terça-feira, 27 de outubro de 2009

"A PEDRA, O BAGRE E A PERERECA..." Mais um texto imperdível de Augusto Nunes

Em 26 de outubro o jornalista Augusto Nunes publicou o texto que segue abaixo. É um retrato preciso da estupidez e da má fé que presidem o Brasil atualmente. Ainda chegará o dia em que as pessoas normais se espantarão com o grau de boçalidade de Lula da Silva e de como foi possível a este homem governar o país.


"A data da inauguração do Brasil reconstruído ainda não foi marcada por culpa da máquina de fiscalização, acaba de informar o presidente Lula. O governo não para de fazer obra, repetiu o maior dos governantes desde Tomé de Souza. Só não consegue completar o serviço porque o Ibama complica e o Tribunal de Contas da União não deixa. O TCU vê irregularidade em qualquer irregularidade. O Ibama já lhe jogou no colo um bagre amazônico, uma perereca gaúcha e, há dias, uma pedra da região de Cabrobó.
“A hidrelétrica ficou parada porque alguém achou que uma pedra arredondada era machadinho de índio, e levou nove meses para descobrir que era só uma pedra”, contou. A plateia adorou a prova mais recente de que o Ibama virou uma catarata de excentricidades antipatrióticas. Melhor que esse, só o caso da perereca. “A gente estava fazendo um túnel de mil e poucos metros no Rio Grande do Sul e encontraram do outro lado do túnel uma perereca”, começa Lula a contar o episódio ocorrido na BR-101 e começa a plateia a soltar o riso.
A segunda frase abre a sequência de gargalhadas que só terminará com o ponto final. “Todo mundo aqui sabe o que é uma perereca”, continua a narrativa. “Pois bem, aí resolveram fazer um estudo para saber se aquela perereca estava em extinção. Aí teve que contratar gente para procurar perereca, e procure perereca, e procure perereca… Sabem quantos meses demorou para descobrir que a perereca não estava em extinção? Sete meses. Sete meses e a obra parada”. Segue-se a gargalhada de encerramento.
“Lula não para de dizer besteiras”, lastima Célio Fernando Haddad, coordenador de Ciências Biológicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Onde o narrador viu uma prosaica perereca, corrige Haddad, os cientistas encontraram quatro espécies de anfíbios ameaçadas de extinção. Os levantamentos que precedem o início de obras não existem para atender a caprichos de ambientalistas, mas por exigência da legislação federal, que protege a vida de espécies ameaçadas.
“O governo que comece a trabalhar mais cedo, não em véspera de eleição e passando por cima das leis”, recomenda Haddad. ”Para um projeto, quase sempre há alternativas, mas uma espécie se perde para sempre”, sublinha Jansen Zuanon, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ele reitera a lição desde que Lula declarou guerra a ”um tal bagre gigante do rio Madeira”, responsabilizado pelo atraso nas obras de usinas hidrelétricas. O nome do peixe é dourada, ensina Zuanon. E não é um bagre qualquer.
Dele dependem a sobrevivência financeira de milhares de comerciantes e a sobrevivência física de incontáveis moradores espalhados por quatro Estados brasileiros ─ Pará, Amapá, Amazonas e Rondônia ─ e porções consideráveis da Colômbia, da Bolívia e do Peru. “Para procriar, a dourada faz uma migração extraordinariamente extensa”, informa o cientista. O Ibama agiu para evitar a consumação de um crime ambiental gravíssimo: a interrupção irresponsável dessa viagem que perpetua a espécie também colocaria em risco a perpetuação da espécie humana na região.
Em 2000, foram concedidas pelo Ibama 139 autorizações ambientais. Subiram para 477 em 2008 e, neste ano, já somaram 125. Lula só se queixa por malandragem. O TCU tem julgado pendências com exemplar pontualidade. Lula só se queixa porque agir fora da lei apressa inaugurações e é bem mais rentável. O problema não é a perereca, nem o bagre, muito menos a pedra. O problema é a incompetência do governo.
O ator no palco vai continuar contando casos inspirados em problemas imaginários, a plateia vai continuar gargalhando. A vassalagem voluntária não é menos desprezível que a ignorância presunçosa."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ainda sobre as laranjas do MST: "Faltou Sarney no abaixo-assinado"

A lamentável atuação do MST e dos defensores de seus métodos terroristas faz lembrar versos de Ferreira Gullar:

Por que se esforçam tanto
para manter viva
a chama do ódio?

Em 25 de outubro do corrente Augusto Nunes publicou em seu blog mais este comentário que segue abaixo:

"Os oficiais comandantes do Batalhão da Bic já foram trapalhões na hora de tentar justificar o injustificável, atesta o palavrório do sociólogo Ricardo Antunes, um dos articuladores do abaixo-assinado contra a CPI do MST. “É inaceitável a tentativa de criminalizar o MST e empurrá-lo para a clandestinidade”, disse ao Estadão o intelectual da Unicamp.

Decolou mal o professor de Tudo. Ninguém precisa criminalizar um bando que comete crimes o tempo todo: o próprio MST cuidou de criminalizar-se. Tampouco é preciso empurrá-lo para a clandestinidade. Como não tem existência legal, já é clandestino. E completou a decolagem desastrada com o pouso na pista errada.

“É inaceitável também que este Congresso, que chegou ao fundo do poço e cujo presidente tenta cercear o trabalho da imprensa, impedindo a divulgação de informações sobre sua família, se julgue no direito de policiar e tentar sufocar o movimento”. Antunes e o resto do Batalhão jamais se manifestaram contra a erosão ética e moral do Senado, ou contra as bandalheiras do presidente do Congresso, ou contra a censura ao Estadão.

Ruim de gatilho, Antunes mirou no inimigo aparente e acertou um companheiro de lutas e ideais. O mestre da Unicamp começou a usar só agora o verbo criminalizar, que Sarney recita desde 16 de outubro. “É errado criminalizar o MST”, declarou ao incorporar-se formalmente à seita da lona preta.

Autor de uma penca de livros, imortal da Academia Brasileira de Letras, merece entrar na ala dos intelectuais do abaixo-assinado. Antunes, Luis Fernando Verissimo, Emir Sader, Antonio Cândido, Sarney, Collor, Jucá, Renan, todos estão juntos no mesmo trator que, depois do trabalho no laranjal, tenta agora assassinar a verdade sobre a promiscuidade multimilionária entre o governo e o MST".

domingo, 25 de outubro de 2009

O Batalhão da Bic... (do blog de Augusto Nunes)

O texto abaixo foi retirado do blog do Augusto Nunes. Carece de maiores comentários pela clareza contida nele. Diz muito sobre o constrangedor silêncio dos intelectuais acadêmicos e da cumplicidade de tantos com a barbárie.


"O Batalhão da Bic voltou à ativa para socorrer o bandido (24 de outubro de 2009)

Depois de um sumiço de quase sete anos, voltou à ativa neste fim de semana o Batalhão da Bic, formado por fuzileiros civis que se disfarçam de “intelectuais e artistas” para confundir a repressão. Até a posse do presidente Lula, o grupo de elite mantinha a caneta engatilhada todo o tempo, para não perder um único abaixo-assinado contra alguma coisa — da privatização de empresas estatais aos maus modos do guarda de trânsito, da falta de dinheiro federal para a cultura brasileira à impontualidade do entregador de pizza. De janeiro de 2003 para cá, nada conseguiu animá-los a tirar a Bic do coldre.

Para os loucos por um manifesto, pareceram pouco relevantes a institucionalização da patifaria, o escândalo do mensalão e todos os outros, a expansão espantosa do Clube dos Cafajestes a Serviço do Nação, a aliança entre vestais de araque e messalinas juramentadas, a metamorfose obscena do presidente da República, o acasalamento do Cristo paraguaio com os Judas de verdade, fora o resto. Tudo é tolerável, berrou o silêncio do bando. Menos a instalação da CPI do MST.

Isso não passa, descobriu o abaixo-assinado agora virtual, de “um grande operativo das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST”. Com a ajuda da imprensa, claro, esclarece o trecho que comenta a depredação da fazenda da Cutrale: “A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja de ato de vandalismo. Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça”.

Essa gente já escreveu textos menos bisonhos, informam o estilo torturado e o uso de palavrões como “operativo”. Também já teve mais pudor: não é pouca coisa reduzir 10 mil pés de laranja a “alguns”, sem ficar ruborizado, ou fazer de conta que o Incra não é um codinome do MST. Sobretudo, poucos manifestos cometeram erros tão vulgares, como imaginar que a Justiça contesta alguma coisa. As partes contestam. A Justiça julga. Por sinal, julgou em segunda instância a contestação do Incra. Deu razão à Cutrale.

No meio da procissão dos anônimos, o altar das quase celebridades exibe o professor e ensaísta Antonio Cândido e o humorista a favor Luis Fernando Verissimo. O primeiro só não reivindicou uma cátedra da USP para o amigo Lula porque ainda não fez o mestre de nascença entender o que quer dizer catedrático. O segundo matou a Velhinha de Taubaté, personagem que acreditava em tudo o que o governo dizia, porque já não é a única: Verissimo também acredita em tudo o que diz o sinuelo do rebanho. Como os demais signatários, Antônio Cândido e Verissimo provavelmente acham que arroz dá em árvore, desconfiam de que vanga seja um ritmo cucaracha e só tratam de coisas do campo quando conversam sobre futebol. Mas falam de reforma agrária com o desembaraço de quem aprendeu a engatinhar numa roça. Devem saber a diferença entre honradez e corrupção. Sobre isso, nada têm a dizer."