sábado, 26 de julho de 2014

Israel e Brasil

Israel não é apenas uma nesga de terreno árido no oriente próximo, abarcando parte de territórios de grande simbolismo para três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo), todas ancoradas na devoção comum a Abraão ou Ibraim (o maior dos Patriarcas), conforme se pode verificar nos seus livros de referência – a Torá, a Bíblia e o Corão. Israel é, assim, mais que a expressão material e política de uma tradição milenar, a mesma que configurou, junto com o helenismo, os fundamentos do ocidente e das maiores conquistas que a humanidade já auferiu. Na sua grandeza, Roma foi tão somente uma projeção de tal arranjo civilizatório. Sem o amálgama judaico-helênico estaríamos catando coquinhos nas florestas ou, quem sabe, vivendo num estágio tribal em permanente disputa autofágica. A chave para se entender o papel da cultura judaica no progresso da humanidade está no domínio generalizado da leitura e da escrita. Ler, entender e interpretar a palavra do Eterno é seu alfa e o ômega. O protestantismo, que nasceu recuperando o imperativo de tais práticas letradas, tangencia aí o judaísmo, ao transformar a casa do culto numa casa do estudo e do saber. Não se deve ao acaso que três dos mais importantes pensadores da modernidade - Marx, Einstein e Freud - sejam nascidos em lares judaicos.    

Israel está há muito tempo submetido a graves ameaças. Defender sua existência é, acima de tudo, um tributo que a humanidade deve a um projeto de civilização de base imemorial. Pode-se mesmo postular que é uma espécie de devolução legítima, àqueles que nos forjaram, do direito de terem novamente o seu próprio estado em base física reconhecida e aceita. Quanto a isso, infelizmente, há polêmica entre os assumidos apoiadores da existência do estado judeu, e os que a questionam, estes últimos sempre com razões subalternas, oportunistas ou até mesmo racistas. O atual governo brasileiro - junto com outros governantes de feições pouco recomendáveis, em geral ditaduras sangrentas - se coloca diplomática e ideologicamente nesta última posição. Ecoa o discurso de ódio de terroristas fanáticos contra o que chamam “a entidade sionista”, arvorando-se, então, de autoconcedida liberação para jogar foguetes e bombas sobre o povo israelense, condenado então a um sobressalto eterno e insolúvel. Espantoso que milícias armadas ao longo das fronteiras israelenses se conduzam dessa forma, logo contra Israel, única democracia constitucional naquela região infestada de regimes teocráticos e medievais, nos quais o conceito de direitos humanos é tratado como piada. Que o digam as crianças, as mulheres, os homossexuais e os adeptos de outras religiões ou seitas que não a oficialmente adotada pelo déspota eventual de plantão. 

Os críticos do sionismo - movimento que, em sua essência, significou um modelo de defesa, um caminho para os judeus perseguidos poderem se abrigar em um lar nacional - desconhecem, ou fingem desconhecer, as violências, expropriações e torturas gratuitas a que foram submetidas populações de origem judaica na Europa, na América, na Ásia e na África em diferentes momentos do tempo. Ibéricos obrigavam os judeus a uma conversão sob pena de condenação à fogueira. Desta maldade bestial, no entanto, nasceu algo positivo: foram inumeráveis os cristãos-novos que aportaram na então colônia portuguesa, muito contribuindo para a formação do povo brasileiro. Onde se abrigar, então, contra a opressão e o genocídio foi o grande desafio enfrentado pelo povo do livro ao longo da história. Seria possível uma assimilação ou integração nas diferentes sociedades nacionais, mesmo como simples minoria, porém respeitada nos seus direitos?

Os vexames impostos às comunidades judaicas modernas nos últimos cinco séculos estão suficientemente documentados. Vale ler, por todos, o livro de Hannah Arendt sobre o julgamento de Eichmann em Jerusalém. A Europa nazista, ainda ontem estabelecida, era um conjunto de ratoeiras interligadas; não havia para onde fugir. Escapava-se de uma, caia-se em outra necessariamente. O horror ainda está fresco na memória contemporânea. Já muito antes do holocausto alguns dos melhores pensadores (Kafka, por exemplo), advogavam a necessidade de se ter um local onde os judeus pudessem viver em paz, amadurecendo uma esperança razoável frente à percepção do que estava por vir, e acabou chegando. O ameaçador clima de barbárie que antecedeu o nazismo, tão bem traduzido por Elias Canetti, dorme como brasa sob as cinzas. Mas aqui e ali, ameaçadoramente, fumegam sinais de um totalitarismo tardio.

A Declaração Balfour, de 1917, expressou o compromisso dos então mandatários da Palestina de apoiar a criação de um Lar Nacional Judeu, única alternativa de fuga aos pogroms habituais, e bem antes da edificação dos campos de extermínio industriais dos nazistas. A ONU, em 1948, só ratificou uma expectativa e um direito que estava latente, ao endossar também o estabelecimento concomitante de um estado para os palestinos, que recusaram a justa solução política adotada ao preferir, em vez da paz, a guerra e o terror permanentes observados nas últimas sete décadas. As Nações Unidas adotaram um equacionamento político similar ao caso de Israel e Palestina, no pós-guerra, no sub-continente indiano, com a separação entre hindus (Índia) e muçulmanos (Paquistão) à falta de melhor saída. Dois povos e uma mesma terra? Divide-se: parte para um e parte para outro. Numa visão realista esta foi a saída possível. 

Israel tem, pois, o mais legítimo direito à existência. O povo brasileiro o apoia e a história da nossa diplomacia o confirma. Souza Dantas, Guimarães Rosa e Osvaldo Aranha, mais que os pigmeus que hoje dominam o Itamarati, são nomes emblemáticos. Israel, como todo estado soberano tem, mais que o direito, o dever de se defender de agressões contra sua população. Se toda a energia e custo humanos despendidos pelos belicosos vizinhos de Israel tivessem sido aplicados produtivamente, aquela milenar região voltaria a ser, de fato, a Terra da Promissão, local sagrado de onde manam o leite e o mel. Os fomentadores da guerra que infelicita os israelenses e os palestinos estão, sim, abrigados nos governos da vizinhança. É uma pena que os dirigentes brasileiros se prestem ao papel de títeres de tais tiranias, contribuindo para avivar a discórdia e a patrocinar fanáticos que não respeitam sua própria vida e, muito menos, a vida dos outros.

Shalom.


(Publicado, com modificações, por exigência de espaço, no jornal O Tempo, de 25-07-2014)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Por uma futura Comissão da Verdade

O Tribunal de Contas da União e o Ministério Público refrescaram a vida de dona Dilma. Apesar de ela ser a presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, livraram-na da responsabilidade pelo espantoso escândalo da refinaria de Pasadena (localizada no estado americano do Texas), considerada uma montanha de ferro velho, com valor equivalente ao de um container de bananas maduras, porém adquirida e paga ao preço de um caminhão de lingotes do mais puro ouro. Dona Dilma, a cândida, segundo as supras referidas autoridades, teria recebido uma pernada de diretores da Petrobrás, gente safada que não a informou sobre detalhes importantes do negócio. Logo ela, conhecida por "espancar" projetos para deles extrair todas as significações (conforme didaticamente esclareceu há tempos o ministro Mercadante), logo ela, insista-se, foi ser vítima do trampo urdido pela cúpula da empresa, cujos diretores foram todos nomeados pela então poderosa ministra chefe da Casa Civil e por Lula da Silva, o amigão de Hugo Chavez, de Kadafi e dos aiatolás atômicos? Difícil de acreditar. Não custa relembrar o conhecido estilo centralizador da madame, estilo este que a leva a interferir até no plano de voo do avião presidencial, configurando um quadro onde subalternos eventuais jamais encontrariam espaço para o exercício da autonomia. Comigo não, violão, é o brado da tia velha onipotente, centralizadora e obsessiva. 

Ora, em primeiro lugar, se a madame tivesse o juízo político e gerencial que propagandeia, deveria ter questionado, preliminarmente, a legitimidade de se comprar uma refinaria de petróleo justo nos Estados Unidos - o grande satã, inimigo dos povos livres, do socialismo e dos oprimidos em geral. Investir dinheiro dos pobres brasileiros para beneficiar os estadunidenses (o petismo assim denomina os americanos), convenhamos, só pode ser coisa de traíras infiltrados no governo, para denegrir a boa imagem dos patriotas excelentes que nos dirigem. Não era mais simples construir uma refinaria no Brasil? Mais simples, mais barato, mais sensato  e mais patriótico?

Outro, no entanto, foi o entendimento de dona Dilma e seu bando. A surpreendente ideia de jerico da turma era simples na sua essência: sendo o petróleo extraído nas costas marítimas brasileiras de um tipo com baixo valor de mercado, em vez de refiná-lo aqui no país, imaginou-se que seria um excelente negócio comprar uma refinaria no golfo do México, levar para lá o tal petróleo pesado, processá-lo e revender seus subprodutos no mercado americano, aí então com gordos lucros para a multinacional brasileira. Imaginaram singelamente que o Brasil já estava auto suficiente em matéria de combustíveis, e o cenário era propício para consolidar empresarialmente a Petrobrás. Difícil encontrar outro exemplo, na suposição da boa fé, para concepção tão tacanha! E lá se foram pelo mundo nossos "especialistas" em perfurar poços, como diria o Severino, expandindo os negócios tal qual uma equivalente multinacional que se espraia aqui e ali, sempre à cata de uma boa oportunidade..

Claro que tão simplória engenharia esbarrava em questões técnicas óbvias para quem quisesse ver. A refinaria requerida para processar o tal petróleo (do campo de Marlin, por exemplo, situado ao largo do litoral do Rio de Janeiro), deveria ter a configuração adequada de sua planta industrial, vale dizer, capacidade operacional de processar o petróleo pesado típico do Brasil e, por estranha coincidência, também o mesmo petróleo que é encontrado na Venezuela. Nunca se deu a devida atenção a este vínculo potencial; mas se os investimentos em Pasadena se destinavam a gerar lucros para os acionistas, a aquisição de petróleo pesado em fonte mais próxima permitiria economizar ao menos no valor do frete. 
  
Deixando de lado ponderações do tipo, a refinaria de Pasadena foi comprada pela Petrobrás (50%, inicialmente, com a outra metade nas mãos de espertos negociantes belgas, seus antigos donos), mesmo não sendo ela apta a refinar o petróleo brasileiro (nem o da Venezuela, repita-se, para valorizar a coincidência). A pátria do bolivarianismo, afinal, está ali mesmo, pertinho das instalações de refino caribenhas, muito mais próxima, aliás, que os campos de petróleo brasileiro da Petrobrás e, na eventualidade de não se dispor da matéria prima do Brasil, Pasadena poderia perfeitamente atender aos interesses dos venezuelanos (sem falar dos de Cuba).

Qualquer pessoa medianamente informada já deduziria que algo errado estava em andamento. Num país como o Brasil, tão carente de investimentos industriais de base, ainda mais num setor estratégico como o da energia, como justificar a aquisição de uma refinaria de petróleo no Texas, tecnologicamente ultrapassada e, ainda por cima, inadequada para os fins perseguidos oficialmente, pois ajustada apenas ao petróleo leve, só extraído em regiões do mundo bem localizadas? Seria imaginável a hipótese que considerasse otários os norte-americanos e, nós, os brazucas, os mais sabidos do mundo?

Dona Dilma é mineira. Ser mineiro, além das prescrições roseanas, implica também estar sempre levando manta nos negócios e, ao descobrir o engodo, em vez de botar a viola no saco, sair denunciando que foi passado para trás. Mineiro é mesmo bocó! Deve ser algum carma, similar ao dos palestinos: nunca perder a oportunidade de perder a oportunidade.  No lusco fusco das vagas lembranças de dona Dilma pairava, certamente, o período em que os mineiros iam ao Rio de Janeiro e a São Paulo para comprar bondes. Será que ela resolveu inovar, adquirindo agora refinaria caindo aos pedaços? Os velhacos e trapaceiros do mundo - de tiranetes latinos até ferozes aiatolás, passando por ditadores africanos – mas não somente eles, todos agora andam a tirar uma casquinha nos brasileiros, estes seres angelicais, tão bonzinhos como os da anedota. Até os alemães não perdem a oportunidade de levar alguma vantagem, conforme se viu recentemente na Copa do Mundo.  

Pois bem, comprada a refinaria haveriam duas saídas: ou ela continuaria a processar o tipo de petróleo para o qual foi concebida, ou deveria sofrer uma custosa adaptação para trabalhar com o petróleo pesado brasileiro ou venezuelano (foi aqui que os sócios belgas pularam fora, cientes do volume dos novos investimentos para chegar ao ponto desejado pela Petrobrás, obrigando esta a adquirir a outra metade da companhia, conforme estabelecido em contrato). Com um vasto e experiente corpo técnico - ou não era, como sempre foi considerado? - os engenheiros e economistas da Petrobrás não mediram a água e o fubá para fazer o angu desejado. Ao que parece, esconderam os cálculos que lhes foram requisitados. A buliçosa Associação dos Engenheiros da Petrobrás quedou em obsequioso silêncio. Foi tudo, como se diz, realizado nas coxas. Nada mais, nada menos que mera "conta de padeiro", conforme a pitoresca definição de notório trambiqueiro envolvido com o assunto, ao se referir a outro escândalo mais garboso ainda para os padrões do petismo: o inacreditável caso da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco (as digitais de Hugo Chavez, outra espantosa coincidência, estão na gênese desse outro empreendimento). Este caso nem é da alçada de Tribunal de Contas: é caso de polícia comum, de delegacia de furtos e roubos.

Imagine-se um criador de porcos que precise comprar um meio que permita transportá-los. Aparece, então, um vendedor que lhe oferece um micro-ônibus escolar de segunda mão para fazer o serviço. O criador de porcos compra o veículo e só então percebe que há uma inadequação entre o ônibus e a carga. Terá, portanto, que fazer modificações, adaptando o que era adequado ao transporte de gente para uma carroçaria ajustada ao deslocamento dos animais. Melhor teria sido se a aquisição feita já fosse, antes, de um caminhão próprio às suas necessidades. O aparentemente barato, no início, acabaria ficando muito mais caro para o interessado. Claro que outras metáforas menos sujas podem ser utilizadas, porém, no caso, a suína, é uma justa homenagem aos participantes da negociata. 

Da mesma maneira que o ocorrido com o mensalão – quando o Ministério Público não teve coragem de imputar a Lula sua parte naquele latifúndio – repete-se o mesmo com dona Dilma, que mandava e desmandava nas decisões fundamentais da Petrobrás, porém escapou das acusações de improbidade administrativa que claramente lhe pertencem. O prejuízo foi debitado na conta da diretoria executiva, que não tinha competência jurídica para decidir sobre a compra de Pasadena, competência esta do Conselho de Administração, conforme o estatuto da Petrobrás. No futuro que se avizinha, uma comissão da verdade, aí sim, necessária, ainda trará a lume as tramas urdidas, e as responsabilidades de cada um pelas inumeráveis patifarias dos últimos doze anos. A sorte de Lula e de dona Dilma é a amizade de ambos com Fidel Castro. Poderão fugir e pedir asilo a Cuba. Eis aí uma função de relevância que poderia ser atribuída ao ministro Joaquim Barbosa. O povo aplaudiria em delírio.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

APRENDENDO COM OS GATUNOS



O sentimento majoritário entre todas as pessoas é de repulsa àqueles que furtam ou roubam o dinheiro alheio. Mesmo os ladrões que foram roubados por outros gatunos cultivam em relação a estes uma forte rejeição. São corriqueiros os ajustes de contas entre bandidos que se sentem ludibriados por alguns de seus capangas ou parceiros de crimes. Quando a ilícita apropriação se faz em prejuízo do patrimônio público, a censura popular assume feições ainda mais duras. Corruptos, de fato, não são benquistos pelos homens de bem. Os notórios escândalos que marcaram a gestão petista no último decênio estão, certamente, na raiz da rejeição sofrida por seus candidatos nas eleições que se aproximam.

Tais deploráveis condutas dos que podem ser chamados, genericamente, de mensaleiros oferecem à sociedade, no entanto, surpreendentes benefícios potenciais. Algo parecido com o ditado popular que manda do limão fazer uma limonada ou aproveitar uma transgressão civilizatória em prol da coletividade ofendida. Em suma, identificar o mal e com ele aprender, não para sua perpetuação, mas para alcançar níveis positivos de sociabilidade.  Os criminosos do mensalão devem ser observados com lupa. Aquilo que fizeram, e que ainda é feito por muitos, exige a posse de importantes qualidades pessoais.

Primeiro, a perseverança; se não conseguem o que pretendem numa primeira tentativa, eles jamais desistem. Segundo, a solidariedade; seus companheiros agem com a maior camaradagem entre si, estando dentro ou fora das grades. Terceiro, a coragem; colocam até a vida e a liberdade em risco para obterem o que desejam. Quarto, a generosidade; o que conseguem para si, eles vendem por pouca recompensa. Quinto, a resignação; ladrões são pacientes com seus infortúnios eventuais, e, sexto, lealdade; amam sua tarefa acima de qualquer outra (tais deduções foram extraídas das sábias lições do rabino Nilton Bonder). Perseverança, fraternidade, coragem, desprendimento, tolerância a frustrações e dedicação configuram, assim, um conjunto de virtudes destiladas do próprio veneno contido no ilegal e no imoral dos comportamentos transgressores.

Ao longo da vida o trânsito se faz por estreitos caminhos, quase um fio da navalha. Há os que caem, por erro ou imprudência, e há os que saltam voluntariamente para o lado do mal, sempre à esquerda, que é o caminho da perdição, conforme se vê no Inferno de Dante.   



terça-feira, 22 de julho de 2014

O Brasil se empobrece




O Brasil se empobrece e não somente do ponto de vista econômico. Até na dimensão circense da política, há um esvaziamento do picadeiro. Quando da morte de Costa e Silva, Ulisses Guimarães definiu com precisão cirúrgica a natureza do triunvirato militar que assumiu as rédeas do governo: denominou-os de “três patetas”, em cáustica referência aos famosos cômicos americanos da primeira metade do século passado, adeptos de um humor chegado ao pastelão e à farsa física. Na época presente, nem três são agora os patetas que comandam o país. Reduziram-se a dois e, não demora muito, sobrará apenas um deles à frente da ribalta.

Lula da Silva não pode ver um microfone. Tomando-o, em qualquer lugar e situação, o resultado de sua intervenção é previsível: abobrinhas e obscenidades jorrando aos borbotões, sob o olhar embasbacado de plateias inverossímeis, que vão do lumpesinato tangido a mortadela e tubaína, até pelegos sindicais habituados desde sempre ao não-trabalho, passando por velhotas ainda histéricas, bem como intelectuais e acadêmicos chapas-brancas sempre à procura de uma boquinha no aparelho do estado. 

Duas das mais esquisitas criaturas dessa fauna – uma, filósofa mulata, dita uspiana, inimiga jurada da classe média e habitante de um estranho mundo paralelo e a outra, senadora da república, branca, de olhos claros e proverbial e fatal lourice, também versada em sexologia - de tal modo enfeitiçadas pelos sortilégios do farsante-mor até já o chamaram, em espantosa idolatria, de “deus”, ou lhe atribuíram a capacidade de paralisar o tempo, fantasticamente, para que o mundo pudesse sorvê-lo. Nem Moe, nem Larry e nem Curly, mesmo nos momentos mais agudos de suas carreiras como humoristas conseguiriam alcançar o nível de palhaçadas protagonizadas por Lula da Silva.

Já dona Dilma, coitada, à falta de maiores dotes, só lhe resta o histrionismo tacanho, ao modo dos Trapalhões ou de Tiririca, derivado da incapacidade insuperável de enunciar frases com sujeito, verbo e predicado. Ou, então, de servir de objeto de repulsa, no papel inglório de Monga, a mulher barbuda que se exibe em circos mambembes aterrorizando as criancinhas com suas caretas, apertando os beiços com ódio. Seu gestual grosseiro pode, no máximo, servir de alusão a velhos personagens de filmes de faroeste, quando caminham, pernas semi arqueadas, em passadas firmes e ritmadas para o duelo final, prontos para sacar a pistola. John Wayne não faria melhor. 

Os dois patetas, legítimos sucessores dos três patetas dos anos de chumbo, não querem, contudo, largar o proscênio. Imaginam-se eternos, querem-se amados e aplaudidos pela plateia, apesar das piadas e desempenhos que não sensibilizam nem fazer rir a mais ninguém. O último protagonismo que lhes resta será botar fogo na lona do circo. E disso eles são perfeitamente capazes.           

Eu agora sou Thaís

Eu agora sou feliz (Jamelão)


http://youtu.be/aZJ2qDuj7EM

ECOS DE BRASÍLIA

Eça de Queiroz costumava dizer que a “vadiagem é a mais absorvente das profissões” e, com isso, pouco tempo deixaria aos ociosos. Na mesma linha de raciocínio operava outro sagaz conhecedor da alma humana - o trovista Belmiro Braga. Questionado por um amigo, que reclamava dele, Belmiro, por não dar notícias, o poeta mineiro respondeu na lata, como se diz, ainda na agência do correio, em Juiz de Fora:


"Caro amigo perdoa,

a resposta demorada.

Você sabe, quem vive à toa

Não tem tempo para nada".


Pois, Lula da Silva, o rei da preguiça, e emérito profissional da vadiagem, conseguiu a façanha de subverter a vida pública brasileira ao construir seu governo sob o tripé da desordem, da imoralidade e do desperdício, em contraposição ao imperativo clássico de ORDEM, MORALIDADE e ECONOMIA. Transmitiu ainda seu DNA à sua sucessora, dona Dilma, a implausível. Esta senhora quer, agora, radicalizar o programa de desgoverno petista com mais desordem, mais imoralidade e mais desperdício, pleiteando a reeleição. Em linguagem contemporânea o dístico lulista ficaria assim: INSEGURANÇA, CORRUPÇÃO e INCOMPETÊNCIA.

As chapas petistas para as próximas eleições (nos diferentes níveis de disputa), com exceções que devem estar fundadas em algum equívoco, são enfeitadas por mensaleiros, gatunos da coisa pública e notórios parasitas, todos irmanados, unha e carne, com a vibrante companheirada dos chegados e simpatizantes, ávidos por uma teta estatal, ou uma boquinha, como já sentenciou conhecido político carioca. Uma eventual vitória de Fernando Pimentel para governar Minas Gerais, por exemplo, levanta já uma suspeita angustiante: quem será o futuro Secretário da Fazenda do estado? Com a má fama acumulada (que pode ser indevida ou injusta, vá lá a ressalva), avantaja-se como favorito o atual deputado federal Newton Cardoso, do PMDB.

A dobradinha do PT e do PMDB pode não ser justa, mas é perfeita: Deus os fez e o diabo os juntou. Dependendo da direção para onde se olha, vê-se o futuro ou o passado um do outro (o PMDB ao mirar o PT estará coberto de razões se afirmar ao parceiro: "eu sou você amanhã"). E, no presente, ambos se amalgamam na disputa pouco fraternal de siameses canibais - entre dois Cains, pois não cabe um Abel na relação - a se entredevorarem pelos votos dos grotões para onde estão sendo expulsos pelos eleitores das grandes cidades. PT e PMDB estão condenados a terminarem num abraço de afogados. É o melhor que pode acontecer ao Brasil. Sem o alimento dos cofres públicos poderão aprender a, novamente, fazer oposição política de maneira civilizada.



  

Não aprendi a dizer adeus (Leandro e Leonardo)

Não aprendi dizer adeus
Não sei se vou me acostumar
Olhando assim nos olhos teus
Sei que vai ficar nos meus
A marca desse olhar

Não tenho nada pra dizer
Só o silêncio vai falar por mim
Eu sei guardar a minha dor
Apesar de tanto amor vai ser
Melhor assim

Não aprendi dizer adeus mas
Tenho que aceitar que amores
Vem e vão são aves de Verão
Se tens que me deixar que seja
Então feliz

Não aprendi dizer adeus
Mas deixo você ir sem lágrimas
No olhar, se adeus me machucar
O inverno vai passar, e apaga a cicatriz.(bis)



http://youtu.be/US-laUWTCdU



http://youtu.be/zdJRoO9T790

domingo, 20 de julho de 2014

Promessas, escolas de tempo integral e os fracassos habituais

Candidatos aos parlamentos e ao governo de Minas Gerais têm proclamado nos seus programas políticos a adoção da escola de tempo integral. Dizem isso como se anunciassem uma grande novidade. Bastaria que se comprometessem a cumprir as leis. Simplesmente isso. A lei Darcy Ribeiro - de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - foi promulgada em 1996, vale dizer, quase duas décadas atrás. Mais antiga ainda é a disposição da Constituição mineira de 1989, que no seu artigo 198 já prescrevia há um quarto de século e de forma pioneira:

"A garantia de educação pelo Poder Público se dá mediante:


I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, mesmo para os que não tiverem tido acesso a ele na idade própria, em período de oito horas diárias para o curso diurno." (grifo do autor)

A verdade, nua e crua, é que não precisamos de novas leis. As que existem são suficientes para se edificar um país digno e próspero. Falta pouco: apenas cumprir a legislação já existente. Os descalabros da educação brasileira (Darcy Ribeiro dizia que nossa escola era uma "calamidade"), são sobejamente conhecidos. Diagnósticos de mais de meio século já denunciavam a perversão da escola de turnos (basta conferir os trabalhos pioneiros de Anísio Teixeira). No entanto, os dirigentes brasileiros (incluindo-se aí os devotados à formação de professores), sempre tiveram uma compreensão do problema que raramente ultrapassava a dimensão sindical. Imagine-se decuplicar o salário dos professores que aí estão. Melhoraria certamente a vida dos que trabalham nas escolas, mas os resultados pedagógicos não se moveriam um  milímetro da sua posição atual, em qualquer ranking que as classificasse pela qualidade do seu produto final.

O mais assombroso do sistema educacional vigente é que se sabe que não funciona e, no entanto, continua a prosperar e a se reproduzir ao longo do tempo com os mesmos cacoetes e mazelas. Alterações eventualmente postas são deglutidas por uma burocracia insana e preguiçosa. Para recorrer a uma imagem bíblica, não ajuntam pedras e, sim, palavras, que é bem mais fácil. 

Com a ocupação recente das universidades, e outros centros de formação, pelos rinocerontes do PT e do PC do B (há figuras mais tresloucadas ainda), o quadro que já era dramático piorou. Para essa gente, a escola pública passou a ser um lugar de doutrinação destinado a formar militantes para seus partidos (são conhecidas, por exemplo, as parcerias de universidades federais com o MST, destinadas a criar madrassas nos acampamentos deste braço armado do PT). Ler, escrever e contar seria coisa da burguesia branca de olhos azuis, dizem; aos oprimidos bastaria saber que "nóis pega os peixe" é tão correto quanto falar que a singela operação de 10 - 4 = 7 vale para qualquer magnitude que seja referida. Tudo é relativo, rosnam. Na matemática e na linguagem "popular" não haveria certo ou errado: seria tudo questão de ponto de vista, numa relativismo atroz e imbecilizante. Fundamental é a revolução e para isso cabe doutrinar desde tenra idade os denominados sem-terrinhas. Fanatismo laico em nada diferente do praticado pelos deploráveis aiatolás castradores, misóginos e homofóbicos de outras plagas.

Este sistema educacional está exaurido. Apodreceu, tal qual o sistema futebolístico (os resultados da Copa o demonstram). Tentar reformá-lo seria como salgar carne podre. Se houver uma intenção sincera de ampliar o capital educacional da população, o lugar para isso deverá ser buscado fora da institucionalidade existente. Pais que pretendam educar os filhos nas linguagens básicas da modernidade, deverão procurar apoio em soluções como as proporcionadas pelas franquias de línguas estrangeiras e de matemática. Algo similar ao oferecido pelo Kumon e a Cultura Inglesa. E deixar os maluquetes do PT e do PC do B com seus delírios gramscianos, a vegetarem dentro das escolas de todos os níveis onde eles estão aninhados. Essa gente, ao que parece e infelizmente, é irrecuperável (talvez seja uma maldição do Eterno). Dispender energia com eles só resultará naquelas mudanças feitas ao estilo de Lampedusa: mudar para que tudo permaneça como está.