sexta-feira, 27 de março de 2009

BEM VINDO MINISTRO!

José Dirceu é uma personalidade pública conhecida por quase todo o país. Foi cassado por corrupção perdendo o mandato de deputado federal por São Paulo. Não, não foram os pérfidos generais golpistas de 1964 que fizeram isto. Foram os seus não confiáveis companheiros da base parlamentar de Lula os responsáveis por tal ato. Os mesmos a quem ele tanto serviu como “capitão” do time que governava, e ainda governa, o país. Forjado na oposição durante décadas, Zé Dirceu (como é mais comumente conhecido), experimentou por pouco tempo as delícias do “puder”, enquanto foi Ministro da Casa Civil de Lula.

Enquanto foi a eminência parda do governo, Zé Dirceu conseguiu difundir a tese de que o presidente recém eleito havia recebido de Fernando Henrique Cardoso uma “herança maldita”. Além de demonizar os antecessores, tal consideração servia magnificamente para justificar todas as fragilidades políticas e administrativas da horda que assumiu o controle do Estado. Se o governo era incompetente (exceto na distribuição de palavras e de algumas espórtulas), a culpa era da tal herança. “Nós não temos nada com isto”, dizia Lula, “nós recebemos o Brasil todo arrebentado”. Além de Fernando Henrique, todos que tiveram alguma responsabilidade na nossa já longa história, a começar por Pedro Álvares Cabral, receberam a parte que lhes coube pelo que o Brasil é na atualidade. A herança maldita foi um grande achado ideológico a encobrir, inclusive, as trapaças velhas e novas dos governantes pós 2003.

Mas, agora, oh! Alvíssaras! Zé Dirceu retoma, no maquiavélico estilo que o caracteriza, o exercício do que sabe fazer tão bem: oposição! Mas oposição de verdade e não essas manifestações mofinas de tucanos e demos. Talvez enfastiado com a lengalenga dos que deveriam enfrentar o sistema de poder dominante, o ex-deputado afia suas armas para o combate que seu faro percebe irá ocorrer brevemente. Zé Dirceu viu que Lula irá deixar para seu sucessor, aí sim, uma gigantesca e verdadeira herança maldita. A natureza deste espólio é dissecada pelo ex-ministro a partir de uma análise das contas nacionais: “em 1993 – denuncia ele - enviamos US$ 2 bilhões e, em 2002, US$ 5 bilhões”. Agora, em 2008, “estamos remetendo para o exterior US$ 33,8 bilhões em lucros e dividendos”. Se forem computados os valores referentes a juros de empréstimos, royalties, serviços, aluguéis de equipamentos, turismo e fretes, o montante enviado chega a U$57,2 bilhões, “bem mais que o dobro do nosso saldo na balança comercial, de U$24,7 bilhões”. Obrigado, ministro Zé Dirceu, pela sua lucidez. Bem vindo à seara da oposição. Sua contribuição será notável para o futuro do Brasil.

OLHOS AZUIS

Olhos azúis... desta forma era também conhecido Frank Sinatra. Esta expressão, dita assim de maneira afetuosa, remetia às inesquecíveis canções do vasto repertório deste artista que nos encantaram, e encantam, até hoje. Olhos azuis... Olhos azuis trazem imediatamente à memória "New York, New York" e "As time goes by" entre outras. Para os amantes da música a referência a "Olhos azuis" estará sempre associada a esta estranha felicidade propiciada e eternizada por Sinatra.

Mas eis que entra em campo um bronco raivoso e propõe outros significados para a velha expressão. Numa entrevista coletiva à imprensa, Luiz Inácio - o mameluco impenitente -resolveu que "olhos azuis", doravante, são sinônimos da maldade. Na sua tosca concepção de mundo, dividido por ele entre brancos e pretos, pobres e ricos, bons e maus, incluídos e excluídos, trabalhadores e capitalistas e outras formas igualmente maniqueístas, a crise pela qual passa o Brasil é de responsabilidade de "homens brancos de olhos azuis". Instado a explicar o sentido da frase ele alega que não conhece nenhum "banqueiro negro nem índio". Livrou, desta maneira, os banqueiros amarelos (e eles são muitos), numa incrível demonstração de facciosismo racial. Judeus, também, se viram protegidos pelo troglodita pois que - semitas - em boa parte têm traços amorenados (como diria Brizola).

Os banqueiros, no entanto, sabem que esta fala torpe é apenas para uso propagandístico. Não é para ser levada a sério como, aliás, tudo que o autor dela faz. A história de vida de Luiz Inácio é recheada de torpezas até piores. Meras bravatas que, cumpre assinalar, destinam-se a criar inimigos imaginários em quem colocar a culpa pelas dificuldades e pela crise que vai nos avassalando. Os banqueiros sabem que Luiz Inácio é bom amigo. Amigo do peito, amigo leal... eles sabem disto. Basta ver as babilônicas quantias que são depositadas - a título de juros - todos os anos nas arcas dos agiotas nacionais e internacionais pelo desgoverno de Luiz Inácio. Estima-se um valor que já chegue a um trilhão de reais durante o atual mandato presidencial. Ora, quem dá tão boa vida aos banqueiros é amigo ou inimigo deles?

As alucinadas considerações lulescas apenas sugerem o nível em que serão disputadas as próximas eleições de 2010. Esta gente tudo fará para se manter no controle, não das boquinhas, mas, das bocarras que proliferam na máquina pública e privada (não se deve esquecer das bocadas cujo controle está com os fundos de pensão, modelando lucrativa parceria dos "trabalhadores" petistas com banqueiros e outros capitalistas nacionais e internacionais). Luiz Inácio e seus amigos serão capazes de vender a própria mãe. Vender outros também vendem, alguém pode dizer. Porém, eles venderão e entregarão a mercadoria. Não possuem qualquer limite para o que falam e o que fazem. Estão aí, à vista de todos, as provas necessárias.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O IMAGINÁRIO E O OCULTO - José de Souza Martins

(Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, de 22-03-2009)

José de Souza Martins é um dos maiores sociólogos brasileiros. É professor titular da Faculdade de Filosofia da USP.

“A proximidade de eleições presidenciais, ao longo da nossa história republicana, tem muitas vezes se anunciado pela mobilização silenciosa e interior de um imaginário que decide antes de as decisões propriamente políticas serem tomadas. Antes mesmo da existência de candidatos oficiais, o que afeta a pauta das interpretações e decisões do eleitorado. E afeta, muitas vezes, até mesmo o modo como o desenrolar do governo é, depois, examinado e avaliado pelos eleitores. Uma imensa condescendência em relação a governos como o de Getúlio, de JK e de Lula representa a eficácia de um imaginário cúmplice que anestesia a consciência política do povo e abre créditos ilimitados de governança aos eleitos. Algumas vezes, essa aura extraeleitoral decorrer de rupturas na rotina do poder, como na proclamação da República, na Revolução de 1930 e na eleição indireta de Tancredo Neves. Collor foi impedido porque já estava condenado de antemão, eleito pelo anômalo voto dos que eram contra Lula e o PT e não necessariamente a favor dele.

É como se o povo que vota tivesse um oculto estoque de sentimentos de fundo propriamente político, um silencioso imaginário regulador do comportamento, a que recorre à medida que o processo eleitoral se aproxima ou o mandato começa a ser cumprido. Deposto pelo Exército em 1945, no mesmo dia Getúlio Vargas já estava reeleito por esse difuso sentimento popular para voltar ao poder em 1951.

Os que queriam o retorno da democracia, em 1985, foram derrotados no Congresso Nacional na recusa das eleições diretas para a Presidência, mas, sentimentalmente, já haviam eleito Tancredo Neves, tanto na campanha das diretas como no que se viu nos sentimentos expressos em seu funeral. Um morto governou o governo de Sarney.

A República foi proclamada pelo Exército menos contra a monarquia do que contra o republicanismo civil do Partido Republicano fundado em São Paulo, em 1873. Em grande parte com base no sentimento generalizado de que o Imperador estava no fim e governara em boa parte apoiado no seu carisma pessoa. Não só o do herdeiro da monarquia, mas também o do menino duplamente órfão, deixado pelo pai aos cuidados da nação, que a serviço dela crescera e envelhecera.

A deposição e a morte do Imperador foi para muitos a morte do antigo regime. O tumultuado acolhimento da República, que nascia como ditadura, se deu apoiado no difuso sentimento de que a modernização política, e os passos na direção da igualdade que ela anunciava, representava um avanço da civilização. O jornal A Província de S. Paulo mudou de nome para O Estado de São Paulo e anunciou em destaque o novo regime como episódio brasileiro da Revolução Francesa. Isso também estava na cabeça dos militares do Exército. Pouco depois, na Guerra de Canudos, chamavam-se entre si de cidadãos, designação seguida da respectiva patente militar, como ocorrera no início do regime inaugurado com a Queda da Bastilha. Um civil imaginário governava os militares.

As inovações políticas do Brasil republicano parecem mais governadas pelas rupturas inesperadas ou pelas inevitáveis do que por decisões efetivamente políticas e democráticas. Fora disso é a prevalência do repetitivo e das permanências. É sob as quietas cinzas que as brasas do imaginário político mantêm acesa a trama do poder e demarcam diretrizes e orientações inconscientes, que se traduzirão em votos ou em movimentos sociais e políticos. As inovações já estão inventadas no que permanece e dura.

O golpe militar de 1964 reorientou esse imaginário e suas orientações nos arrastam até hoje, bloqueando-nos a ousadia. À medida que declinava o getulismo, o País se dividia entre capitalismo e socialismo. Mas a pregação socialista se perdia na fragmentação e diversificação que se apossou do debate, deixando o futuro do País de lado, anulando o tema essencial da política. A pregação capitalista não foi melhor. Também ela se rompeu no dilema em boa parte falso entre imperialismo e nacionalismo. Os 20 anos de ditadura serviram para que as esquerdas se fragmentassem ainda mais e se iludissem quanto às possibilidades de um socialismo descolado das determinações históricas da sociedade brasileira. O discursos postiço se arrasta ainda em várias bocas, de vários grupos, que dão continuidade a um cenário em que a fala está separada do pensamento e o pensamento está separado da práxis.

Com o golpe de 1964, a temporalidade brasileira foi cindida. De um lado o tempo do progresso material se firmou e ganhou decisiva importância por meio da expansão das fronteiras internas e da urbanização, sobretudo na Amazônia. Reduziu o tempo da política ao tempo do progresso espacial e material e mutilou nosso capitalismo, tornando-o territorial e rentista. De outro lado, o tempo da revolução social, o tempo histórico propriamente dito, ficou confinado em cenários de misticismo, desenraizamento e fragmentação das convicções políticas.

Esse tempo residual foi assumido pelo PT, que conseguiu reaglutiná-lo numa concepção milenarista e messiânica de futuro. Nesse clima, Lula foi eleito e reeleito. Mas o milenarismo de Lula, e o PT, propuseram o governo petista como um governo do fim dos tempos, do fim da História, o último governo, como o de Carlos V, o último imperador. O governo Lula realizaria todas as possibilidades da História, não restando história alguma a ser feita e, portanto, anulando o sentido da política e dos partidos.

A próxima eleição presidencial será pautada por esse aniquilamento da História e do futuro, pelo primado pós-moderno de um presente eterno, em conflito com a esperança do imaginário brasileiro. A candidatura Dilma nasce cauterizada por essa anulação. Resta saber se o PSDB tem alguma compreensão disto e quanto Serra tem condições de situar-se e propor-se como o homem que restituirá a historicidade à política brasileira e poderá repropor a esperança como o principal item da agenda política do País.”

A CRISE E A RESPONSABILIDADE DE LULA

Há versos de Camões que nos tocam profundamente. Quem não se comove, por exemplo, com os "sete anos de pastor serviu Jacó a Labão, por causa de Raquel serrana bela"? Seus sonetos estão inundados do encantador lirismo que propicia àqueles que os lêem uma grande felicidade. Camões, também, nos brinda com lúcida avaliação sobre o comportamento humano em situações de crise. No episódio de Inês de Castro ele é implacável ao dizer: "o fraco rei faz fraca a forte gente". O genial artista português parece que estava olhando o futuro através de uma bola de cristal; sintetizou, assim, num único verso a imagem que descreve o Brasil atual.

Luiz Inácio é um fraco. Apesar de ser dele a responsabilidade pelo que o país vai passando ele, em sua pedestre concepção de mundo, atribui a outros a culpa pelas mazelas que estamos enfrentando. No largo período de bonança em que a economia mundial se expandiu prodigiosamente, o incompetente Luiz Inácio fazia como a cigarra da fábula - viajava, cantava, comia e bebia à farta. Não conduziu o Brasil como se esperava dele. Agora, porém, no período de retração econômica, ele joga sobre os ombros alheios culpas que são somente suas. Na sabedoria bíblica está gravado: nos tempos de vacas gordas produz-se, poupa-se e espera-se com tranquilidade a chegada dos tempos das vacas magras. A grandeza de José do Egito foi organizar o povo para os dois ciclos que viriam - o da abundância e o da escassez, num efetivo exercício da liderança que lhe foi outorgada. E assim foi feito, conforme se relata. Luiz Inácio, no entanto, é um declarado amante da ignorância e da estupidez. A leitura e o estudo lhe causam azia e urticária, conforme ele próprio o declarou. Não precisava, entretanto, saber Economia Política nem ter lido enfadonhos manuais sobre gestão pública para se sair bem na sua missão. Bastava-lhe, tão somente, uma singela devoção periódica às grandes lições do maior dos livros.


O diagnóstico que o preguiçoso presidente fez a respeito da atual crise diz mais dele que quaisquer outras palavras. Diferentemente da força da percepção de José do Egito (que viu os problemas com clareza e propôs as soluções corretas), a fragilidade intelectual e espiritual de Luiz Inácio o fez ver como "marolinha" o furacão em que nos vemos mergulhados. Veja-se que já no final do ano (quando a crise econômica já nos engolfava), o débil Luiz Inácio ficava a recomendar ao povo brasileiro que gastasse e consumisse mais e mais, quando a voz da sensatez recomendava extamente o contrário. E agora, quando os que se endividaram seguindo as recomendações presidenciais estão a perder seus empregos, o que fazer? Luiz Inácio vai asssumir os boletos das prestações e dos cartões de crédito dos que o obedeceram? Talvez fosse a hora de um movimento popular que se organizasse para enviar ao Palácio do Planalto as faturas derivadas do irresponsável conselho - Lula vai pagar as contas de sua "sugestão" amiga. Amiga da onça, evidentemente.

Enquanto, ainda neste verão de 2008/2009, as chuvas provocavam estragos generalizados e as famílias sofriam o desespero da perda de seus pertences levados pelas águas ou atolados no lodo e nos lamaçais, o inefável Luiz Inácio curtia a doce vida mergulhando nas águas límpidas de Fernão de Noronha ou pescando na Baía de Todos os Santos, como se nada estivesse acontecendo. E na sua tosca percepção - verdade seja dita - nada de fato acontecia. Um líder débil como este atual presidente estava no mundo das nuvens, completamente descolado das graves realidades do povo. Não conseguia perceber nem os problemas estruturais nem os pequenos problemas do cotidiano que afetam-nos a todos. Faz sentido, portanto, os versos definitivos de Camões: o fraco rei faz fraca a forte gente! E pensar que ainda o toleraremos por longos 17 meses...

ANGU DE CAROÇO

Emílio de Menezes, poeta famoso pela ironia, espicaçava seus desafetos com memoráveis sátiras. De uma de suas vítimas, o professor Hemetério, figura notória no início do século passado, ele dizia que “do ensino fez um verdadeiro angu, com que empanturra todos os membros do magistério”. O espírito do tal Hemetério parece, todavia, que não morreu com ele e, aí está, assombrando ora um ora outro figurão da República. Luiz Inácio, por exemplo, transformou a Política num grande balcão de negócios. Suas realizações resumem-se a prometer obras e distribuir dinheiro, ajuntando mais palavras do que pedras. O conceito que preside suas ações é de fundo estritamente monetário. Sua única preocupação é falar de grana. Isto é tão marcante nele que, após o final de seu mandato, poderá com naturalidade participar de lucrativos Conselhos de Administração de qualquer banco aos quais, aliás, ele dá tão boa vida e tantos lucros. Com um eventual surto de gratidão dos agiotas nacionais e internacionais, ele está garantido até o fim de sua existência. Talvez tenha sido só coincidência, talvez, não, mas o fato é que na declaração de patrimônio do candidato Luiz Inácio, em 2006, as aplicações financeiras tiveram um lugar de merecido destaque.

Não se ouve nos comícios diários de Luiz Inácio nada que seja edificante ou que possa servir de exemplo positivo para a posteridade. O grotesco e a baixaria emanam de seu espírito turvo. Ele só pensa naquilo! É um tal de “quanto vai custar isso?”, “quanto vai sobrar para a companheirada?”, “quanto precisamos arrancar do povo para fazer o que bem entendo?, “quanto vocês querem para votar assim, assado?” e outras do mesmo jaez. Levando para o Planalto a prática pelega de reduzir as questões trabalhistas a cifrões, e nesta negociação capturar algum para si e para a gulosa burocracia sindical, Luiz Inácio é a demonstração viva da idolatria - ao dinheiro, por suposto. Se ele tivesse nascido dois mil anos atrás seria um acólito do Sinédrio, isto é, se não estivesse no lugar de Caifás, comandando a cobrança dos dízimos e outras fontes da renda captada pelo Templo, um verdadeiro talho, como dizia Eça. O Divino Mestre, não esqueçamos, foi condenado por atrapalhar os negócios dos pontífices da época e, não, por alguma heresia eventual. Luiz Inácio repete, assim, comportamentos como do Professor Hemetério: faz do Brasil um angu de caroço, monetarizando toda a política e temperando-a com grosserias e obscenidades.

segunda-feira, 23 de março de 2009

COLLOR DA SILVA E OS CONFISCOS DA POUPANÇA

Uma experiência genética que se propusesse a fundir o DNA de Collor com o de Lula não seria mais bem sucedida que a fusão espiritual em curso, atualmente, entre os dois colossos. Ambos orientados politicamente para os humores do lumpen proletariado (terminologia arcaica usada em outros tempos para designar a massa amorfa), julgam-se acima do bem e do mal e não submetem, nem nunca submeteram, ao crivo de quem quer que seja as emanações desmioladas de suas cabeças primitivas. O senador alagoano - auto definido como "base do governo do presidente Lula" - vai se tornando cada vez mais íntimo do velho pelego sindical. Lula herdou do outro o discurso direto para os descamisados (os excluídos do jargão contemporâneo), e o ódio a toda manifestação de inteligência humana. Da casa da Dinda, do início dos anos 90, passou-se hoje com naturalidade para a casa da Mãe Joana, bordel político financeiro implantado pelo petismo em todos os rincões do país. Lula e Collor, Collor e Lula... Nunca dois se pareceram tanto um com o outro como os referidos personagens.

Collor caiu por causa da corrupção? Ledo engano. Caiu por arrogância - ao julgar desnecessário adquirir o passe de um bom número de congressistas, fundamentais para eventual bloqueio de uma ação de impeachment similar ao que sofreu. Lula, mais esperto, e tendo aprendido com os fatos, procurou logo os 300 picaretas já mapeados por ele alguns anos atrás, e distribuiu entre eles parcelas da cobiçada carniça extraída dos cofres públicos, como se faz costumeiramente para acalmar hienas indóceis e resmungantes. Livrou-se Lula, pois, de sofrer as agruras de seu companheiro alagoano, não por virtude ou ausência de crimes - alguns bem mais graves que os cometidos por Collor - mas por repartir bem entre os que decidem o espólio da viuva desprotegida. O mensalão é o símbolo desta partilha. Qual um Silvio Santos no auditório, Lula da Silva, postado no Planalto, ficava a perguntar: quem quer dinheiro? quem quer dimdim? quem quer uma boquinha? As ávidas mãos de tantos levantavam-se e eram, quase que imediatamente, agraciadas pela generosidade do "padim".

Collor, agora, sugere a Lulla uma nova garfada contra o patrimônio do povo brasileiro. Mas, atenção, diz elle à sua alma gêmea: "não se deve confiscar a poupança das cadernetas de uma só tacada! Há que se ter cautela! Muita cautela!" Collor sabe o que diz. Sua rejeição por parte significativa do eleitorado no início do seu infeliz mandato - e que ajudou a legitimar sua cassação - foi o confisco do dinheiro popular. Collor recomenda, então, a seu dileto sucessor que só promova uma redução das taxas de juros que remuneram as cadernetas de poupança. Afinal, diz com sabedoria: há que se rolar a dívida pública e isto implica em pagamento de grossos cabedais aos banqueiros, que se entopem de dinheiro emprestando fabulosas quantias, diariamente, ao Banco Central. Se as cadernetas continuarem a pagar os 6% anuais, como acontece atualmente, o ganho da banca ficará comprometido e eles verão retraída a dimensão da cornucópia de onde brotam seus lucros babilônicos. "Banqueiros e agiotas, companheiro Lulla, são gulosos e não gostam de competição." As oposições precisavam atentar para tais fatos e se preparar para defender a poupança pública, principalmente aquela que se encontra nas milhares de cadernetas de poupança que Lulla e Collor querem tungar. Um novo confisco, portanto, se avizinha. Quem tiver condições migrará, certamente, para aplicações mais seguras como o dólar americano. Quem viver verá.

PRETENSÕES ALOPRADAS

Tangidos por uma procuração que nunca receberam do povo brasileiro, bandos de aloprados se propuseram fazer uma revolução política no país. Inspirados por uma mescla de doutrinas salvacionistas (algumas de cunho religioso, outras de formato secular), lançaram mão de armas contra a estrutura governamental vigente em prol de uma nova ordem, nos idos dos anos 60 do século passado. Como recomendava alhures o atual ministro Tarso Genro, os pretensos revolucionários deveriam apropriar-se da teoria de “Rosa, Lênin, Gramsci, Lukács e Bloch” (isto sem falar das contribuições do cristianismo quiliástico, com sólidas raízes fincadas entre nós no secular jesuitismo militante), para implantar a ditadura do proletariado. E sob o comando direto do sujeito histórico adequado para tal: claro, o "partido". Previsivelmente encontraram a normal e costumeira resistência a seus intentos. Ou homens portando fuzis imaginariam uma recepção na base de pão-de-ló por parte dos defensores da ordem por eles combatida? A longa história humana mostra os riscos de todos os tipos que correm os autores de empreendimentos revolucionários. Havendo insucesso, alguns são crucificados, outros empalados, ou exilados, ou mutilados, ou desapropriados, ou degolados, ou enforcados, ou reeducados, ou asfixiados, ou cremados e mais uma inumerável seqüência dos tantos verbos afins disponíveis nos dicionários. A bem da verdade, é bom que se diga que as forças da ordem que resistiram aos pretensos revolucionários brasileiros também correram riscos equivalentes. Paredón, arquipélagos Gulags, campos de reeducação, guilhotinas, forcas e outras formas de repressão fazem, e fizeram, parte do cardápio de eventuais vitoriosos revolucionários (da turma dos aloprados), em outros tempos e lugares contra seus desafetos.

Em vista disto, a anistia obtida com o fim consensual do regime autoritário brasileiro vem sendo questionada, portanto, de maneira equivocada. Aos adeptos de doutrinas totalitárias falece o direito de retrucar a repressão sofrida. Caso eles tivessem vencido, em vista dos precedentes conhecidos, seus adversários teriam sido esfolados. Reivindicar, porém, a apuração das denúncias de torturas seria altamente desejável, inclusive aquelas sofridas por inocentes em operações de seqüestro. Como também o seria a apuração das mortes em ações ditas “revolucionárias” (com a devida indenização pelos danos causados), bem como a devolução, a seus legítimos donos, do dinheiro dos assaltos a cofres, bancos, padarias e similares. Os pacíficos e os pacifistas que sofreram vexames, medo e o clima opressivo nas escolas, nos empregos, nos clubes e nas ruas, estes as verdadeiras vítimas dos anos de chumbo continuam, no entanto, a pagar – e caro – as conseqüências das aventuras de alguns aloprados. Aloprados que não se cansam de reivindicar dinheiro público como indenização pelos seus próprios atos, dos quais eles são os únicos responsáveis.