terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ética fugiu de Belo Horizonte


Nas grandes manifestações realizadas em Belo Horizonte contra o petismo e seus epígonos, pairava no ar o espírito da ética e do desejo de limpar as estrebarias da política local e nacional, verdadeiro trabalho de Hércules a ser encetado pelos eleitores e pelos cidadãos.

O frescor de tais desejos, no entanto, apodreceu mais rápido do que se imaginava. Parcela expressiva dos moradores de Belo Horizonte parece querer, hoje, ser governada por um prefeito candidato a ocupar, brevemente, uma cela na Penitenciária Nelson Hungria, uma espécie de Papuda, que já hospeda clientes egressos do abominável mensalão.

Intelectuais, professores, artistas e outros nomes do saber, no entanto, quedam-se em silêncio cúmplice, numa apoio tácito a Kalil, o parvenu sem escrúpulos, pretendente ao cargo de prefeito da capital mineira. Seria demasia pedir que relessem “O 18 Brumário de Luiz Bonaparte”, obra prima na qual Marx analisa a conduta de outro famoso aventureiro? Onde estão as assanhadas manifestações acadêmicas outrora tão rápidas e contundentes contra tudo e contra todos? Ah, sim, os defensores da moral e dos bons costumes estão preocupados, muito preocupados, claro, com a legalidade e legitimidade do impeachment de dona Dilma. O governo da cidade onde vivem não lhes diz respeito. 

Qual a importância ética da vitória de Kalil, o empreiteiro mais enrolado que fumo de rolo, poder-se-ia indagar. Entre um homem honesto e decente (João Leite) ou um Kalil, a elite pensante de Belo Horizonte parece que preferiu um ladrão debochado. 

Tal escolha não é surpreendente. Novidade antropológica seria o contrário dessa que fazem . Em tempos há muito idos e vividos, Anás, Caifás, o Sinédrio e seus acólitos escolheram Barrabás. Sim: "queremos Barrabás", consta no Evangelho, na primeira e trágica eleição direta da história.

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