segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Cavalcantis e cavalgados


A nova classe, como disse Djilas no livro homônimo, a propósito dos regimes comunistas europeus do século passado, constituiu-se a partir do controle do Estado por parte de diferentes bandos de aventureiros, em decorrência, principalmente, dos arranjos políticos derivados da segunda grande guerra. 

Djilas, no entanto, chama a atenção para uma novidade: teria havido nos países comunistas uma inversão histórica. Antes deles, as classes se constituíam e, depois, buscavam assumir o poder político, ocupando as diversas instâncias da máquina pública (atualmente, seria usado o termo aparelhamento do governo). A partir de Lenin e Stálin, o Estado se transformou numa espécie de barriga de aluguel, devotada à criação e consolidação de novas classes sociais e suas frações.  

Imagem sugestiva desse fenômeno é dada por uma jovem e bela morena (ainda ficará parecida com Jandira Feghali ou outras viragos disponíveis no Congresso Nacional), numa festiva porralouquice em Brasília. A, ainda, graciosa cavalga um moreno um pouco mais moreno, enquanto rosna enfurecida, com megafone à mão, contra os neoliberais de costume. Excitante.


Cavalcanti e cavalgado

Já o moreno um pouco mais moreno parece apertar ao seu pescoço as coxas da morena. Carne fresca e aromática sempre atraiu os morenos, mesmo que acarrete eventual escândalo posteriormente. As distâncias entre as classes, pois, devem ser mantidas sob risco de convulsão, em especial quando o macho é de nível inferior. Admite-se uma Gata Borralheira, não um gato borralheiro. A subversiva relação entre o guarda-caça e Lady Chatterley é um exemplo poético de tal interdição bem como de suas consequências se rompida.

Há que se perseverar, então, a bem da ordem social, com a clássica separação costumeira no Brasil. Aqui as classes estão divididas, na base, em duas: Cavalcantis e cavalgados. E assim la nave vá! Os cavalgados conhecem bem o seu lugar.

Nenhum comentário: