sábado, 3 de setembro de 2016

O pão com manteiga de Lewandowski


Há alguns que, parodiando velha anedota, quando não fazem na entrada, fazem na saída. Este foi o caso do ministro presidente do STF no julgamento de dona Dilma no senado, o inefável Lewandowski. A Constituição foi, mais uma vez, mutilada por aquele que tem como função precípua a sua defesa. Talvez, Lewandowski tenha recebido alguma orientação de Luiz Barroso, craque maior em tais macumbarias. Não se pode duvidar de nada. Barroso, aliás, é aquele que considera que casamento de homem com mulher pode ser, também, homem com homem e mulher com mulher. Ainda justificará a suruba, basta esperar. 

Chegará o dia em que defenderá também a legitimidade do desposar a mulinha domesticada e, quem sabe, a cabritinha ou a cachorrinha de estimação. É só questão de tempo, que o melífluo pensador se dará outra vez a conhecer. Afinal, o que importa é ser feliz e o bestialismo não é vedado pela Constituição (Vem cá pro cupim, adorável mula). Já circula pelos meios acadêmicos a tese de que animais são sujeitos de direito, e a criatividade jurídica, mesmo que produza aberrações, é ponto valorizado no STF moderninho. Rogério Magri, o proto-barroso - quem se esqueceu? - declarou, quando ministro de Collor, que "cachorro também é ser humano".

O artifício espúrio do fatiamento consistiu em querer dar, à pena cominada à presidente cassada, uma interpretação que somente a mente turva do jurisconsulto de São Bernardo do Campo seria capaz de produzir. A Constituição prescreve a cassação do mandato presidencial COM inabilitação para o exercício de funções públicas. A cassação e a inabilitação são partes indissociáveis da pena constitucionalmente definida. Mas este não foi o entendimento do ministro favorito de Lula. Fatiaram o julgamento, conforme a imprensa já divulgou fartamente.

Digamos, a título de exemplo, que sua excelência chegasse ao balcão de uma padaria e pedisse uma xícara de café COM leite e um pãozinho COM manteiga. O balconista, então, serviria uma xícara contendo somente uma dose de leite e um pequeno tablete de manteiga. 

Questionado pela evidentemente esdrúxula situação, o dono da padaria explicaria o sentido da tabela posta na parede. Ao pedido do café com leite e do pão com manteiga, a padaria poderia servir o café puro, ou o leite puro, ou os dois misturados, bem como o pãozinho seco, a barrinha de manteiga sem o pão ou, até, os dois ingredientes juntos. Tal raciocínio faz bem o modus operandi dos "novos constitucionalistas" brasileiros com seus abusivos, largos e flexíveis reordenamentos legais. A coisa está tão esquisita que nem Marco Aurélio Mello deu vida à sua loquacidade habitual. Sintoma de confusão à vista, evidentemente.

Pão COM manteiga, arroz COM feijão, homem COM mulher, goiabada COM queijo, e outros inumeráveis casos de senso comum, demonstram que gente sensata e honesta não distorce o significado óbvio das palavras. Lewandowski, porém, não resistiu aos chamados de sua natureza, igual aquela história do sapo e do escorpião. Na undécima hora deu uma borradinha fora do penico. Claro, eis aí, de volta, na sua integralidade, o nosso Lewandowski. A solução, agora, é recolher a bosta fedorenta. Em tempo, o magistrado ganhará o comovido reconhecimento dos pilantras congressuais: um gordo reajuste nos seus vencimentos, qual estilosa e fatiada propina que se paga aos prestadores de bons serviços.   

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Quem são os canalhas (Senador Ronaldo Caiado, no Senado)


Tenho a certeza que o Brasil vai tirar algumas lições deste processo de cassação de Dilma.

A primeira lição é que o presidente deve respeitar o orçamento, e não, tratá-lo como peça de ficção ignorando prerrogativas do Congresso;

Que o presidente não deve avançar no dinheiro público para fazer populismo, demagogia e políticas irresponsáveis;

Que o presidente não deve avançar no dinheiro público para realizar esse populismo bolivariano promovido por Dilma e Lula;

Tiramos a lição de que o presidente não pode enganar, iludir uma população inteira realizando o maior estelionato eleitoral já visto.

Esta é, sim, uma sessão histórica. Sim, esta é uma sessão em que vamos definir quem são os verdadeiros "canalhas" da política brasileira;

Os "canalhas" da política brasileira são aqueles que assaltaram a Petrobras. Que se enriqueceram com dinheiro público;

"Canalhas" são aqueles que tomaram o dinheiro público para ganhar eleições. Que tiraram esse dinheiro da saúde e da educação;

"Canalhas" são aqueles que levaram o Brasil a uma situação crítica de desemprego e inflação ocultando a crise e acabando com a credibilidade do país.

Este é um momento de assepsia da política brasileira. Momento de tirar todo o tecido contaminado da política nacional;

É o momento do ressurgimento da esperança do cidadão com a política do país. Do resgate da moralidade de quem quer ver o dinheiro público respeitado;


O Brasil mandou o seu recado: todo político agora tem que ter responsabilidade com aquilo que se compromete na campanha eleitoral.

As pavorosas: última oportunidade


A oportunidade de ver as pavorosas reunidas é similar à daqueles cometas que passam pela Terra de mil em mil anos. Aproveitem. Os modelitos em vermelho estão sensacionais.



Curioso, não tem nenhuma preta, nem preto. Isso é racismo, madames, racismo. As louras estão super-representadas.  

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Por que Dilma será condenada pelo tribunal da história (Mário Sabino em O Antagonista)



Dilma Rousseff está no Senado enquanto escrevo.

No seu discurso de defesa, ela afirmou que não decretou a abertura de créditos suplementares sem autorização do Congresso e negou ter contraído empréstimos proibidos junto a bancos públicos, a fim de encobrir a cratera lunar nas contas do governo. Os seus crimes de responsabilidade são golpe da oposição, dos ex-aliados traidores, das elites econômicas e, como de hábito, da imprensa.

Para tentar suscitar compaixão nos seus juízes, a petista apelou às torturas sofridas durante o regime militar (que, não esqueçamos, ela queria ver substituído por uma ditadura comunista) e ao câncer do qual se curou (como se doença fosse certificado de idoneidade).

Agora, nas respostas às perguntas dos senadores, nem mesmo petistas e afins conseguem segurar-se nas cadeiras e fingir alguma atenção às suas falas desconexas. Preferem fazer selfies com Chico Buarque, na parte da galeria reservada aos convidados. Posso imaginar, aliás, o desespero de Chico Buarque. Ouvir Dilma Rousseff é pior do que ouvir a Ópera do Malandro.

Dilma é previsível, tentou ser patética, mas carece de sintaxe e, sobretudo, pathos. Não inspira simpatia ou comiseração. Pelas expressões dos senadores, desperta apenas estupor.

Sabemos que a petista é prova de que não é necessário ter carisma para ser eleito ou para governar. Sabemos que a sua vitória nas urnas é prova de como grande parte dos brasileiros é composta por bobocas. Dilma, contudo, atesta que, assim como uma obra de arte precisa de pathos para atravessar o tempo, um político dele necessita para ser absolvido, se não no presente, pela posteridade.


Por falta de pathos, ainda que fosse inocente, ela será julgada culpada no tribunal da história, não importam os documentários ou os livros que a pintarão como vítima.

O dia D de Dilma (Arnaldo Jabor, em 30-08-2016)


Eu vos escrevo do passado. Hoje é o dia D de Dilma. Como terá sido o discurso de Dilma no Senado? Bem, fazer ‘mea culpa’, nem pensar. Eu a entendo. Ninguém sai na rua ou vai ao Senado para bater no peito e dizer: “Eu sou um(a) incompetente, eu sou responsável pela quebra do País!”. Tudo bem, mas a autocrítica era um hábito recorrente durante aquele ex-socialismo que ainda viceja nas cabeças petistas. Lembro-me da hilariante autocrítica de um alto dirigente chinês durante a Revolução Cultural: “Eu sou um cão imperialista, eu sou o verme dos arrozais!...”. 

E, como estou no domingo passado, me pergunto: como terá sido o discurso? Sem dúvida, Dilma falou com sinceridade total (não é ironia), falou de sua alma revolucionária.

O discurso de Dilma é para ela mesma. Para se convencer fundamente de que não cometeu erro algum. Vocês já viram. Eu imagino: “Começo dizendo que minha consciência está em paz. Quando entrei em 2010, o Brasil estava ameaçado por ideologias reacionárias: a social-democracia, neoliberalismo, mas eu restaurei o essencial: a luta contra o imperialismo norte-americano, contra a desnacionalização de nossas riquezas, contra essa sociedade de empresários irresponsáveis e também contra o lucro. 

Fiz o fundamental: coloquei o Estado no topo, no centro de tudo, pois de lá emana a verdade para essa sociedade de ignorantes, essa classe média reacionária, como bem acusou nossa filosofa. O Brasil é tão frágil que só um grande Estado provedor pode proteger as massas nas lutas sociais, que elas nem sabem que estão travando; mas eu sei, porque nós somos a consciência do povo. 

Sou acusada de ter dilapidado as contas do País, rompendo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Rompi, sim. Pois eu tive orgulho de usar o Estado e seu tesouro acumulado para estimular o consumo tão ansiado pelos pobres-diabos, sim, mesmo que os cofres públicos tenham ficado vazios para investir. 

Populismo? Eu chamo de catequese, conquista de adeptos para o grande futuro que virá! Gasto público é vida! Eu não podia ficar aprisionada naquela leizinha de responsabilidade neoliberal que o FHC inventou. Fiz isso, sim, porque meus fins justificavam esse meio; o fim era garantir apoio para próximas eleições do nosso PT, para ficarmos no poder desse país alienado, até a chegada do futuro socialista. 

Eu fiz tudo certo. Distribuí cargos sem fim, dei verbas gordas para seus currais, nobres senadores. Fiz isso porque sei que, às vezes, é preciso praticar o mal para atingir o bem. Será que o Maquiavel disse isso? 

Eu sabia de tudo, eu sabia que a compra da refinaria de Pasadena ia ser um rombo pavoroso, confesso, mas como conseguir dinheiro para minha reeleição sem propinas? Propinas de esquerda, é claro. Por isso, fiz vista grossa, sim, quando aquele Cerveró me entregou uma página solta, com uma piscadinha do olhinho vesgo. 

Tenho orgulho de tudo que fiz. Menti na campanha, dizendo que não ia ter comida no prato do povo, menti nos bilhões que arranquei dos bancos para esconder o déficit público. Mas foram mentiras que chamo de ‘corrupção revolucionária’. Ahh, esse meu povo, tão ignorante, desvalido. A miséria me fazia feliz. Explico: denunciar a miséria era um alívio para minha consciência. 

Desculpem a emoção (chora), mas há uma pureza doce na miséria que me comove muito (lágrimas). Mas, nós do PT, somos os sujeitos da História e, apesar de vossa injustiça contra nós, vamos construir o paraíso social. 

Meus fins uniram o País. Sim, uni vocês até mesmo contra mim, porque confundiram minha sutileza ideológica com incompetência, acharam que eu errava, sem saber que meu acerto era no futuro. Nunca errei. Não me arrependo de nada. Houve corrupção? Sim, mas adstrita a alguns elementos desonestos, que traíram nossa missão. Dizem que roubamos; não, a palavra não é essa – é apenas a ‘desapropriação’ de um tesouro comprometido com metas neoliberais... isso é que fizemos. 

É muito difícil desenvolver esse país de merda, desculpem o termo. Por isso, temos de destruir o capitalismo por dentro, já que não dá mais pé uma revolução russa. Mesmo uma avacalhação é mais revolucionária – seria uma espécie de ‘esculhambação criativa’ para arrasar administrações de direita. 

Foi isso que fez nosso líder Chávez, assassinado pelos imperialistas, que lhe injetaram câncer no corpo, e, depois que ele virou passarinho, passaram a roubar até os alimentos do povo, botando a culpa em nossos irmãos bolivarianos. 

Nosso povo também não sabe se governar. Por isso, digo, democracia clássica como? Para nós, ‘democracia’ sempre foi uma estratégia para tomada do poder. E não era hipocrisia; era dialética histórica. Tínhamos de apoiar a democracia burguesa para depois fazer o centralismo democrático, que tanto usou nosso grande irmão Stalin, injustiçado por aqueles dois fascistas Kruchev e Gorbachev. 

Eu sou inocente, pura, não tenho dinheiro na Suíça e toda minha paixão lancinante pelo povo brasileiro foi confundida com desonestidade e incompetência. As massas ainda vão sentir a minha falta, debaixo de um governo neoliberal que só pensa em contabilidade. 

Vocês hoje me baniram, mas vão se arrepender no futuro, pois o Brasil nasceu torto e nunca será consertado nem por Temer nem por ninguém. 

Arrependei-vos, fariseus do templo, pois, como disse a querida Gleisi Hoffmann: esse Senado não tem moral para me julgar. 

Estou sofrendo um golpe. Sim, não adiantam rituais, votações; repito, sim, que é golpe tramado por essas instituições de direita, como o STF, o Congresso, o Ministério Público, a OAB, a Polícia Federal. 

Estou orgulhosa de mim. Como Getúlio, saio da presidência para entrar na História. E, para terminar, cito o líder maoista João Pedro Stédile, quando disse aos camponeses: ‘Tenham filhos – eles conhecerão o socialismo!’. E eu acrescento: Seus filhos vão respeitar minha imagem no futuro. Adeus!” 

Estou no passado, amigos leitores, mas deve ter sido algo mais ou menos assim. Que acham?