O anjo |
sábado, 23 de janeiro de 2016
Epifania de Lula
Momento de epifania de Lula, o devoto de Gestas; o outro santo era São Dimas. Este só roubou o Paraíso.
Dilma e a língua paralítica
O blog do Augusto Nunes (hospedado no portal da VEJA) publicava, com certa regularidade nos últimos anos, os deliciosos comentários do jornalista Celso Arnaldo a respeito do Dilmês, o idioleto exclusivo de dona Dilma, a mulher sapiens.
As descrições apresentadas ao público chocavam e divertiam ao mesmo tempo, desde as primeiras publicações. Pareciam uma rápida chuva de granizo a bater no rosto dos leitores. Incomodava, mas não feria. Dava tempo de retomar o fôlego, após cada pequeno trecho, sem maiores dificuldades.
Agora, porém, com a publicação do livro "Dilmês, o idioma da mulher sapiens" editado pela Record, o impacto sobre os leitores, mesmo aqueles que já conheciam a maior parte de suas passagens, produz um efeito similar ao de um tsunami japonês. É de perder o fôlego. Quem começa, não consegue parar de ler, até seu final. Celso Arnaldo deveria ter recomendado um método qualquer de abordagem, para o leitor não ficar atordoado frente ao espantoso volume de disparates contidos em uma só obra.
A estranhíssima forma de pensar e falar de dona Dilma faz lembrar um dos sonetos de Augusto dos Anjos. Dona Dilma, com toda justiça, é a representação viva do "mulambo da língua paralítica".
A Idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.
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Rogério, um mulatinho
Em seu depoimento junto ao juiz Moro, o lobista Fernando
Moura assim respondeu à indagação do MP, sobre quem era o gerente da Petrobrás
que encaminhou a contratação da empresa Hope no esquema do petrolão:
- Só me recordo do primeiro nome; era “Rogério... um
mulatinho”.
Afirmação tão facilmente feita, e tão assertiva, para identificar o responsável pelos contratos fraudulentos, faz lembrar personagem de
Guimarães Rosa - o ladino Sr. Lalinho - aquele que vendeu a esposa para um migrante
espanhol e depois recuperou a prenda, em picaresco episódio ligado à construção
de estrada de ferro em Minas Gerais.
O Sr. Lalinho era um mulatinho velhaco e serelepe,
inimigo de toda sorte de trabalho, porém amigo do violão e de serenatas. Se sua
história fosse vertida em linguagem de desenho animado, ele seria muito bem
descrito nas aventuras do Wood-Wood, o picapau.
“Rogério, um mulatinho”... Que coisa feia, hem rapaz? Nem
bem saiu da senzala e já está enfronhado com os maus costumes dos brancos da
Casa Grande.
Tal menção no depoimento da delação premiada constante da
Operação Lava Jato traz ao crivo da sociedade brasileira um fato curioso. Não se
veem pretos nem mulatos nos trampos que estão sendo desvendados. Só tem
brancos de olhos azuis, europeus ou seus descendentes diretos: suíços, portugueses,
espanhóis, italianos, levantinos e japoneses. Homem de cor somente o mulatinho
Rogério.
Logo, logo, o ministério de assuntos afrodescendentes vai reivindicar
a inclusão de outros mulatinhos, e mulatinhas, nas patifarias do petrolão. Há
que se democratizar a corrupção com as devidas quotas para responder às complexas questões de gênero e etnia. Talvez, isso seja uma forma perversa, mas sem perder a natureza de inclusão social. Quem não quer participar de uma boquinha assim? Locupletemo-nos todos, dizia Millôr, ou instaure-se a moralidade.
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
Ousadia sem limites ou a desventura do mafioso
“Sinceramente,
seria a ousadia das ousadias criminalizar um ex-presidente da República com
base em delações de delinquentes”.
(Wadih
Damous,
deputado federal do PT e ex-presidente da OAB do Rio de Janeiro).
Uma coisa há que se admirar no tal deputado petista. Ele não tem qualquer hesitação em sujar o nariz de marrom. É um daqueles casos clássicos de vontade de servir.
O ex-presidente da OAB/RJ certamente esperaria que denúncias fundamentadas sobre a máfia, por exemplo, viessem do papa Francisco, este sim, um santo homem, que nada sabe sobre organizações criminosas pois que a elas não frequenta. Mas ao contrário do que imagina o deputado petista, o delator que desarticulou a máfia foi Dom Tommaso Busceta, facinoroso personagem da Camorra italiana, capturado facilmente no Brasil há alguns anos. Também pudera. Com esse nome tão sugestivo, em questão de dias toda a vizinhança já dele tinha alguma notícia. Se Dom Xoxota conhecesse um pouquinho da língua portuguesa, jamais aportaria no Brasil.
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O asceta de Garanhuns (Editorial do Estadão)
“Se
tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais
honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério
Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode
ter igual, mas mais do que eu, duvido.” Lula continua achando que o brasileiro
é idiota. Reuniu ontem blogueiros amigos para um café da manhã em seu instituto
e, a pretexto de anunciar que vai participar “ativamente” do próximo pleito
municipal, aderiu pessoalmente – já o havia feito por intermédio de seu
pau-mandado Rui Falcão – à campanha promovida por prósperos advogados e seus
clientes, apavorados empresários e figurões da política, para desmoralizar a
Operação Lava Jato, que procura acabar com a impunidade de poderosos corruptos.
Lula
conseguiu escapar penalmente ileso do escândalo do mensalão e, por enquanto,
não está oficialmente envolvido nas investigações sobre o assalto generalizado
aos cofres públicos. Os dois casos juntam-se numa sequência das ações
criminosas que levaram dinheiro sujo para os cofres do PT e aliados e
“guerreiros” petistas como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares para a
cadeia.
O que
é inacreditável é que, como presidente da República e dono do PT, Lula não
tivesse conhecimento do mensalão e do petrolão que desfilavam sob seu nariz.
Assim, é notável o atrevimento – talvez mais estimulado pelo desespero do que
por sua índole de ilusionista – com que o personagem, que ficou rico na
política, se apresenta como monopolista das mais prístinas virtudes.
Só
mesmo alguém empolgado pelo som da própria voz e pelas reações da plateia amiga
cairia no ridículo de se colocar como referência máxima e insuperável em
matéria de honestidade. “Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido.”
Apesar
de inebriado com as próprias virtudes, Lula encontrou espaço para a modéstia –
infelizmente de braços dados com a mendacidade, que alguns chamam de exagero retórico
– ao se referir ao combate à corrupção. Fez questão de dar crédito a sua
sucessora, deixando no ar a pergunta sobre a razão pela qual os petistas
esperaram oito anos, até que o chefão deixasse a Presidência, para se
preocuparem com os corruptos: “O governo criou mecanismos para que nada fosse
jogado embaixo do tapete nesse país. A presidente Dilma ainda será enaltecida
pelas condições criadas para punir quem não andar na linha nesse país”. E
arrematou, falando sério: “A apuração da corrupção é um bem nesse país”.
Lula
não se conforma, no entanto, com a mania que os policiais e procuradores têm de
o perseguirem, obstinados pela absurda ideia fixa de que ele tem alguma coisa a
ver com a corrupção que anda solta por aí: “Já ouvi que delação premiada tem que
ter o nome do Lula, senão não adianta”. Ou seja, os homens da Lava Jato ou da
Zelotes não vão sossegar enquanto não obrigarem alguém a apontar o dedo para o
impoluto Lula. Mas, confiante, o chefão do PT garante que não tem o que temer:
“Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha coragem de
afirmar que eu me envolvi em algo ilícito”.
Lula
falou também sobre a fase mais financeiramente próspera de sua carreira
política, quando, depois de ter deixado o governo, na condição de ex-presidente
faturou alto com palestras aqui e no exterior patrocinadas por grandes
empresas. Explicou que é comum ex-chefes de governo serem contratados para
transmitir suas experiências ao mundo. Quanto a palestrar no exterior para
levantar a bola de empreiteiras que para isso lhe pagam regiamente, Lula tem a
explicação que só os mal-intencionados se recusam a aceitar: “As pessoas
deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os serviços do
seu país. Essa é a coisa mais normal em um país”.
De
fato, é muito louvável que um ex-presidente da República se valha de seu
prestígio para “vender” os serviços e produtos de grandes empresas brasileiras
aptas a competir no mercado internacional. Resta definir quando essa
benemerência se transforma em tráfico de influência.
“Nesse
país”, porém, qualquer um que manifeste dúvidas em relação à absoluta
integridade moral do asceta de Garanhuns é insano ou mal-intencionado.
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Lula esclarece: "não tem uma viva alma mais honesta do que eu" (Noticiário do Estadão)
Os brasileiros podem ficar como Lula: tranquilos! O novo varão de Plutarco é o sujeito mais honesto do país. A primeira e óbvia prova desse fato é a entrevista que ele deu aos blogueiros chapa-branca, aqueles que vivem pendurados nas tetas das estatais para falar bem do governo. A Lula, o honesto, só falta um pouco de coragem de se submeter ao escrutínio de uma entrevista coletiva de verdade, onde estejam representados todos os órgãos de imprensa. Covarde, porém honesto, que provem o contrário. A propósito de coragem, ele deveria fazer uso de aviões de carreira nos seus constantes deslocamentos a Brasília, em vez de se valer dos favores dos grandes empresários que lhe cedem seus jatinhos. O honesto veria a recepção que o espera nos aeroportos. Amostra do ânimo da população sofreu Lulinha outro dia em Angra dos Reis. A movimentação dessa honesta criatura indica que a Lava Jato, e o japonês da federal, já rondam à sua porta com duas tornozeleiras.
Segue abaixo, na íntegra, a reportagem do jornal Estado de São Paulo sobre as declarações de Lula, o honesto, em 20/01/2016. O leitor julgue conforme seu discernimento. Ah sim. Lula, o honesto, afirmou estar "tranquilo". Curiosidade e coincidência: toda vez que alguém acusado de alguma trapaça se declara "tranquilo", é batata; aí há Otis.
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Segue abaixo, na íntegra, a reportagem do jornal Estado de São Paulo sobre as declarações de Lula, o honesto, em 20/01/2016. O leitor julgue conforme seu discernimento. Ah sim. Lula, o honesto, afirmou estar "tranquilo". Curiosidade e coincidência: toda vez que alguém acusado de alguma trapaça se declara "tranquilo", é batata; aí há Otis.
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"Em café da manhã com
blogueiros petistas na manhã desta quarta-feira, 20, no Instituto Lula, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ‘não tem uma viva alma mais honesta’ do que ele. O petista começou a
responder perguntas a partir das 10h. Na primeira resposta, Lula falou sobre
investigação de corrupção.
“Se tem uma coisa que
eu me orgulho, neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu.
Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da
igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu
duvido”, disse.
Oficialmente, Lula
não é alvo da Operação Lava Jato, a maior investigação contra a corrupção já
realizada no País e que pegou antigos aliados seus, quadros históricos do PT,
como José Dirceu, ex-ministro chefe da Casa Civil, e João Vaccari Neto,
ex-tesoureiro do partido – ambos estão presos em Curitiba, base da missão Lava
Jato.
Lula já depôs na
Polícia Federal na condição de ‘informante’. “Não existe nenhuma ação penal
contra mim, o próprio (Sérgio) Moro (que conduz as ações da Lava Jato na 1ª
instância) disse que eu não sou investigado”, afirmou. “Em respeito ao
depoimento que eu fiz na Polícia Federal e no Ministério Público, não acho que
existe nenhuma possibilidade de ação penal, a não ser que seja uma violência
contra tudo o que existe neste País.”
Disse ainda. “Estou muito tranquilo”
O petista disse que
‘o governo criou mecanismos para que nada fosse jogado embaixo do tapete nesse
País’. Para Lula, a presidente Dilma Roussef um dia será enaltecida, pelo que
ela criou condições para permitir que ‘neste país todos saibam que têm que
andar na linha’. Segundo o ex-presidente, isto vale do ‘mais humilde ao mais
alto escalão brasileiro’.
Afirmou. “A apuração
de corrupção é um bem desse país.”
“Já ouvi que delação
premiada tem que ter o nome do Lula, senão não adianta”, declarou. “Duvido que
tenha um promotor, delegado, empresário que tenha a coragem de afirmar que eu
me envolvi em algo ilícito.”
O ex-presidente
afirmou que ‘tem uma tese que o Lula faz jogo de influência’. “As pessoas
deveriam me agradecer. O papel de qualquer presidente é vender os serviços do
seu País. Essa é a coisa mais normal em um país”, disse. “Como se o papel de um
presidente fosse ser vaca de presépio.”
Na conversa com blogueiros
petistas nesta quarta-feira, 20, o ex-presidente Lula disse que ‘sempre teve um
tratamento diferenciado’ da imprensa, desde que foi dirigente sindical. “Nunca
fui bem tratado, sempre fui tratado com certo desdém.” Lula falou sobre
processos judiciais que seus advogados têm movido contra jornalistas.
As ações
tiveram início desde que o nome do ex-presidente passou a ser citado em
reportagens sobre a Lava Jato, operação da Polícia Federal e da Procuradoria da
República que levou para a cadeia alguns de seus mais importantes aliados, como
o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu. “Eu comecei a processar.
Diferentemente do que eu pensava há algum tempo. O pessoal dizia: processar não
adianta. As pessoas diziam: você processa Veja, cai tudo na mesma Vara em
Pinheiros e não acontece nada. Não sei se é verdade, mas o pessoal diz isso.
Comecei a processar jornalistas. Quando processo jornal, o dono do jornal se
livra do processo jogando a culpa no jornalista. Então, eu falei: vou começar a
processar jornalista para ver se a gente recupera a dignidade da categoria e as
pessoas verem que quando escrevem alguma coisa prejudicando alguém aquilo tem
consequência. Contratei o Nilo Batista (advogado). Daqui prá frente vou
processar todo mundo, criminalmente, civil, sei lá. Prá ver se a gente consegue
colocar um pouco de ordem na casa.”
Lula
citou um de seus filhos, Fábio. “A desfaçatez é tamanha. Eu tenho um filho,
Fábio, o que fazem com ele é uma violência. Quando eu vejo, meu filho é dono da
Friboi, dono de todas as cabeças de gado, é dono da Casa Branca, do Kremlin, eu
fico imaginnando daqui a pouco o cara que ganhou dinheiro com o corpo do Lenin,
do Mao Tse Tung. Uma desfaçatez tamanha. A gente começou a abrir processo
agora. Eu acho que temos que processar. Vocês estão lembrados, quando eu
cheguei no governo, em 2003, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas)
apresentou um projeto para criar o conselho nacional, a OAB dos jornalistas.
Foi entregue pela Fenaj. O pessoal analisou, vamos dar entrada. Quando demos
entrada foi um cacete que nem a Fenaj defendeu. O jornalista que cobria o
Palácio do Planalto atacava o projeto. Então, eu vou atrás dessas coisas.”
O
ex-presidente afirmou que ‘tudo aquilo que seus advogados entenderem cabível de
processo vai entrar’.
“Um dia
eu ganho um. Antigamente, os jornais tinham dono, você falava com o dono. Hoje
você tem preposto, você tentava resolver alguma coisa, hoje os donos não falam
mais nada, hoje é executivo. A politização da imprensa chegou a tal ordem. Admito
que tenham um lado, que publiquem editoriais, o que quiserem. A única coisa que
não admito é mentira na informação, é mentira. Daqui prá frente vou processar.
Tem muito processo a dar com pau. Vamos cada vez mais, não tem outro jeito. Eu
não gostaria que fosse assim. Quando a gente processa eles a gente não está
sendo democrático. Na verdade, a Justiça existe para fazer reparação. Pensei
que a Dilma ia ser mais bem tratada por ser mulher. Mas é ideológica a coisa, é
uma coisa de pele. Você não tem a minha pele meu caro, então não entra no meu
clube. Te aceito do portão prá fora. As pessoas de mais baixa renda nesse país
não podem ter ascensão que incomoda as pessoas. Eu vou me defender.”
Vale do Rio Doce e os fundos de pensão
A mineradora Vale do Rio Doce não gosta do rio Doce. Tanto é assim que renegou o nome do glorioso rio para ser chamada simplesmente de VALE. Reconhecida como uma das maiores multinacionais do planeta, a empresa não pretende ser associada a tão provinciano recanto onde nasceu e se constituiu. Tal vínculo poderia implicar na consideração de eventuais responsabilidades para com toda a região do vale do rio Doce, onde moram milhares de pessoas em dezenas de municípios.
Controlada pelos principais fundos de pensão das estatais (Previ, Funcef, Petrus) em sintonia com o Bradesco (este o maior acionista individual, com 20% do capital votante, que indica o presidente da companhia), a Vale do Rio Doce é uma das joias da coroa do império empresarial sob a tutela do PT. Talvez por isso o silêncio das entidades sindicais, dos movimentos sociais, das Pastorais e outros a respeito das responsabilidades e das soluções para a crise gerada pelo espantoso acidente ambiental deflagrado em Mariana.
A companheirada está numa sinuca de bico. Os donos do negócio, e é esta a grande questão prática, ainda serão chamados à responsabilidade para pagar o custo financeiro do momentoso acidente. E quem são os donos da mineradora Vale? A resposta já foi dada acima: os fundos de pensão controlados pelo PT e seu braço sindical. Os mesmos fundos, aliás, enrolados com inúmeras trapaças do petrolão e, possivelmente, outras que ainda não vieram à luz. A Lava Jato, e a imprensa, a cada dia que passa trazem uma novidade.
O setor elétrico mostrou apenas a ponta do iceberg, com a Eletronuclear. Os fatos, essa a verdade, é que onde há empreiteiras, rodovias, geração de energia e mineração, estarão também os fundos de pensão. Conforme disse o ministro Gilmar Mendes, puxa-se uma pena e vem uma galinha, puxa-se uma galinha e vem o galinheiro inteiro.
A situação tornou-se complicada pelo fato dos rendimentos derivados das atividades econômicas da Vale servirem para o pagamento das aposentadorias e pensões dos associados à Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Petrus (Petrobrás), e outros. Anatomia institucional (e tem que ser anatomia patológica), sugere que se está frente a uma poderosa e complexa teia de interesses, que se derrama sobre outras empresas direta ou indiretamente controladas pelos múltiplos parceiros.
Basta conferir as inumeráveis Empresas de Propósito Específico - EPE - no portfólio desses gigantes. Veja-se, para ficar num só exemplo das cumplicidades, que o presidente da Vale ocupava, até recentemente, a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás. Com as bênçãos dos mandarins dos fundos de pensão, executivos profissionais saem daqui pra ali, e dali pra aqui, numa busca frenética de bem servirem a quem os nomeou.
Os acionistas, claro, querem resultados financeiros polpudos, pouco se lixando para problemas ambientais e sociais que possam surgir. É nessa lógica que se inserem os eventos de Mariana e do rio Doce. O diabo é que a conjuntura do país não se mostra favorável aos negócios ligados à infraestrutura (mineração, estradas, energia, etc.).
Os fundos de pensão controlados pelos petistas, alguns já debilitados em função das falcatruas e outras estripulias, recentes e passadas, tentarão jogar as culpas em alguma entidade estrangeira. Dificilmente conseguirão êxito. A única ajuda com a qual os fundos poderão contar está nos governos - federal e estadual - ambos do PT, ao qual estão umbilicalmente vinculados.
Os moradores e municípios que foram lesados devem ficar atentos com qualquer proposta que provenha quer do governo estadual, quer do federal. Tais governos tudo farão para proteger os fundos de pensão que seus iguais controlam. A desconfiança prévia é medida de alta sabedoria.
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
Bumbum, paticumbum (Tambor de Crioula)
Ufa, até que enfim. Agora a madame começou a salvar o Brasil. Na última terça-feira, dia 12, dona Dilma sancionou a Lei 13.248, que institui o Dia do Tambor de Crioula, a ser comemorado no dia 18 de junho em todo o país, já a partir deste ano.
Mãos dadas (Carlos Drumond de Andrade)
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
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mãos dadas.
Brasil supremo (Carlos Brickmann)
Nos
Estados Unidos, um país reconhecidamente pobre, apenas um magistrado em todo o
país tem direito a carro oficial: o presidente da Suprema Corte. O Brasil é
mais liberal. E agora, com crise e tudo, somos informados de que o Supremo
Tribunal Federal está comprando quatro automóveis Azera, da Hyundai, a R$ 155
mil cada. O STF já tem oito Azera. Cada ministro, portanto, terá seu carro
oficial Azera, e um fica na sobra ─ sabe como é, de repente um auto precisa ir
para a revisão e o ministro não vai ficar a pé, certo?
Nos
Estados Unidos, os ministros podem ter carros bem mais luxuosos que o Hyundai
Azera; se quiserem, um Rolls-Royce, um Bugatti, um Mercedes Maybach, estará à
sua disposição. Basta que o comprem com seu próprio dinheiro e ninguém tem nada
com isso.
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Cavalcantis e cavalgados
A nova classe, como disse Djilas no livro homônimo, a propósito dos regimes comunistas europeus do século passado, constituiu-se a partir do controle do Estado por parte de diferentes bandos de aventureiros, em decorrência, principalmente, dos arranjos políticos derivados da segunda grande guerra.
Djilas, no entanto, chama a atenção para uma novidade: teria havido nos países comunistas uma inversão histórica. Antes deles, as classes se constituíam e, depois, buscavam assumir o poder político, ocupando as diversas instâncias da máquina pública (atualmente, seria usado o termo aparelhamento do governo). A partir de Lenin e Stálin, o Estado se transformou numa espécie de barriga de aluguel, devotada à criação e consolidação de novas classes sociais e suas frações.
Imagem sugestiva desse fenômeno é dada por uma jovem e bela morena (ainda ficará parecida com Jandira Feghali ou outras viragos disponíveis no Congresso Nacional), numa festiva porralouquice em Brasília. A, ainda, graciosa cavalga um moreno um pouco mais moreno, enquanto rosna enfurecida, com megafone à mão, contra os neoliberais de costume. Excitante.
Cavalcanti e cavalgado |
Já o moreno um pouco mais moreno parece apertar ao seu pescoço as coxas da morena. Carne fresca e aromática sempre atraiu os morenos, mesmo que acarrete eventual escândalo posteriormente. As distâncias entre as classes, pois, devem ser mantidas sob risco de convulsão, em especial quando o macho é de nível inferior. Admite-se uma Gata Borralheira, não um gato borralheiro. A subversiva relação entre o guarda-caça e Lady Chatterley é um exemplo poético de tal interdição bem como de suas consequências se rompida.
Há que se perseverar, então, a bem da ordem social, com a clássica separação costumeira no Brasil. Aqui as classes estão divididas, na base, em duas: Cavalcantis e cavalgados. E assim la nave vá! Os cavalgados conhecem bem o seu lugar.
domingo, 17 de janeiro de 2016
Futuro (Vittorio Medioli)
A maior das crises que o Brasil
enfrenta é reflexo do vazio. Vazio de lideranças, de escrúpulos, de
honestidade, de respeito. Difícil é escolher um exemplo, alguém que possa
servir de farol, de guia, de inspiração. Algumas figuras míticas se
desintegrando como bolhas ao sol. O que oferecer ao jovem de exemplo? Mais
temos a esconder.
Antes da apresentação de um “Jornal
Nacional”, deveria ser exposto em tarja vermelha: “Vetado aos menores de 60
anos”. O que passa na tela deseduca. Coisas apenas para aposentados, que da
vida já tiveram quase tudo.
A cada dia, uma forma nova e
sofisticada de roubar, de desviar, de aniquilar um país. Falsidade e fórmulas
de envenenamento da sociedade. Pelas ondas se espalham a descrença, o
desespero, a depressão. Uma incitação à revolta. A covardia é banalizada. O
execrável se repete, exposto e esmiuçado para qualquer um ver o que havia de
feio.
Gatos do mesmo balaio, um dedurando o
outro. Quem mais e quem menos, todos dedicados a mensalão ou mensalinho, mas
sempre unidos na exploração sórdida do poder. Rouba-se das verbas da saúde, da
educação, da caixinha da igreja, nada escapa, qualquer oportunidade serve,
mesmo deixando sofrimentos e cadáveres no rastro.
Ficou exposto também o nobre e
democrático instrumento da CPI, que deveria investigar e apurar condutas
delituosas. Ele se transformou, como o resto, em forma de achaque, de
negociatas, de lavar crimes. CPI usada como ameaça de constrangimento, para
depois extorquir verbas que, de regra, saem da coisa pública.
O que se salva hoje? Difícil de dizer.
Vazio de propostas, de vontade de enfrentamento. Esperanças que se apequenam
num Brasil esvaziado. Fosse manga este país, teríamos para descrevê-lo apenas
um caroço seco e pelado. As boas cabeças saem, não têm por que ficar aqui. Não
há perspectiva, clima, seriedade, respeito às leis.
Quem vai apostar sua vida neste país?
Que futuro esperar? Perder a flor dos anos num covil de lobos?
O indivíduo aspira ao grau de cidadão,
emancipado pelas suas capacidades. Quer trabalhar, quer ter renda para
satisfazer suas necessidades, viver sua vida. Muitos jovens querem se casar,
ter sua família e um lar, uma vida tranquila.
Eu já passei por isso e tenho pena dos
jovens de hoje, também muitos deles já deteriorados pelo mal a que ficaram
expostos, matando sonhos e esperanças de juventude. Faltam líderes,
comandantes, pessoas que pensem amplo e que aspirem a uma sociedade justa.
Tenho pavor de comentaristas políticos
caçando cabelos nos ovos e banalizando o desfrute sórdido do exercício do
poder. Gostava do antigo Boris Casoy, até ser silenciado.
Arrepio e não entendo como famílias
inteiras, brindadas por patrimônios incalculáveis, se dedicam ao arriscado
assalto da coisa pública, dos remédios, da comida, sem consciência do mal que
provocam e de que deverão, um dia, dar conta a Deus.
Eu não sou pregador nem fanático
montanista. Acredito que não há felicidade nem desenvolvimento, individual e da
nação a que pertencemos, sem respeito às regras. Não tem Estado que progrediu
sem respeito a seus mandamentos. Um Estado predador é terminantemente
desautorizado pelas suas atitudes a gerir o poder.
A roda atual gira para favorecer os
escroques, incita as novas gerações a trilhar o mau caminho. Apresenta seu
pendor execrável.
Brasil: um potencial assombroso jogado
fora. Recessão em 2015 de 4% ao ano. Já o ano de 2016 iniciou pior. Nada no
horizonte a não ser impeachment e briga de uma classe política que asfixia os
entusiasmos dos mais otimistas. O consumo de energia nos primeiros 15 dias do
ano caiu 9,6%. Sinal de uma catástrofe iminente? O Estado ocupado por falanges
que usam suas prerrogativas para roubar o esforço honesto de quem trabalha.
Estado cuja função principal se reduziu a extorquir quem trabalha, lançando mão
de tudo.
O Brasil está no limite da
revolta; hoje dá medo.
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