, à época, fez como faz Aécio e Pimentel: dava garantia que Pitta seria o melhor prefeito de São Paulo e ainda oferecia como penhor o pedido de que, caso isso não acontecesse, o povo nunca mais deveria votar nele, Paulo Maluf. Este modelo Pitta/Lacerda, se vingar, vai transformar o Belo Horizonte num lixo político igual à capital de São Paulo. Há que se dar um basta nisto! Belo Horizonte é uma cidade prudente. Não vai correr este risco de virar uma sub-São Paulo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

YES, NÓS SOMOS BANANAS

A propaganda eleitoral em curso na capital mineira é a mais clara demonstração de que somos ou estamos sendo considerados pelos candidatos, com honrosas exceções, um monte de bananas. Pois é assim que nos imaginam os nomes que disputam o cargo de prefeito de Belo Horizonte. De fósseis tresloucados querendo nova revolução soviética, até figuras que parecem santos de tão angelical sua forma a nós apresentada, há de tudo nesta eleição. A maioria, contudo, teima em nos taxar indiretamente de idiotas. E talvez sejamos, para demérito nosso, que pensávamos ter melhorado alguma coisa neste limiar de uma nova era, adentrado já o terceiro milênio.
Vejamos exemplos. Na mais cintilante cara de pau há candidatos dizendo que irão ampliar o metrô de Belo Horizonte. Proclamam inusitada aliança com os governos federal e estadual para conseguirem viabilizar seus ditos projetos (?). Entretanto, quando se observa o disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias recentemente divulgada, constata-se que há uma previsão de somente R$1 bilhão de reais para serem aplicados nos metrôs e trens metropolitanos de sete cidades do país (BH é, tão somente, uma delas). De onde, então, sairá o dinheiro se o custo de um quilômetro de metrô está estimado em torno de R$300 milhões de reais? Se o governo federal não der o dinheiro, muito menos do governo estadual ele virá. Do caixa local, então, nem se fala, em vista da verdadeira pindaíba em que se encontra a prefeitura da capital.
A duplicação da avenida Antônio Carlos é outro caso patético. Depois de dezesseis anos na cúpula da prefeitura, Pimentel e sua turma não conseguiram duplicar mais que 1.600 metros, ou seja, uma média de 100 metros para cada ano de poder. Como ainda faltam algo em torno de quatro mil metros, a conta é simples e fácil; basta dividir 4.000 por 100 e o resultado é cristalino: daqui a quarenta anos estará concluída a duplicação da principal via de acesso à região da Pampulha. Zombando da esperança de muitos, a propaganda do candidato oficial ainda nos ameaça com o término das obras, caso a população faça outra escolha que não ele. Yes, nós somos bananas! Esta ameaça - brandida no ar durante o horário eleitoral - é um verdadeiro ato de terrorismo, coerente com o lamentável passado dos seus autores. Ou seja, não passa de uma repetição do cacoete forjado na truculência e no uso de armas para a conquista do poder a qualquer custo.
Onde está a chamada Justiça Eleitoral que não ouve nem percebe esta violação dos direitos da cidadania? Esta mesma justiça, que vem fazendo uma sólida campanha de esclarecimento popular, vai tolerar isto? Permitiremos que a turma do mensalão siga impávida no seu plano de assalto aos cofres de Belo Horizonte? A Justiça Eleitoral continuará cega como ficou ao desconsiderar os absurdos na prestação de contas de Pimentel - em 2004 - quando doações ilegais de empresas de lixo (proibidas expressamente por Lei Complementar), foram feitas em grande estilo e grande valor?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A turma do mensalão (destaque: Márcio Lacerda)

Os ladrões de dinheiro público constam na lista abaixo. Entre eles destacam-se o atual candidato a prefeito de Belo Horizonte - Márcio Lacerda - e o Assessor Especial do prefeito Fernando Pimentel - Rodrigo Barroso Fernandes (um dos articuladores financeiros da campanha de Pimentel em 2004 e ex-secretário municipal da Cultura, afastado e nomeado assessor especial quando o escândalo veio à tona). A presença de gente do PSDB (Paulo Menicucci, por exemplo, que foi tesoureiro da campanha de João Leite, em 2004, por expressa indicação de Aécio Neves), e do PT, além de outros próceres dos partidos que compõem a formidável "ALIANÇA" urdida por Aécio e Pimentel (Romeu Queiroz, do PTB, por exemplo), só comprova o velho dito popular: Deus os fez e o diabo os ajuntou. Cruz Credo. Em suma, a turma de petecanos sempre comeu e bebeu no mesmo cocho. Esta união em torno do Márcio Lacerda poderia ser enquadrada no código penal pela evidente formação de quadrilha. A saída de Márcio Lacerda do governo Lula foi decorrência deste escândalo e, não, por alguma razão maior ou defensável eticamente. Saiu do ministério (onde coordenava a transposição do rio São Francisco), mas encontrou braços compreensivos de volta a Minas Gerais, onde chegou com o rabo entre as pernas por ter sido pegado em flagrante.


"SENADO FEDERAL/SECRETARIA DE COMISSÕES/Secretaria de Apoio às Comissões Especiais e Parlamentares de Inquérito

Presidente: Senador Delcídio AmaralVice-Presidente: Deputado Asdrubal BentesRelator: Deputado Osmar Serraglio Sub-Relator: Deputado Gustavo Fruet

Relatório Parcial sobre Movimentação FinanceiraRelatório parcial da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada pelo Requerimento nº 3, de 2005-CN, para investigar as causas e as conseqüências das denúncias e atos delituosos praticados por agentes públicos nos Correios e Telégrafos.

3.3 Beneficiários dos Recursos da conta 2595-2 - Agência 009 - Banco Rural

3.3.1 Relacionados aos cruzamentos da contabilidade da SMP&B com as informações bancárias. Menciona-se os nomes dos favorecidos e os valores recebidos, que resultaram do cruzamento das informações contábeis da SMP&B com as informações bancárias disponíveis na CPMI.

Favorecidos e Valores:

Adilson Gomes da Silva: 42.450,00

Alexandre Vasconcelos Castro: 770.000,00

Anita Leocádia Pereira da Costa: 420.000,00

Anita Leocádia Pereira da Costa/Paulo Rocha: 50.000,00

Antônio de Pádua de Souza Lamas: 350.000,00

Antonio Fausto da Silva Barros: 44.552,20

Aureo Macato: 300.000,00

Cantídio Cotta de Figueiredo: 85.676,84

Century Participações Ltda: 100.000,00

Charles dos Santos Dias: 100.000,00

Cristiano de Mello Paz: 1.294.372,44

Cristiano de Mello Paz e Marcos Valério: 1.434.126,73

Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso: 4.528.183,45

Cristiano Paz e Simone Vasconcelos: 171.260,40

Cristiano Paiva Neves: 300.000,00

David Rodrigues Alves: 6.800.000,00

Einhart Jacome da Paz/Lia Ferreira Gomes: 50.000,00 (cunhado/irmã de Ciro Gomes)

Eliane Alves Lopes: 300.000,00

Francisco de Assis Novaes Santos: 2.450.000,00

Francisco de Assis Novaes Santos/Martinez: 250.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Adhemar de Barros: 166.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/BRA LTDA: 150.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Destilaria Barra: 300.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Edna Artero: 350.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Engefin LTDA: 150.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Erste Banking: 650.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Francisco Santos: 200.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto: 2.494.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/LC Imóveis S.A.: 255.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Shaim Engenharia: 300.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Temon LTDA: 800.000,00

Guaranhuns/Waldemar Costa Neto/Unitow LTDA: 95.000,00

Guaranhus Participações Ltda: 327.500,00

José Nobre Guimarães 150.000,00: (irmão do deputado José Genoíno)

Isabel Cristina Estevão: 150.000,00

Ita Participações e Empreendimentos Ltda: 50.000,00

Jacinto de Souza Lamas: 600.000,00

Jader Cunha de Oliveira: 67.000,00

Jair dos Santos: 300.000,00

João Cláudio de Carvalho Genu: 1.000.000,00

João Ferreira dos Santos: 260.000,00

João Magno de Moura: 42.000,00 (Deputado do PT/Ipatinga)

José Antônio Campos Chaves: 56.000,00

José Luiz Alves: 200.000,00

Josias Gomes da Silva: 100.000,00 (Deputado do PT/Bahia)

Leopoldo Hubner Passos/Maria Beatriz Passos: 100.000,00

Luis Carlos Costa Lara: 300.000,00 (Minas Gerais)

Luiz Carlos de Miranda Faria: 68.541,84 (Ipatinga)

Luiz Carlos Masano; 50.000,00

Luiz Eduardo Ferreira da Silva: 326.660,67

Marcia Regina Milanesi Cunha: 50.000,00 (Mulher do deputado João Cunha, PT/SP)

MÁRCIO LACERDA: 300.000,00 (candidato a prefeito de Belo Horizonte apoiado por Aécio e Pimentel e outros comensais)

Marcos Valério Fernandes de Souza: 125.520,00

Marcos Valério /Renilda Maria Santiago F. de Souza: 162.411,00

Marcos Pinto Mendes Coelho Saraiva: 150.000,00

Marcos Valério /Ramon Hollerbach Cardoso: 469.014,00

Marcos Valério /Simone Reis Lobo de Vasconcelos: 13.000,00

Maria Tereza Chaves de Mello Paz: 20.000,00

Mario Sérgio Augusto dos Santos: 50.400,00

Martinez: 400.000,00

Multcash Ltda: 800.000,00

Nestor Francisco de Oliveira: 102.812,76

Newton Vieira Filho: 342.704,60

Otília de Camargo da Costa: 140.000,00

Paulão - Pt - Nordeste: 160.000,00

Paulo Leite Nunes: 102.812,76 (Romeu Queiroz/PTB)

Paulo Eduardo Luiz Mattos: 100.000,00

Paulo Roberto Menicucci: 205.000,00 (PSDB/MG)

Paz Publicidade Mkt Ltda: 150.000,00

PT Nacional: 350.000,00

Raimundo Ferreira Silva Junior: 100.000,00

Ramon Hollerbach Cardoso: 1.828.527,14

Ramon Hollerbach Cardoso e Simone Vasconcelos: 400.000,00

Renato Bemfica Vilela/Magdalena Bemfica Vilela: 150.000,00

Renilda Souza: 100.000,00 (Mulher de Marcos Valério)

Roberto Costa Pinho: 200.000,00

RODRIGO BARROSO FERNANDES: 274.167,36 (Assessor de Pimentel, praticamente um irmão)

Rogério Lanza Tolentino: 50.000,00

Romeu Queiroz: 50.000,00 (Deputado, PTB/MG)

Rosielma Barreto Lemos Andreza: 200.000,00

Ruy Millani: 250.000,00"
OBSERVAÇÃO: (alguns nomes foram retirados do original em vista dos pequenos valores)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A CAMPANHA DE BELO HORIZONTE EM AGOSTO DE 2008

1) Qual o significado de uma campanha onde se busca o voto popular? Pede-se ao povo uma autorização para tomar decisões que serão acatadas por todos posteriormente, respeitadas as regras do jogo democrático previstas constitucionalmente. Não é uma delegação como muitos ainda pensam. Esta última é da esfera do direito privado e, não, do direito público. Mandato de um político, em qualquer esfera, não se compara a uma procuração dada a um advogado, por exemplo, para defender interesses específicos. Neste sentido, a credibilidade é algo fundamental. Ao autorizarmos alguém a governar estamos cientes que o interesse público irá presidir todas as ações posteriores durante o decorrer do mandato e que o eleito decidirá sobre questões que afetam a toda a sociedade.

2) A campanha, até aqui, mais bem sucedida é a do candidato Márcio Lacerda. O que nutre sua meteórica subida nas pesquisas de intenção de voto é o apoio dos atuais governador e prefeito, explicitado numa contundência jamais vista em outras campanhas. Uma publicidade maciça e bem feita faz com que ele se aproxime da possibilidade de vencer a eleição ainda no primeiro turno. Sem entrar no mérito da receptividade de Aécio e Pimentel junto ao eleitorado, pode-se concluir que a percepção dos belorizontinos sobre o que está disponível como alternativa (os demais candidatos), transfere para Lacerda a avaliação positiva dos seus dois patrocinadores. Pouco importa o que ele fale (aliás, não fala nada), ou o teor de suas propostas (que são claras, pois diz, tão somente, que vai continuar o que está sendo feito há anos). É uma figura maleável que concorda com tudo e que proclama, com sorriso e postura angelical, sua devoção e fidelidade a Lula, a Aécio, a Pimentel, a Ciro Gomes, a Célio de Castro, a Patrus Ananias e a quem mais ele precisar se referir. Até a angulação corporal é estudada para transmitir humildade (olhando de baixo para cima como se a pedir desculpas e mercês, com o queixo embarbichado colado ao peito). Sua imagem é reforçada pela generosidade pois teria distribuído parte do dinheiro da venda de uma de suas empresas para os empregados). Todo esforço publicitário é para dizer que Lacerda é um homem bom, humilde e trabalhador, com experiência em servir – verbo fundamental – ao presidente, ao governador e, agora, ao povo da capital, se este assim o permitir, no próximo dia cinco de outubro. Em suma, os “pais” de Lacerda infantilizam a população achando que somos todos um bando de patetas e, talvez, até tenham razão.

3) A campanha de alguns, como o Serjão Miranda, perde-se em clippings publicitários (com falas de populares e outros), desperdiçando precioso tempo de televisão e de rádio. Estas criações só servem para encher lingüiça de quem tem muito tempo disponível.

4) O caminho para a oposição, em vista destas pequenas reflexões, é simples: há que demolir Márcio Lacerda. Ele não tem luz própria para liderar a cidade nem tem as qualidades pessoais fundamentais de um homem público, dentre as quais brilha a honestidade em toda sua ampla concepção (valor caro a uma boa parcela da população, apesar do descrédito generalizado de todos os políticos). Quais deveriam ser os pontos a serem atacados?

1º.) Seu envolvimento com o maior escândalo já ocorrido no Brasil – o caso do “mensalão”, conforme denunciado por Marcos Valério publicamente. Este fato, por sinal, foi o que motivou sua saída do ministério da Integração Nacional, onde era Secretário-Executivo, ou vice-ministro de Ciro Gomes. Um homem enredado com dinheiros de má origem (como aqueles do mensalão), pode ser o gestor dos cinco bilhões do orçamento da PBH? Alguém votaria em Marcos Valério, apenas para ficar num dos outros nomes mais notórios, para ser tesoureiro de um condomínio ou para ser diretor financeiro de uma empresa onde o eleitor fosse acionista? E Márcio Lacerda, receberia, também, sua confiança ou um cheque em branco?

2º.) Sua participação na concepção e execução do projeto de transposição do rio São Francisco. Este malsinado projeto recebeu a condenação irrestrita de todos os mineiros (e, até, do governador Aécio), sendo considerado uma afronta aos direitos de todo o povo de Minas Gerais. Como pode uma pessoa que trabalhava contra os mineiros querer, agora, ser prefeito da capital do estado?

3º.) Seus obscuros vínculos com a ditadura militar que permitiram a ele se enriquecer prodigiosamente. Se ele tivesse sido, realmente, um perseguido político, não teria se transformado num dos grandes fornecedores do sistema de telefonia governamental. Fazer, agora, pose de injustiçado pelos milicos só engana a quem quer ser enganado. Negócios com empresas públicas só são feitos quando se tem bons “padrinhos” e sólidas relações políticas. Atualmente, conforme se pode deduzir de sua declaração patrimonial entregue à justiça eleitoral ele vive de aplicações financeiras em poderoso banco estrangeiro – o UBS/Pactual. Para quem não conhece os meandros das altas finanças, isto significa que sua renda provém em grande parte da dívida pública, vale dizer, dos monumentais juros que o governo federal é obrigado a pagar para financistas e agiotas.

4º.) Sua alardeada generosidade (com distribuição entre os empregados de U$1,5 milhão de dólares, segundo diz sua propaganda), é contraditória com os débitos fiscais de uma de suas empresas com o poder público. Somente com a prefeitura de Belo Horizonte há um contencioso de milhares de reais, conforme atesta ação de execução fiscal no Foro da Capital. Quer dizer, a doação de dinheiro aos ex-empregados se fez, mesmo, às expensas da população, ou dos cofres públicos, numa verdadeira mesura com chapéu alheio. E se ele, por acaso, se eleger prefeito? Vai pagar o que deve, que foi sonegado, ou vai cancelar a dívida ajuizada pela prefeitura? Esta dúvida moral é perfeitamente legítima de ser levantada. Estas são questões concretas que têm passado ao largo da campanha de Belo Horizonte e que precisam ser corretamente respondidas pelo pretendente.

4) Uma trombada desta magnitude poderia provocar uma tsunami política e eleitoral. Algo como jogar bosta no ventilador, sem garantia de que os benefícios seriam apropriados, necessariamente, pelo denunciante. Desmascarar o candidato oficial, entretanto, deve ser parte de uma proposta de governo assentada sobre valores fundamentais para a boa política, em conformidade com as maiores autoridades do judiciário. Pois não está o TSE fazendo firme pregação sobre a importância do voto consciente? Não está sendo propagado na TV um conjunto de filmetes defendendo uma postura crítica do cidadão? Não propala o próprio governo estadual sobre a relevância de se denunciar crimes e criminosos? Pois bem: os atos de Márcio Lacerda representam um tipo de delinqüência política que cabe repudiar. Nada pessoal, pode dizer-se. O importante é que o esclarecimento sobre as mistificações e as fraudes precisa ser tornado público antes da decisão eleitoral. Isto feito, no horário gratuito da TV (pois a imprensa jamais daria guarida a questionamentos deste tipo), dar-se-ia um nó no governador e no prefeito, que seriam obrigados a sair em defesa de Márcio Lacerda ou, então, a se calar pressionados pelo clamor ético. Pois como explicar o apoio a um homem com qualidades e histórico tão duvidosos? A população vem aceitando a imposição tácita de seu nome por não ver nele nada de reprovável. Este desvelar, ou para usar velho adágio popular, este destampar do pinico, pode obrigar o eleitor a se reposicionar no processo. Não dá para fazer isto que está sendo proposto de uma forma bem comportada. É um tiro de canhão com efeitos desmoralizantes. Gente sem credibilidade não pode ter esta ousadia. E, afinal, de contas, onde já se viu política bem comportada? O PT, para ficar num exemplo óbvio, sempre praticou o estilo “chute na canela”. E querem, agora, ser afagados? A ousadia – e isto é um truísmo vulgar - é inseparável da vitória. Chamar Márcio Lacerda a dar explicações, principalmente em entrevistas aos meios de comunicação, vai deixá-lo em má situação, em vista de suas notórias dificuldades de enfrentamento. Sua medíocre participação no debate da TV Bandeirantes é uma amostra de sua incapacidade e falta de jogo de cintura.

5) Mas poderás tu, meu irmão e meu companheiro, vaso do mesmo barro, agir como aconselhava Teodoro (n’ O Mandarim, de Eça)? Que dizia: só bem sabe o pão que ganha o suor de teu rosto; nunca mates o mandarim! Serás tu capaz de “matar” politicamente o Lacerda? Até agora a propaganda do homem tem dado um passeio nos concorrentes. E veja que ela está sendo potencializada, indiretamente, pela propaganda do governo de Minas, que não deixou de ser feita mesmo durante o período eleitoral. Convenhamos que é impossível fazer uma contra-propaganda, até por falta de meios materiais. Mas um desmonte da imagem do Márcio Lacerda, apelando para fatos que não possam sofrer contestações judiciais, vai neutralizar o efeito do apoio do governador e do prefeito. Se a população é conservadora – e os fatos e os números parecem confirmar isto – por que não apelar para a faceta moral, que é parte indissociável do conservadorismo? Em suma, você votaria num candidato a prefeito envolvido no escândalo do mensalão? O atual prefeito tem entre seus “assessores especiais” outro dos nomes que apareceram como recebedores das malas de dinheiro de Marcos Valério, o carequinha safado – um tal de Rodrigo Barroso, ex-secretário municipal da Cultura e ex-presidente da Fundação Municipal da Cultura de Belo Horizonte e, também, apoiador da campanha de Pimentel em 2004. Quando o escândalo explodiu trataram de tirá-lo da linha de fogo e colocá-lo nesta “assessoria especial”. Outra vez pergunto: você votaria num candidato a prefeito que, contrariando todos os mineiros, coordenava o projeto de transposição do rio São Francisco? Mais uma pergunta para finalizar: você votaria num candidato a prefeito que estivesse sendo executado por sonegação fiscal pela própria prefeitura que ele quer assumir? Um candidato com este perfil conseguirá estabelecer compromissos aceitáveis com nossa cidade? Alguém pode confiar que Belo Horizonte estará em boas mãos se Lacerda for prefeito? Colocar R$5 bilhões nas mãos de uma pessoa com este passado não é um risco que não se deve correr?

6) Ponto importante que não deve ser negligenciado é que as pesquisas estão captando muito mais intenção de voto que decisão de voto. Isto é o que explica a subida meteórica do Márcio Lacerda com apenas duas semanas de campanha pela mídia. Ele precisa receber um tiro na asa. Ainda há tempo para isto. A própria “indefinição” da maioria do eleitorado durante tanto tempo mostra esta possibilidade.

Sôbre a ética e o jeitinho no Brasil (extraído do site do Prof. Roberto Romano)

O candidato a vereador Ricardo Holz (PMDB), da coligação São Paulo no Rumo Certo, tem usado uma organização não-governamental para conseguir votos em troca da promessa de obter bolsas de estudo em universidades particulares. A lei caracteriza como compra de voto o oferecimento ou a promessa ao eleitor de vantagem pessoal de qualquer natureza, em busca de seu apoio. Pesquisa recente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) mostrou que 61% dos entrevistados conhecem alguém que trocaria favores por voto, mas 89% condenam quem faz isso.
Holz é presidente do Instituto Bolsa Universidade, uma ONG que funciona em uma pequena sala do 3º andar de um conjunto comercial da Rua 24 de Maio, centro da cidade. A entidade, segundo seu site, consegue “bolsas parciais de 5% a 70%” em “faculdades ou universidades parceiras do instituto” para quem “siga os passos e normas estipulados pelo instituto”. Em seu site na internet, o instituto informa que tem parceria com 63 faculdades. A reportagem falou com quatro das mais conhecidas delas, PUC-São Paulo, Mackenzie, Uniban e Unip. As três primeira negaram ter a ONG como parceira. A Unip disse que tem convênio com a entidade, mas não comenta o uso das bolsas.
O interessado na obtenção da bolsa, ao procurar a sede da instituição, é levado por uma funcionária até outra sala do mesmo andar. Não há placas da ONG nessa nova sala, apenas adesivos da candidatura de Holz. Depois de perguntar qual o curso de interesse e até quanto o interessado pode gastar por mês com a faculdade, os atendentes avisam que o presidente da entidade é candidato a vereador e que para ter uma “atenção especial” e o nome incluído na lista de possíveis beneficiados é preciso conseguir para ele os votos de 20 pessoas. A reportagem do "Estado de São Paulo", após se cadastrar, foi até o local. O repórter recebeu duas folhas de papel com o nome de Holz, número eleitoral no cabeçalho e uma lista para ser preenchida com os dados de 20 eleitores que dariam seu voto. Ela inclui a zona eleitoral onde ele vota, para futura conferência.

Ontem, em novo contato por telefone, uma funcionária disse que há 12 anos a ONG concede as bolsas, mas este ano teria prioridade quem apoiasse a candidatura de Holz. “Se você trouxer 30 pessoas que se comprometam a votar no Ricardo, a bolsa é de graça. Mas fica entre a gente”, disse ela. Com as folhas, o funcionário entregou um envelope com material de campanha, inclusive folhetos mostrando Holz ao lado do candidato Gilberto Kassab (DEM). Holz nega que esteja comprando voto. “Eu peço o apoio dos associados. Não autorizo que façam isso.”
"Um hábito antigo, de Estados onde o cidadão não tem direitos nem deveres"
de Gabriel Manzano Filho.

O gesto do candidato Ricardo Holz é uma prova - mais uma - de que modernidade não é garantia de democratização e antigos hábitos sobrevivem nas novas formas de mando das sociedades atuais. Quem o diz é o professor de Ética da Unicamp Roberto Romano, veterano estudioso dos bons e maus costumes da vida brasileira. “É uma coisa lamentável, mas não surpreendente”, diz ele. “A compra de votos já era uma coisa comum no Império Romano.” “Platão se irritava com essa tradição na Grécia antiga e Maquiavel a condenava na Florença no século 15. O autor italiano Luciano Canfora identifica o costume há 2 mil anos, no seu livro Júlio César, o Ditador Democrático”.

Mas por que o hábito é tão marcante no Brasil? “Porque nossa história é uma permanente negação, na vida social, da democracia e do liberalismo. A ausência de liberdade moldou a vida dos municípios. Construiu-se, desse modo, um sistema em que o indivíduo não tem direitos, mas, também, não tem deveres. Ele não é cobrado, não sente o dever de observar limites ou princípios.” Na origem disso está o monopólio do poder pelo Estado, diz ele. “Vivemos num ambiente em que tudo se concentra no Executivo, que ainda fica com 70% do total dos impostos. Isso estrangula as aspirações do sujeito e ele recorre a truques para se safar. O deputado e o vereador se tornam estafetas de luxo, que fazem a mediação entre quem tem o poder e o dinheiro e quem dele precisa.”

Roberto Romano observa que o povo brasileiro conviveu, desde as origens do País, com experiências de absolutismo monárquico. Seguidas rebeliões liberais foram massacradas. A República Velha herdou esse viés absolutista do Estado. “Tudo conduziu à desvalorização do indivíduo - o catolicismo dominante, conservador, o monopólio de poder exercido durante a República Velha, as duas ditaduras no século 20. Dessa salada saíram os valores sociais que moldam nossas relações sociais de hoje.” O que temos como eleitorado é uma clientela, diz ele. “E onde há clientela há o jeitinho.”

A ditadura militar: quem se beneficiou?

Hoje já se tornou uma sólida tradição falar mal da ditadura militar, que vigiu no país entre 1964 e 1985, como estratégia para obtenção de votos em qualquer eleição que se apresente, municipal, estadual ou federal. Os generais daquela época, a maioria já morta e enterrada, sofrem assim como o antigo Bey de Túnis sofria sob a pena de Eça de Queiroz. Na falta de assunto para preencher um artigo que lhe era cobrado, o grande romancista e cronista português sacava do bolso do colete um tema infalível: baixar o cacete no tal Bey (título nobiliárquico do dirigente muçulmano da cidade de Túnis, algo equivalente ao título de Scheik, de Xá ou de Califa). Como a referida figura era detestada por todo o mundo civilizado, fazer-lhe toda e qualquer crítica era garantia de boa recepção por parte dos leitores.

Márcio Lacerda, candidato a prefeito de Belo Horizonte - um verdadeiro Tio Patinhas, tal sua fabulosa fortuna - também se coloca politicamente como um daqueles que combateram a ditadura militar. Chega ao requinte de acrescentar que "conhece Pimentel (atual prefeito da capital) há mais de 40 anos, quando lutaram juntos contra a ditadura pela volta da democracia no Brasil". Insinuando cruel perseguição movida contra ele pelos milicos, não pôde arrumar um bom emprego para se sustentar, tendo que se conformar em ser um simples estagiário da antiga Cia. Telefônica de Minas Gerais. Mas ele percebeu que isto não era tão ruim como podia parecer a uma primeira vista. Seguindo famoso conselho dado por Delfim Neto naquele tenebroso período, que pontificava : ("se eu fui estagiário da Gessy-Lever e cheguei a ministro, qualquer um pode fazer o mesmo"). Márcio Lacerda, talvez por também ser economista e captar competentemente as lições do balofo ministro, viu que os milicos eram duros mas podiam ser amaciados. Lulinha da Silva, nos dias atuais, parece que resolveu seguir a mesma recomendação de Delfim Neto. De simples estagiário no zoológico de São Paulo, durante o mandato da Dona Marta Suplicy, o jovem empreendedor já virou promissor empresário durante o mandato do generoso pai (e, por coincidência, navegando nas mesmas águas onde já havia navegado o Lacerda, ou seja, no ramo da telefonia). É verdade que nos tempos em que Márcio Lacerda se estabeleceu - e construiu alianças com os milicos que mandavam nas empresas de telefonia brasileiras, que eram todas estatais - qualquer fornecedor (ou parceiro, como se diz hoje), tinha que passar pelo crivo político dos generais. Ou será que não tinham? Se não tinham, então esta história de perseguição foi uma lorota, simples propaganda enganosa. Lulinha da Silva, fez melhor. Aliou-se com empreiteiros que controlavam a Telemar (atual Oi), e que, por extraordinária coincidência, também são os maiores contribuintes das campanhas de Lula pai, e virou sócio da Telemar. Este parece ser mais esperto que Márcio Lacerda. A continuar neste ritmo vai ter uma fortuna, nos próximos anos, superior à do pobre estagiário de Belo Horizonte.
Em todo caso, justiça seja feita: a ditadura militar fez bem aos negócios de Márcio Lacerda. Se ele tivesse entrado num emprego público, ou em alguma burocracia privada, talvez não fosse, hoje, mais que um sujeito de classe média, tipo funcionário público aposentado reclamando do governo e querendo fazer alguma greve ou manifestação contra os neoliberais de plantão. Sua sorte, ou esperteza, ou convenientes relações comerciais foi se estabelecer e, graças à sua "capacidade de liderar equipes e sua visão moderna e inovadora" levar "uma pequena empresa a se tornar uma das maiores de Minas e do Brasil", conforme rezam seus coloridos comerciais espalhados por toda Belo Horizonte. Mais rico que Maluf - que sempre teve fama de ser serviçal dos militares e capacho da ditadura - Márcio Lacerda é um exemplo de que se pode defender o socialismo e a revolução e, ao mesmo tempo, se tornar um nababo. Aliás, pelos exemplos de outros considerados "subversivos" daqueles tempos (como o lobista José Dirceu e a turma do mensalão), só os tolos não perceberam que combater verbalmente os generais (e por baixo do pano fazer bons negócios com eles), era a grande sacada, o verdadeiro mapa da mina. Estão aí as gordas aposentadorias especiais, as polpudas indenizações e outras sinecuras propiciadas pelo regime lulista da silva.

A meu pai

Nascido em 12 de abril de 1923, e falecido em 26 de agosto de 2008, era meu pai - Ephigênio de Oliveira Carvalho - a resultante de uma mistura de panteismo com ceticismo. Ensinou-me a ler Augusto dos Anjos e o grande poeta persa Omar Khayyán, cuja Rubaiata 161 segue abaixo. Creio que ele gostaria que tais versos lhe fossem dados por epitáfio.


Rubaiata 161

"Não só aqueles
que a velhice colheu,
como aqueles
que só conheceram
a juventude,
um a um foram partindo
mal haviam chegado.

Ninguém cria raízes
neste mundo enganador...

Uns partiram,
partirão os demais.

E os outros que estão para chegar
partirão também".

Seu talento como sonetista brindou-nos com uma das mais vívidas descrições do processo político brasileiro. No soneto denominado "3 de outubro" (data em homenagem ao dia no qual se realizavam as eleições após 1930), dizia ele, em 1960:

Ei-los vendilhões da Pátria escravizada,
Ei-los a disputar a marmita e a gamela.
Imorais fariseus arautos da embrulhada,
A preparar ao povo a cangalha e a sela.

E este povo infeliz que tomba na esparrela,
Que não compreende a fraude nem entende nada,
Não vê que esta canalha a própria pança zela,
E quer ver a caveira à plebe degradada.

No fim da apuração o eterno resultado
(Que desde oitenta e nove a nação avassala),
Levando ao poder o patife e o tarado.

C'o ajuda do eito vil e c' os votos da senzala,
Caco se elege e Ali-Babá é deputado,
Numa competição de rifa e de cabala.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Reinvenção da história

Na antiga URSS os inimigos de Stálin eram não só assassinados, de fato, como tinham seus rostos apagados de eventuais registros fotográficos. Desaparecendo o personagem (desta forma assim meio que compulsória), estava livre o caminho para as devidas “correções” do curso da história. Esta re-elaboração narrativa cumpria propósitos políticos e educativos óbvios, ensejando o surgimento de uma verdadeira “escola” de pensamento (?) que se popularizou em todos os quadrantes da terra, inclusive no Brasil. Aqui nos trópicos pôde-se alargar esta “tecnologia” com ajuda de contribuições vindas de outros lugares, como da Alemanha nazista. Desta veio o sensacional princípio que reza: repetir uma mentira inumeráveis vezes até que ela soe, ou pareça, verdade. Nosso país, portanto, não poderia ficar em posição secundária frente àqueles profissionais do embuste gerados pelos regimes soviético e nazista na primeira metade do século passado. Hoje, afinal de contas, os recursos propiciados pela informática vulgarizaram muitas ferramentas de fácil utilização.

Um exemplo notável dessa recriação da história está sendo feito em Belo Horizonte, com a campanha do candidato oficial a prefeito, aliás, triplamente oficial, pois recebe bênçãos do governo municipal, do governo estadual e do governo federal. Este feliz candidato – riquíssimo empresário que começou a vida como estagiário da antiga Telemig – é um predestinado. Ou, então, um Midas. Sua mãe deve ter-lhe passado açúcar no bumbum e, não, o singelo talco do comum dos mortais. Vai ser gostoso, rico e poderoso assim na puta que o pariu! Um homem que dá dinheiro para os trabalhadores; e dinheiro dele, segundo diz sua biografia, é demais, não? Inacreditável. Não é como Lula, que dá dinheiro p´ros pobres, mas dinheiro da “viúva”, vale dizer, dos outros, ou nosso, para ser mais preciso. Márcio Lacerda, ao contrário, mete a mão no próprio bolso e distribui sua bufunfa aos trabalhadores. A TV informa que foram U$1,5 milhão de dólares. Um empresário anarquista? Um empresário ao estilo do “banqueiro anarquista”, de Fernando Pessoa? Diz sua biografia que o homem enricou virando empresário (pois não conseguia arrumar um emprego ou uma “boquinha” em alguma repartição pública). Seus biógrafos, talvez por excessiva modéstia, não se referem aos anos e anos em que ele – coitado – deve ter passado comendo miojo no almoço e pão molhado no jantar. Cada tostão economizado, e devidamente investido, gerou ao longo do tempo sua fabulosa fortuna (maior, como é público e notório, que a fortuna de Maluf). Nem Tio Patinhas – que iniciou com uma simples moeda de um centavo achada no fundo de um bueiro – chega aos pés de Márcio Lacerda. Claro, tio Patinhas era, e é, um avarento: não gasta nada, não empresta nada, não dá nada para ninguém. Só sabe acumular e entesourar. Quão diferente é o comportamento de Márcio Lacerda, tão pródigo, tão bon vivant, tão capaz de moer vastos cabedais somente para ajudar os amigos! O que o torna mais admirável que o antipático personagem de Walt Disney.



Evidentemente que há saltos narrativos inexplicáveis (ou, ao contrário, seriam muito bem explicáveis, bastando uma ligeira investigação?). Por exemplo: sua saída do governo do companheiro Lula é informada com naturalidade; diz-se, apenas, que ele “saiu” e veio para Minas Gerais “servir” ao governador Aécio Neves. Nenhuma menção ao seu envolvimento com o mensalão, conforme denunciado pelo companheiro Marcos Valério, trapaça das maiores entre todas que foram feitas “neste país”. Que fazia Márcio Lacerda no cargo de vice-ministro de Ciro Gomes no ministério da Integração Nacional? Afora suas incumbências de “caixa” de campanha da companheirada, o ilustre candidato a prefeito era responsável por tocar uma das obras mais maléficas do período Lula da Silva: a transposição do Rio São Francisco. Este malsinado projeto – que recebeu quase que unânime reprovação em Minas Gerais pois até o governador Aécio questionou-o – era tocado pelo vice-ministro Márcio Lacerda, até ele ser defenestrado do antigo cargo. Pôs, então, o rabo entre as pernas e correu para a província onde nascera, à espera de uma mudança nos ventos. Bom navegador que é, Márcio Lacerda ficou boiando aqui e ali igual bosta n’água e, então, ocorreu o milagre. Valfrido Mares Guia, também enrolado com as tramóias do mensalão (porém de forma muito mais grave, pois suas presepadas remontavam ao proto-mensalão, ou mensalão mineiro), e que seria o nome a ser ungido por Aécio e Pimentel para a prefeitura de Belo Horizonte, foi colocado fora de batalha. Estava feito o jogo: guindado ao cargo de Secretário de Estado de Desenvolvimento de Minas Gerais, ficou numa espécie de quarentena enquanto sua candidatura foi sendo construída pelos dois patronos. Isto é que é homem de sorte, puta que o pariu! Para Pimentel é tudo que ele imaginava encontrar (um pau de amarrar égua que não vai futricar na contabilidade da PBH), e para Aécio, idem, ou seja, um pau de bosta de fácil manipulação, capaz de produzir uma posição de amparo no xadrês das futuras manobras na disputa de 2010. Aécio mira vantagens políticas; Pimentel, mais velhaco, mira um escape potencial da penitenciária, cuidado que um tal de Bejani – ex-prefeito de Juiz de Fora – não teve, ainda recentemente.

O mais divertido nesta biografia do candidato, inventada pelos publicitários, é a pose de humildade que o candidato vai ostentando: cabeça baixa, olhar compungido, fala baixa e macia, quase um tabaréu. E, para dar um toque de gênio, este sim, pregaram-lhe no queixo um cavanhaque similar ao dos “ursões” que vagueiam pelas baladas da zona sul de Belo Horizonte. Maior sucesso não poderia haver! Em vista da fragilidade dos demais concorrentes à prefeitura da capital mineira, a patacoada de Aécio, Pimentel e Márcio Lacerda bem pode dar certo, o que só confirmaria a decadência ética a que estamos sujeitos. Bem, não tanto, para ser justo. Trambicagens políticas são tão antigas como a humanidade. Não que isto justifique o farisaísmo de hoje mas não custa relembrar versos imortais de Khayyán de quase um milênio atrás:

“Com a moeda dos princípios
Não se compra nos mercados
Nem um triste pé de alface”.


terça-feira, 12 de agosto de 2008

OBSCURAS ALIANCAS EM BELO HORIZONTE

A sucessão em Belo Horizonte é um exemplo do vale-tudo, verdadeira luta livre onde todos os golpes são permitidos. Basta cada um observar o que está ocorrendo e tirar, então, suas próprias conclusões. Talvez a população da capital até esteja fazendo isto no seu íntimo, o que explicaria sua larga faixa de indefinição quanto à intenção de voto para prefeito. Com efeito, há chapas que são deploráveis sob qualquer ponto de vista. Veja-se o caso das duas candidaturas da continuidade – as encabeçadas por Márcio Lacerda e por Jô Morais.

A chapa de Jô Morais é uma obra prima do absurdo. Agrega ela a escória petista, mais os representantes do peleguismo sindical patronal, mais os herdeiros do delírio stalinista e, para coroar o balaio de caranguejo, as forças lideradas pelo bispo Edir Macedo - chefe inconteste da Igreja Universal do Reino de Deus. Quem este amontoado de gente quer representar, quando pede o voto ao eleitor? Sob a proteção suprema do atual vice-presidente – ex-senador José Alencar - empresário do tipo chapa branca, daqueles que enricaram com as benesses dos créditos oficiais, a deputada do PC do B ainda quer se apresentar ao eleitorado como se oposição fosse. Alguns desavisados chegam, mesmo, a acreditar nesta possibilidade.

O que une estes bandos, no entanto, não são convicções defensáveis. O que solda esta aliança estapafúrdia é a compreensão comum de que o poder público é um bom negócio, ou seja, uma sólida fonte de renda que cumpre cultivar. Dos cofres públicos, verdadeira cornucópia, jorra inesgotável pecúnia. Dali sai o gostoso dinheiro do BNDES e, também, o amoroso mensalão, aquele que adocica comportamentos, garante fidelidades e financia campanhas eleitorais. Todos estes “bons companheiros” são parte das falanges que enfeitaram as páginas políticas e policiais dos últimos cinco anos.

O partido do atual vice-presidente, que era comandado por um esquisito deputado paulista – um tal de Valdemar Costa Neto – por uma questão de prudência resolveu mudar de nome. Mudou o nome, porém, não promoveram a mudança dos nomes de seus integrantes. A nódoa, portanto, permanece. Só está esmaecida pelas graças do esquecimento popular. A pelegada eclesial do bispo Macedo (da linhagem de Anás e Caifás) move-se à sombra de José Alencar que, possuidor de uma cara de boi sonso, angaria vagas simpatias potencializadas por seu infortúnio pessoal na luta contra um câncer nas tripas. A cúpula da Universal sabe que é necessária uma espécie de aríete para arrombar a porta dos governos estabelecidos de maneira democrática. A experiência lhes tem mostrado que colocar um dos seus à frente das disputas eleitorais é condenar-se à derrota certa, uma inescapável crônica de uma morte anunciada. O exemplo do Rio de Janeiro, onde um sobrinho direto do próprio Edir Macedo (o senador Crivela, o mesmo que inventou um projeto vulgarmente assistencialista que resultou na morte de três jovens – assassinados por traficantes de um morro rival após serem entregues ao martírio por membros do exército brasileiro), está postulando a prefeitura da cidade maravilhosa, aponta para a importância de se ter alguém que faça, às vezes, de “cavalo de Tróia”. No caso de Belo Horizonte, a fachada do engodo é propiciada pela deputada do PC do B. Com cara que sugere aquelas beatas que vivem a debulhar o rosário nos escuros das sacristias, ela tem um álibi perfeito para o passa moleque pretendido. Realmente, é fantástico apreciar a implausível junção dos antigos endeusadores da infeliz Albânia com os cúpidos herdeiros do Sinédrio judaico.

No entanto, pode ser que nem seja tão absurdo assim, se estiverem corretas as análises de Djilas (um dos primeiros a denunciar a formação da “nova classe” dos burocratas profissionais stalinistas), em vista dos partidos em tela (PC do B e IURD), terem como projeto real cultuar uma espécie de “religião” que os enriqueça e os libere das fadigas do trabalho. As prescrições mosaicas estabeleciam que os levitas não deveriam trabalhar produtivamente, vivendo somente para servir ao Tabernáculo e às coisas de D´us. Os fiéis têm a obrigação, portanto, de bancar o vasto número de comensais da Salvação, através de dízimos, primícias e outras espórtulas complementares. Lênin e Stalin também prescreviam, como um dos pilares de sua exótica doutrina, que seus “sacerdotes” fossem profissionais da “política”, dedicados em tempo integral à defesa da “causa”. Para viabilizar isto haveria de se tomar de assalto os ricos cofres de sindicatos, de entidades estudantis e as inúmeras bocadas propiciadas por todos os governos, principalmente agora que o “ouro de Moscou” é só uma quimera do passado.

Na tessitura profunda de seus interesses materiais, e de suas convicções, se encontraria, assim, o lastro que une a Igreja Universal do Reino de Deus – a IURD – e a igreja atéia congregada no PC do B. Eis aí o pano de fundo da inefável chapa liderada por Jô Morais e um obscuro pastor do Reino de Deus, que é seu vice, e de quem nunca se fala nas propagandas da candidata. Aqui vale a máxima popular: Deus os fez e o diabo os ajuntou. Será cômico o dia em que a candidata comparecer a uma sessão de “macumba” no monumental templo da Avenida Olegário Maciel. A região ali próxima ficará impregnada dos “encostos”. Certamente, a “companheirada” exorcista terá muito trabalho para expurgar tanta coisa ruim. T’esconjuro!

Controlar a prefeitura de Belo Horizonte é garantir o acesso aos mecanismos que permitem obtenção de licenças e autorizações (como aquela que permitiu a construção do legítimo “shopping da fé”). Na sua insuperável visão, Dante Alighieri profetizou punições específicas para feiticeiros, falsários e simoníacos. Não imaginou, contudo, a que ponto poderiam chegar determinadas frações da humanidade atual. Se vivesse nos tempos contemporâneos, o capítulo do “Inferno” seria, certamente, bem mais extenso. O genial florentino haveria que postular novos pecados, e novas punições, para ampliar a Divina Comédia. A Arte seria, pelo menos, enriquecida com versos cuja apreciação se alonga pela Eternidade.

A turma de Jô Morais – estes verdadeiros “empresários” do patrimônio público – não busca se enriquecer individualmente, tal como o fazem empresários da iniciativa privada. Sua lógica é, antes a do formigueiro que da colméia (as abelhas têm a seu favor o fato de segregarem o mel, contribuindo para a floração da vida). Já a rainha das formigas só faz botar os ovos; enquanto isto, os operários buscam comida incessantemente, devastando os campos; os serviçais de plantão alimentam as larvas e os guardas vigiam os caminhos atacando os inimigos internos e externos. É uma compreensão da vida mais etológica que sociológica. Todos dentro do formigueiro beliscam alguma coisa (pois ninguém fica fora do negócio), vivendo a orgânica sociedade numa relativa harmonia.

Platão endossaria o projeto do qual Jô Morais é defensora. Talvez, até, se afiliasse ao PC do B. Afinal, o velho grego foi um dos primeiros a formular uma concepção totalitária de sociedade, tão ao gosto dos anacrônicos herdeiros do stalinismo.

As “formigas” de Jô Morais anseiam pelo aumento dos impostos. Ela própria defendeu, no primeiro debate televisivo na rede Bandeirantes, uma forte tributação imobiliária. Os maiores escorchados serão os donos de modestos apartamentos (comprados com uma vida inteira de poupança). O pessoal do PC do B e da IURD sabem que, para poder financiar a boa vida do vasto conjunto da companheirada, há que se extrair alguma “mais valia” do cidadão. Seu lema de campanha (até para fazer justiça aos aliados), deveria ser “fé em Deus e unha no povo”. Ai dos vencidos, já dizia Cezar! Numa eventual vitória dessa gente, os moradores deste Triste Horizonte se lembrarão com inveja dos tempos imemoriais da Conjuração Mineira, quando dona Maria, a louca, só queria extorquir uma quinta parte da renda dos mineiros. Se hoje já nos aproximamos do dobro (pois quase 40% da riqueza da sociedade é apropriada pelos governos), a eleição de Jô Morais, a tresloucada, sinaliza para uma verdadeira escravidão coletiva dos cidadãos. A famigerada CPMF, aliás, que o governo federal quer ressuscitar, teve o apoio entusiástico, além do voto, da deputada federal Jô Morais. Ela bem sabe que Lula e sua sofisticada quadrilha só querem, mesmo, é esfolar mais o povo brasileiro, notadamente a classe média. Para quê? Para poderem usar o dinheiro para pagar os juros aos banqueiros, para criar cabides infindáveis de empregos (não inventaram, agora recentemente, o Ministério da Pesca?), e para pagar o cala boca, na forma de mensalão, a seus aliados predadores (Sarney, Barbalho, Calheiros, Maluf, Professores Delúbio, Luizinho e Walfrido, Marcos Valério, bispo Rodrigues etc.), e mais uma lista infindável que cobriria um catálogo telefônico.

A escória do PT, por outro lado, é composta pelos “santinhos do pau oco” da política. Adeptos do mais deslavado assistencialismo como forma de fazer política, seu mentor espiritual é o ex-prefeito Patrus Ananias, o santarrão carola. Compreende um monte de parasitas dos escalões inferiores da máquina administrativa pública, distribuídos pelos diferentes níveis de governo – municipal, estadual e federal. São os pequenos mordedores que, em bloco, e de forma inteligente, se dividiram para, qualquer que seja o resultado esperado das eleições (caso vençam, ou Jô Morais ou Márcio Lacerda), poderem perpetuar a “boquinha”, conforme apontou, em memorável definição, o ex-governador Garotinho.

Este é o plano deles, o que não quer dizer que vá dá certo. Cevados em mais de 15 anos encostados nas inumeráveis assessorias, consultorias, gerências e múltiplas outras formas de terceirização (através de ONG´s, Cooperativas, sindicatos etc.), mecanismos usuais utilizados para abocanhar um naco das verbas públicas, vêem com terror a possível exigência, posta pelo destino, de terem que trabalhar, como o comum dos mortais, a fim de se sustentarem e às suas famílias. Nos cenários e nas articulações conduzidas pelo atual prefeito, o futuro da prefeitura de Belo Horizonte não comportaria esta arraia miúda. Na eventualidade da vitória de Márcio Lacerda, só os lambe cus de Pimentel é que continuariam abrigados no amplo regaço das dezenas de secretarias municipais e órgãos da administração indireta. Estes, não por acaso, são os que controlam o aparelho partidário municipal, decisivo para a definição futura do candidato a governador em 2010. Dependendo da situação política, as injunções podem levar Pimentel, até, a migrar para o PSB, juntamente com seu amigo do peito – o atual governador Aécio Neves. Seria uma dobradinha de arromba. O caminho para isto vem sendo pavimentado gradativamente. Os ratos já começam a abandonar o navio, conforme se vê no noticiário (Tilden Santiago, eminência dos maiores da nação petista acaba de se aboletar no PSB sob as bênçãos de Ciro Gomes). Percebem, estes velhacos, que um cansaço da população com o petismo começa a se configurar.

Desde tempos imemoriais os ratos são os primeiros a fugir. E um transatlântico do porte do PT demora muito a ir a pique. Só os ratos percebem o risco que o barco corre (talvez por uma qualidade genética de farejar grandes perigos). A fadiga de material, com efeito, não acomete somente as coisas físicas. Também instâncias simbólicas sofrem da mesma ameaça. Casamentos sólidos se dissolvem no ar, marcas históricas entram em colapso, discursos políticos se esvaziam como pregações no deserto. Alípio, o conde de Abranhos, ao justificar sua mudança partidária (na célebre obra homônima de Eça de Queiroz), alegou que “sentia” que o governo estava “gasto”. Era hora, portanto, de mudar de pouso. E é o que Pimentel e Aécio estão fazendo estrategicamente. Vão deixar o pau de bosta nas mãos dos outros e, seguindo o que farejaram, vão mudar para que tudo fique como está. Lampedusa puro!

Somente um eventual surto de lucidez do eleitorado de Belo Horizonte poderá abortar o plano destes cafajestes. A ala petista mais mercenária – aquela que transformou a busca do poder numa oportunidade de boas negociatas – marcha unida com seus aliados tucanos e seu séquito de desfibrados políticos (distribuídos no PV, PPS, PTB e outras siglas destinadas a operações de compra e venda). Buscaram um milionário que se enriqueceu fabulosamente com atividades na área da telefonia (isto no tempo em que as empresas de tele-comunicação eram, não por acaso, controladas pelo governo), e pretendem empurrar, goela abaixo dos eleitores, a escolha feita por eles, como se fossem mandarins. E eles o são: mandarins cintilantes, atualmente governando a prefeitura e o estado. O tal Márcio Lacerda é tão fabulosamente rico que chega a ter um patrimônio superior a um dos mais notórios ladrões e nababos brasileiros – o ex-governador Paulo Salim Maluf – conforme declarações dos candidatos a prefeito registradas nos tribunais eleitorais. Só o palacete onde mora – não em Belo Horizonte, é claro, e, sim, em Brumadinho, no mais luxuoso condomínio na região sul da capital mineira – está avaliado em R$3,4 milhões. Para uma residência valer tanto dinheiro, ela deve ter coisas como torneiras banhadas a ouro e revestimentos do mais puro mármore de Carrara. Se não é moradia de marajá, ao menos deve ser de algo próximo a rajá, tal a magnitude do seu valor. Seria interessante saber quanto paga de IPTU.

Percepção do risco que significa viver em Belo Horizonte, pelo menos ele tem, pois foi morar bem longe das mazelas que assolam grande parte dos cidadãos, além de outros males, como a poluição ambiental, e os infernais engarrafamentos de trânsito. Realmente, é muito mais aprazível, e mais seguro, viver num lugar com todas as bem aventuranças que a natureza oferece, e que uma boa quantidade de dinheiro pode comprar, que entre os simples mortais que labutam na cidade grande! E mais: velejar, nas férias, pelas águas azuis do Adriático, pousando aqui e ali nas paradisíacas ilhas que ponteiam a doce Itália e a vetusta Grécia, recuperando, quem sabe, a milenar e gloriosa vilegiatura de Ulisses. Dá para imaginar o tal Márcio Lacerda na pose de marinheiro viking, com sua barbicha dourada e a postura forte dos que são capazes de encarar até o canto das sereias, comandando sua disciplinada tripulação com a voz típica dos mandões de todos os tempos: “arriar velas, descer a bujarrona, subir à gávea, preparar os canhões...”. E, assim, o barquinho vai...





terça-feira, 22 de julho de 2008

O NOIVO

Mais que indicação de que o eleitor da capital ainda não se ligou à campanha para prefeito, os resultados das pesquisas disponíveis mostram que há uma fadiga de material. Um cansaço similar ao de velhos casamentos que não se renovam e se esgarçam ao longo do tempo. Belo Horizonte parece estar querendo um novo amor, uma paixão que desperte na cidade as energias congeladas pelo reinado, agora tedioso, a que se viu condenada por Pimentel e sua turma. O candidato oficial – apoiado pelo governador e pelo prefeito – patina nos 5% da preferência popular. Os artífices do decantado “projeto” (que mal esconde desmedidas ambições), e que justificou a insólita aliança entre o PT e o PSDB, tentam encontrar uma explicação que amenize o vexame público aí às vistas. É a tal situação da mocinha bem comportada e obediente que fica reticente e de má-vontade, se recusando a seguir o conselho dos pais na escolha do namorado, ou do futuro marido. Casamentos arranjados, aliás, nem sempre acabam bem. Ainda mais quando o “noivo” é sonso e não excita a imaginação. Candidato certo a um bom par de “chifres”, o pretendente com as características de “amigo” do papai e da mamãe, incapaz de seduzir por seus próprios méritos, tentará se impor pela força do dinheiro e do medo à palmatória.
Insatisfeitos e/ou desinteressados pelos nomes colocados à cidade, bocejantes eleitores mantêm-se sem maiores comprometimentos com as escolhas disponíveis. Realmente, está difícil se definir. Além do “noivo” apoiado por “papai e mamãe” há uma candidata, raivosa e ressentida com o oficialismo local e federal, desempenhando com perfeição um papel ao qual só falta a vassoura. É o nome ideal para se contrapor ao “noivo”, na perspectiva dos demiurgos inventores de prefeito. Parecem-se com os velhos MDB e ARENA: um candidato do “sim”, o outro do “sim senhor”. Outros postulantes – um demasiadamente jovem deputado federal e um ex-deputado federal sem bala na agulha para bancar as pretensões – flutuam nos seus nichos de simpatizantes sem manifestarem, por enquanto ainda, qualquer sentimento de empolgação popular. Completando o quadro disponível há, ainda, os tradicionais candidatos cacarecos (um deles chega, até, a superar o candidato oficial, segundo as pesquisas divulgadas). Os únicos que, potencialmente, poderiam ameaçar o cenário desejado pelos patrocinadores das duas candidaturas (a do sim e a do sim, senhor), são os nomes do PMDB e do PDT (aquele mais que este). Aos dois, certamente, se querem mesmo correr o risco de ganhar, deverão infundir audácia e competência nos seus atos e discursos. O eleitor é uma alma feminina: ele quer ser arrebatado. Cautelas demasiadas e pudores excessivos dos dois eventuais oposicionistas podem deixar o eleitor sem alternativa de futuro. Neste caso, melhor esquecer o “chifre” e votar no candidato do “papai e da mamãe”.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A CAVERNA

A caverna já foi usada como alegoria em diferentes ocasiões. Platão retratou com ela a dificuldade de se conhecer o real. Posto no fundo da caverna, o homem só via as sombras dos objetos exteriores, nunca os próprios objetos. Menos afeitos à metafísica, porém com grande sutileza, os antigos fabuladores orientais referiram-se a ela como um lugar ideal para servir de valhacouto de ladrões, tal como consta no relato da famosa aventura de Ali Babá. Quando para ela adentrava, após os saqueios habituais, o bando de larápios contemplava a fortuna acumulada e costumava, então, promover a divisão do butim amealhado de forma vil. Se, por acaso, ocorresse alguma divergência entre eles, certamente não era por razões mais nobres, ou por alguma filigrana ideológica. Na caverna de Ali Babá que, aliás, nada tinha a ver com os ladrões (ele tão somente furtou o que os outros tinham roubado, após descobrir a palavra mágica que abria a porta dos tesouros), só havia, portanto, divergências materiais e financeiras. Até porque o ideário comum de todos aqueles patifes era um só, muito similar ao que ocorre em outras cavernas pelo mundo afora: morder o dinheiro alheio e enricar o máximo possível.

Veja-se, por exemplo, o caso de Belo Horizonte. A turma do mensalão – aquela mesma que foi flagrada há algum tempo atrás saqueando o tesouro público – transformou a prefeitura da capital mineira em uma grande caverna. Presentemente brigam entre si, tal qual faziam seus similares da velha história das 1001 Noites, para saber quem vai comandar a caverna da Av. Afonso Pena. Ou, então, como os sapos que ficam nos brejos a cantar: “meu sapo foi rei”, gritam uns; “Foi, não foi”. “Meu sapo é rei” esgoelam-se outros; “É, não é”, num coaxar estridente que avança pela noite afora. Sem qualquer violentação aos fatos, o que está ocorrendo com os mensaleiros municipais, estaduais e federais, vinculados ao PT e partidos satélites, sob os olhos de uma cidade perplexa, é uma disputa inglória, não em defesa dos cidadãos, mas, sim, para saber quem vai assumir a boquinha e comandar o saqueio que a capital mineira sofre há uma década e meia. Um conchavo espúrio e vergonhoso entre caciques que consideram o povo de Belo Horizonte um bando de otários primitivos, tangidos facilmente por propaganda maciça, esmolas e obras cosméticas que mal arranham as grandes demandas da cidade.
Uma comparação com outras grandes cidades brasileiras mostra o medíocre desempenho dos governantes municipais no que se refere a obras estruturantes e grandes obras viárias. No Rio de Janeiro, em Salvador, em São Paulo etc. as intervenções urbanas foram, e tem sido, de grande alcance. Em Belo Horizonte, não! Aqui, os aduladores de todos os governos não fazem mais que incensar as medíocres realizações cujo porte dá a medida exata de seus executores.

MANIPULANDO A OPINIÃO PÚBLICA

Os defensores da aliança entre o PT e o PSDB na disputa para a prefeitura de Belo Horizonte manipulam vergonhosamente a opinião pública. Publicam pesquisas políticas feitas de encomenda, tentando convencer ao povo da cidade que o pacto pretendido recebe amplos aplausos dos eleitores da capital. Usam, em defesa do tal projeto, argumentos que seriam risíveis se não fossem da mais deslavada má fé. Por exemplo, querem nos fazer crer que um futuro prefeito aliado do governador e do presidente da república será algo excelente para a cidade. Sem entrar no mérito, ainda, veja-se o travo autoritário do raciocínio, similar ao que era praticado nos tempos do regime militar. Os generais gostavam de escolher os governadores e os prefeitos das capitais com a justificativa de que era necessário haver uma harmonia entre os gestores públicos. Era uma forma elegante de chamar os eleitores mais politizados de idiotas. Os grotões, ao contrário dos grandes centros, sempre são governistas. Basta ver o prestígio do PT nos vales da miséria e nas caatingas nordestinas. Nada diferente do que ocorria com a ARENA de outrora, incensada pelas aposentadorias do FUNRURAL, antecessor direto da bolsa esmola de hoje. Vê-se, assim, que tem explicação a afinidade aparentemente esdrúxula entre Lula e Delfim Neto.

Um dos mais graves problemas urbanos está no transporte coletivo. Pois bem, nos últimos cinco anos o metrô de Belo Horizonte não avançou um milímetro, apesar da decantada aliança entre o atual prefeito, o governador e o presidente. Por que não investiram nas obras, se são tão afinados politicamente? Mais estranho fica a coisa quando se sabe que o presidente da empresa que gerencia o metrô é mineiro, afiliado ao PT, e com experiência que remonta aos tempos da ditadura militar. Também a prefeita de outra cidade beneficiada pelo metrô – Contagem - é militante do petismo, tal qual o prefeito da capital. Se eles são tão próximos, qual a razão deste importante meio de transporte coletivo ter sido relegado a segundo plano? Falta de “vontade política” para usar um jargão da época? Interesses comerciais dos concessionários de ônibus? Estes, aliás, estão em processo de disputa das linhas de Belo Horizonte, no apagar das luzes de uma administração que durou 16 anos, numa espécie de xepa licitatória, coisa de fim de festa onde tudo fica na base do agarre o que puder. O mais estranho, contudo, é que nunca divulgam pesquisas de opinião contendo nomes dos eventuais concorrentes. Aí, claro, todos veriam que o candidato inventado pelos mandarins não tem qualquer substância nem viabilidade eleitoral. Todas as capitais sabem do pulsar da opinião pública local. Em BH, entretanto, fomos reduzidos à menoridade política.

A PSICOPATOLOGIA DO TOTALITARISMO

"A PSICOPATOLOGIA DO TOTALITARISMO


I) A angústia e o medo

Autores como FRANZ NEUMANN (in Estado democrático e Estado autoritário. Rio de Janeiro, Zahar editores, 1969), põe ênfase no exame das emoções humanas, em especial no estudo da angústia e do medo, marcadamente em relação a suas funções na vida política, baseando-se principalmente em Freud.

MEDO: Reação emocional diante de situações específicas despertadas por objetos, também específicos, do mundo externo;
ANGÚSTIA: É posta em ação por um fator desencadeante interior e, portanto, sem objeto externamente definido.

A angústia compreensivelmente desempenha papel de ainda maior significação na vida psíquica, por estar ligada às representações inconscientes do sujeito, vinculando-se a mais numerosas circunstâncias da vida. Já que situações e objetos que a desencadeiam pertencem á própria pessoa, pois lhe são internos, não lhe é possível deles evadir-se, como poderá fazê-lo com os determinantes do medo.

NEUMANN acentua a significação central da angústia para o estudo do comportamento das coletividades, ressaltando o papel desempenhado por tal emoção nas manifestações humanas e, portanto, para as ciências que têm por tema essas manifestações, pois, como acentua, “a grande preocupação da ciência é a análise e a aplicação do conceito de liberdade humana que lhe está indissoluvelmente ligado”.

(O medo, no entanto, não é emoção apenas e sempre caracterizável como conseqüência de um perigo real, pura e exclusivamente. Por exemplo, a maioria das pessoas sentirá medo diante de uma fera perigosa. Por outro lado, as crianças sentem medo em relação a seus pais. Habitualmente esse sentimento não chega, contudo, sequer à suspeita consciente de que esses poderão devorá-las. Não obstante, a prática psicanalítica amiúde mostrará que tal sentimento poderá ser inconscientemente abrigado. Portanto, mesmo que na emoção do medo esteja presente um objeto externo específico, ainda assim a percepção deste objeto está ligada a representações inconscientes sentidas como perigosas. Isso por serem, esses objetos, depositários de impulsos agressivos, neles colocados pelo processo psicológico inconsciente da projeção).


II – O mal estar na vida social

A sensação de mal-estar sentida em relação à vida social talvez seja sempre percebida mais agudamente, em qualquer caso, em relação à coletividade em que cada um vive. Qualquer outra que o sujeito considere como ponto de comparação é sempre vista a uma certa distância afetiva, despertando, pois, menos paixão. A sociedade atual, não obstante, com toda probabilidade é aquela em que há a mais clara percepção das realizações humanas dentro de seu âmbito. Na esfera material, naquilo que concerne ao avanço técnico, parece haver pouca ou nenhuma dúvida com relação à magnitude dos avanços desta cultura. Já no terreno organizacional e afetivo, as realizações parecem bem mais hesitantes e, de alguma forma, sujeitas a progressos envaidecedores e recuos vergonhosos. Precisamente aí, sente-se, nessa mesma sociedade, com mais agudeza, as limitações que a vida social impõe.

Freud já dizia que o programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe, não pode ser realizado. No entanto, não devemos, nem podemos abandonar nossos esforços de vê-lo satisfeito. Freud, ao analisar as fontes de onde provém nosso sofrimento acentua uma delas – a de mais difícil superação – a “insuficiência” das regras que procuram ordenar as relações dos homens uns com os outros na família, no Estado e na sociedade. Isso porque os seres humanos “negamo-nos a aceitar tais limitações; não podemos compreender por que regras que demos aos mesmos não proporcionem proteção nem conforto a todos. Certamente, se ponderarmos quão mal nos houvemos nessa parte, prevenção contra o sofrimento, desperta-nos a suspeita de que também aqui pode ocultar-se uma parte da indomável natureza, desta vez, nossa própria constituição psíquica”.

NEUMANN, oportunamente, assinala que “os conflitos inevitáveis, que são gerados pelas limitações impostas às pulsões libidinais e destrutivas, são os verdadeiros motores da história”. É bem perceptível com que propriedade ele aponta para tal circunstância, tendo-se em mente que a vida social só será possível se e quando algum dique for oposto e mantido à livre satisfação das pulsões de todos e de cada um dos participantes, com a finalidade de, ao menos, atenuar os embates resultantes da colisão entre aspirações inconciliáveis. É preciso pensar-se nos necessários choques decorrentes da vida em sociedade na existência dos indivíduos, sem que se ignorem, em momento algum, os conflitos intrapsíquicos na arena interior de cada pessoa, desencadeados pelo viver coletivo. As possíveis e sérias conseqüências da limitação à satisfação das pulsões foram explicitamente mencionadas por Freud: “não é fácil de entender, como pode ser feito, o retirar a satisfação de uma pulsão. Isso não é conseguido inteiramente sem perigo; quando não se é economicamente compensado (do ponto de vista da economia libidinal), pode preparar-se para graves perturbações”. De acordo com o pensamento de NEUMANN, a alienação, no que à psicologia se refere, é instaurada precisamente por essas limitações e privações pulsionais.

Ao exame dos fatores psicológicos que contribuem para a instituição de um regime totalitário, segue-se a questão de colocar-se o liame lógico e psicológico entre alienação e angústia. Freud já havia concluído que a angústia produziria o recalque. Tal processo é que estaria interposto entre o sujeito e suas pulsões inconscientes. Podemos concluir que daí originar-se-ia a alienação na esfera psicológica. A opinião que encontramos em NEUMANN é a de que a angústia verdadeira corresponde à reação diante de perigos concretos externos e a angústia neurótica é produzida pelo eu – por antecipação – com o fito de evitar situações que poderão trazer perigos. Sabemos que essa formulação tem a vantagem de clarear conceitos e possui, pois, visíveis méritos expositivos. Entretanto, não se pode esquecer que, mesmo ali onde o sujeito defronta-se com situações de perigo concreto, vão ser desencadeadas angústias íntimas correspondentes a representações preexistentes, na maior parte das vezes inconscientes. A impossibilidade, determinada pela existência de processos psicológicos defensivos inconscientes, de ter acesso às representações consideradas inaceitáveis desencadeia a angústia. Essa sinaliza, pois, já não um perigo externo, mas a representação inconsciente de um perigo. Não sendo os sentimentos humanos de nenhum modo algo simples, logo se apresenta ao exame um dado ulterior a trazer uma complicação adicional: a efetivação, ainda que no terreno das representações psíquicas inconscientes, de exigências pulsionais pode ter como conseqüência o surgimento de sentimentos de culpa, os quais, é certo, não excluem necessariamente a angústia, antes, como assinalou Freud, são dela derivados pela via do perigo da perda de amor daqueles de quem se depende e a quem se ama. Acrescente-se a isto a circunstância, tantas e tantas vezes lembrada, de que os perigos da vida são muitos e que esses, mais preocupantes se tornam, quando somados às angústias desencadeadas a partir de representações inconscientes, as quais podem influir decisivamente na percepção dos acontecimentos exteriores.

Quando a fonte da angústia - lembra NEUMANN - que Freud (o qual inicialmente a teria apresentado como uma transformação automática da libido impedida de ser descarregada em conseqüência do processo psicológico do recalque), mais tarde introduziu certa modificação em suas opiniões. Face à concepção exposta por outros autores que sustentavam que a fonte da angústia era o medo da morte, argumentou Freud que não se tem, em geral, um modelo da sensação da morte - que se considera apenas suposta – por não encontrar correspondência em qualquer experiência vivida. Estaria reduzido, portanto, em sua concepção, esse pretendido medo à morte a um medo à castração, ao qual estaria vinculada a angústia. Dessas considerações retira NEUMANN a lição de que a angústia poderá ter uma útil função como sinal e aviso a alertar sobre a possível existência de perigos exteriores. Pode, segundo aparentemente crê este autor, quando os aspectos neuróticos forem predominantes (como no dizer de FENICHEL, “uma pulga for vista como um elefante”), tornar-se o homem incapaz de avaliar a situação em que se encontra.


III - A vida em sociedade é penosa; a vida sem sociedade é impossível

A neutralidade científica, tantas vezes apresentada como ideal do investigador, não obstante precise ser persistentemente buscada, parece ser um objetivo bastante esquivo e que em todo momento nos escapa. Não obstante Freud tenha forjado um método terapêutico que obrigatoriamente envolve a crença na possibilidade de melhora e, talvez, de aperfeiçoamento dos seres humanos, em várias ocasiões em sua obra mostra-se bem descrente e pessimista na possibilidade de que os homens venham a alcançar a concórdia e a paz. Possivelmente em uma dessas ocasiões é que tenha expressado seu pessimismo em palavras como “todo indivíduo é virtualmente inimigo da cultura, embora se suponha que ela constitui um objeto humano de interesse universal”. No mesmo pessimista modo de pensar, encontramos linhas adiante a assertiva de que “as criações humanas são facilmente destruídas, e a ciência e a tecnologia, que as construíram também podem ser utilizadas para sua aniquilação”. Sua descrença na capacidade autônoma de organização das massas é apresentada em uma expressão tão franca quanto taxativa como “é tão impossível passar sem o controle da massa por uma minoria quanto dispensar a coerção no trabalho da civilização, já que as massas são preguiçosas e pouco inteligentes”. Admitamos um tal ponto de vista sem discuti-lo, ainda que seja para fins de prosseguir nossas indagações. Tomando-o como válido, na seqüência nos será fácil aceitarmos a alta significação atribuída por NEUMANN da angústia na vida social. Embora nem de longe seja exclusividade de pessoas desprovidas da informação mais trivial, essa emoção é depressa despertada diante das circunstâncias da vida que não podem ser logo compreendidas. E há elementos inconscientes a escaparem até mesmo daquelas pessoas tidas por esclarecidas. A massa, psicologicamente desprotegida, necessita, como é assinalado por vários estudiosos desse tema, identificar-se com lideranças que ofereçam caminhos que, pelo menos, pareçam seguros. Tal massa, que por desconhecimento tem dúvidas especialmente quanto a seu futuro, precisa que lhe ofereçam certezas e poderá com presteza acreditar que ama aqueles que lhas proporcionam.

Desde que Freud chamou a atenção para esse fato, o vínculo afetivo que une os componentes das massas bem como essas a seus líderes é algo reconhecido como de suma significação. As características psicológicas das pessoas que irão desempenhar o papel que está destinado a quem lidera as massas demandam certa atenção. Trata-se em qualquer caso de, tanto quanto possível, identificar traços psicológicos comuns existentes em pessoas que seja levadas a aspirar à condição de liderança e que, especialmente, possam fazer com que as massas sintam-se impelidas, irrefletidamente (sua força não está na reflexão), à identificação com tais indivíduos.

Foi ainda Freud quem apresentou como assertiva quase evidente que, ao discorrer sobre a psicologia individual, torna-se necessário, exceto poucas vezes, abordar a psicologia coletiva, uma vez que não é possível, de um modo geral, “prescindir das relações do indivíduo com seus semelhantes”. Considera, portanto, que nesse sentido “a psicologia individual é, desde seu princípio, psicologia social”. Contrapondo-se à noção de “instinto gregário” assinalou ser manifestação claramente observável a atitude hostil com que o filho mais velho acolhe, a princípio, a intromissão em sua vida de um novo irmãozinho. Qualquer pessoa que tenha mais de um filho, se dispuser da vontade de observar e do tempo necessário, poderá por sua vez perceber a propriedade dessa assertiva. Com mais atenção será possível notar, além disso, que a atitude de aceitação plena não se manifesta nem mesmo da parte dos menores em relação ao primogênito. Claro está que a hostilidade franca não se destina a durar: sucumbe ao recalque e isto torna possível a vida em comum. Esse antagonismo, todavia, brota constantemente aqui e ali. São necessárias atitudes coercitivas dos pais e, mais tarde, esforços às vezes notáveis de todos os seus membros para que flua uma vida em família com poucos atritos. A vida gregária seria, pois, obtida através da ativa superação de tais antagonismos. Haveria aí uma constante tensão entre a imperiosa necessidade de coesão grupal e desejos de satisfação dos próprios impulsos – em cada pessoa – em prejuízo de qualquer outro. É óbvio que a ocorrência de frustrações há de ser freqüente face à necessidade de abrir mão da satisfação dos impulsos, indispensável à vida em comum. Ora, as frustrações desencadeiam sentimentos de raiva, os quais são projetados nas pessoas do ambiente em que se vive, as quais são vistas como responsáveis pela frustração. A percepção desses sentimentos é sentida como angústia, que aciona o processo do recalque, mantendo-os, assim fora dos limites da consciência. Como lembrou Freud, nas condições habituais, e por vários motivos, tal angústia, em geral, se vê suplantada, ao menos à primeira vista, por mútua aceitação e uma identificação de molde a estimular os laços familiares, podendo notar-se, freqüentemente, vínculos afetivos ali onde vigeram sentimentos hostis, por obra de um processo psicológico inconsciente designado como formação reativa.

Freud assinala ser da máxima importância, para a eficácia dessa transformação de hostilidade em solidariedade, a crença em cada um na existência de uma forma de tratamento igual e justa para todos. Cada qual pode considerar (e isto às vezes é efetivamente expresso), que na impossibilidade de ser ele próprio o predileto, será preferível ninguém o ser. O fracasso dessa expectativa é visto, vez por outra, e tem sido tema de extraordinárias realizações ficcionais que – não apenas por isso, mas, também, por isso – parecem destinadas a permanecer cativando a atenção e o interesse dos leitores. Seu paradigma é a lenda de Caim e Abel, a qual, milenar que é, segue atraindo a atenção em todas as variações que a imaginação lhe pode emprestar.

A satisfação da demanda de tratamento igualitário, de seu lado, atingindo êxito, como lembra Freud, encontra expressão no companheirismo e na amizade fraterna, que seriam derivados bem-sucedidos – transformados em seu contrário – da inveja uma vez existente. Aí também estaria expressa a expectativa infantil de que ninguém haveria de sobressair-se, todos sendo e obtendo o mesmo valor. Concedem-se, dessa forma, a cada um e a todos os mesmos direitos. Recusando-se privilégios, pela superação de certas expectativas infantis, poderão ser lançados os fundamentos da vida adulta. De um ponto de vista psicológico, é dessa matriz que se forma os sentimentos que conduzem à noção de justiça social, como oportunamente assinalou Freud.

Enraízam-se, destarte, em certa etapa do desenvolvimento, as aptidões para uma vida coletiva que contemple a liberdade com respeito à lei, que é a conseqüência, como processo da evolução psíquica, do reconhecimento dos demais como pessoas. Pressuposta está que – para o final desse primeiro período de desenvolvimento psicológico, ao qual Freud denominou de fase oral, quando o pequeno ser principia a perceber que sua mãe é um ser independente dele e, mais adiante, que há outras pessoas no mundo – seja ultrapassada satisfatoriamente a etapa de absoluta dependência da pessoa em relação a seus maiores, especialmente da figura materna.

É quando vai se desenvolvendo a próxima etapa, denominada fase anal, que se vai adquirir a noção de se ser alguém claramente distinto da mãe, que progride a aquisição da linguagem, que se obtém o controle dos esfíncteres e, concomitantemente, aprende-se da mesma forma que é possível controlar as pessoas adultas do ambiente mediante choro, riso, chegando até ao domínio da linguagem. Uma criança, nessa fase, todavia, não mede - como alguém plenamente desenvolvido - os limites de suas possibilidades, observando-se o que Freud denominou de onipotência dos pensamentos, pela qual pode – imagina a criança – exercer controle sobre seu ambiente." (continua)

Ronaldo Brum (in Tavares, J. Giusti. O totalitarismo tardio - o caso do PT).

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O LULISMO COMO DEGENERAÇÃO


O governo de Lula da Silva incorpora a cada dia um novo palhaço à sua diversificada troupe. Com efeito, as lideranças do lulismo, quer estejam em cargos do Executivo ou do Legislativo, principalmente neste, configuram um verdadeiro exército de Brancaleone em termos de personagens exóticos. As aberrações ali são a regra e não a exceção. Quando Lacerda disse, quarenta anos atrás, que o General Castelo Branco era mais feio por dentro que por fora, não podia imaginar o que a História nos reservava. Figuras lombrosianas – verdadeiras caricaturas vivas – aparecem diariamente nas telas da TV exibindo suas almas transfiguradas nas expressões da própria face e do restante do corpo. É como se os habitantes dos inumeráveis círculos do Inferno houvessem subido à Terra para atazanar e punir os homens da superfície. Ex-guerilheiros de ambos os sexos, covardes uns, dedos-duros outros, mais hábeis no seqüestro de cofres e pecúnias alheias que na realização de operações militares; boquirrotos impenitentes que da legislação em vigor só captam o que lhes convém, chegando ao absurdo de se ter um ministro da Justiça (?) que renega publicamente a Constituição vigente que ele deveria defender; professores extravagantes – gatunos, uns, delirantes, outros, associam-se a uma alcatéia de canídeos (Lobos, lobinhos e Lupis) em mordidas permanentes no erário, juntamente com seus parentes e outros comensais; deputados e senadores esquisitos, alguns vindos diretamente do arvoredo amazônico, outros de academias de ginástica – portando pranchas de surfe e longas madeixas parafinadas – com um estilo discursivo coerente com seu aspecto e estilo de viver; mulheres pavorosas – verdadeiros breves contra a luxúria e na boca das quais a prece vira blasfêmia (conforme sugeria Euclides), – mostrando em suas carantonhas o efeito deletério de trocar o phoder pelo poder; corruptos e frascários de variados calibres capazes de colocar despesas com amantes na conta de concessionárias de serviços públicos; alcóolatras, libertinos, traficantes e devotos de jogos ilegais passeando livremente pelos corredores governamentais etc. Todos eles acima referidos, mas não só eles, somados configuram um governo de flaneurs cujo objetivo supremo parece ser o de exercitar os sete pecados capitais. E tudo sob as bênçãos veladas de frades e sacerdotes atrevidos e simoníacos, além de bispos idólatras do dinheiro, descendentes diretos de Anás e Caifás.

Pois eis que surge aí, saltitante e fagueiro, portando a cada dia um coletinho catita, deliberadamente escolhido dentre sua inumerável coleção de adereços, o novo ministro do meio ambiente – Carlos Minc - parecendo ter saltado para o palco do Planalto vindo diretamente de algum circo mambembe. Inspirado, com certeza, no desempenho de outro bufão famoso na política brasileira, o performático Minc já chegou cheio dos “prendos e arrebentos” que marcaram o estilo do finado ex-presidente João Batista Figueiredo (o general naturalista e proto-ecologista que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de gente). O bordão de Minc que deverá compor, futuramente, um brasão familiar, é de um ridículo atroz. “Tremei, poluidores, tremei!” lançou ele aos ares, num plágio deslavado do “prendo e arrebento” generalesco. Se o novo ministro for levar a sério o espírito que anima seu repto, deverá começar limpando a verdadeira estrebaria de Áugias em que se transformou a capital da República. Os casos de corrupção no governo Lula da Silva, pela sua extensão e recorrência, configuram uma verdadeira “política pública”. Pois a verdade é esta: nunca, em toda a história deste país, uma tal coleção de celerados exerceu o controle político de nosso povo. Parece a corte de Ricardo III ou de Calígula, tal o número de degenerados, físicos e morais, só que potencializado à enésima potência, quando comparados os personagens, da realidade e da ficção. Tudo parece acontecer como se uma inconsciente reação anti-eugênica estivesse em processo, numa verdadeira subversão civilizatória conduzida por agentes que não sabem o que fazem nem o que representam. Uma espécie de descarnavalização social que, ao inverter o sentido geral das coisas (peculiar à carnavalização), privilegia a normalização do grotesco, do fraudulento e da mentira. Este reverso do reverso - a descarnavalização da carnavalização usual de que se valem as sociedades para questionar a ordem vigente - cria espaço para que prosperem as figuras absurdas que hoje se destacam na nossa cena política.

Se Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar perpetuamente uma pedra morro acima que, ao chegar lá, logo retornava ao seu ponto de partida rolando ladeira abaixo, Lula da Silva parece cumprir uma maldição semelhante. Com um agravante, em relação a Sísifo: o infeliz grego cumpria seu destino em trágico silêncio. Lula da Silva, não! A cada dia, numa vilegiatura interminável, ele ofende nossos ouvidos com uma peroração insana. Os deuses pagãos, porém, não o condenaram, como poderia supor a comparação com Sísifo. Os condenado fomos nós, pobres mortais, a ter que ouvir – dia após dia – o resultado da baba pegajosa de Lula da Silva, eternamente preso a um palanque de onde nunca desceu e fugindo, como o demônio foge da cruz, de qualquer responsabilidade com o trabalho ou a algo que a este se assemelhe. As vulgaridades e os ditos de má fé, aliás, são mais presentes na sua boca que a própria saliva. Ainda recentemente, para criar “vacina” contra a responsabilização que fatalmente ainda cairá sobre ele com relação ao incremento da inflação (cujos índices começam a subir perigosamente), Lula da Silva brindou o país com uma explicação torpe do processo inflacionário. Segundo ele, a inflação “é culpa de quem vende e de quem compra, de quem governa e de quem não governa”. A estupidez cristalina da declaração é de tal ordem, que uma pessoa normal duvidaria ser possível que alguém ocupante do cargo de presidente da república pudesse fazê-lo. Nem o Conselheiro Acácio conseguiria realizar façanha semelhante a esta, e a tantas outras que se perdem no anedotário. A má-fé da formulação lulesca, no entanto, salta aos olhos. Ele quer, antecipadamente, se prevenir de qualquer ataque à sua incúria e incompetência. Dizer que a culpa da inflação é de quem “compra e de quem vende” é afirmar, em outras palavras, que a culpa é de todos nós. Ele, Lula da Silva, não tem nada a ver com isto, afirma de maneira obliqua. O Brasil não é uma país de todos? Pois, então, a culpa da inflação, na lógica presidencial, também é de todos. Ou seja, nós somos os responsáveis. Ele, Lula da Silva, ainda se atribuiria o mérito de ter “alertado” o povo de sua “verdade”.

Se o preceito do esclarecimento (tal como entendido pelos discípulos de Kant), for mesmo um imperativo a ser seguido, é necessário continuar o desmonte das fraudes praticadas por Lula da Silva e sua gangue. Talvez, assim, a cada dia que passar, homens livres e de bons costumes possam se somar ao conjunto daqueles que resistem à barbárie que esta gente degenerada representa. Não se pense que Lula da Silva seja o que de pior nos possa acontecer. Estão à nossa espreita para roer nossos olhos, outros “operários das ruínas”; gente que responde pelos nomes de Dilma, Tarso, Ideli, Marta, Ciro etc., e, quem sabe, até piores que estes.