sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

As certezas absolutas sobre Lula (Estadão)


A tigrada petista deflagrou há alguns dias uma campanha para defender seu timoneiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre quem pairam suspeitas espantosas para um homem que assegura ser o mais honesto do Brasil. O slogan da campanha é “Lula, eu confio”, com o qual a militância pretende dizer que é capaz até de pôr a mão no fogo pelo ex-presidente. Isso é que é coragem. Afinal, não são poucas nem superficiais as evidências de que Lula anda escondendo detalhes – pois, como se diz, o diabo está nos detalhes – de suas relações com os maiores empreiteiros do Brasil.

Mas a militância pode ser irracional. E, nesse caso, não se pode esperar dela nenhuma consideração pelos fatos, caso estes contrariem suas certezas, nem pelas instituições, se estas insistirem em investigar seus líderes. Que essa turma acredite, portanto, que Lula seja vítima de injustiça, como resultado da mancomunação de “setores” do Judiciário, da Polícia Federal e da imprensa, é perfeitamente compreensível. O que não é compreensível – nem tolerável – é que a presidente da República, Dilma Rousseff, tenha despido a indumentária institucional, que exige respeito aos demais Poderes, e vestido a fantasia da militante, para dizer que Lula é “objeto de grande injustiça”.

Ora, quem Dilma julga ser para antecipar-se às investigações a respeito de Lula – e a um eventual julgamento do ex-presidente pela corte apropriada – e declarar que o líder petista está sendo injustiçado? De que informações Dilma dispõe para sugerir que o trabalho das autoridades judiciárias sobre seu padrinho já produziu “grande injustiça”, nesta etapa em que apenas indícios estão sendo colhidos e nenhuma acusação formal foi feita? Que dirá Dilma, então, se e quando Lula for formalmente acusado? Cometerá a imprudência de declarar que se trata de um processo “político”, tal como os petistas qualificaram o julgamento da quadrilha do mensalão?

Quando se elegeu presidente, Dilma jurou respeitar e fazer respeitar a Constituição, e nela está expressamente escrito que ninguém está acima da lei. Pois os petistas, Dilma à frente, parecem considerar que Lula está tão acima da lei que nem sequer deve ser investigado, seja lá por que motivo for, porque, afinal, conforme as palavras da presidente, “o país, a América Latina e o mundo precisam de uma liderança com as características do presidente Lula”.

Dilma se pronunciou dessa forma, deixando de lado a cautela que seu cargo exige, depois de ter sido cobrada por Lula, que esperava ser defendido pela sua criatura de um modo mais enfático. Ordem dada, ordem cumprida. A presidente poderia ter dito simplesmente que, assim como o resto do país, espera que tudo se esclareça no prazo mais breve possível. Essa teria sido a atitude correta. Mas Dilma preferiu o caminho da ilação irresponsável para defender seu guia.

Provavelmente por determinação de Dilma, o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, foi na mesma linha inconsequente. “Como pessoa que conhece o presidente Lula há muito tempo, eu sempre o tive como um grande líder, eu sempre o tive como uma pessoa que se comporta com absoluta lisura”, disse Cardozo, ao comentar as investigações. Assim, para o ministro sob cuja pasta atua a Polícia Federal, a “absoluta lisura” de Lula deveria descartar liminarmente qualquer suspeita a respeito do líder petista.

O barulho em torno do caso, sugeriu Cardozo, se deve apenas ao fato de que “muitos setores da oposição” estão interessados em “criar situações que atinjam a imagem de uma pessoa que foi um presidente indiscutivelmente aplaudido durante todo o período de sua gestão pelas substantivas melhoras e mudanças que empreendeu no país”. Para o ministro, portanto, Lula é na verdade vítima de forças perversas, que não se conformam com sua popularidade.

Que os militantes petistas queimem a mão por colocá-la no fogo por Lula é problema apenas deles; que Dilma e seus ministros se chamusquem para defender o ex-presidente, ignorando seu papel como funcionários a serviço do Estado, é problema de todo o país.


Lula não usa celular, usa pombo correio (Carlos Alberto Sardemberg)

Até dá para entender. Com tanto grampo e com tanta quebra de sigilo, é realmente prudente que uma pessoa muito visada evite ter um celular normal, com nome e número conhecidos por todo mundo. Sem contar o risco de ter vazada uma conversa particular, tem o problema do assédio. Mas, especulemos: se um dos donos do Sítio Santa Bárbara, de Atibaia, quiser saber se está tudo bem quando Lula estiver lá num fim de semana, como faz?

Ou ainda, se um dos advogados precisar checar uma informação urgente relativa às diversas investigações em andamento? Poderiam ligar, já que a Oi instalou uma antena de celular bem ali na entrada do sítio.

Mas não vai dar. O Instituto Lula informa que o ex-presidente não usa celular. E como essa informação foi dada quando jornais perguntaram se o ex-presidente tinha algo a dizer sobre a tal antena da Oi, deve-se entender que a negativa tem sentido amplo. Algo assim: ninguém ligado ao ex-presidente usa celular, nem ele, nem sua família, nem seus assessores, nem ninguém que esteja trabalhando para ele. Isso quer dizer que não usam também essas coisas de internet vinculadas ao celular, como WhatsApp e mesmo e-mails.

Quer se comunicar? Tem que ir pessoalmente. Vai daí, imaginem a situação da Oi ou de alguém por lá. Pois alguém da empresa deu ordens para que a operadora instalasse uma antena ao lado do sítio. Reparem: só a Oi colocou antena ali. Gastou dinheiro com isso: aluguel do terreno, compra de equipamentos, colocação da torre, salários de funcionários e vigias.

— E tudo isso pra quê, idiota(s)? Não sabia(m) que Lula não usa celular?

Poderia ter ocorrido em algum escritório da Oi, não poderia? O(s) cara(s) tentaria(m) se defender:

— Como a gente ia adivinhar?
— Você(s) não era(m) amigos dele? — insistiriam.

Tudo considerado, se a Oi quis fazer um favorzinho ao ex-presidente, gastou dinheiro por nada, tal é a história. Parece absurda?

Pois tem mais. Uma dúvida aqui: o Instituto Lula quis dizer que o ex-presidente, no sentido amplo, não usa celular só quando vai a Atibaia ou em nenhum lugar, nem no apartamento em São Bernardo, nem no escritório do instituto? Que não usa celular da Oi ou de nenhuma operadora?

Seria realmente uma situação inédita: um ex-presidente, da importância de Lula, incomunicável, de Atibaia ao mundo.

Parece ridículo, não é mesmo? E é mesmo.

Então, por que estamos falando disso? Porque revela um padrão de comportamento político que é uma combinação de falta de respeito e incompetência.

Reparem: o sítio está lá; foi reformado para a família Lula; as melhorias incluem a antena da Oi; a operadora tem sociedade com um dos filhos de Lula; tem no seu controle acionário a OAS, cujos funcionários andaram lá pelo sítio; a OAS está na Lava Jato; a antena praticamente só dá sinal para o sítio; o ex-presidente foi lá mais de cem vezes, com familiares e seguranças.

E daí?

Vem o Instituto Lula e diz que o ex-presidente não usa celular.
Como podem ter pensado e, pior, divulgado uma coisa tão falsa e tão ridícula? Capaz de ser coisa de advogado à antiga, daquele tempo que se derrubava qualquer coisa nos tribunais com qualquer filigrana, por mais ridícula que fosse. Tipo assim: Lula não usa celular, não tem aparelhos registrados em seu nome, logo não pode ser considerado beneficiário do favor da antena.

Os seguranças usam celular? Os familiares?

Não interessa, não é do ex-presidente. Só falta dizer que Lula nem sabia que o pessoal usava celular.

Encontra-se esse tipo de coisa em todas as investigações da Lava Jato ou ligadas a ela. Manobras para atrasar os processos, tentativas de desclassificar as acusações (lembram-se do mensalão? “Caixa dois não é crime”) e tentativas de excluir o acusado “que não sabia de nada, nem assinou nada”.

Em boa hora, em momento crucial, Joaquim Barbosa trouxe a teoria do domínio do fato. Aplica-se aqui de novo: Lula podia não usar o celular, mas sabia quem usava e para quê.

Estado de Sítio (Agamenon)

O Brasil é uma ilusão de ótica, uma miragem no meio de um deserto de homens, mulheres, LGBTs e ideias. Na verdade, o Brasil é uma novela da Globo disfarçada de país, onde tudo o que existe, com exceção do Projac, é de mentira. Tudo não passa de uma invenção da direita reacionária e da mídia golpista.

Mas que raciocínio complexo é este que ocupa a minha mente atormentada? Será que estou virando o Arnaldo Jabor? Será que sou homoafetivo e não sabia? E, neste caso, existe mesmo a cura gay? Vou ter que procurar o Secretário de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, o pastor Ezequiel, senão vou acabar dando a bunda.

Estes pensamentos vertiginosos assaltam a minha mente desde que passei uns dias em Atibaia, no sítio do Lula (que não é do Lula). Descobri que ao lado do terreno instalaram uma enorme torre de celular da Oi (que não é da Oi). E todo mundo sabe que o Lula não tem celular, não tem nem o dedo pra digitar um número no celular. E por que o Lula, que não tem celular, precisaria de uma torre de celular num sítio que nem é dele? Ninguém consegue explicar este mistério. Nem o Lula e nem a Agatha Christie.

Foi por isso que Luísque Inácio Lula da Silva e sua patroa, Dona Marisa Botox da Silva, não compareceram à delegacia da Barra Funda para depor. O casal matrimonial (e principalmente patrimonial) não foi para não ter que se ver cara a cara com o boneco Pixuleco (que não é ele vestido de presidiário). Sou amigo íntimo do casal Lula, por isso mesmo frequento o sítio de Atibaia (que não é deles), onde o Lula faz questão de me emprestar o seu celular particular, mesmo porque ele não tem nenhum. Quando não está lendo literatura russa, jogando xadrez ou resolvendo equações diferenciais parciais, Luísque Inácio gosta de sentar comigo para tomar uns gorós e lembrar dos velhos tempos em que ele era pobre e miserável. Hoje, graças a Deus e às “empresteiras ”, Lula só é miserável.

Outro dia mesmo lembrei quando ele foi presidente do Brasil. Lula tomou um susto, mas em seguida tomou mais um gole e reagiu: - Tá maluco, Agamenon? Eu, presidente do Brasil? Só se eu estivesse de porre...


Agamenon Mendes Pedreira também tem duas antenas de celular na testa. Quem instalou foi a Isaura, a sua patroa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Os 100 anos de Ulisses (Sebastião Nery)

Numa era de políticos pusilânimes como atualmente, incapazes de entender o espírito da época e de tomar as decisões que precisam ser tomadas, é um refrigério relembrar o episódio comandado por Ulisses Guimarães (junto com Tancredo, Saturnino Braga, Freitas Nobre e outros), em comício do velho MDB, em Salvador, no ano de 1974, quando o povo rebelado derrotou pela primeira vez os generais autoritários. O mesmo clima daquele início dos anos 70, aliás, paira sobre o Brasil agora, como a antecipar a derrota do arrogante e corrupto governo do PT. A única diferença é que naqueles anos havia oposicionistas com coragem para peitar o governismo. Os ditos líderes da oposição brasileira não passam de coelhinhos trêmulos, com medo de cair na churrasqueira de Lula da Silva. Em vez de irem para as ruas liderar a população, como faziam Ulisses e Tancredo, escondem-se à beira mar no conforto de seus apartamentos.


Ulysses GUimarães enfrentando os cães da ditadura em Salvador


O relato abaixo é do jornalista Sebastião Nery, testemunha e partícipe do evento.
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"Ninguém me contou. Eu vi. Estava lá. Às 19  de um sábado, em 1978, no “hall” do Hotel Praia-Mar, em Salvador, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Roberto Saturnino e Freitas Nobre receberam a visita de toda a direção do MDB da Bahia com a notícia nervosa:
– A Polícia Militar havia cercado a praça do Campo Grande e comunicado oficialmente ao partido que não ia permitir a reunião para lançamento das candidaturas da Oposição da Bahia ao Senado.
– Isto é ilegal – disse Ulysses. – A portaria do Ministério da Justiça proíbe concentrações em praça pública, mas não em recinto fechado. A sede do partido é inviolável.
Ulysses esfregou as mãos na testa larga, desceu pelos olhos fechados, levantou-se:
– Vou entrar de qualquer jeito. Vamos entrar. É uma arbitrariedade sem limites.

A BATALHA

Em vários automóveis, saímos todos, políticos e jornalistas, com encontro marcado em frente ao Teatro Castro Alves, do outro lado da sede do MDB, no Campo Grande. Era um campo de batalha: 500 homens de fuzil com baioneta calada, 28 caminhões-transporte, dezenas de patrulhas, lança-chamas, grossas cordas amarradas nos coqueiros em torno da praça.
Ulysses desceu do carro, olhou, meditou, comandou:
– Vamos entrar na praça e no partido! Vamos rápido, sem conversar.
Avançou. Atrás dele, Tancredo, Saturnino e a mulher, Freitas Nobre, Rômulo Almeida, Newton Macedo Campos e Hermógenes Príncipe (os três candidatos do MDB ao Senado), deputados Nei Ferreira, Henrique Cardoso, Roque Aras, Clodoaldo Campos, Aristeu Nogueira, Tarsílo Vieira de Melo, Domingos Leonelli, vereador Marcello Cordeiro, Nestor Duarte Neto, eu e outros jornalistas. Uma cerca de fuzis e os soldados empertigados. Quando nos aproximamos, um oficial gritou:
– Parem! Parem!
Ulysses levantou os braços e gritou mais alto:
– Respeitem o presidente da Oposição!

Meteu a mão no cano de um fuzil, jogou para o lado, atravessou. Tancredo meteu o braço em outro, passou. O grupo foi em frente. Três imensos cães negros saltam sobre Ulysses, Freitas Nobre dá um ponta-pé na boca de um, Rômulo Almeida defende-se de outro. Chegamos todos à porta da sede do MDB, entramos aos tombos e solavancos. Ulysses sobe à janela, ligam os alto-falantes para a praça:
– Soldados da minha Pátria! Baioneta não é voto, boca de cachorro não é urna!
E os cabelos brancos se iluminavam como coqueiros ao vento.
Era o comício que não tinha sido planejado: 14 discursos e uma passeata. Graças à coragem, decisão e valentia de Ulysses".
(Meu prefácio ao livro de Ulysses Guimarães “Rompendo o Cerco” – 1978).

Lula amarelão (O Antagonista)

Lula tem um depoimento marcado para esta quarta-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda.

Mas ele não deve comparecer.

Segundo o Valor, ele pretende alegar que o promotor Cassio Conserino "já formou convicção sobre sua culpa, conforme antecipou aos jornais, e que ele se resguardaria para falar em juízo".
O jornal acrescenta que, ao fugir do promotor, "Lula também evitaria a exposição de Marisa Letícia, a ex-primeira dama, que não é tão calejada quanto ele em embates como o que se prenuncia com o Ministério Público estadual".