A maior das crises que o Brasil
enfrenta é reflexo do vazio. Vazio de lideranças, de escrúpulos, de
honestidade, de respeito. Difícil é escolher um exemplo, alguém que possa
servir de farol, de guia, de inspiração. Algumas figuras míticas se
desintegrando como bolhas ao sol. O que oferecer ao jovem de exemplo? Mais
temos a esconder.
Antes da apresentação de um “Jornal
Nacional”, deveria ser exposto em tarja vermelha: “Vetado aos menores de 60
anos”. O que passa na tela deseduca. Coisas apenas para aposentados, que da
vida já tiveram quase tudo.
A cada dia, uma forma nova e
sofisticada de roubar, de desviar, de aniquilar um país. Falsidade e fórmulas
de envenenamento da sociedade. Pelas ondas se espalham a descrença, o
desespero, a depressão. Uma incitação à revolta. A covardia é banalizada. O
execrável se repete, exposto e esmiuçado para qualquer um ver o que havia de
feio.
Gatos do mesmo balaio, um dedurando o
outro. Quem mais e quem menos, todos dedicados a mensalão ou mensalinho, mas
sempre unidos na exploração sórdida do poder. Rouba-se das verbas da saúde, da
educação, da caixinha da igreja, nada escapa, qualquer oportunidade serve,
mesmo deixando sofrimentos e cadáveres no rastro.
Ficou exposto também o nobre e
democrático instrumento da CPI, que deveria investigar e apurar condutas
delituosas. Ele se transformou, como o resto, em forma de achaque, de
negociatas, de lavar crimes. CPI usada como ameaça de constrangimento, para
depois extorquir verbas que, de regra, saem da coisa pública.
O que se salva hoje? Difícil de dizer.
Vazio de propostas, de vontade de enfrentamento. Esperanças que se apequenam
num Brasil esvaziado. Fosse manga este país, teríamos para descrevê-lo apenas
um caroço seco e pelado. As boas cabeças saem, não têm por que ficar aqui. Não
há perspectiva, clima, seriedade, respeito às leis.
Quem vai apostar sua vida neste país?
Que futuro esperar? Perder a flor dos anos num covil de lobos?
O indivíduo aspira ao grau de cidadão,
emancipado pelas suas capacidades. Quer trabalhar, quer ter renda para
satisfazer suas necessidades, viver sua vida. Muitos jovens querem se casar,
ter sua família e um lar, uma vida tranquila.
Eu já passei por isso e tenho pena dos
jovens de hoje, também muitos deles já deteriorados pelo mal a que ficaram
expostos, matando sonhos e esperanças de juventude. Faltam líderes,
comandantes, pessoas que pensem amplo e que aspirem a uma sociedade justa.
Tenho pavor de comentaristas políticos
caçando cabelos nos ovos e banalizando o desfrute sórdido do exercício do
poder. Gostava do antigo Boris Casoy, até ser silenciado.
Arrepio e não entendo como famílias
inteiras, brindadas por patrimônios incalculáveis, se dedicam ao arriscado
assalto da coisa pública, dos remédios, da comida, sem consciência do mal que
provocam e de que deverão, um dia, dar conta a Deus.
Eu não sou pregador nem fanático
montanista. Acredito que não há felicidade nem desenvolvimento, individual e da
nação a que pertencemos, sem respeito às regras. Não tem Estado que progrediu
sem respeito a seus mandamentos. Um Estado predador é terminantemente
desautorizado pelas suas atitudes a gerir o poder.
A roda atual gira para favorecer os
escroques, incita as novas gerações a trilhar o mau caminho. Apresenta seu
pendor execrável.
Brasil: um potencial assombroso jogado
fora. Recessão em 2015 de 4% ao ano. Já o ano de 2016 iniciou pior. Nada no
horizonte a não ser impeachment e briga de uma classe política que asfixia os
entusiasmos dos mais otimistas. O consumo de energia nos primeiros 15 dias do
ano caiu 9,6%. Sinal de uma catástrofe iminente? O Estado ocupado por falanges
que usam suas prerrogativas para roubar o esforço honesto de quem trabalha.
Estado cuja função principal se reduziu a extorquir quem trabalha, lançando mão
de tudo.
O Brasil está no limite da
revolta; hoje dá medo.
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