Um ladrão confesso, como
Kalil, já deveria estar em prisão preventiva. Ele, no entanto, está por aí
flanando e, possivelmente à procura de oportunidades, tal qual um descuidista
circulando pelas ruas da cidade. Sua biografia criminosa, a acreditar-se em
Montaigne, deve ter começado roubando alfinetes; depois, passou ao dinheiro
vivo. Tal imagem construída pelo notável pensador francês sugere que roubar é
uma prática que se inicia afanando coisas pequenas e de valor insignificante.
Caso não haja uma política de tolerância zero com os infratores desde o início
de suas carreiras, uma bola de neve se constituirá até chegar ao ponto
alcançado por Kalil.
O candidato a prefeito de Belo Horizonte é um predador igual
aos petistas. Se estes roubam para financiar o partido, Kalil busca proveitos
pessoais. A diferença é a mesma que há entre “corso” e “pirataria”. Petistas
são corsários, os que roubam para uma causa; Kalil, ao contrário, é “pirata”,
pois se apropria dos valores alheios para enriquecer a si próprio. O que os
distingue, portanto, não são os métodos, porém, os objetivos.
Na hipótese
indesejável, mas possível, de vitória de Kalil e seu bando, a prefeitura da
capital mineira se verá transformada na rediviva caverna onde Ali-Babá promovia, fraternalmente, a distribuição do butim: “um pra mim, um procê, um pra mim; um pra
mim, um procê, um pra mim; um pra mim, um procê, um pra mim...”
Ademar de Barros e seu fiel discípulo Paulo Maluf disputavam votos em São Paulo ancorados no bordão “rouba,
mas faz”. Kalil inovou, nesse sentido. Para ele basta o primeiro verbo: Kalil
rouba. Fazer, que é bom, está fora de cogitação. No máximo, Kalil vai distribuir
carinho, num bunga-bunga tropicalizado onde todos entram somente com a respectiva
bunga, pronta para ser invadida e arrombada pelo fauno alfa.
Jeremias fala dos ladrões
que se envergonham quando são apanhados. Engano do gentil profeta. Há ladrões que não
se envergonham, têm a cara estanhada. Chegam, mesmo, a se vangloriar de seus atos perante Deus e
perante os homens. Kalil é um exemplo de tal doentia falta de pudor.