domingo, 17 de janeiro de 2016

Futuro (Vittorio Medioli)


A maior das crises que o Brasil enfrenta é reflexo do vazio. Vazio de lideranças, de escrúpulos, de honestidade, de respeito. Difícil é escolher um exemplo, alguém que possa servir de farol, de guia, de inspiração. Algumas figuras míticas se desintegrando como bolhas ao sol. O que oferecer ao jovem de exemplo? Mais temos a esconder.
 
Antes da apresentação de um “Jornal Nacional”, deveria ser exposto em tarja vermelha: “Vetado aos menores de 60 anos”. O que passa na tela deseduca. Coisas apenas para aposentados, que da vida já tiveram quase tudo.
 
A cada dia, uma forma nova e sofisticada de roubar, de desviar, de aniquilar um país. Falsidade e fórmulas de envenenamento da sociedade. Pelas ondas se espalham a descrença, o desespero, a depressão. Uma incitação à revolta. A covardia é banalizada. O execrável se repete, exposto e esmiuçado para qualquer um ver o que havia de feio.
 
Gatos do mesmo balaio, um dedurando o outro. Quem mais e quem menos, todos dedicados a mensalão ou mensalinho, mas sempre unidos na exploração sórdida do poder. Rouba-se das verbas da saúde, da educação, da caixinha da igreja, nada escapa, qualquer oportunidade serve, mesmo deixando sofrimentos e cadáveres no rastro.
 
Ficou exposto também o nobre e democrático instrumento da CPI, que deveria investigar e apurar condutas delituosas. Ele se transformou, como o resto, em forma de achaque, de negociatas, de lavar crimes. CPI usada como ameaça de constrangimento, para depois extorquir verbas que, de regra, saem da coisa pública.
 
O que se salva hoje? Difícil de dizer. Vazio de propostas, de vontade de enfrentamento. Esperanças que se apequenam num Brasil esvaziado. Fosse manga este país, teríamos para descrevê-lo apenas um caroço seco e pelado. As boas cabeças saem, não têm por que ficar aqui. Não há perspectiva, clima, seriedade, respeito às leis.
 
Quem vai apostar sua vida neste país? Que futuro esperar? Perder a flor dos anos num covil de lobos?
 
O indivíduo aspira ao grau de cidadão, emancipado pelas suas capacidades. Quer trabalhar, quer ter renda para satisfazer suas necessidades, viver sua vida. Muitos jovens querem se casar, ter sua família e um lar, uma vida tranquila.
 
Eu já passei por isso e tenho pena dos jovens de hoje, também muitos deles já deteriorados pelo mal a que ficaram expostos, matando sonhos e esperanças de juventude. Faltam líderes, comandantes, pessoas que pensem amplo e que aspirem a uma sociedade justa.
 
Tenho pavor de comentaristas políticos caçando cabelos nos ovos e banalizando o desfrute sórdido do exercício do poder. Gostava do antigo Boris Casoy, até ser silenciado.
 
Arrepio e não entendo como famílias inteiras, brindadas por patrimônios incalculáveis, se dedicam ao arriscado assalto da coisa pública, dos remédios, da comida, sem consciência do mal que provocam e de que deverão, um dia, dar conta a Deus.
 
Eu não sou pregador nem fanático montanista. Acredito que não há felicidade nem desenvolvimento, individual e da nação a que pertencemos, sem respeito às regras. Não tem Estado que progrediu sem respeito a seus mandamentos. Um Estado predador é terminantemente desautorizado pelas suas atitudes a gerir o poder.
 
A roda atual gira para favorecer os escroques, incita as novas gerações a trilhar o mau caminho. Apresenta seu pendor execrável.
 
Brasil: um potencial assombroso jogado fora. Recessão em 2015 de 4% ao ano. Já o ano de 2016 iniciou pior. Nada no horizonte a não ser impeachment e briga de uma classe política que asfixia os entusiasmos dos mais otimistas. O consumo de energia nos primeiros 15 dias do ano caiu 9,6%. Sinal de uma catástrofe iminente? O Estado ocupado por falanges que usam suas prerrogativas para roubar o esforço honesto de quem trabalha. Estado cuja função principal se reduziu a extorquir quem trabalha, lançando mão de tudo.
 
O Brasil está no limite da revolta; hoje dá medo.

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