sábado, 7 de fevereiro de 2015

A triangulação do PT, Petrobrás e empreiteiras

A operação Lava-Jato permite clarear o processo de saqueio do dinheiro dos pagadores de impostos. Os empreiteiros, os petistas e as empresas públicas configuram um tripé onde cada um cumpre uma função. O primeiro ator - o PT - é aquele que define o se, o quando e o quanto vai ser garfado. Definido o quantum pelas autoridades partidárias, passa-se à fase seguinte: a exigência aos empreiteiros para que aumentem o valor dos contratos que realizam com as empresas públicas, visando retirar do bolo uma fatia variável que, no entanto, não discrepe dos valores do mercado. 

Para os empreiteiros tal determinação é uma ordem, uma cláusula fundamental, inafastável, do contrato de adesão a ser assinado (contratos com o poder público tem essa natureza: a de ser contrato de adesão, onde uma das partes não tem como estipular as cláusulas, ficando descartado o princípio do pacta sunt servanda). Para as empreiteiras isso não se constitui em problema econômico, fiscal ou técnico. Podem pagar qualquer comissão, ou taxa de suborno, que for reivindicada. É um custo, apenas. Se for de 1%, 2%, 5% ou 10%, isso é lá com o contratante. 

As empreiteiras terão, tão somente, de comprar notas fiscais, com os custos indiretos correspondentes, que calcem o dinheiro desviado. O grande gatuno, aquele que estipula o conteúdo do negócio, é o agente político, o mesmo que nomeia os dirigentes das empresas estatais que serão ordenhadas ao longo dos anos. 

General Dilma



Dona Dilma parece piscar para os autoritários, os mesmos que ela disse ter combatido nos idos dos anos 60 e 70 do século passado. O discurso dela e deles tem notável similitude. As frases arrevesadas da madame, tão politicamente obscenas, poderiam ser confundidas, sem maiores dificuldades, com a daqueles generais cucarachas, bananeiros carrancudos, senhores sempre com grandes óculos escuros e a túnica coberta de medalhas coloridas. Compartilham simbolicamente os mesmos trajes e o mesmo espírito truculento.

Naqueles ditos anos de chumbo, os milicos arengavam contra as vivandeiras impenitentes que chaleiravam os bivaques. Outra curiosa imagem castrense - das mais repetidas - denunciava os pescadores de águas turvas, além da crítica aos inevitáveis defensores da tese do quanto pior, melhor. Pouca diferença há entre posições separadas por meio século. Dona Dilma é uma espécie de Costa e Silva modernizado, cujo espírito pode ter baixado na atual presidente. Outra possibilidade, bem plausível, é a da alma de Dilma ser uma síntese de Costa e Silva com Garrastazu Médici. Afinal foram os três forjados nos pagos gaúchos. Eles se entendem. Castelo Branco, não. Este era mais sofisticado. Também Geisel, homem íntegro, nunca se permitiria envolver com os gatunos petistas. Era gaúcho porém luterano. A religião o salvou. As almas penadas dos outros (com a eventual e secundária participação de Figueiredo), estariam bem acolhidas pela governante que nos infelicita. 

O lero-lero bolorento de dona Dilma, conforme se ouviu no aniversário do PT, centrado na defesa da Petrobrás e outras sinecuras governamentais contra supostos interesses nebulosos, é um salto para aquele distante passado dos generais matadores. Segundo declamou ameaçadora a ainda presidente, no último dia 7 de fevereiro, “os pescadores em águas turvas não vão acabar, nem com o modelo de partilha nem com a política de conteúdo local”, que dá suporte ao saqueio que a turma de Lula faz à Petrobrás.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O climão e o cenário do impeachment, por Geraldo Samor (06-02-2015)

As revelações da Lava Jato e o parecer do jurista Ives Gandra — que afirma haver a possibilidade de impeachment por improbidade administrativa, senão decorrente de dolo, por culpa derivada de omissão, imperícia, negligência e imprudência — têm alimentado a discussão sobre este verdadeiro ‘cisne negro’ que ameaça o Governo Dilma II.
A questão é se o assunto vai ganhar as ruas, fermentado pelo azedume da economia.

Nem mesmo quando Fernando Collor de Mello viu sua presidência ruir — numa novela que, como a atual, tinha um capítulo cabeludo envolvendo um tesoureiro e a Petrobras — o País esteve num ‘climão’ político e econômico tão pesado quanto o de hoje. E olha que Collor perpetrara uma violência econômico-institucional sem precedentes (o congelamento das contas bancárias).
O climão de hoje está nas empresas, onde os donos do capital, depois de passarem 2014 imobilizados pela incerteza eleitoral, agora se confrontam com a herança maldita da recessão, cujo custo para o País talvez não caiba nem nas planilhas dos mais pessimistas.
O climão está na classe política, que ainda não sabe quem, entre os seus pares sem mandato, receberá a PF na porta de casa, às 6 da manhã.
O climão está até na esquerda — já que o pragmatismo-sem-limite petista detonou a convicção de muitos que acreditavam ‘na causa’.
E no movimento que deve se mostrar decisivo, este sim, para o futuro da Presidente, o climão pode acabar se instalando no setor mais importante da sociedade: aquela metade do eleitorado que deu o segundo mandato a Dilma Rousseff (e o quarto consecutivo ao PT), acreditando na versão de João Santana de que a economia vai bem, e que os tucanos é que são uns chatos.
As demissões já começaram, o comércio se arrasta no interior e nas capitais, e a inflação respira quente no cangote da classe C, cuja emergência ao mercado de consumo, apesar de um claro avanço de cidadania, foi feita em bases que agora se provam insustentáveis.
Nos próximos meses, o PIB em baixa e o dólar em alta farão o País empobrecer, e os mais pobres sofrerão mais.
A despeito de não haver ainda uma ‘smoking gun’ (uma prova direta contra a Presidente), o desenrolar da Lava Jato e o desemprego já encomendado — num cenário talvez agravado pela escassez de energia e água — podem criar o caldo de cultura propício para que, cada vez mais, se discuta a possibilidade de impeachment.
Ricardo Kotscho, um jornalista e homem de bem cuja biografia se confunde com a do PT, desabafou em seu blog ontem que, pelo andar da carruagem, a oposição nem precisa trabalhar pelo impeachment, porque o Governo se autodestruirá.
“Isolada, atônita, encurralada, sem rumo e sem base parlamentar sólida nem apoio social, contestada até dentro do seu próprio partido, como estará se sentindo neste momento a cidadã Dilma Rousseff, que faz apenas três meses foi reeleita presidente por mais quatro anos?” escreveu Kotscho, num artigo que começa dizendo: “o que já está ruim sempre pode piorar.”

Pode mesmo. O ‘climão’ é a tempestade perfeita.
Do lado fiscal, a cada dia aflora um novo esqueleto deixado no armário pelo voluntarismo inconsequente da equipe anterior. Mais impostos azedarão ainda mais o clima, ao mesmo tempo que evitá-los aumentará os custos da dívida.
Já a narrativa da Petrobras simplesmente não para em pé (nem seu balanço) e, apesar da mudança de gestão ora em curso, a empresa ainda corre o risco de ser declarada inadimplente, um vexame das proporções do pré-sal.
Além disso, as contínuas revelações da Lava Jato ainda podem parir o imponderável. Neste capítulo, a estimativa do ex-gerente da Petrobras de que o PT tenha recebido até US$ 200 milhões de propina ao longo de dez anos sobre os maiores contratos da Petrobras pode até gerar questionamentos sobre a validade da última eleição.
Por fim, a eleição de Frank Under.., perdão, Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, tornando-o o terceiro na linha de sucessão, é o componente que promete transformar os próximos meses no maior Game of Thrones da história recente. (Sim, é preciso citar duas séries dramáticas para descrever o caráter épico da lambança.)

O ar está irrespirável e as paixões, à flor da pele, mas o impeachment é uma construção política delicada, um origami da História, que só se viabiliza quando a instatisfação do andar de cima entra em sintonia com a frustração ou a revolta das ruas, de onde vem a legitimidade necessária para o processo. Não se faz um impeachment como se troca de camisa, assim como ‘não gostar’ de um governante está longe de ser motivo honesto ou legítimo.

Por outro lado, nas conversas sobre a possibilidade de impeachment, algumas pessoas argumentam que a legitimidade da Presidente, recém reeleita, pode ser um obstáculo. À luz da história recente, este parece um temor infundado. A eleição de Collor, o primeiro presidente civil depois de 20 anos de ditadura, foi no mínimo tão carregada de simbolismo quanto a eleição de Lula, e deu no que deu.
A outra questão é o temor de que o PT tache um pedido de impeachment de ‘golpe da oposição’. Qual a novidade nessa retórica? Há doze anos, o PT responde aos flagrantes (tanto os criminais quanto os de incompetência) com a mesma desculpa: “não fui eu, você é que está de má vontade.”
Ao eleger o PT — uma, duas, quatro vezes — o brasileiro quebrou tabus e votou, em grande parte, com o bolso. Na primeira vez, quis experimentar um ‘trabalhador’ no Poder. Na segunda, recompensou-o por ter mantido a economia em ordem (e pela sorte de ter sido eleito na véspera do maior boom de commodities da história). Na terceira vez, ficou com medo de mexer num time que parecia estar ganhando, e votou em Dilma. Na quarta, um grupo de estelionatários bateu-lhe a carteira e a esperança.
Ricardo Kotscho tem razão. Esse governo provavelmente vai morrer de morte morrida e não de morte matada, como se diz em Minas.


(Geraldo Samor é jornalista da revista Veja)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Petroleiras são cruéis (o tempo também)

1) Ao entrar na Petrobrás eu era assim:




2) Depois de alguns anos, fiquei assim:




3) Trabalhar na Petrobrás não é bom pra beleza.
















4) A solução é uma burka. Já estou indo para o Estado Islâmico.





5) Adeus, Dilma. Este mundo é cruel!

Teoria do Medalhão (Machado de Assis)

Teoria do medalhão (Machado de Assis)

Diálogo

- Estás com sono?
- Não, senhor.
- Nem eu; conversemos um pouco. Abre a janela. Que horas são?
- Onze.
- Saiu o último conviva do nosso modesto jantar.
Com que, meu peralta, chegaste aos teus vinte e um anos.
Há vinte e um anos, no dia 5 de agosto de 1854, vinhas tu à luz, um
pirralho de nada, e estás homem, longos bigodes, alguns namoros...
- Papai...
- Não te ponhas com denguices, e falemos como dois
amigos sérios. Fecha aquela porta; vou dizer-te coisas importantes.
Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices,
um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura,
na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio,
nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti.
Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba
do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces,
não foram tudo aos vinte e um anos. Mas qualquer que
seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças
grande e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima
da obscuridade comum. A vida, Janjão, é uma enorme
loteria; os prêmios são poucos, os malogrados inúmeros,
e com os suspiros de uma geração é que se amassam as
esperanças de outra. Isto é a vida; não há planger, nem
imprecar, mas aceitar as coisas integralmente, com seus ônus
e percalços, glórias e desdouros, e ir por diante.
- Sim, senhor.
- Entretanto, assim como é de boa economia guardar
um pão para a velhice, assim também é de boa prática social
acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem,
ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição.
É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade.
- Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá?
- Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão.
Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me,
porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra
consolação e relevo moral, além das esperanças que
deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me
e entende. És moço, tens naturalmente o ardor, a exuberância,
os improvisos da idade; não os rejeites, mas modera-os de
modo que aos quarenta e cinco anos possas entrar francamente
no regime do aprumo e do compasso. O sábio que disse:
"a gravidade é um mistério do corpo", definiu a compostura
do medalhão. Não confundas essa gravidade com aquela outra
que, embora resida no aspecto, é um puro reflexo ou emanação
do espírito; essa é do corpo, tão-somente do corpo,
um sinal da natureza ou um jeito da vida.
Quanto à idade de quarenta e cinco anos...
- É verdade, por que quarenta e cinco anos?
- Não é, como podes supor, um limite arbitrário, filho do puro
capricho; é a data normal do fenômeno. Geralmente, o
verdadeiro medalhão começa a manifestar-se entre os quarenta
e cinco e cinqüenta anos, conquanto alguns exemplos se dêem
entre os cinqüenta e cinco e os sessenta; mas estes são raros.
Há-os também de quarenta anos, e outros mais precoces, de
trinta e cinco e de trinta; não são, todavia, vulgares. Não falo
dos de vinte e cinco anos: esse madrugar é privilégio do gênio.
- Entendo.
- Venhamos ao principal. Uma vez entrado na carreira,
deves pôr todo o cuidado nas idéias que houveres de nutrir para
uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente;
coisa que entenderás bem, imaginando, por exemplo, um ator
defraudado do uso de um braço. Ele pode, por um milagre de
artifício, dissimular o defeito aos olhos da platéia;
mas era muito melhor dispor dos dois. O mesmo se dá
com as idéias; pode-se, com violência, abafá-las,
escondê-las até à morte; mas nem essa habilidade é comum,
nem tão constante esforço conviria ao exercício da vida.
- Mas quem lhe diz que eu...
- Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita
inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro
tanto à fidelidade com que repetes numa sala as opiniões ouvidas
numa esquina, e vice-versa, porque esse fato, posto indique
certa carência de idéias, ainda assim pode não passar de uma
traição da memória. Não; refiro-me ao gesto correto e perfilado
com que usas expender francamente as tuas simpatias ou
antipatias acerca do corte de um colete, das dimensões de um
chapéu, do ranger ou calar das botas novas. Eis aí um sintoma
eloqüente, eis aí uma esperança, No entanto, podendo acontecer
que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas idéias próprias,
urge aparelhar fortemente o espírito. As idéias são de sua natureza
espontâneas e súbitas; por mais que as sofreemos, elas irrompem
e precipitam-se. Daí a certeza com que o vulgo, cujo faro é
extremamente delicado, distingue o medalhão
completo do medalhão incompleto.
- Creio que assim seja; mas um tal obstáculo é invencível.
- Não é; há um meio; é lançar mão de um regime debilitante,
ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos, etc. O voltarete,
o dominó e o whist são remédios aprovados. O whist tem até
a  rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais
acentuada da circunspecção. Não digo o mesmo da natação,
da equitação e da ginástica, embora elas façam repousar o cérebro;
mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as
forças e a atividade perdidas. O bilhar é excelente.
- Como assim, se também é um exercício corporal?
- Não digo que não, mas há coisas em que a observação
desmente a teoria. Se te aconselho excepcionalmente o bilhar
é porque as estatísticas mais escrupulosas mostram que três
quartas partes dos habituados do taco partilham as opiniões
do mesmo taco. O passeio nas ruas, mormente nas de recreio
e parada, é utilíssimo, com a condição de não andares
desacompanhado, porque a solidão é oficina de idéias,
e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão,
pode adquirir uma tal ou qual atividade.
- Mas se eu não tiver à mão um amigo apto e disposto a ir comigo?
- Não faz mal; tens o valente recurso de mesclar-te aos
pasmatórios, em que toda a poeira da solidão se dissipa.
As livrarias, ou por causa da atmosfera do lugar, ou por qualquer
outra, razão que me escapa, não são propícias ao nosso fim;
e, não obstante, há grande conveniência em entrar por elas,
de quando em quando, não digo às ocultas, mas às escâncaras.
Podes resolver a dificuldade de um modo simples:
vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um
contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer
coisa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores
habituais das belas crônicas de Mazade; 75 por cento desses
estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões,
e uma tal monotonia é grandemente saudável. Com este regime,
durante oito, dez, dezoito meses - suponhamos dois anos, - reduzes
o intelecto, por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina,
ao equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque ele está
subentendido no uso das idéias; há de ser naturalmente simples,
tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de clarim...
- Isto é o diabo! Não poder adornar o estilo, de quando em quando...
- Podes; podes empregar umas quantas figuras expressivas,
a hidra de Lerna, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das
Danaides, as asas de Ícaro, e outras, que românticos,
clássicos e realistas empregam sem desar, quando precisam delas.
Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos
jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para os
discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento.
Caveant consules é um excelente fecho de artigo político;
o mesmo direi do Si vis pacem para bellum. Alguns costumam
renovar o sabor de uma citação intercalando-a numa frase
nova, original e bela, mas não te aconselho esse artifício:
seria desnaturar-lhe as graças vetustas. Melhor do que
tudo isso, porém, que afinal não passa de mero adorno,
são as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas
consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e
pública. Essas fórmulas têm a vantagem de não obrigar
os outros a um esforço inútil. Não as relaciono agora, mas
fá-lo-ei por escrito. De resto, o mesmo ofício te irá ensinando
os elementos dessa arte difícil de pensar o pensado. Quanto
à utilidade de um tal sistema, basta figurar uma hipótese.
Faz-se uma lei, executa-se, não produz efeito, subsiste o mal.
Eis aí uma questão que pode aguçar as curiosidades
vadias, dar ensejo a um inquérito pedantesco, a uma coleta
fastidiosa de documentos e observações, análise das causas
prováveis, causas certas, causas possíveis, um estudo
infinito das aptidões do sujeito reformado, da natureza do
mal, da manipulação do remédio, das circunstâncias da
aplicação; matéria, enfim, para todo um andaime de
palavras, conceitos, e desvarios. Tu poupas aos teus
semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes
simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes!
E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao
pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra
pelos espíritos como um jorro súbito de sol.
- Vejo por aí que vosmecê condena toda e qualquer
aplicação de processos modernos.
- Entendamo-nos. Condeno a aplicação, louvo a
denominação. O mesmo direi de toda a recente terminologia
científica; deves decorá-la. Conquanto o rasgo peculiar
do medalhão seja uma certa atitude de deus Término,
e as ciências sejam obra do movimento humano,
como tens de ser medalhão mais tarde, convém tomar as
armas do teu tempo. E de duas uma: - ou elas estarão usadas
e divulgadas daqui a trinta anos, ou conservar-se-ão novas;
no primeiro caso, pertencem-te de foro próprio; no
segundo, podes ter a coquetice de as trazer, para mostrar
que também és pintor. De outiva, com o tempo, irás
sabendo a que leis, casos e fenômenos responde toda essa
terminologia; porque o método de interrogar os próprios
mestres e oficiais da ciência, nos seus livros, estudos
e memórias, além de tedioso e cansativo, traz o perigo
de inocular idéias novas, e é radicalmente falso.
Acresce que no dia em que viesses a assenhorear-te do
espírito daquelas leis e fórmulas, serias provavelmente
levado a empregá-las com um tal ou qual comedimento,
como a costureira esperta e
afreguesada, - que, segundo um poeta clássico,
Quanto mais pano tem, mais poupa o corte,
Menos monte alardeia de retalhos;
e este fenômeno, tratando-se de um medalhão, é
que não seria científico.
- Upa! que a profissão é difícil!
- E ainda não chegamos ao cabo.
- Vamos a ele.
- Não te falei ainda dos benefícios da publicidade.
A publicidade é uma dona loureira e senhoril, que tu
deves requestar à força de pequenos mimos,
confeitos, almofadinhas, coisas miúdas, que antes
exprimem a constância do afeto do que o
atrevimento e a ambição. Que D. Quixote solicite
os favores dela mediante, ações heróicas ou custosas,
é um sestro próprio desse ilustre lunático. O verdadeiro
medalhão tem outra política. Longe de inventar
um Tratado científico da criação dos carneiros,
compra um carneiro e dá-o aos amigos sob a forma
de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente
aos seus concidadãos. Uma notícia traz outra;
cinco, dez, vinte vezes põe o teu nome ante
os olhos do mundo. Comissões ou deputações para
felicitar um agraciado, um benemérito, um forasteiro,
têm singulares merecimentos, e assim as
irmandades e associações diversas, sejam mitológicas,
cinegéticas ou coreográficas. Os sucessos de certa
ordem, embora de pouca monta, podem ser trazidos
a lume, contanto que ponham em relevo
a tua pessoa. Explico-me. Se caíres de um carro, sem
outro dano, além do susto, é útil mandá-lo dizer aos
quatro ventos, não pelo fato em si, que é
insignificante, mas pelo efeito de  recordar um nome
caro às afeições gerais. Percebeste?
- Percebi.
- Essa é publicidade constante, barata, fácil, de
todos os dias; mas há outra. Qualquer que seja
a teoria das artes, é fora de dúvida que o
sentimento da família, a amizade pessoal e a
estima pública instigam à reprodução das feições
de um homem amado ou benemérito. Nada obsta
a que sejas objeto de uma tal distinção,
principalmente se a sagacidade dos amigos não achar
em ti repugnância. Em semelhante caso, não só
as regras da mais vulgar polidez mandam aceitar o
retrato ou o busto, como seria desazado impedir
que os amigos o expusessem em qualquer casa pública.
Dessa maneira o nome fica ligado à pessoa; os que
houverem lido o teu recente discurso (suponhamos)
na sessão inaugural da União dos Cabeleireiros,
reconhecerão na compostura das feições o autor
dessa obra grave, em que a "alavanca do progresso"
e o "suor do trabalho" vencem as "fauces hiantes"
da miséria. No caso de que uma comissão te leve
a casa o retrato, deves agradecer-lhe o obséquio
com um discurso cheio de gratidão e um copo
d'água: é uso antigo, razoável e honesto.
Convidarás então os melhores amigos, os parentes,
e, se for possível, uma ou duas pessoas de
representação. Mais. Se esse dia é um dia de glória
ou regozijo, não vejo que possas, decentemente,
recusar um lugar à mesa aos reporters dos jornais.
Em todo o caso, se as obrigações desses cidadãos
os retiverem noutra parte, podes ajudá-los de
certa maneira, redigindo tu mesmo a notícia
da festa; e, dado que por um tal ou qual
escrúpulo, aliás desculpável, não queiras com a
própria mão anexar ao teu nome os
qualificativos dignos dele, incumbe a notícia
a algum amigo ou parente.
- Digo-lhe que o que vosmecê me ensina
não é nada fácil.
- Nem eu te digo outra coisa. É difícil, come
tempo, muito tempo, leva anos, paciência,
trabalho, e felizes os que chegam a entrar na
terra prometida! Os que lá não penetram, engole-os
a obscuridade. Mas os que triunfam! E tu
triunfarás, crê-me. Verás cair as muralhas de Jericó
ao som das trompas sagradas. Só então poderás
dizer que estás fixado. Começa nesse dia a tua fase
de ornamento indispensável, de figura
obrigada, de rótulo. Acabou-se a necessidade
de farejar ocasiões, comissões, irmandades;
elas virão ter contigo, com o seu ar pesadão e cru
de substantivos desadjetivados, e tu serás
o adjetivo dessas orações opacas, o odorífero das
flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos
cidadãos, o noticioso e suculento dos relatórios.
E ser isso é o principal, porque o adjetivo
é a alma do idioma, a sua porção idealista e
metafísica. O substantivo é a realidade nua e
crua, é o naturalismo do vocabulário.
- E parece-lhe que todo esse ofício é apenas
um sobressalente para os deficits da vida?
- Decerto; não fica excluída nenhuma outra atividade.
- Nem política?
- Nem política. Toda a questão é não infringir
as regras e obrigações capitais. Podes pertencer a
qualquer partido, liberal ou conservador,
republicano ou ultramontano, com a cláusula única
de não ligar nenhuma idéia especial a esses
vocábulos, e reconhecer-lhe somente a utilidade
do scibboleth bíblico.
- Se for ao parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção
pública. Quanto à matéria dos discursos,
tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a
metafísica política, mas prefere a metafísica.
Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não
desdizem daquela chateza de bom-tom, própria
de um medalhão acabado; mas, se puderes,
adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente.
Supõe que desejas saber por que motivo
a 7ª companhia de infantaria foi transferida
de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido
tão-somente pelo ministro da guerra, que te
explicará em dez minutos as razões desse ato.
Não assim a metafísica. Um discurso de
metafísica política apaixona naturalmente
os partidos e o público, chama os apartes
e as respostas. E depois não obriga a
pensar e descobrir. Nesse ramo dos
conhecimentos humanos tudo está achado,
formulado, rotulado, encaixotado; é só
prover os alforjes da memória. Em todo
caso, não transcendas nunca os limites
de uma invejável vulgaridade.
- Farei o que puder. Nenhuma imaginação?
- Nenhuma; antes faze correr o boato de
que um tal dom é ínfimo.
- Nenhuma filosofia?
- Entendamo-nos: no papel e na língua alguma,
na realidade nada. "Filosofia da história", por
exemplo, é uma locução que deves
empregar com freqüência, mas proíbo-te que
chegues a outras conclusões que não sejam
as já achadas por outros. Foge a tudo que possa
cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc.
- Também ao riso?
- Como ao riso?
- Ficar sério, muito sério...
- Conforme. Tens um gênio folgazão, prazenteiro,
não hás de sofreá-lo nem eliminá-lo;
podes brincar e rir alguma vez.
Medalhão não quer dizer melancólico.
Um grave pode ter seus momentos de expansão
alegre. Somente, - e este ponto é melindroso...
- Diga...
- Somente não deves empregar a ironia,
esse movimento ao canto da boca, cheio de
mistérios, inventado por algum grego da
decadência, contraído por Luciano,
transmitido a Swift e Voltaire, feição própria
dos cépticos e desabusados. Não.
Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga,
gorducha, redonda, franca, sem biocos,
nem véus, que se mete pela cara dos outros,
estala como uma palmada, faz pular
o sangue nas veias, e arrebentar de riso
os suspensórios. Usa a chalaça. Que é isto?
- Meia-noite.
- Meia-noite? Entras nos teus vinte e dois
anos, meu peralta; estás definitivamente
maior. Vamos dormir, que é tarde.
Rumina bem o que te disse, meu filho.
Guardadas as proporções, a conversa
desta noite vale o Príncipe de Machiavelli.
Vamos dormir.

FIM

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Casamento de pedófilos (Blog do Augusto Nunes, em 20/01/2015)

Casamento coletivo realizado em Gaza









O casamento pedófilo legalizado por países islâmicos é uma homenagem ao Profeta que já passara dos 50 anos quando transformou em esposa uma menina com menos de 10. Vale conferir, abaixo, vídeos explicativos com autoridade islâmica, bem como os protestos contra os abusos. 



“O Profeta Maomé é o modelo que seguimos”, informa no vídeo o saudita Ahmad Al Mu’bi. “Ele tomou Aisha como sua esposa quando tinha 6 anos, mas só fez sexo quando ela tinha 9″. O maridão já passara dos 50, dispensou-se de lembrar o oficiante de casamento.

Também lhe pareceu irrelevante ressalvar que, enquanto esperava que Aisha chegasse ao ponto, Maomé não teve de estrangular a libido. O harém que abrigava o time de reservas de Aisha estava ali para que jamais faltasse companhia noturna.

“Qual é a idade apropriada para a primeira relação sexual?”, interroga-se Ahmad Al Mu’bi no meio do falatório. “Isso varia de acordo com o ambiente e as tradições”, desconversa, caprichando na pose de doutor em aberrações nupciais. Eis aí uma bom tema para devotas de Lula.

De longe, marilenas chauís e marias-do-rosário contemplam com olho rútilo e lábio trêmulo os turbantes engajados na guerra contra os infiéis em geral e o Grande Satã americano em particular. Se tivessem nascido por lá, conheceriam o abismo que separa um macho de uma fêmea.

Ele pode tudo e tudo decide, saberiam as companheiras da seita lulopetista. Ela obedece sem queixas. Ele é dono. Ela é propriedade. É estuprada na infância, vira mãe na adolescência e se torna avó quando ainda confere no espelho como é a aparência de uma balzaquiana recentíssima.

O modelo saudita, adotado em grande parte do mundo islâmico, permite que qualquer adulto de qualquer faixa etária transforme em esposa, e inicie sexualmente. meninas em idade de brincar com bonecas. Em lugares menos primitivos, esse tipo de assassinato da inocência dá cadeia. Até no Brasil.
Naquelas paragens, o casamento pedófilo é uma homenagem ao Profeta que amava criancinhas".

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"É preciso ridicularizar a tirania" (Wole Soyinka)