quarta-feira, 14 de maio de 2008

SOBRE O NEOLIBERALISMO E A DENGUE

A epidemia de dengue que assola o Brasil mostra, hoje, em maio de 2008, uma mortalidade superior à do período de Fernando Henrique Cardoso, que se encerrou em 2002. Àquela época o bravateiro e então eterno candidato a presidente – Lula da Silva – aproveitava a infelicidade popular para imputar ao ministro da Saúde (José Serra, atual governador paulista), a culpa pela doença. Os profissionais da mentira simplesmente diziam que dengue e outras moléstias eram derivadas da “perversa política neoliberal de FHC e do FMI”. À peculiar torpeza de raciocínio que sempre marcou o lulismo e suas linhas auxiliares junta-se, agora, o cinismo dos que não querem assumir as responsabilidades pelos próprios atos e omissões. Relembre-se que, quando alguém do PT ou do PC do B (principalmente este), abria a boca, de cada três palavras proferidas, uma era o fatídico vocábulo “neoliberalismo”. Alguém, nos dias que correm, ouve qualquer referência à “política neoliberal” por parte deles? Só por curiosidade, quais são as atuais imprecações desta turma de fâmulos, tão recheadas de críticas passadas ao neoliberalismo? Como o discurso da “herança maldita” de FHC já não cola mais (apesar de eventualmente aparecer aqui e ali), o lulismo passou a cultivar o “amor aos pobres” numa incrível despolitização, cuja manifestação mais evidente é a recente aliança de Pimentel e Aécio para tentar eleger o prefeito de Belo Horizonte. De fato, Pimentel e Aécio, como se fossem mandarins iluminados, já decidiram o que é melhor para os cidadãos da capital mineira. Escolheram um obscuro empresário aposentado com cara de Chuck (o boneco assassino), para ser o próximo prefeito belorizontino. Dispensaram-nos, assim, do trabalho ou de qualquer esforço no sentido de escolher o dirigente da cidade. Eles já escolheram, tal qual o faziam os generais de outrora, no período militar, quem iria nos governar. Só nos cabe dizer: “sim, bwana! Painho mandou, nós obedecemos! Perfeitamente, meu sinhôzinho!” E da mesma forma que os generais, quanto mais medíocre e mais sem luz própria for o escolhido, melhor. Os generais escolheram, é bom não esquecer, gente como Collor e Maluf, somente para ficar em dois exemplos notórios. Não é que o povo também não tenha votado neles em outros momentos, mas sua escolha pode sofrer alterações e, além de tudo, a soberania popular é inquestionável (até quando o povo opta por Barrabás, como aconteceu em priscas eras na primeira eleição direta da história,, quando o Justo foi preterido pelo bandido).
Para fins de informação geral, é bom saber que o cerne do ideário neoliberal tão malhado em outras épocas (o famoso “Consenso de Washington”), é o ajuste fiscal macro-econômico, com o objetivo de garantir o pagamento da dívida pública que alimenta os gigantescos ganhos dos banqueiros. A forma concreta de operar este ajuste se faz com a elevação do chamado “superavit primário”. Entenda-se este superavit como uma espécie de “poupança” para pagar os juros devidos pelo governo, ou seja, a parcela dos tributos arrecadados, ou do ganho das estatais, que irá encher o bolso dos banqueiros. Para se ter uma idéia do montante deste superavit, autoridades governamentais anunciam sua elevação para o equivalente a 5% do PIB, numa sangria inimaginável dos recursos do Povo brasileiro para abarrotar os cofres da banca. Não por acaso, o apoio político que o atual governo apresenta está ancorado entre os magnatas das finanças nacionais e internacionais. Lula e seus asseclas alardeiam ter pago a dívida do governo com o FMI. Contam isto como se fosse uma grande vantagem. A verdade, no entanto, é o contrário do que dizem. A dívida com o FMI, e outros, era uma dívida de longo prazo, a juros baixíssimos de 3% a 4% ao ano. Trocaram esta dívida externa, que seria extremamente vantajosa para o País (ainda mais com a desvalorização internacional do dólar), por uma dívida interna de centenas e centenas de bilhões de reais (que já ultrapassou em muito a caso do TRILHÃO de reais), e sobre a qual se pagam juros reais de quase 10% ao ano. Os banqueiros evidentemente agradeceram a generosidade. Passaram a, simplesmente, aplicar seus capitais em títulos do governo brasileiro e, assim, ganham o dobro do que ganhavam antes com empréstimos oficiais. E a cada entrada de mais dólares, o governo é obrigado a esterilizá-los pela emissão de mais e mais títulos da dívida pública (com o objetivo de evitar a subida da inflação). A internalização da antiga dívida externa obriga o governo a ampliar, crescentemente, a carga tributária para poder dar conta das obrigações financeiras contraídas pelo Banco Central. É um gigantesco processo de extração e acumulação de capital nas mãos dos banqueiros, em aliança com a “nova classe” de ex-sindicalistas gestores de fundos de pensão e outros negócios financeiros. Não satisfeitos com os ganhos em alta escala (com os títulos do governo), este bloco de poder (financistas nacionais e internacionais mais os sindicalistas travestidos de “banqueiros anarquistas”), passaram a operar com outra modalidade de expoliação – o crédito consignado – atingindo agora pequenos mutuários, aposentados e pensionistas. Quer dizer, além do elefante que é o Estado, implementaram um vasto processo de extração de sangue de pulgas. São necessárias milhões destas para encher um copo de sangue, com certeza. É um vampirismo na mais pura acepção do termo pois suga o sangue e a vitalidade dos mais débeis e mais fracos.
Paralelamente ao ajuste fiscal, o ideário neoliberal preconiza outras medidas (que foram adotadas, aliás, desde o governo Collor), como a abertura comercial para o exterior, a privatização das empresas estatais e a implantação de “políticas compensatórias” (traduzidas em ações como as famosas bolsas-esmolas), estas para amenizar os efeitos daquelas restrições fiscais e outras. De uma certa forma, Lula conseguiu tornar real o projeto político de Collor (a aliança entre os “descamisados” e as elites), incluindo agora o vasto aparelho sindical e sua miríade de organizações não governamentais, todos vivendo parasitariamente da inesgotável cornucópia de onde jorram os recursos públicos. Um marciano que, por acaso, observasse os acontecimentos no Brasil se espantaria com a vitalidade do processo de produção capitalista. É uma façanha notável, com efeito, fazer funcionar uma estrutura produtiva com tantos gigolôs mordendo uma parte do que foi produzido, por anos e anos sem fim. A sociedade brasileira é algo digno de merecer um estudo, mais antropológico que econômico, para entender o milagre de sua sobrevivência no tempo. Como explicar uma sociedade onde uma minoria trabalha, investe e produz para alimentar um exército parasitário de reserva incalculável, composto de banqueiros, burocratas, aparelho repressivo e judiciário, bem como políticos, ONG’s, sindicatos e toda uma vasta gama de comensais improdutivos devotados a um consumo cada vez mais desbragado?
Voltando à questão inicial sobre a presente epidemia de dengue, os homens de Lula querem atribuir a responsabilidade por sua eclosão ao próprio povo brasileiro. Ou, como declarou uma autoridade sanitária a respeito- o Dr. Temporão: “A sociedade como um todo falhou, pois não avaliou a possibilidade concreta do que poderia acontecer. Todas as instâncias do Sistema Único de Saúde negligenciaram o problema”. Chega-se ao requinte de dizer que a epidemia em causa é fruto da ampliação do consumo entre os pobres. Estes estariam produzindo mais lixo e viajando mais pelo mundo afora, possibilitando com isto a ampliação das oportunidades de contaminação das pessoas. O Conselheiro Acácio diria que o mal de Alzheimer se deve ao incremento do número de velhos. Maior número de idosos implicaria em maior número de dementes senis, claro. Portanto, para impedir isto bastaria não deixar o povo envelhecer, matando-o antes.
Quer dizer, os bilhões e bilhões de reais gastos anualmente na gigantesca estrutura destinada a cuidar das doenças da população – pois da Saúde é que não cuidam – não tem nada a ver com o problema. Luis Inácio, o que nunca sabe de nada, nunca viu nada e nunca se responsabiliza por nada, parece ter introduzido na vida nacional uma nova pauta. Se a população está doente, a culpa é dela. O Ministério da Doença (este verdadeiro cartório) tem como objetivo real criar oportunidades de negócios para os amigos e associados e, não, para ficar aí se preocupando com probleminhas do cotidiano das pessoas comuns. Pois não há aqueles que vivem do negócio da morte - funerárias, crematórios, cemitérios etc.? Porém, antes da despesa final do cliente (quando ele entrega a alma ao Criador), há que se extrair algum suco deste osso, e é para isto que serve a estrutura cartorial médica. Oh! Temporão! Oh! Costumes! Temos, hoje, um ministro da doença (ele diz que é da saúde), inepto e ressentido cujo único objetivo é fazer um acerto de contas com o prefeito do Rio de Janeiro, que o demitiu anos atrás por incompetência. Em revide à justa demissão sofrida, tenta jogar nas costas da prefeitura carioca os custos de uma política de saúde da qual ele e seus amigos são os grandes culpados, os grandes responsáveis. A ausência de uma oposição de verdade impede que a população perceba o buraco em que está enfiada e o logro a que está submetida. A única força política partidária que se posiciona como oposição é o DEM, mesmo assim com severas restrições. Os tucanos, estes falsos oposicionistas sempre de salto alto, no fundo, no fundo, não passam de petistas de fraque e punhos de renda. Ou o contrário, também se pode dizer: os petistas não passam de tucanos de macacão (para tomar emprestada a célebre comparação feita por Brizola entre o PT e a UDN de triste memória). Qual a diferença, por exemplo, entre Artur Virgílio (líder do PSDB no Senado), e a pavorosa Ideli Salvati (líder do PT) na mesma Casa? Talvez o ilustre senador amazonense seja mais delicado de trato que aquela horrenda senhora. Ambos são face da mesma moeda, versões contemporâneas do médico e do monstro. Um eventual cruzamento entre eles – num deliberado incesto de irmãos de fé – produziria o ser monstruoso que o futuro aguarda – um petecano de carne e osso.

A sucessão em Belo Horizonte: a novela continua

Pimentel e Aécio insistem. Querem por que querem recriar nos trópicos antiga tradição chinesa – a do mandarinato. Isto para não dizer que sua referência está mais próxima no tempo, vale dizer, o período negro do autoritarismo militar de triste memória. Pimentel e Aécio pretendem dispensar o povo da escolha do prefeito da capital mineira, tal como o fizeram os generais de antanho. Escolheram uma espécie de poste de rua, alguém sem luz própria e sem qualquer experiência eleitoral, para ser ungido como dirigente máximo da capitania belorizontina. Pretendem fazer uma experiência política passível de ser repetida mais à frente (quem sabe com um outro poste, agora federal, uma Dilma, por exemplo?). É aquela história: se der certo em Belo Horizonte, pode dar certo no Brasil. Conceitos como cidadania, fidelidade política e partidária, respeito às minorias etc., são jogados às traças pela atuação ousada do governador e do prefeito. Tiram do bolso do colete um nome de ocasião (para substituir o verdadeiramente preferido que era Walfrido dos Mares Guia, colocado fora de combate pelas próprias estripulias com o mensalão), e esperam a renúncia dos eleitores de Belo Horizonte ao seu direito de escolher uma liderança para a cidade.
Pimentel e Aécio subestimam os eleitores. Em 1996, o candidato situacionista à sucessão do então prefeito Patrus Ananias era o petista Virgílio Guimarães. E o candidato do Palácio da Liberdade era o tucano Amilcar Martins. Nenhum dos dois saiu vitorioso. Correndo por fora, ganhou a eleição daquele ano o Dr. Célio de Castro. É verdade que o Dr. BH, posteriormente, traiu seu eleitorado ao aderir ao esquema político do PT, mas isto é outra história. Pimentel, aliás, já convenceu à companheirada incrustrada na fabulosa máquina administrativa da Prefeitura que nada vai mudar para eles, com um cabeça de chapa vinculado a outro partido que não o PT. Numa eventual vitória do seu candidato – um tal de Márcio Lacerda - eles o engolem e, depois, vão digerindo aos poucos, como faz uma sucuri preguiçosa com sua presa, repetindo o que fizeram com o Dr. Célio. Apesar do esforço em inviabilizar alternativas para os eleitores da capital, Pimentel e Aécio podem ser surpreendidos pela rebeldia e senso de autonomia que marcam os mineiros.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Escolas feias, escolas boas? (Cláudio Moura Castro)

"Ao subir as escadas da escola primária, cresceu nossa surpresa. Que mensagem os funcionários
do Ministério da Educação estavam tentando nos passar? Por que diabos escolheram uma escola
tão mal-tratada para ser visitada? O edifício é de estilo “moderno” e lembra a arquitetura dos dos anos sessenta. Mas se foi construído de forma lambona, a manutenção foi pior ainda. Melhor
dizendo, nunca ocorreu. Os corredores estão imundos, as salas de aula quase em ruinas e o escritório do diretor em mau estado. Nem os professores e nem o diretor tinham um aspecto bem cuidado ou estavam bem vestidos. A escola secundária reflete um passado mais magestoso. Tinha sido uma escola de freiras, servindo à aristocracia local. A construção é espaçosa, os tetos são altos e, realmente, o prédio oferece tudo que uma escola séria deveria ter. Exceto manutenção. O chão perdeu todos os vestígios de cera. As carteiras e cadeiras estão em um estado lamentável, quebradas, arranhadas e implorando reparos. As janelas das salas de aula há muito tempo não existem, quando chove, também chove dentro das salas de aula. Os laboratórios realmente existem, para nossa surpresa. O laboratório de física é uma coleção de instrumentos da Polônia, Checoslováquia, Hungria, Rússia e Espanha. Estão operacionais, mas não causam muito entusiasmo. A biblioteca exibe, na sua maioria, livros velhos, alguns muito velhos. Têm também uma inesperada coleção de livros de literatura clássica brasileira, mas a da Rússia é maior ainda. De livros novos, somente algumas publicações da UNESCO. No geral, as escolas não estavam particularmente limpas, estão duramente maltratadas e não vêm recebendo nenhuma manutenção há muito tempo. Estes são os últimos lugares onde podíamos esperar ver uma boa educação. Faz sentido, má manutenção anda lado a lado com má instrução.

Como uma educação séria pode acontecer nesses lugares tão desleixados? Entretanto, a dedução acima está frontalmente errada. Estas são as escola cubanas que obtiveram pontuações muito acima das outras de todos os países da América Latina, na pesquisa da OREAL/UNESCO em dez países.2 Realmente, enquanto Brasil, Argentina e Chile empataram em segundo lugar, Cuba foi o país vencedor, por uma sólida margem. Em outras palavras, gostemos ou não, a educação de Cuba é a melhor da América Latina.

As duas escolas foram selecionadas, de última hora, para a nossa visita, porque eram as mais perto de onde nós estávamos na hora do almoço. Tudo indica serem amostras representativas das escolas cubanas. De acordo com os próprios professores, nem melhores, nem piores. Como é que os cubanos conseguem ter a melhor educação latino-americana? Nossa visita indicou que não há segredos, mas a simples aplicação de bom senso e, sobretudo, muita dedicação.

A Escola Primária (1a. à 6a. série)
Mais ou menos a metade de aproximadamente um milhão de crianças com até cinco anos de idade freqüenta algum tipo de pré-escola. Trata-se de uma taxa muito alta, sob qualquer ponto de vista. Segundo os professores entrevistados, as pré-escolas enfatizam sobretudo o brincar. No
entanto, os alunos aprendem também o alfabeto. Alguns aprendem a ler, sem pressões ou a presença de um currículo para ser seguido rigidamente. A escola primária tem 5 ou 6 horas de aula todos os dias. Quando incluimos os esportes, a presença na escola chega perto das 8 horas, em ano escolar que dura aproximadamente 200 dias. Este é o segredo número um da educação cubana: muitas horas na escola. Aqui está em vigência a teoria simples de que quanto mais se estuda, mais se aprende. Ao que parece, o total de horas escolares por dia é muito maior que em qualquer outro país da América Latina.
Há 20 ou 30 alunos por turma. Este é o padrão para as escolas ocidentais (contrastado com os 40
alunos por turma da Coréia e Japão). A escola visitada perde não mais que 1% de seus alunos nos primeiros seis anos. A evasão é residual e tem a ver com a mudança dos pais para outro lugar. Reprovações e repetência de ano simplesmente não acontecem (as estatísticas nacionais mostram proporções de 1.9%, 2,8% e 1.8% para as escolas primárias, médias e secundárias, respectivamente). No final do 4o ano, há um teste que todos os alunos tem que passar. Pelo que os professores dizem, todos que apresentam resultados normais em testes de QI não tem nenhuma razão para falhar. Se o interesse dos alunos está diminuindo (ou se são preguiçosos, uma expressão que os pedagogos não gostam muito), os professores procurarão alguma coisa que lhes interessem. As aulas estão sintonizadas com as necessidades individuais dos alunos. Mas além disso, os professores alegam que há uma forte pressão social para fazer as coisas bem feitas na escola, já que isso é o orgulho nacional, uma das áreas em que Cuba tem se apresentado melhor. De fato, através de conversas aqui e acolá, dá para acreditar na força da pressão social por educação em Cuba.

Ao terminar o primário, os alunos são automaticamente matriculado na escola secundaria mais próxima. É dado por certo que todos os alunos passarão para a escola secundária. Tentamos sondar os professores e os diretores sobre as modas pedagógicas. Que tal Vigotsky, perguntamos, para ver a que grau o grande guru da América Latina havia alcançado a ilha? De fato, havia desembarcado. Mas os professores não estavam cativados ou hipnotizados por ele, no mesmo paroxismo observado no território continental. Tais modas pedagógicas não haviam eletrizado os professores com que conversamos. Entenderam Vigotsky dizer aos professores que tentem fazer os alunos descobrir o mundo, que o explorem, que tentem encontrar suas próprias soluções para os problemas. Mas não virou religião. Os professores indicaram que a “leitura fluente” é o maior objetivo nos anos iniciais. Querem assegurar que as crianças possam dominar essa habilidade que é a mais central da educação. Nada a discordar.
A Escola Média (7a. à 9a. série)
A escola média é organizada com um único formato, com todos os alunos estudando as mesmas onze matérias. Esse número excessivo de disciplinas é claramente antiquado, já que a nova tendência mundial é oferecer menos disciplinas com mais profundidade. Esta tendência parece ser levada em conta no novo programa experimental que está sendo experimentado em 280 escolas médias cubanas. Nessas escolas, Espanhol, Matemática e História recebem muito mais atenção. As disciplinas restantes se tornam “subordinadas” às três. Pelo que entendemos, irão apoiar as três principais disciplinas, por via de uma cooperação interdisciplinar. Foi muito instrutivo ver como as aulas de ciências são ministradas. Os alunos tem três horas de física por semana e boa parte desse tempo é gasto no laboratório. Os alunos fazem experiências, utilizando equipamentos modestos. Por exemplo, aprendem a Lei de Ohm conectando uma fonte de força a um amperímetro e uma lâmpada. As medidas dos alunos devem confirmar o que a fórmula matemática teria previsto.

Todos os alunos têm duas horas de informática por semana. A terrível pobreza que se manifesta no mau estado de reparação dos edifícios mostra sua cara no laboratório de informática. Há meia dúzia de computadores. Quatro são MSX, uma tentativa falida da Microsoft para criar um sistema operacional para computadores escolares ou caseiros. Seu fracasso e abandono aconteceu em meados dos anos oitenta. Os computadores que vimos são programados por gravadores de fita e usam televisores velhos como monitores. Os outros dois computadores são os primeiras modelos MS-DOS. Não há impressoras operacionais. Os alunos aprendem a trabalhar no DOS e no WordStar. Não há nenhum esforço para ensinar a usar os dez dedos no teclado. Na realidade, os rapazes acham que datilografia é uma atividade feminina. No geral, os esforços com a educação informática são plenamente frustrados pelas deficiências de hardware.
Foi curioso ver o termo “aprendizagem frontal” sendo usado. Entendo que foi E. Schiefelbein quem o fez popular. E o termo foi igualmente usado em um tom crítico. O professor de física afirmou que alternava aprendizado frontal com experimentos de laboratório. Espera-se que todos os alunos tomem parte na “educação para o trabalho”. Isso soa como uma relíquia da influência soviética, ou talvez, uma relíquia ainda mais velha dos “trabalhos manuais” da educação ocidental. Todos os alunos, homens e mulheres, cursam um ano de desenho. No ano seguinte, há um pouco de talha em madeira, usando os modelos desenhados no primeiro ano. Este curso é também para ambos os sexos. No terceiro ano, os garotos vão trabalhar com madeira e as moças para a costura. Na realidade, as escolas russas de hoje já avançaram muito mais, tendo uma variedade muito maior de atividades e menos delimitação de gênero nas opções.
O dia escolar é ainda mais longo que no primário. Os alunos chegam na escola as 7:30, almoçam entre 12:30 e 2:00, e saem da escola as 5:30 da tarde. No geral, oito horas e meia na escola, dez meses por ano. As tardes são menos acadêmicas, com esportes, visitas ou outras atividades mais leves. Os estudantes devem passar mais ou menos uma hora adicional em casa fazendo pesquisas e projetos especiais. Isto chega perto das dez horas diárias de educação, durante um longo ano escolar.

A nota média dos alunos no final do 9o ano tem um papel forte na determinação do tipo de educação secundaria que os alunos cursarão. Notas altas significam um acesso mais fácil às carreiras pré universitárias, as mais desejáveis para pais ambiciosos. Aqueles que têm notas mais baixas serão matriculados em algum dos vários cursos técnicos, uma coisa que nem todos os pais gostam, mas parece que não lhes resta muito a fazer.
Escolas como Instituições Totais

Os cubanos seguem a tradição russa de fazer das escolas instituições totais. As escolas exercem muitas funções, incluindo educação, saúde e lazer. A educação cívica recebe muita atenção. É curioso notar que o “anti-imperialismo “ é listado como um dos valores cívicos a ser desenvolvido
pelas escolas. Há um médico e uma enfermeira responsáveis pela escola. Os alunos têm a sua saúde geral checada cada semestre e, cada semana, escovam seus dentes com flúor. Também nessa época verificam se têm piolho. Altura e peso são periodicamente medidos, para assegurar que os alunos estão bem nutridos e saudáveis. As vacinações são igualmente feitas na escola. O almoço oferecido pela escola parece ser objeto de muita preocupação, para assegurar que o menu esteja nutritivamente balanceado. Usa-se muito os derivados de soja, para equilibrar o conteúdo de proteína. A escola recebe comida do governo e a prepara de acordo com um menu semanal. A presença de leite e arroz é cuidadosamente balanceada para assegurar uma nutrição apropriada. Obviamente, o almoço é grátis.

Cada ano os alunos recebem um conjunto grátis de livros que devem ser retornados no final das aulas. Os professores fazem uma estatística aproximada de quatro anos de vida útil para os livros. No principio, os livros vinham da Rússia. Atualmente, Espanha e México são os principais fornecedores. É interessante contrastar os altos gastos na compra de livros, com extremo estado de deterioração em que se encontram os prédios e equipamentos. Em outros países, a maioria das administrações escolares presta mais atenção aos edifícios que aos livros. No começo das férias, os pais são convocados para uma reunião com os professores. A presença dos pais é considerada importante para assegurar que os alunos não faltem às aulas. Qualquer estudante que falte mais que dois dias provocará uma visita sua a casa. Os professores alegam que as relações com os pais são fáceis e cooperativas. Em outras palavras, o medo comum de que os pais se choquem com as doutrinas e orientações pedagógicas é negado por esses professores e diretores. Todos os dias, os primeiros dez minutos de aula são dedicados ao hino nacional, moral e cívica, diálogos e assuntos organizacionais. Os pais são convidados a participar.
Em um claro ato de fidelidade ao modelo escolar russo, as atividades do Programa Pioneiro ainda
podem ser vistas nos quadros de aviso. Isso indica que o programa sobreviveu à saída precipitada da assistência técnica russa, depois da desintegração da União Soviética. Seguindo a mesma tradição russa, os alunos passam um mês em acampamentos, colhendo laranjas ou trabalhando nas plantações de cana de açúcar ou tabaco (a participação na colheita da cana e tabaco não funcionou, devido às exigências de destrezas não possuídas pelos alunos). Os professores alegam que os alunos amam o acampamento, de resto, mais do que eles, já que se tornam babás e mães de trinta alunos durante um mês. Igualmente remanescente da influencia soviética são os mutirões de trabalho para limpar as escolas durante as férias ou consertar os seus móveis. Tudo isso vai muito na linha dos objetivos Marxistas-Leninistas de criar um novo ser humano e de combinar o trabalho físico com o intelectual. Minha própria observação é que na
Rússia os resultados não são muito impressionantes. Como um comentário à margem, lembrei-me dos meus dias de Brasil (no início dos anos oitenta) quando estava envolvido na política da merenda escolar e testemunhei a forte oposição da esquerda à todas as tentativas de usar alimentos enriquecidos e preocupar-se com nutrição. A principal razão é que a comida enriquecida era produzida por indústrias privadas, enquanto a comida natural podia ser comprada de pequenos produtores. O abandono da “vaca mecânica”, uma máquina para a preparação do leite de soja, foi comemorado pela esquerda como uma grande vitoria. A “vaca mecânica” foi morta pelo Presidente Figueiredo que estava inaugurando uma nova instalação e provou o leite de soja. Parece que a mistura não estava ainda pronta e Figueiredo fez uma careta à frente dos jornalistas presentes e da televisão. Todavia, quando Fidel Castro visitou Brasil um pouco depois, adorou a “vaca mecânica” e quis importar algumas para Cuba, criando um certo embaraço para a esquerda. Como reconciliar o descaso pelas refeições nutritivamente balanceadas e alimentos enriquecidos quando “El Comandante” os estava elogiando? Como ficavam todas as comemorações pelo sucateamento das “vacas mecânicas”, se Fidel queria levar de volta para Cuba as que soube estar abandonadas? Os alunos ganham larga experiência no trabalho manual, mas não necessariamente o respeitam, gostam dele, ou vêm uma clara conecção com o trabalho intelectual. Será que Cuba consegue melhores resultados?
Os Professores

Todos os professores tem um diploma de educação superior, obtido após cinco anos em uma instituição especializada na preparação de professores. Este alto nível de escolaridade contrasta fortemente com a maioria dos países Latino Americanos. No regime de trabalho do professor, é de se notar também algumas diferenças notáveis com relação às escolas Latino Americanas. Os professores cubanos são contratados por 40 a 44 horas por semana e espera-se que ensinem de 16 a 20. São reservadas, portanto, 20 horas para preparar as aulas e interagir com os alunos. As salas de professores estão disponíveis para estas atividades extra-classe. Espera-se que, de fato, os professores permaneçam as 40 horas na escola. E o que é mais importante para a qualidade do ensino, boa parte da preparação das aulas e materiais pedagógicos em regime feita em colegiado. Os professores discutem e debatem seu trabalho entre si, bem como suas estratégias e seus problemas.
Tendo tanto tempo a sua disposição, os professores têm excelentes possibilidades de aumentar o seu nível de educação. De fato, é permitido que dediquem um dia por semana para o seu aperfeiçoamento profissional. Na escola secundária visitada, todos os 59 professores tinham feito cursos de pós-graduação (embora nenhum tenha terminado o mestrado). Além da possibilidade de alocar parte das 40 horas para o estudo, os cursos de pós-graduação conduzem a um adicional de salários, criando um grande incentivo para continuar os estudos. Os salários dos professores são sempre uma dimensão crítica para explicar o êxito ou fracasso das escolas. Pelos padrões internacionais, os professores cubanos recebem salários miseráveis.
Eles começam com 235 Pesos, para professores primários, e alcançam um máximo de 600 para aqueles que se tornam diretores. Convertendo em dólar, o nível mais baixo corresponde a 10 dólares por mês. Entretanto essa conversão monetária tem que ser vista com muito cuidado, já que Cuba tem uma economia monetária dupla. Os professores, como a maioria das outras pessoas, permanecem no antigo sistema de economia soviética. Pagam de um a três dólares pelo aluguel, têm educação e seguro de saúde grátis. A comida é comprada através de uma caderneta que especifica as quotas permitidas para cada alimento. Em conversas informais com cubanos, o maior problema é a comida, já as quotas são realmente parcas e não há muita variedade. Todos concordam que aqueles cubanos vivendo na economia do Peso – a maioria - têm uma vida espartana, mas têm o básico para sobreviver. De fato, são menos propensos a reclamar publicamente do que os russos ao final da era soviética. Mas inevitavelmente, o drama começa quando essa economia cruza com a economia do dólar, hoje totalmente legalizada. Um professor tem que trabalhar mais que dois dias para comprar uma Coca-Cola. Comprar um sorvete para um filho no fim de semana já é uma extravagãncia. Um almoço simples em um restaurante de turistas, ou uma corrida de taxi, custam o equivalente ao salário mensal de um professor. Como a economia do dólar fica cada vez maior, a coabitação dos dois sistemas se tornará crescentemente tensa e desconfortável, já que pessoas com menos escolaridade e menos talento recebem de vinte a trinta vezes mais que um professor ou um médico.
Mas a questão relevante aqui é que exceto para os que operam na economia do dólar, todos ganham quase o mesmo. Um engenheiro receberá mais ou menos 300 a 400 Pesos. Um médico de família recebe 430 Pesos. O que significa que os professores não estão em desvantagem, em comparação com outros profissionais, alguns até com mais diplomas. Quando adicionamos essa relativa igualdade com a importância dada á educação, é razoável pensar que a educação consegue atrair um boa parcela dos jovens talentosos que se formam nas escolas secundárias. Não é um aspecto trivial, até mesmo em países industrializados. Isto é talvez uma das mais críticas vantagens das escolas cubanas.
Outro fator crítico é que o pagamento do professor está de alguma forma relacionado com o desempenho dos seus alunos. Aqueles professores cujos alunos fracassam, obtendo notas abaixo das normas, arriscam-se a perder os seus suplementos de salário. Diretores e um comitê de professores examinam a performance dos alunos, medida nas provas (que são as mesmas para toda a escola) e concedem os complementos salariais aos professores cujos alunos se saem bem. Isto é pagamento por mérito, um dos mais persistentes desafios para qualquer sistema educacional. De uma visita rápida pode ser imprudente tirar tantas conclusões. Entretanto, há um fato claro: Cuba tem um sistema de pagamento por mérito, enquanto outros países discutem,
brigam e terminam atolados em infidáveis discussões.
Os professores das escolas primárias ficam com a mesma turma durante os quatro graus iniciais.
Nas duas séries seguintes, a turma passa para um segundo professor. Isto significa que os professores podem melhor conhecer seus alunos, podem adaptar sua instrução a cada um, e podem reagir às necessidades emocionais e intelectuais de cada um deles. Um bom professor investirá quatro anos no desenvolvimento de cada aluno, podendo, portanto, apreciar o progresso e lidar com os problemas encontrados. O lado o negativo é que um mau professor terá efeitos devastadores nos seus alunos. Mas outra vez, o lado bom é que qualquer que seja o impacto, ele está bem documentado e somente pode ser atribuído ao professor. Na mendida em que haja mais que um aluno prejudicado pelo desempenho deficiente de algum professor, isto se torna dolorosamente claro para todos. Portanto, trata-se de um sistema onde os professores realmente têm que prestar conta do seu desempenho. Não surpreende que uma alta dedicação por parte dos professores seja um dos pontos fortes do sistema cubano. A combinação da necessidade de prestar contas com o prestígio social da educação é uma fórmula poderosa. Feia mas boa! Que as escolas cubanas são boas, já sabíamos, através dos resultados dos estudos da UNESCO/OREALC.

A pergunta que restava é por que elas são boas. Uma rápida visita a duas escolas não é certamente uma credencial confiável para alguém discutir por que as escolas cubanas são boas. Mas por que não especular?
O primeiro choque foi a aparência física. As escolas são feias. Estas visitas demonstraram que escolas feias podem ser boas, talvez uma surpresa. Até aí, nada que ajude a entender. Mas claramente, estas escolas devem estar fazendo alguma coisa certo. Passemos a rever algumas das explicações mais razoáveis:
1. Quanto mais se estuda, mais se aprende. Os estudantes cubanos passam uma extraordinária quantidade de tempo na escola. Realmente, pouco tempo sobra para fazer qualquer outra coisa. Ademais, há muita pressão social para atingir esses objetivos. Educação é um componente central da sociedade cubana.
2. As escolas são capazes de individualizar a instrução para cada aluno. Os professores tem uma hora adicional na escola, para cada hora em sala de aula, podendo, portanto, dedicar-se mais aos seus alunos. Eles podem usar esse tempo um atendimento individualizado e ensinarndo a cada aluno o que quer que seja mas apropriado a cada um (com uma relação de 1 professor para cada 11 alunos em Cuba, o professor tem bastante tempo para cada aluno).

3. Os professores são bem recrutados e bem treinados. A educação tem um alto reconhecimento social e paga o mesmo que outras carreira superiores. Os professores não estão em desvantagem comparados com outros profissionais. Portanto, o recrutamento de professores pesca bons candidatos. Além disso, em uma sociedade com altos níveis de escolaridade, os professores são treinados por um longo período de tempo.
4. Prestação de contas por parte dos professores. Os alunos são avaliados e o professor tem que prestar contas do desempenho deles. O pagamento depende da competência de cada um para impedir um desempenho insuficiente dos seus alunos. Em outras palavras, como um economista diria, a estrutura de incentivos está correta. Quem se sai mal, paga seus pecados no salário do fim do mês.
5. A escola é uma instituição total. É muito central na vida dos alunos. Captura o tempo e a imaginação deles. E lida, igualmente, com todas as suas necessidades. Em contraste com essas dimensões altamente positivas, as escolas cubanas são bastante convencionais nos seus modelos de ensino. Oferecem um ensino sólido, mas não inovador. E, como mencionado, o fato das instalações serem particularmente inadequadas não parece fazerqualquer diferença, em um país onde é deplorável o estado geral de manutenção dos edifícios. Uma forte preocupação é saber se Cuba pode continuar gastando 10% do seu PIB na educação, considerando o pouco que ela parece ajudar em economia travada por razões outras.
Quais são as lições que poderiam servir para os outros países Latino-americanos?

1. Mais horas de presença na escola é certamente uma lição fácil de deduzir. As crianças latinoamericanas não passam um tempo suficiente na escola. Entretanto, manter professores tempo integral é caro, muito caro mesmo. Neste momento, seria impossível para qualquer pais latino americano praticamente dobrar o número horas contratadas com seus professores, embora quaisquer esforços para aumentar a jornada de trabalho provavelmente dariam resultados significativos.

2. Recrutando melhores professores é uma outra área onde Cuba se destaca e onde os outros países latino americanos poderiam se sair melhor. Há um número de possíveis estratégias para fazer isso. Mas nem é possível diminuir os salários de outras profissões e nem aumentar os salários dos professores para níveis que fariam a profissão muito mais atraente. Algum aumento de salário faz sentido, quando nada, eles atenua as confrontações com sindicatos e reduz as perdas de tempo de estudo devidas às greves.
3. Aperfeiçor a preparação dos professores é certamente possível e desejável. No presente momento, ninguém na América Latina parece concordar com a melhor fórmula para formar professores. Mas quase todos concordam que é importante fazer alguma coisa e que as experiências mais bem sucedidas devem ser replicadas.
4. Tornar os professores responsáveis pela performance dos seus alunos é o sonho de muitos administradores educacionais. Os cubanos parecem fazer isso bem. Mas essa é uma área politicamente eletrizada. Os sindicatos de professores tem posições ferozes contra quaisquer dessas políticas. Experimentos aqui e acolá (por exemplo, no Chile) estão começando a acontecer, mas os resultados permanecem inconclusivos.
5. O uso de mais instrução individualizada é uma alternativa atraente. As novas modas pedagógicas vão nesta direção. Mas a sua implementação certamente requer mais tempo dos professores. Em muitos casos, isto até seria possível.
6. Finalmente, há a política de valorização social da educação, aumentando a consciência pública do que acontece na escolas e envolvendo a sociedade nesse apoio. Essas são medidas que podem ser adotadas e, de resto, tem tido sucesso em outros lugares (como por exemplo, o esforço de Minas Gerais de aumentar a participação dos pais na vida da escola).
Este trabalho não precisou mostrar que a educação de Cuba é boa. Os dados empíricos da OREALC sobre o rendimento superior dos seus alunos mostram isso de forma mais eloqüente e confiável. Apenas tentei especular sobre os porquês da boa educação em Cuba. Nas minhas visitas, o que vi foi uma dose salutar de bom senso e soluções convencionais aplicadas por professores sérios que têm muito tempo para dedicar aos seus alunos e muitos incentivos para fazê-lo. E tudo que acontece na escola, se dá durante uma jornada escolar muito longa. Este trabalho é o resultado de duas visitas a escolas e conversas alguns com poucos cubanos e com estrangeiros que conhecem o país. Obviamente, não fiz uma pesquisa acadêmica séria. Meus propósitos foram mais modestos e não visam mais do que convidar aos leitores a pensar na educação latino americana e especular acerca do que podemos aprender com Cuba."