quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Ei, Mauro, vai tomar..." (Dilma Rousseff)



Ninguém contou essa, mas O Antagonista conta.
Quando Dilma Rousseff se recusou a receber na última hora a credencial do embaixador da Indonésia, ela recebeu uma ligação de Mauro Vieira. O ministro argumentou que não era possível cometer tamanha falta de respeito com um país amigo e por aí vai.
Resposta da presidente da República Federativa do Brasil: "Vai tomar no cu".

O Antagonista não informa, porém, se o Ministro das Relações Exteriores do Brasil obedeceu ao rude chamado da madame. 

Talvez sim, talvez não. De qualquer maneira, contudo, Roger Peyrefitte, antigo embaixador francês (tinha lá uma concepção bem peculiar sobre os membros da diplomacia), pode orientar quem estiver curioso sobre o assunto e sobre o mundo dos "punhos de renda". 

Aliás, alguém consegue imaginar a cena do ex-presidente Castelo Branco mandando o diplomata e ministro Roberto Campos tomar no cu, ao estilo Dilma Rousseff? Verdade que o Brasil já teve na presidência da República gente melhor que a atual ocupante. O Itamarati, também.

No cavalo de Agamenon, às portas de Tróia (José Nêumanne)


Na quinta-feira 29 de outubro, em Brasília, onde assumiu a Presidência de fato no segundo mandato de sua substituta conveniente e conivente, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva divertiu sua claque no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) com as metáforas de hábito e a grosseria de praxe. Nesse discurso, confessou que a afilhada praticara estelionato eleitoral na campanha vitoriosa da reeleição em 2014. “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”, disse.

Na ocasião, proibiu investidas do PT contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tido como o maior desafeto de Dilma e do partido. “Tudo o que interessa à oposição é que a gente arrume quinhentos pretextos para discutir qualquer assunto e depois não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso Nacional. A não ser que tenha alguém aqui que ache que isso não é importante. Primeiro, vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e, depois, se der certo, a gente vota nas coisas que a Dilma quer”, ironizou. E recuou das rudes críticas que antes fazia ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Nunca antes em sua vida pública, desde que assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, em 1975, Lula foi tão claro, estratégico e cuidadoso em qualquer discurso. Fez-se muito barulho em relação ao reconhecimento do estelionato, crime definido no Código Penal. Com a agravante de ter sido um estelionato que vitimou a Nação, em especial o eleitorado que não anulou voto, votou em branco ou se absteve de votar e, em particular, os brasileiros mais pobres e menos esclarecidos que acreditaram em sua candidata. E daí?

Qualquer advogadinho do PT sabe e, na certa, lhe informou que estelionato não basta para abrir processo de impeachment contra a presidente.

Além disso, Lula recebe de novo inestimável apoio de quem se apresenta à cidadania como adversário. Há um vácuo jurídico na Constituição de 1988: inexiste lei que regulamente o impedimento de presidente. O texto legal de 1950, aos 65 anos de vigência, serviu de base para levar Collor a renunciar. Mas não é suficiente para depor Dilma de forma democrática. E é nesse argumento incontestável que os dependentes da miríade de boquinhas do governo lulodilmopetista se apoiam para chamar de “golpista” quem não suporta mais a presidente (7 em 10 brasileiros). A Constituição vige há 27 anos, o oitavo mandato presidencial está começando e nunca parlamentar algum cuidou desse detalhe.

Este não é, definitivamente, um pormenor para a oposição, que não encontrou até agora base jurídica séria para fazer o que a Nação quase inteira exige: retirar a estelionatária de palanque do cargo poderoso do qual comanda esta nossa marcha da insensatez para monumentais crises moral, econômica, política e quase à beira de outra, a institucional. Lula sabia disso quando confessou o delito da preposta. Os adversários, tudo indica, não.

Em relação à reeleição, recorde-se ainda que o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), requereu recontagem dos votos para verificar se não houve fraude na vitória da presidente sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno do pleito de 2014. Qualquer usuário de computador em jardim de infância sabe que, no sistema de coleta e contagem de votos no Brasil, recontar votos é simplesmente impossível. Um ano depois, com a vencedora enredada em outras suspeitas, Sua Excelência disse o que todos já sabiam: não dá para recontar. Não contou, porém, por que, do alto de sua sapiência legislativa, não empreendeu alguma lei que ao menos dificultasse as fraudes que qualquer hacker iniciante pode praticar no Brasil.

O pior é que, mesmo sem o haver dito explicitamente, o ex no poder avalizou o mais asqueroso pacto de conivência criminosa de nossa História. Nele, a primeira mandatária da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dois degraus abaixo dela na escada sucessória, achincalham as instituições garantindo um a impunidade da outra, e vice-versa. Em sua frase aqui citada, Lula não precisou de nenhum argumento para mandar seus asseclas evitarem incômodos a Cunha, fazendo ouvidos de mercador às evidências que brotam no seu prontuário policial como capim em pasto farto. A aceitação muda e mansa dos petistas à ordem do chefe, que, tal qual um Ulysses Guimarães do século 21, passou a comandar o governo federal, o partido e a oposição, é a maior prova de que apenas emudeceu o óbvio que, apud Nelson Rodrigues, ulula.

E se havia alguma dúvida de que o ex resolveu assumir, mantendo a preposta como rainha da Inglaterra de plantão, esta foi dirimida por sua guinada de 180 graus ao apoiar os ajustes e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O padim aceitou outro óbvio – de que a cabeça de Dilma está sob a espada de Dâmocles, suspensa pelo fio do rabo de um cavalo.

O fio é dos bancos, que com a crise têm lucrado como nunca ninguém lucrou. Nisso ele é craque: há 40 anos o clã Lula da Silva morava numa vila operária e hoje se espalha em apartamentos de luxo, até na praia, mercê de sua carreira de palestrante para empresas acusadas de delinquir – o que lhe permitiu movimentar R$ 52,3 milhões em quatro anos, conforme o Coaf.


O descalabro de quatro desgovernos do PT, delatado nas Operações Lava Jato e Zelotes e com 3 mil brasileiros perdendo o emprego todo dia, mostra que o cavalo de cujo rabo pende a espada, e que Lula monta, após destruir tudo ao redor – empresas, empregos, crédito de agências de risco, honra e pudor –, não é de Átila, mas de Agamenon.


Pois, às portas de Troia, abertas com a conivência de adversários néscios, ele planeja invadir-lhe as ruínas.

Não é nada do que você pensa (Fernando Gabeira)


De novo na estrada, recomeça a temporada de TV. Felizmente. Antes de voltar ao trabalho cotidiano, passei por São Paulo, no Brazil Summit, da revista “The Economist”. A pergunta principal no meu painel era essa: Dilma cai ou não? A tendência, no painel de que participei, foi prever que as coisas devem continuar como estão: os agentes políticos, sobretudo a oposição, não parecem muito interessados, preferem o desgaste progressivo do governo.

Na linguagem de perdas e ganhos, há uma tendência a achar também que os custos do impeachment podem ser maiores do que manter o status quo. Num quadro de crise como o nosso, todos são cautelosos em prever o futuro. Da minha parte, procurei tocar em alguns elementos dinâmicos: desemprego, movimentos de protesto e investigações da Lava-Jato e Zelotes.

Como a pergunta sobre a sobrevivência de Dilma vem desde o principio do ano, tentei também responder à pergunta: ela está conseguindo? Alguns elementos negativos permanecem: baixa popularidade, base instável no Congresso e incapacidade de articular um real ajuste na economia.

Caio na estrada com uma nova operação policial se destacando: a Zelotes. No programa matinal da CBN, disse que a operação estava convergindo com a Lava-Jato. Mas o tempo em rádio é curto. Parecem tratar de temas diferentes, mas convergem, no momento, para o mesmo alvo: Lula. A Lava-Jato revelou o papel de seu amigo Bumlai. Ele teria recebido R$ 2 milhões do lobista Fernando Baiano, com o argumento de que iria pagar despesas da nora de Lula.

Bumlai apareceu numa entrevista pouco convincente. Disse que pediu dinheiro emprestado ao lobista. Lobista não empresta assim, todos sabemos.

E disse que estranhava a existência de um crachá no Palácio do Planalto permitindo seu acesso irrestrito. “Por que o crachá não estava comigo?” Bumlai deveria saber que é mais seguro um documento na portaria do que um ambulante crachá irrestrito do Palácio. No episódio da Zelotes, a compra da Medida Provisória 471 em favor de alguns produtores de carro acabou atingindo a empresa esportiva de outro filho de Lula.

Sem ter nenhum vínculo com o setor, a empresa lobista destinou ao filho de Lula, segundo a polícia, R$ 2,4 milhões para um trabalho de marketing esportivo. Secretário de Lula, Gilberto Carvalho disse que o lobista era um velho amigo do presidente e poderia ter usado essa amizade em seu favor, sem que Lula soubesse.

Lula disse a mesma coisa sobre Bumlai: é possível que tenha usado meu nome sem meu conhecimento. Voltamos ao “eu não sabia” de 2005. Só que agora, as evidências são muito fortes. Bumlai era uma pessoa especial, não há informação sobre outro crachá desse tipo em toda a República. Como Lula iria ignorar a presença de um lobista no curso da medida provisória se ele fez reuniões com Gilberto Carvalho e era amigo de longa data do ex-presidente?

Trabalho com o que leio nos jornais e blogs. Neles é possível conhecer a acusação e intuir a linha de defesa. O que me parece convergir nas operações Lava-Jato e Zelotes é o fato de que recolheram evidências o bastante para que os episódios não fossem negados. 

O caminho da defesa é reinterpretar dados conhecidos. Algo como: aconteceu, mas não é bem isso que vocês estão pensando. Quantas vezes em romances, novelas e até programas humorísticos alguém, instintivamente, se defende com o “não é bem isso que você está pensando”?

De um modo geral, com raras exceções, costuma ser exatamente o que você está pensando. Com todos os fatos, desde a Lava-Jato até a mais recente Zelotes, o país está diante de um conjunto de acusações muito sólido. Se a onipresença da corrupção não pesar nos fatores para afastar um governo, ela coloca, pelo menos, a questão primordial, que independe de ritmos: Dilma deve cair?

No papel de analista, não preciso responder a isso. Como indivíduo, respondo sim, ao lado de milhões de outras pessoas. Se o país negociar com esse turbilhão de fatos degradantes e apenas seguir em frente como se nada tivesse acontecido, o preço a pagar, embora irredutível a números , será um grande desencanto. A tática de deixar Dilma sangrar até 2018 pode ser perigosa: os próprios vampiros perigam chegar exangues, após três anos de vacilação. E um cenário possível é a vitória de alguém de fora do sistema político. Como já aconteceu em alguns países, recentemente com a eleição do humorista Jimmy Morales, na Guatemala.


Tivemos essa experiência com Collor. Talvez tenha nos vacinado. Em crises passadas, os mais importantes políticos do Brasil se reuniam buscando uma saída, pensando também na sobrevivência da espécie. Agora, nem isso. Navegamos nas brumas. Dilma não consegue governar, a sociedade não consegue derrubá-la. E esse jogo não pode ser 1 a 1. Todos perdemos. Talvez ela e Eduardo Cunha sintam-se vitoriosos apenas por sobreviver. O Brasil merece mais do que uma vida apenas vegetativa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Brasil não reconhece foro privilegiado a filhos de ex-presidentes* (VLADIMIR PASSOS DE FREITAS**)


No dia 24 passado, terça-feira, às 23h, a Polícia Federal em São Paulo intimou Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no escritório de quem foi feita uma busca e apreensão na segunda-feira, para prestar depoimento em inquérito policial. A intimação do suspeito deu-se logo após a saída da residência do pai, que na ocasião comemorava 70 anos de idade.
Segundo consta, trata-se da terceira fase da operação zelotes, que investiga suposta compra de medidas provisórias editadas com o fim específico de favorecer montadoras de veículos. Conforme notícia, “a empresa LFT Marketing Esportivo, do filho caçula de Lula, recebeu R$ 2,4 milhões de Marcondes & Mautoni, suspeita de intermediar a venda de uma medida provisória aprovada durante o governo do petista que isentou montadoras de veículos” [1].
O fato gerou enorme revolta no ex-chefe do Poder Executivo, que atribuiu a intimação a uma campanha de ódio e criminalização que dirigem contra a sua pessoa. De sobra, atribuiu ao ministro José Eduardo Cardoso, cuja saída do Ministério da Justiça defende [2], ser culpado porque não tem o controle da Polícia Federal.
O inconformismo do ex-presidente da República merece algumas considerações, via de regra não tratadas na doutrina. Vejamos.
A primeira delas é sobre o horário de a polícia intimar alguém. O Código de Processo Penal (artigos 370 a 372) e o Código de Processo Civil (artigos 234 a 242), tratando de ações penais e civis, nada dispõem a respeito. Se não é vedada a citação em horário noturno, fora do domicílio, com maior razão não poderá ser proibida a intimação policial.
Da polícia não só se espera como se exige agilidade. Intimações e citações não são recebidas com alegria, e é comum que oficiais de Justiça, agentes ou investigadores policiais tenham grande dificuldade em encontrar as pessoas. É mais fácil ter acesso a um juiz do que a um CEO de uma grande corporação. Portanto, o uso de estratégias para cumprir os atos faz parte da ação policial e não constitui abuso de autoridade.
A segunda é a revolta do ex-presidente contra a investigação dos atos de seus filhos. Do ponto de vista familiar, a reação é absolutamente justificável. Pais sofrem com o sofrimento dos filhos. Nesse foco, há que ser dado o desconto, a revolta é compreensível. No entanto, do ponto de vista de quem é o investigado — filho de um ex-magistrado supremo da República —, a reação não tem qualquer justificativa.
No regime democrático, todos são iguais perante a lei. Todos se submetem a ela e por ela têm garantido o direito de defesa, no momento e local próprios. Os tempos são outros, empresários de elevado nível social e econômico, políticos, juízes encontram-se presos, provisória ou definitivamente. Todos sob a garantia do devido processo legal e não como sucedia no regime militar, por força de uma prisão de até 60 dias, decretada pela autoridade que presidia o inquérito policial militar (artigo 59 do Decreto-Lei 898/69).
A terceira observação diz respeito à cobrança do ministro da Justiça, que não teria o controle da Polícia Federal. Essa se reveste de gravidade, porque pressupõe interferência no andamento de investigações. A Polícia Federal, prevista no artigo 144, inciso I, da Constituição, tem o dever de apurar eventuais crimes praticados contra a União. Por força do esforço e do valor de seus membros, muito mais do que por sua estrutura que é deficitária, vem prestando relevantes serviços ao país. E é a respeitabilidade por ela conquistada que lhe dá ampla independência para apurar delitos contra pessoas de elevado nível social, político e econômico.
Supor que um ministro da Justiça venha a interceder a favor de suspeitos é acreditar no tráfico de influências como forma de ditar o rumo das investigações. Tal tipo de atitude certamente submeteria o titular da pasta da Justiça a uma ação de improbidade administrativa (Lei 8.429/92, artigo 11, incisos I e II), sem prejuízo de outros reflexos na área penal (v.g., artigo 319 do Código Penal).
Ademais, o ministro José Eduardo Cardozo é um professor de Direito (PUC-SP), um acadêmico que faz doutorado na Universidade de Salamanca, Espanha. Em tempos de radicalização e ódio, é preciso isenção para observar que o ministro tem se conduzido com correção nas suas complexas e relevantes funções.
Em entrevista, ele foi claro ao dizer: “Jamais um ministro da Justiça, num Estado de Direito, deve orientar investigações, dizendo que os inimigos devem ser atingidos e os amigos poupados” [3]. O fato de ele ter pedido informações à Policia Federal não altera o quadro, foi mero dever protocolar.
A quarta observação é que o interesse do ex-presidente deveria ser a total apuração dos fatos. Com efeito, o sucesso financeiro de seu filho deve ser-lhe motivo de grande satisfação e orgulho, visto que a maioria dos jovens está lutando por um emprego de R$ 2 mil. Uma investigação como a que se realiza pode ser a oportunidade de mostrar a todos que o sucesso foi alcançado legitimamente. Um atestado oficial de idoneidade.
Finalmente, há que se registrar que o combate aos crimes econômicos está mudando, no Brasil e no mundo. O Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Tributários, em reunião em Barbados, com 128 países, promete fechar o cerco. Avalia-se que “a coleta de dados financeiros começará em 1º de janeiro de 2016 em cerca de 50 jurisdições. Para isso, os governos estão mudando as legislações nacionais para cada banco reportar as contas de todos os clientes não residentes e, de forma automática, enviar as informações a partir de 2017 aos países de origem desses clientes” [4].
Fácil é ver que no Brasil os órgãos públicos (DPF, MP, Judiciário, Receita Federal, Bacen, TCU, CGU e outros), se profissionalizam e adquirem conhecimentos profundos sobre a matéria. Na mudança de paradigma, também a advocacia irá se adaptar aos novos tempos, a prevenção será a tônica, sendo a orientação especializada o melhor caminho. Nessa linha, as alegações de nulidade não terão o sucesso do passado. Por sua vez, a sociedade se mobilizará cada vez mais, inclusive criando observatórios na internet para acompanhar os recursos nos tribunais, apontando nomes dos relatores, datas, tempo da demora e resultados dos julgamentos.
Em suma, as instituições estão mudando, funcionando, ninguém está fora do alcance da lei. Assim, pretender que alguém não seja investigado por conta de seu parentesco é inadmissível no atual estágio democrático que atravessa o Brasil.
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[1] Estado de São Paulo, 29.10.2015, A8.
[2] Folha de S.Paulo 30.10.2008, A4.
[3] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,se-achar-que-nao-contribuo-mais–sairei–diz-cardozo,1718279, acesso 28.10.2015.
[4] Valor Econômico, 30.10.2015, A1.

* Publicado na Revista Consultor Jurídico (1° de novembro de 2015, 8h05)

** Vladimir Passos de Freitas é desembargador federal aposentado do TRF da 4ª Região, onde foi corregedor e presidente. Mestre e doutor em Direito pela UFPR, pós-doutor pela Faculdade de Saúde Pública da USP, é professor de Direito Ambiental no mestrado e doutorado da PUC-PR. Presidente eleito da “International Association for Courts Administration – IACA”, com sede em Louisville (EUA). É vice-presidente do Ibrajus.

Dona Dilma é uma piada


“Da porta para dentro, a mãe ela é essencial. Da porta pra fora, os dois são muito importantes. Agora, da porta pra dentro o pai também é importante. (…) A gente admira o pai, a gente admira a mãe, a gente ama o pai e a mãe. Aqui nós hoje inauguramos, sobretudo, um espaço de amor”.

(Declaração de dona Dilma Rousseff, durante entrega de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida no Paranoá (DF), revelando numa única frase, em dilmês primitivo, que a mãe é essencial da porta da casa para dentro e importante da porta para fora; que o pai é importante da porta para fora e, da porta para dentro, é importante mas não essencial, que tanto ele quanto ela devem ser amados e que, da porta do Planalto para dentro ou para fora, os filhos do Brasil têm fortíssimos motivos para sentir-se sem pai nem mãe).

Blog do Augusto Nunes

"Vai tomar no cu" X "Foda-se a Constituição" (blog Nariz Gelado)


"Vai tomar no cu" X "Foda-se a Constituição": agora o PT quer o monopólio do palavrão?


A edição de 16 de junho de 2014 de O Globo relembrou alguns impropérios que Lula desferiu contra desafetos e adversários ao longo de sua carreira política.

Em 1987, chamou o então presidente da república, José Sarney de "grande ladrão". Em 1993, em conversa informal com jornalistas, disse que o presidente Itamar Franco era "um filho da puta" e o ministro da Fazenda, Eliseu Resende, "um canalha". Em 2010, durante uma reunião ministerial, Lula disse que o presidente do PSDB, Sergio Guerra era um "babaca".

O Globo esqueceu, porém, a maior das ofensas de Lula.

Em maio de 2004, o presidente Lula estava furioso com o correspondente do New York Times no Brasil, o jornalista Larry Rohter. Motivo: a publicação de uma matéria na qual Rohter detalhara os hábitos etílicos do presidente. Sob o título, "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional" o jornalista dera  tratos ao que era para lá de sabido por toda a nação: Lula bebia bastante, em qualquer hora ou lugar.

Furioso com a matéria, o então presidente Lula reuniu seu gabinete de crise. Queria dar uma resposta dura: cassar o visto de permanência de Larry Rohter e mandá-lo de volta para os Estados Unidos. Foi então que, ao ouvir de um dos ministros que Rohter era casado com uma brasileira e, que por isso, tinha seu direito de permanência assegurado pela Constituição, Lula se descontrolou e largou um:

- "Foda-se a Constituição!"

O episódio, relatado com exclusividade pelo Blog do Noblat  um dia depois do ocorrido, coloca em perspectiva as atuais reações de Lula, e do PT de um modo geral,  em relação às vaias ouvidas por  Dilma nos estádios da Copa (e durante os panelaços mais recentes). Não fosse um absurdo por si só a tentativa de patrulhar a voz da torcida em um campo de futebol - território onde o palavrão é regra - é uma grande piada que tal tentativa venha de pessoas que nunca mantiveram a compostura, nem mesmo quando o cargo que ocupavam assim exigia.

De tudo o que está sendo dito sobre as vaias nos estádios - no plural, sim, porque além de São Paulo, também em Minas e Goiás foram ouvidos xingamentos contra Dilma - o que mais impressiona é a cara de pau dos petistas. Ora ela aparece na tentativa descabida de vitimizar a presidente; ora no, não menos ridículo, intento de atribuir a reação à uma classe social específica, como se Dilma já não estivesse sendo vaiada em todos os lugares por onde passa - o que, aliás determinou que ela não fizesse discurso na cerimônia de abertura da Copa.

Mas o PT está fazendo o jogo de sempre. Distorcendo os fatos e repetindo, incansavelmente, uma mentira na tentativa de transformá-la em verdade.

O que espanta é a reação de parte da imprensa, que jamais tomou as dores das mães dos juízes e agora se comporta como se tivesse acabado de descobrir que o palavrão é linguagem corrente nos campos de futebol. Tal reação cheia de pudores só é compreensível sob a ótica de um desmedido governismo chapa branca.

Eu não sei onde esta imprensa, hoje tão pudica, estava em maio de 2004. O que sei é que uma torcida de futebol mandar um presidente tomar no cu é nada perto de um presidente da República mandar a Constituição se foder.



O que Lula é (Noblat)


Choca ver Lula cobrar de Dilma e do ministro da Justiça que a Polícia Federal o deixe em paz e aos seus filhos, suspeitos de envolvimento com negócios mal explicados?
Se choca é porque você definitivamente não conhece Lula.
Quando completou 18 anos e foi alistar-se para servir ao Exército, ele declarou ser dois centímetros mais alto do que era. Por quê? Simples: porque nunca gostou de ser baixinho.
Em um sábado de 2005, ameaçado por Marcos Valério, o operador do mensalão, que prometia contar o que escondia se não fosse socorrido, Lula falou em renunciar à presidência da República.
Convocado para apagar o incêndio, o então ministro José Dirceu, que passava o fim de semana em São Paulo, lá se foi convencer Valério a permanecer calado. Conseguiu.
Diante de pesquisas que mostravam a queda de sua popularidade, Lula ocupou uma cadeia de televisão e de rádio para pedir desculpas ao país pelo mensalão.
Nervoso, leu folha por folha do discurso olhando com frequência para o alto, sinal convincente de que mentia, segundo estudiosos de linguagem corporal. Jurou inocência. Disse que fora traído. Mas não apontou os traidores.
Às vésperas do julgamento dos mensaleiros, voou à Brasília para pedir a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que os absolvessem.
A um deles, Gilmar Mendes, antecipou como alguns dos seus colegas prometiam votar. E se ofereceu para interceder por Gilmar que estava sendo alvo dentro do Congresso de histórias inventadas para macular sua honra.
Gilmar sabia com quem lidava. Em visita ao Palácio do Planalto, tão logo Lula começara a governar, o ministro soube que um procurador da Fazenda, no Rio, criava dificuldades para a construção de uma obra da Petrobras.
Gilmar ouviu o conselho dado por Lula a José Sérgio Gabrielli, presidente da empresa: “Grampeie esse cara”.  Grampo é crime. Só não é se autorizado pela Justiça.
Para escapar do mensalão, Lula entregou a cabeça de José Dirceu, o coordenador de sua campanha vitoriosa de 2002. Apesar do lobby que fez por eles, os mensaleiros acabaram condenados.
Desde então, Lula insiste em afirmar que o mensalão jamais existiu. Coisa de maluco? De excêntrico? De esperto? Coisa de gente sem compromisso com o que disse, diz ou dirá um dia.
Não cobrem coerência de Lula. Tampouco que diga a verdade. A vida inteira ele só pensou em se dar bem.
Carismático, talentoso manipulador de palavras e de pessoas, sempre encontrou quem lhe fizesse as vontades. E se esbarrava em alguém disposto a contrariá-lo, dava um jeito e se livrava dele.
Sabe falar grosso com quem pretenda intimidar. Ou miar se for o caso. Na campanha de 2002, quando enfrentou José Serra, miou.
Correu a informação de que o PSDB exibiria no seu programa de TV um vídeo onde Lula se divertia numa boate em Manaus.
José Dirceu telefonou ao presidente Fernando Henrique duas vezes, perguntando se era verdade. Despachou de Brasília o ex-deputado Sigmaringa Seixas ao encontro de Serra, em São Paulo. Era lenda.
Pelas costas de Dilma, Lula tem falado mal dela. Culpa-a pelo cerco que sofre da Polícia. Na frente de Dilma, mia. Suplica por ajuda.
Ele não vê nada demais no enriquecimento de parentes enquanto governava o país. Nem vê nada demais em ter-se tornado um milionário à custa de empresas que beneficiou como presidente.
Lula não é imoral, longe disso. É amoral – nem contrário nem conforme à moral.