sábado, 17 de julho de 2010

"Em nossa forma mais banal de ser humano"

(Publicado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, em 16-07-2010).

"O senhor Jerôme Valcke, secretário-geral da FIFA, segundo a imprensa nacional e internacional, repetiu, entre irônico, sarcástico e aborrecido, o conjunto de explicações que constantemente ouve dos brasileiros com quem conversa a respeito da Copa de 2014:
"nossos principais problemas são construir estádios, construir aeroportos, construir estradas, fazer funcionar um sistema de telecomunicações, resolver as acomodações", mas "fora isso, trabalharemos para que tudo funcione".

O presidente Lula não gostou. Na verdade, ele se ofendeu e reagiu à altura. À sua altura, evidentemente: "Terminou a Copa da África do Sul agora e começam a dizer 'cadê os aeroportos brasileiros, os estádios brasileiros, os corredores de trem, os metrôs?', como se nós fossemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e definir nossas prioridades".

Será? E quais são as nossas prioridades?

Se forem as obras para a festa de 2014, estamos realmente muito atrasados. Diria que temos um atraso de uns 5 anos. E uso como régua as obras de reforma do Palácio do Planalto! Um prédio de linhas sofisticadas, mas simples, uma casa grande, é isso que é o Palácio do Planalto. Pois bem, segundo o representante do arquiteto Oscar Niemeyer, em carta assinada e talvez até rubricada: "O que está sendo feito é de péssima qualidade. Estou perplexo diante de tanto descaso e despreparo".
Apesar do prazo estourado, da entrega da obra já ter sido adiada por três vezes, as falhas encontradas são tantas que até foi questionada a segurança da estrutura do prédio. São tantos os erros a serem corrigidos que a entrega da obra foi adiada mais uma vez e agora se fala que o presidente só voltará a trabalhar lá em agosto. Deus permita, porque francamente, se esse é o exemplo da mão de obra com que contamos para as obras que a FIFA exige, acho que essa Copa terá que ser adiada para 2041! Será que a FIFA não exagera um pouco? Quem dá a essa entidade tantos poderes?

Um economista, Stefan Szymanski, e um jornalista, Simon Kuper, escreveram um livro chamado “Soccernomics” no qual dizem o seguinte: "Os brasileiros deveriam ter em mente que, independentemente do que o governo diz, a Copa não os tornará mais ricos como um todo, embora o evento possa ser uma bela oportunidade para quem é dono de uma empresa construtora de estádios. Nós prevemos com confiança que o contribuinte brasileiro gastará mais com a Copa do que dizem as estimativas iniciais". E Simon Kuper diz mais: “Se o presidente Lula quisesse ser honesto quanto à Copa, diria: ‘Vai custar dinheiro, sobrará menos para escolas, hospitais, mas todos adoramos futebol e será um mês divertido, portanto vale a pena’. O erro é achar que a Copa fará do Brasil um país mais rico”.

Isso tudo e muito mais li no caderno Especial da Folha de São Paulo, editado em 12 de julho. É rico em informações e ainda nos lembra algo que procuramos não ver: é um jogo. Podemos perder ou ganhar. Já pensaram nisso? Eu concordo com o presidente Lula. Nós, brasileiros, não somos um bando de idiotas. Nós nos fazemos de idiotas quando isso nos interessa. Mas negligentes somos, descansados, também, e arrogantes, muito.

Agora mesmo aceitamos que o presidente enviasse ao Congresso um projeto “pioneiro”que pune os pais que maltratam fisicamente os filhos. Foi uma solenidade e tanto. Do tipo que só Brasília produz. E soube de uma coisa impressionante: sou filha adotiva do presidente do Brasil! Lula dixit: “Quem não trata bem seus filhos em casa não será um bom governante, pois não saberá lidar com os filhos "adotados eleitoralmente". Agradeço aos céus termos tido um pai como o Lula, que educou tão bem seus filhos e que foi tão bem educado ele mesmo, só assim ele pode ser o grande pai-presidente que é.
Só duas coisas me intrigaram. A primeira: o presidente nunca apanhou de sua mãe, que era contra a violência, nem de seu pai, apesar desse ser chegado a um destempero. Como então ele sabe que um "beliscão dói para cacete"? Quem foi o audacioso que teve a coragem de dar um beliscão no presidente? A segunda: na mesma ocasião, ele disse que os conservadores iam criticar o projeto antipalmada. Criticou acerbamente os pais de família brasileiros, que não têm tempo para os filhos, mas têm tempo para uma cervejinha. E encerrou com chave de platina:
“O máximo que o homem brasileiro aprendeu a fazer, na sua forma mais banal de ser humano, é ter orgulho de, quando o filho completasse 15 anos, levar ele a uma casa de prostituição para ter sua primeira experiência sexual. E o máximo, para o pai, é a filha ser virgem até o casamento”.

Não, não foi o presidente Epitácio Pessoa quem disse isso. Foi Luiz Inácio Lula da Silva, em julho de 2010. Tenho a impressão que a garotada deve ter rido muito, isso depois de se informar sobre o que é uma casa de prostituição e o que vem a ser virgindade.

Idiotas? Não. Isso, não".

terça-feira, 13 de julho de 2010

Algumas pérolas de Borges

48. Felices los valientes, los que aceptan con ánimo parejo la derrota o las palmas.

49. Felices los que guardan en la memoria palabras de Virgilio o de Cristo, porque éstas darán luz a sus días.

50. Felices los amados y los amanates y los que pueden prescindir del amor.

51. Felices los felices.

(Parte final de "Fragmentos de un evangelio apócrifo", in Elogio de la Sombra, de J. L. Borges)

Agora, um pouco de Quevedo (Musa, II, 109)

Retirado en la paz de estos desiertos,
con pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación con los difuntos
y escucho con mis ojos a los muertos.

Si no siempre entendidos, siempre abiertos,
o enmiendan o secundan mis asuntos,
y en músicos callados contrapuntos
al sueño de la vida hablan despiertos.

Las grandes almas que la muerte ausenta,
de injurias de los años vengadora,
libra, oh gran don Joseph, docta la Imprenta.

En fuga irrevocable huye la hora;
pero aquélla el mejor cálculo cuenta,
que en la lección y estudio nos mejora.

(in, Borges, J. L. Otras inquisiciones)

Mais Shakespeare - SONETO CXVI

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Soneto LXXI - Shakespeare

Quando eu morrer não chores mais por mim
Do que hás de ouvir triste sino a dobrar
Dizendo ao mundo que eu fugi enfim
Do mundo vil pra com os vermes morar.

E nem relembres, se estes versos leres,
A mão que os escreveu, pois te amo tanto
Que prefiro ver de mim te esqueceres
Do que o lembrar-me te levar ao pranto.

Se leres estas linhas, eu proclamo,
Quando eu, talvez, ao pó tenha voltado,
Nem tentes relembrar como me chamo:

Que fique o amor, como a vida, acabado.
Para que o sábio, olhando a tua dor,
Do amor não ria, depois que eu me for.

domingo, 11 de julho de 2010

Brechó político

As campanhas eleitorais costumam exibir um curioso fenômeno: em todas elas os partidos tradicionais se revestem dos mesmos surrados discursos sobre suas propostas de governo. Retiram as lorotas do fundo do armário, qual um paletó velho e fora de moda, calçam sandálias da humildade e saem pelo mundo em franciscana pregação de virtude e de apego ao “social” e ao “econômico” politicamente corretos. Coerentemente com as idéias encarquilhadas apresentam candidatos que parecem saídos de algum brechó de personalidades (alguns lembram figurantes de filmes de terror).
Não que a experiência de varões encanecidos deva ser desprezada, muito antes pelo contrário. Em momentos de crise foram homens mais que maduros que lideraram a condução de seus povos no enfrentamento de adversidades marcantes. No início da segunda grande guerra Churchill, por exemplo, prometeu aos britânicos apenas “sangue, suor e lágrimas”. Quanta diferença em relação ao que vemos no Brasil atual! Em vez de enfrentar os graves desafios postos à sociedade, as forças da mesmice se encharcam de promessas demagógicas acenando com a expectativa de casa, comida e roupa lavada para todos.

Os mineiros podem recuperar, em outubro próximo, o fio da história que os ligam aos primórdios de sua formação. A Conjuração Mineira, marco inicial, representou bem a resistência contra a opressão da Coroa portuguesa. A justa rebelião se fez ativada pelo inconformismo com a cobrança de 20% sobre as rendas dos mineradores. Tiradentes, hoje, talvez se suicidasse desesperado - antes de ser enforcado - se soubesse que nosso povo é subtraído de 40% dos seus ganhos, em favor de governantes mais preocupados com benesses e mordomias que atender ao interesse público.
Relembremos a Páscoa, festa maior da tradição judaico-cristã. Sua gênese está na rebelião dos hebreus contra a extorsão dos cobradores de impostos a soldo dos Faraós. Naqueles bíblicos tempos o povo de Deus ainda pôde fugir para a Terra Prometida. Hoje, no entanto, não há para onde ir. A resistência aos desatinos dos governos precisa começar, então, aqui e agora. Há que se favorecer a sociedade, reduzindo drasticamente o furor tributário do governo.
Imaginar que burocratas sabem, mais que as próprias pessoas, o que é melhor para elas é ignorar o fracasso das escolas públicas, a ruindade dos serviços de saúde, a precariedade do transporte coletivo, os cotidianos atentados à segurança, os graves danos ambientais etc. O cidadão paga seus impostos e pouco recebe em troca. Tem, aliás, que pagar duplamente: planos de saúde, matrícula em escolas privadas, contratação de empresas de segurança etc. A discussão de pontos como estes acima deixaria mais arejado o mundo que muitos estão a sonhar. (Publicado no jornal O Tempo, em 12/07/2010)

Lição de História: classe é classe

“Entre os anos 20 e 30, quando a gente teve a Semana de Arte Moderna, o Brasil cumeçô (SIC) a se pensar como país, depois houve a Revolução de 30, saiu da República Velha, depois, ali no final dos anos 50 e nos anos 60, teve Brasília, a bossa nova, o cinema novo, toda também uma discussão sobre os caminhos no futuro do país, , a discussão sobre a identidade. Acho que nós vivemo (SIC) um momento igual”.


(Transcrição fiel de lição de história de Dona Dilma, durante encontro com dondocas do Rio de Janeiro, em casa de Lily Marinho - viúva de Roberto Marinho, fundador da rede Globo - envergonhando os professores que teve ao longo da vida. Antes do pronunciamento mandou Jandira Feghalli, acólita do PC do B que a acompanhava no regabofe, tomar a taça de champagne que lhe fora oferecida alegando não querer ficar "gorda como um boi").

Dona Dilma é a postulante oficial a governar o Brasil. Nunca antes na história deste país houve uma candidatura mais patética; nem as de Antônio Pedreira, Marronzinho, Enéas e outros se comparam à dela. Ao menos para nos divertir, a madame poderia cantar com Jorge Veiga (Café Soçaite):

"Doutor em anedotas e em champanhotas,

estou acontecendo no café soçaite.

Só digo “a chanté”,

muito merci all right,

troquei a luz do dia pela luz da light".