Nas grandes manifestações
realizadas em Belo Horizonte contra o petismo e seus epígonos, pairava no ar o
espírito da ética e do desejo de limpar as estrebarias da política local e nacional,
verdadeiro trabalho de Hércules a ser encetado pelos eleitores e pelos cidadãos.
O frescor de tais desejos,
no entanto, apodreceu mais rápido do que se imaginava. Parcela expressiva dos moradores
de Belo Horizonte parece querer, hoje, ser governada por um prefeito candidato
a ocupar, brevemente, uma cela na Penitenciária Nelson Hungria, uma espécie de
Papuda, que já hospeda clientes egressos do abominável mensalão.
Intelectuais, professores,
artistas e outros nomes do saber, no entanto, quedam-se em silêncio cúmplice, numa apoio
tácito a Kalil, o parvenu sem
escrúpulos, pretendente ao cargo de prefeito da capital mineira. Seria demasia pedir que relessem “O 18 Brumário de Luiz Bonaparte”,
obra prima na qual Marx analisa a conduta de outro famoso aventureiro? Onde
estão as assanhadas manifestações acadêmicas outrora tão rápidas e contundentes
contra tudo e contra todos? Ah, sim, os defensores da moral e dos bons costumes
estão preocupados, muito preocupados, claro, com a legalidade e legitimidade do
impeachment de dona Dilma. O governo da cidade onde vivem não lhes diz
respeito.
Qual a importância ética da vitória de Kalil, o empreiteiro mais
enrolado que fumo de rolo, poder-se-ia indagar. Entre um homem honesto e decente (João Leite) ou um Kalil, a elite
pensante de Belo Horizonte parece que preferiu um ladrão debochado.
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