Na sua primeira epístola aos Coríntios (7: 8-9) Paulo prescreve:
“Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se”.
Fazendo um paralelo com o voto nulo, talvez este seja a mais sábia das
escolhas nos dias atuais. Homens e mulheres, afinal, são seres imperfeitos e o matrimônio,
como bem o sabem os casados, não é um mar de rosas. A renúncia ao casamento,
assim como a renúncia a escolher um parceiro político, pode conduzir o ser
humano a patamares existenciais mais dignos e mais coerentes com a satisfação pessoal e, quem sabe, com os próprios desígnios
do Eterno. O preço da escolha é penoso e os resultados costumam ser
imprevisíveis. Melhor seria, então, não se arriscar.
Os acontecimentos e os fatos, no entanto, colocam desafios
dos quais não conseguimos fugir. Avaliações equivocadas (por exemplo, dizer que
todos os homens, ou todas as mulheres, são iguais), jogam gatos e sapatos num
mesmo balaio. Talvez, até, exista fundamento em equiparar tudo e todos num
pacote similar. É compreensível. Nós, afinal, somos homens e mulheres comuns,
possuidores de simultâneas “escuridão e rutilância”, como dizia o poeta. Somos
capazes das maiores grandezas e, também, das maiores baixarias.
Sofremos
decepções com nossas escolhas. Inúmeros se queixam da má-sorte de terem se
casado com a pessoa errada, ou distinta daquela com a qual se uniu em tempos
passados. Queixamo-nos, também, das escolhas políticas, quando percebemos a
distância entre aquilo que nos foi prometido e aquilo que nos foi entregue.
Mas a vida deve seguir seu trilho. Casamos e fracassamos,
mas não desistimos. Aí entra o conselho paulino: melhor casar outra vez, ou
quantas vezes se fizer necessário, do que ficar se remoendo por dentro, em
brasas, afogueado, a reclamar amargamente dos outros. Escolhemos políticos de
maneira equivocada, mas não devemos deixar de refazer outras escolhas quando a
oportunidade se impuser, mais além da bucólica e amorosa configuração posta por Fernando Pessoa:
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Votamos em patifes no passado, gente que só mais tarde alcançamos conhecer na sua integralidade. Vale reconhecer que não é incomum sabermos,
antecipadamente, das malandragens de pessoas que escolhemos, quer como parceiros
amorosos quer como parceiros políticos. Pilantras exercem um estranho fascínio
sobre as pessoas que os elegem. Todas as famílias têm algum caso para contar;
moças encantadoras e bem formadas, apesar de advertências cabais, insistem em
se casar com vagabundos, traficantes e preguiçosos de maneira incompreensível
para seus pais, irmãos e outros parentes e amigos. E seus melhores pretendentes são relegados a segundo plano, com desdém.
Nem por isso se deveria renunciar
ao direito de escolher novamente. Nós fracassamos, sim, mas devemos assumir
nossas fragilidades. “Navegar é preciso”, dizia outro grande poeta, num verso
ambíguo. Dificilmente encontramos alguém perfeito. Só os abençoados por Deus o
conseguem. Não temos entre nós (para elegermos) lideranças do porte de um Mahatma
Gandhi, de um Churchill ou de um Roosevelt. Mas se, ao menos, pudermos impedir
que políticos demagogos, gatunos e tiranos continuem a infernizar o país, já
teremos dado a modesta contribuição individual possível. Isso é só o que resta
a cada um de nós. Ou, então, fazer como o avestruz: enfiar a cabeça no buraco e
deixar a bunda de fora facilitando o trabalho dos predadores. Entre um mal
maior e um mal menor, melhor o último. Há gente decente no Brasil. Vamos
encontrá-la nem que precisemos garimpar a vida toda.