sexta-feira, 15 de julho de 2016

Cunha fora, fora Dilma! (José Nêumanne)


Quando Eduardo Cunha renunciou, o PT começou a despedir-se do poder de manobra que ainda lhe restava na Câmara dos Deputados provisoriamente entregue ao bizarro vice eventual, Waldir Maranhão. Afinal, este é teleguiado pela excrescência chamada PCdoB, partido de ativistas contra o impeachment mais por chicanas advocatícias do que por votações parlamentares, pois seus causídicos são imaginosos, mas seu eleitorado é escasso, do tamanho da fidelidade às determinações de Enver Hoxha, o último tirano da Europa, que comandou de Tirana, que não se perca pelo nome, a paupérrima e cruel Albânia. Maranhão não sabe, mas em sua gestão Hoxha é Deus e Flávio Dino, seu chefinho maranhense, o profeta. Só que ele próprio teria de ser substituído em pouco tempo por um presidente de verdade, eleito pelos votos dos pares.

A renúncia e o fogo cruzado amigo e inimigo do ex-presidente da Casa abateram o fanfarrão Cara de Cunha e a eleição do chefe da Mesa daquela passou a assemelhar-se a um arrumadinho, servido nas festas juninas de Campina Grande, tantos passaram a ser os ingredientes de sua receita complexa. Ao meio-dia de quarta 13, inscreveram-se para a disputa 17 puxadores do samba-enredo da Escola de Samba Desunidos do Eu Sozinho.

Chegado de Pernambuco, onde anunciara que é candidato a presidente da República em 2018 e que Dilma voltará do ostracismo (nem tanto) do afastamento, Pai Lulinha vislumbrou uma tábua de salvação nas pretensões de Rodrigo Maia (DEM-RJ), filho do ex-brizolista e ex-prefeito do Rio César Maia, além de figura de proa de um partido desmanchado nos anos sob égide petralha. Sem coragem de lançar candidato do desfigurado PT, Lula prometeu descarregar no antigo adversário preferencial os votos da bancada, que lhe presta vassalagem, suficientes para esmigalhar o centrão, guindado ao poder na Câmara por Cunha. E agora com ele expelido.

Só que, numa demonstração de que hoje pode ser que a criatura se imponha sobre o criador, Dilma o desautorizou decidindo com o fígado, órgão de seu corpo que ainda funciona, que o venturoso aliado de última hora foi feroz defensor do impeachment dela. E, então, negou-lhe apoio. A ideia de lançar Marcelo Castro candidato dos anti-impeachment teve a mesma inteligência inspiradora dos imbecis que convenceram a “presidenta” a apoiar Arlindo Chinaglia na disputa inglória que Eduardo Cunha venceu, esmagando no primeiro turno e de uma vez só o insigne e insignificante petista e o anticandidato tucano sem força nem voto.

Depois de uma passagem pelo Ministério da Saúde em que disse torcer para que as mulheres férteis do Brasil contraíssem a zika antes de engravidar, Marcelo Castro cumpriu a sina de bobo de corte deposta. Beneficiado pelo espírito contemporizador do chefão do PMDB que assumiu o Planalto, Michel Temer, ao não expulsá-lo do partido por grave traição, como devia ter feito, o psiquiatra piauiense deixou claro que marcar uma consulta com ele não avaliza o pleno juízo de psicopata nenhum. E, com o mesmo ânimo com que só deixou a pasta do desgoverno que desabou para votar contra o impeachment, partiu encapuzado para o sacrifício como um boi magro migra para o cutelo do marchante cruento.

E lá foi Lula junto para o previsível abate com o inglório exército de Brancaleone contra o impeachment de madama. No primeiro turno Castro teve 70 votos. Somados aos 22 de Luiza Erundina (PSOL-SP) e mais os 16 de Orlando Silva (PCdoB-SP), foram 108, apenas 2 a mais do que os 106 obtidos pelo ex-cunhista Rogério Rosso (PSD-DF) para ir à disputa no turno decisivo. Rodrigo Maia, primeiro candidato que Lula tentou apoiar, teve 120 no primeiro turno. No segundo, 285, que, somados aos 120 de Rosso, tido como candidato do desfalecido cunhismo, somam 405, 38 mais do  que os 367, mais de dois terços dos 513 deputados, que garantiram a continuidade do processo contra Dilma e seu encaminhamento ao julgamento final do Senado. Esta aritmética primária mostra que a situação de Dilma no julgamento final não está melhor agora, como o patrono dela acaba de jurar em Pernambuco.

A presidência da Câmara é muito importante. O vencedor ocupa o cargo durante ausências do vice-presidente em exercício, Michel Temer, em mais uma jabuticaba azeda – essa tolice de presidente brasileiro não governar fora do território nacional, como o fazem governantes de outros países mais relevantes no panorama geopolítico. Mas a contabilidade do impeachment revela mais: a tentativa de protelar seu julgamento final no Senado para as calendas de agosto, quem sabe novembro, com todo o esforço que o inspirador do boneco Petralowski, do grupo Nas Ruas, tem feito, de nada adianta. A lição está aí. É duvidoso que Dilma, Lula e a PT a tenham compreendido. Mas os expoentes do Senado, com assento abaixo da cumbuca oposta, têm obrigação de ver, entender e imitar.

Neste 14 de julho, pois, talvez seja de bom alvitre comemorar o resultado da eleição para a presidência da Câmara. Não apenas por ter representado uma nova derrota na marcha de Lula, Dilma e do PT ao tentarem retomar o poder que não honraram quando permitiram a ocupação da máquina pública por uma organização criminosa cujos tentáculos partidários, burocráticos e políticos exauriram a República, levando-a à mais desavergonhada sordidez ética, à mais grave crise econômica e ao maior caos político da História.

Mas também e principalmente pela capacidade que os poderes republicanos tiveram de sair de uma situação de pulverização inimaginável para encontrar uma saída que preservou um mínimo de integridade institucional. Ainda há uma íngreme subida a escalar com muito peso nas costas e poucas porções de pão ázimo e água doce para galgar das profundezas de pré-sal a que chegou a Nação. Mas o sinal de rearticulação dado a partir da evidência de que a sociedade luta para manter algum pudor e pressionar os encarregados das instituições a evitarem afundar ainda mais no pântano cívico é patente. Até mesmo para um velho pessimista e cínico como este degas aqui. É animador ver uma situação que beirava a total degradação apontar não a luz no fim do túnel, mas a nesga de céu vista por quem olha do poço de muita profundidade. Deus nos acompanhe nesta subida íngreme, neste inóspito inferno a superar, e nos leve à possibilidade de reconstruir tudo do nada a rés do chão.

Agora Cunha está fora do caminho e o povo sem mandato provou que tem força para impor a vontade de mais de 120 milhões de brasileiros: Cunha fora, fora Dilma! Esta é a palavra de ordem neste veranico seco, mas fértil em lições politicas e neste dia em que a civilização comemora o 227º aniversário da Queda da Bastilha. Allons, enfants de la patrie, vamos lá, filhos da pátria.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que os candidatos devem saber agora para as eleições municipais de outubro? (Cesar Maia)

      
1. Alguns fatos alteraram as condições do processo eleitoral neste ano, especialmente no Rio.  Primeiro, o tempo de campanha foi reduzido para 45 dias. Segundo, o tempo de TV/Rádio foi reduzido para 35 dias.
       
2. Terceiro, as doações por empresas estão proibidas. Quarto, os cartazes nas ruas estão proibidos.  Quinto, os candidatos a vereadores terão apenas as inserções e não mais programas, como os prefeitos. Sexto, essas inserções dos vereadores só podem ser feitas no local onde as emissoras de TV são geradoras.
       
3. No caso das rádios, a capilaridade será muito maior, especialmente nas cidades menores do interior. Sétimo, as redes sociais ganham muito maior relevância e levam vantagem aqueles que já as usam há muito tempo.
        
4. Oitavo, levam vantagem também aqueles que são candidatos das máquinas nos governos, pois contarão com muito mais trabalhos voluntários e com custo menor de TV, Rádio e Gráfica, numa espécie de economia de escala relacionada com o passado recente.
          
5. A fiscalização do TRE/MP será muito mais intensa na medida em que a proibição de doação de empresas poderá estimular o caixa 2. As demonstrações dos candidatos devem compatibilizar sempre e com todo o detalhe os gastos eleitorais com as receitas demonstradas.
          
6. Na cidade do Rio de Janeiro a Olimpíada ocupará todos os espaços dos meios de comunicação e, com isso, a atenção dos eleitores e a mobilização pelas regiões onde ocorrerão as provas. Mesmo nas modalidades de pouca expressão no país, em pouco tempo as pessoas estarão linkadas nas disputas, especialmente na parte final.
          
7. Em função disso, duas prioridades deverão ser destacada pelos candidatos: a) campanha de proximidade com multiplicação de reuniões, mesmo com grupos pequenos de pessoas. Importante a partir dessas reuniões fazer um cadastro de e-mails, para contatos sistemáticos e sem custo.
          
8. b) As campanhas ganharão produtividade nos últimos dias. Sendo assim, tanto os recursos quanto os eventos de maior expressão devem ser guardados para os últimos 15 dias. Levam vantagem os candidatos de opinião pública local ou geral.
         
9. Os candidatos devem ter na ponta da língua suas opiniões e argumentos sobre a corrupção na política, seja para convencimento do eleitor que pode confiar neles, seja para evitar que a quantidade de Não-Voto (abstenção, brancos e nulos) seja muito grande e os atinja. Afinal, os cargos de vereadores e prefeitos terão que ser preenchidos e é bom que o sejam por quem o eleitor confia.