quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sibá e Freud: ambos têm razão


"Bando de vagabundos, vocês são vagabundos". 

Foi o que proclamou Sibá, o homem da floresta, dirigindo-se aos que pediam o impeachment de dona Dilma no Congresso Nacional. Não deixa de ter sua graça o diagnóstico, ainda mais provindo de um parlamentar do PT. 

O inconsciente do esquisito deputado - que, por incrível, já esteve pousado em gabinete do Senado Federal - queria dizer, de fato, ao ajuntamento de 300 picaretas que apoiam o governo:

"Bando de vagabundos, nós somos um bando de vagabundos!"

Tudo não passou de singela confissão.



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Lula não sabia nada sobre aniversário



INSTITUTO LULA – Surpreendido por um grupo de assessores que irrompeu na sua sala carregando um bolo com velas acesas e cantando parabéns-pra-você, Lula afirmou que não sabia nada sobre seu aniversário. “É hoje? Quem disse?”, perguntou, atônito. Ao ser informado que estaria completando 70 anos, o ex-presidente em exercício permaneceu incrédulo e exigiu que o STF lhe desse acesso integral à sua certidão de nascimento. “Essa contagem não tem fundamento. É golpismo”, exclamou.


Lula desviando o primeiro pedaço do bolo

Em seguida, começou a abrir os presentes que chegavam de todos os cantos do mundo. Da Odebrecht, recebeu 70 caixas de Brahma. Andrés Sanchez presenteou Lula com o primeiro número de uma edição especial de chuteiras desenvolvidas em parceria com a marca Penalty: a linha exclusiva Penalty para o Corinthians – edição de colecionador. A presidente Dilma mandou entregar um pequeno pote de vidro vedado junto com um bilhete: “Ao querido presidente Lula, ofereço vento estocado”.

No final da comemoração correram boatos de que a Polícia Federal estava preparando uma festa surpresa (Piauí).

Lula aos setenta anos

Amigos de Lula (amigos da onça, isso sim) se cotizaram para lhe dar um presente de aniversário pelos seus 70 anos. Se esqueceram somente de enfeitar a tornozeleira com o escudo do Timão. Ainda há tempo. Já a graciosa meia de renda foi escolha da Rose. Muito catita.






Alguém deveria lhe dar também "O direito à preguiça", panfleto escrito no século XIX por Paul Lafargue (mulato martinicano bon vivant, ativista profissional como se diz hoje e, além do mais, genro de Karl Marx, casado com Laura). 

Lafargue, aliás, é o patrono espiritual desse bando de vagabundos que vive de saquear o erário. O título da obra ao menos vai agradar o aniversariante, mesmo que não a leia. 

A mais sugestiva das opiniões do proto-Favre (Luis Favre - franco/argentino - é o gigolô contemporâneo que vive de parasitar mulheres ricas e mal amadas), é aquela referente ao que fazer quando se atinge os 70 anos. Existe tradução portuguesa da antiga editora Kairós.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Juiz Moro faz escola: o exemplo positivo (O Antagonista)


Dois meses atrás, a juíza Célia Regina Ody Bernardes, que autorizou a busca no escritório de Lulinhazinho - e foi elogiada por Sergio Moro -, proibiu a Procuradoria da República de adquirir passagens aéreas em classe executiva nos voos internacionais.

Ela disse:
"O ato normativo impugnado é expressão do mais arcaico patrimonialismo, da privatização dos lucros e da socialização dos prejuízos, bem como da repugnante prática da autoconcessão de privilégios por parte das castas burocráticas às custas dos cidadãos pagadores de tributos. A parte autora tem razão quando afirma que os recursos utilizados para o pagamento de tal mordomia serão providos, de fato, pela população".
Lula se danou.
Ele deu o azar de encontrar à sua frente uma juíza que combate tudo o que ele representa: o mais arcaico patrimonialismo, a privatização dos lucros, a socialização dos prejuízos e a repugnante prática da autoconcessão de privilégios por parte das castas às custas dos cidadãos pagadores de tributos.

Delírio Tropical (Fernando Gabeira)


Dilma lembrou-me, esta semana, de uma piada que li na velha revista Esquire. Alguém dizia para Nikita Kruschev na ONU: seu alfaiate deveria ser mandado para a Sibéria. No caso de Dilma não é quem faz a roupa, mas a agenda, que deveria passar um tempo na Sibéria. No auge da crise econômica, condenada por um rombo no orçamento que pode ser de R$ 50 bilhões, desemprego em alta, lojas fechando, carros oficiais sem gasolina, ela decide ir à Suécia reafirmar uma compra milionária de caças.

Compreendo que a Aeronáutica precise dos caças e que a opção pela tecnologia sueca tenha sido acertada. Sou, entretanto, de um tempo em que os presidentes analisavam o momento e, em função dele, definiam sua agendas. Qual o sentido, no auge dessa crise, de acenar, de novo, com a compra dos caças de US$ 4,5 bilhões? Não queriam provocar, creio. Talvez tenham pensado que esse gesto de Dilma, posando ao lado dos caças milionários, iria elevar o ânimo da galera no Brasil.

Montada no maior escândalo mundial, gastando US$ 10 mil com a diária, Dilma foi mais longe no seu delírio: deu a entender que tudo foi obra de um homem só, Eduardo Cunha. “Lamento que isso aconteça com um brasileiro.” “No meu governo não há corrupção.” São algumas de suas frases lapidares.

Os fatos diários mostram ex-ministros encrencados com propina (como é o caso de Edson Lobão, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann), ministros atuais investigados pelo Supremo (Edinho Silva e Aloizio Mercadante), uma Petrobras arruinada, milhões de pessoas nas ruas protestando contra a corrupção. Isso não é com ela, nem com seu governo. É raro um momento histórico em que a verdade dos fatos seja espancada com tanto vigor e cinismo.

Às vezes, a verdade sofre grandes abalos, como mostra Isaiah Berlin em seu ensaio sobre o romantismo alemão do século XVIII. Naquele momento, tratava-se da afirmação de uma verdade subjetiva, uma espécie de inversão, de dentro para fora. Berlin aponta esse momento como um dos decisivos no pensamento ocidental. Os próprios modelos humanos se deslocavam. Saía de cena, o sábio que alcança a felicidade ou a virtude pela compreensão. E entrava o herói trágico que busca realizar a si próprio, a qualquer custo, sem se importar com as consequências. Para Berlin, isso era uma virada quase tão grande como a produzida pelas ideias de Maquiavel, para quem os valores políticos não são apenas divergentes, mas podem ser contraditórios, com os valores cristãos.

O que acontece hoje, no entanto, não me parece uma versão decadente dessas teorias que abalaram o pensamento ocidental. Os franceses descrevem a cara de pau dos políticos com a expressão langue de bois. E a definem como discursos cortados da realidade com o objetivo de manipular o interlocutor. O que acontece, na verdade, me parece um pouco mais com a descrição da linguagem infantil de Jean Piaget. Ele notou que, até uma certa idade, a linguagem das crianças era egocêntrica: falavam sem se preocupar em serem entendidas, falavam para si próprias.

A visão de que a luta política é uma sucessão de narrativas — eu crio a minha, você cria a sua e vamos em frente — acaba dando margem a uma conversa infantil e egocêntrica. Não importa se o outro acredita, essa é a minha verdade. Vou continuar repetindo-a, independentemente dos fatos. Eles são secundários, pois tenho uma narrativa.

Num país onde política e delinquência andam juntas, a atmosfera não está apenas coalhada de versões, mas de álibis. Para entendê-los, valho-me da experiência de repórter policial e não da política. Nesse campo, as negativas costumam ser radicais, como o criminoso que diz que estava fora de si, o corpo desobedeceu a mente.

Paulo Maluf diz que não tem conta na Suíça, a assinatura não é sua. Eduardo Cunha diz que apenas seu advogado pode dizer se tem ou não contas na Suíça. Dilma diz que no seu governo não há corrupção, Lula que não tinha intimidade com o pecuarista José Carlos Bumlai, a quem deu acesso livre ao seu gabinete.

Na verdade, não estão falando para a sociedade, mas para a polícia. Sua linguagem pode me parecer egocêntrica, pelos padrões de uma conversa adulta. Mas é a única que conseguem falar nesse momento. Os suspeitos seguem em cena e a vida do país se degradando, na economia com o desemprego, no meio ambiente com El Niño. Mais de uma centena de cidades do Rio Grande do Sul em emergência. Seca no Sudeste e no Nordeste. Em Minas, aumentou em 77% o número de incêndios em área de preservação ambiental. Três grandes metrópoles — São Paulo, Rio e Belo Horizonte — vão ter menos água ainda. Falar de El Niño nesse universo político é arriscar o álibi uníssono; mas esse filho não é meu. Se as versões são livres, que tal esta, que o poeta Affonso Romano dizia, quando jovem pregador em Minas: “Arrependei-vos, ó raça de víboras, o juízo final está próximo”.