segunda-feira, 13 de abril de 2009

A USINA DE BIODIESEL DE MONTES CLAROS-MG (2)

A usina de biodiesel recentemente inaugurada em Montes Claros-MG dificilmente construirá vínculos orgânicos com a região onde está instalada. Não há na região Norte de Minas qualquer esforço consistente por parte da Petrobrás, e de outros entes governamentais, no sentido de se produzir, em escala adequada, óleo vegetal para servir de matéria prima básica ao biodiesel. Numa concepção cujo efeito é mais de impedir que fomentar escolhas racionais, a Petrobrás e outros parceiros seus insistem na equivocada defesa do uso da mamona, do girassol e do amendoim, descartando a opção mundialmente reconhecida de uso do pinhão-manso, visto como a mais promissora oleífera para ambientes tropicais (como é o caso da vasta região do semi-árido brasileiro). Investimentos no cultivo de pinhão-manso vêm sendo feitos muito mais por alguns teimosos empreendedores que por aqueles que se dizem preocupados com a "inclusão" social. Para se ter uma idéia da dimensão da área requisitada num eventual plantio de mamona (a pior das opções porém a mais defendida pelos órgãos oficiais), para atender à demanda de uma usina com capacidade de 50 mil toneladas de biodiesel/ano, basta fazer uma singela operação aritmética tendo como base a produtividade de 500 quilos de óleo por hectares (numa estimativa extremamente otimista que suponha a produção média de 1.500 quilos de sementes de mamona por hectare a a extração de 33% de óleo das mesmas). Veja-se que a produtividade média no Brasil é da ordem de 600 quilos de sementes de mamona por hectare, portanto, supor um volume de 1.500 quilos é de um otimismo quase que panglossiano. Ora, na ufanista hipótese de 500 quilos de óleo de mamona por hectare seriam necessários, pois, 100.000 (cem mil) hectares plantados de mamoneira para atender à demanda da nova usina. Onde estariam, então, estas extensas plantações no norte de Minas? Pequenos produtores agrupados pelo chamado MST e similares têm áreas devotadas ao cultivo da mamona de dimensões risíveis, quase que plantios de quintal. Produtores médios e grandes que são quem poderiam investir e ampliar a produção não o fazem, nem farão, em vista da baixa rentabilidade econômica do negócio. A ricinocultura é uma atividade só suportada por pobres sem opção. Não por acaso os maiores produtores do mundo são a Índia e a China e, entre nós, o nordeste brasileiro, notadamente a Bahia. Os riscos para cultivadores, e para outros trabalhadores que manipulam os resíduos da mamoneira, são cuidadosamente escamoteados. Os perigos maiores não estão vinculados à ricina (um dos mais poderosos venenos existentes), nem à ricinina (alcalóide também presente na mamoneira), mas ao alérgeno (do complexo CB1-A), que se dissemina pelo meio ambiente alcançando, inclusive, aqueles que nada têm a ver com a manipulação do produto. Se os órgãos ambientais encarregados de zelar pelo interesse público exigirem análise de impacto ambiental para produtores e processadores de mamona, provavelmente haverá uma inviabilização da atividade, em vista das medidas que deverão ser exigidas para atenuar, mitigar ou eliminar os efeitos negativos do alérgeno. A propaganda oficial, no entanto, passa ao largo dessa e de outras questões e, o que é pior, abafa-se quaisquer questionamentos nesta direção.