quarta-feira, 23 de julho de 2014

APRENDENDO COM OS GATUNOS



O sentimento majoritário entre todas as pessoas é de repulsa àqueles que furtam ou roubam o dinheiro alheio. Mesmo os ladrões que foram roubados por outros gatunos cultivam em relação a estes uma forte rejeição. São corriqueiros os ajustes de contas entre bandidos que se sentem ludibriados por alguns de seus capangas ou parceiros de crimes. Quando a ilícita apropriação se faz em prejuízo do patrimônio público, a censura popular assume feições ainda mais duras. Corruptos, de fato, não são benquistos pelos homens de bem. Os notórios escândalos que marcaram a gestão petista no último decênio estão, certamente, na raiz da rejeição sofrida por seus candidatos nas eleições que se aproximam.

Tais deploráveis condutas dos que podem ser chamados, genericamente, de mensaleiros oferecem à sociedade, no entanto, surpreendentes benefícios potenciais. Algo parecido com o ditado popular que manda do limão fazer uma limonada ou aproveitar uma transgressão civilizatória em prol da coletividade ofendida. Em suma, identificar o mal e com ele aprender, não para sua perpetuação, mas para alcançar níveis positivos de sociabilidade.  Os criminosos do mensalão devem ser observados com lupa. Aquilo que fizeram, e que ainda é feito por muitos, exige a posse de importantes qualidades pessoais.

Primeiro, a perseverança; se não conseguem o que pretendem numa primeira tentativa, eles jamais desistem. Segundo, a solidariedade; seus companheiros agem com a maior camaradagem entre si, estando dentro ou fora das grades. Terceiro, a coragem; colocam até a vida e a liberdade em risco para obterem o que desejam. Quarto, a generosidade; o que conseguem para si, eles vendem por pouca recompensa. Quinto, a resignação; ladrões são pacientes com seus infortúnios eventuais, e, sexto, lealdade; amam sua tarefa acima de qualquer outra (tais deduções foram extraídas das sábias lições do rabino Nilton Bonder). Perseverança, fraternidade, coragem, desprendimento, tolerância a frustrações e dedicação configuram, assim, um conjunto de virtudes destiladas do próprio veneno contido no ilegal e no imoral dos comportamentos transgressores.

Ao longo da vida o trânsito se faz por estreitos caminhos, quase um fio da navalha. Há os que caem, por erro ou imprudência, e há os que saltam voluntariamente para o lado do mal, sempre à esquerda, que é o caminho da perdição, conforme se vê no Inferno de Dante.   



Nenhum comentário: