quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Museu da corrupção

Paul Virilio propôs a criação de um museu dos acidentes. Estes não teriam natureza contingente, mas necessária. A cada invenção humana cria-se, concomitantemente, a possibilidade (que variará ao longo do tempo), de um acidente peculiar. Barcos criaram a chance do naufrágio; trens de ferro, o acidente ferroviário; aviões, os acidentes aeronáuticos . 

O mesmo raciocínio poderia ser aplicado às fraudes, trapaças, subornos, peita e outras formas notórias. Isso daria lastro para a criação de um Museu da Corrupção. Material para isso não faltaria. O foco do projeto ficaria restrito às façanhas nacionais. Cada país criasse o seu próprio museu. No futuro - quem sabe? - com a aproximação crescente entre países e povos, caberia pensar num modelo museológico transnacional devotado à corrupção. O Brasil, é importante destacar, tem legitimidade para liderar essa obra pioneira. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Teori, Eduardo Campos e Ulisses Guimarães


A morte do ministro Teori Zavascki acende, mais uma vez, o velho debate brasileiro sobre a ética na política. Veja-se o caso de Lula. Não foram poucas as críticas sofridas por ele a propósito das suas relações promíscuas com a plutocracia dominante. Sua conduta no mensalão e no petrolão chegou a ser objeto de escárnio para humoristas e artistas, conforme se pode ver na composição "Não é nada meu", do sambista Boca Nervosa.

Não é nada meu

Sim, talvez tenha razão o antigo metalúrgico (e é triste defender Lula em alguma coisa que lhe diz respeito), ao afirmar que não tinha apartamento no Guarujá, nem sítio em Atibaia e, muito menos, avião para passear pra lá e pra cá: é tudo de um "amigo meu". Os que o criticam, mais que de forma injusta e discriminatória, estariam somente exercitando nossa proverbial hipocrisia, vendo um cisco no olho alheio, esquecendo-se da trave nos próprios olhos. Outros, igualmente, se refestelam no uso gratuito de patrimônio de terceiros, sem que recebam maiores censuras por seus atos imprudentes. Paira, aliás, um silêncio quase obsequioso sobre o ocorrido com Teori Zavascki.

Ulisses viajava num helicóptero de um "amigo meu" quando aconteceu o acidente que o matou. O mesmo destino teve Eduardo Campos, também num jatinho de um "amigo meu". Agora, Teori se junta a eles, em suas tragédias comuns: também viajava numa aeronave de "um amigo meu" quando esta se espatifou no mar de Paraty, no Rio de Janeiro, para onde se dirigia em busca de edulcorado final de semana, juntamente com empresário amigo, secundados por duas damas anônimas, estas, de fato, vítimas inocentes que pouco ou nada devem ter contribuído para a configuração do acontecido.

Os meios de comunicação ainda repercutirão bastante o acidente. Afinal Teori era dos homens mais importantes da República, não só pelo alto cargo ocupado como, também, pela sua responsabilidade na condução do mais momentoso processo da história judiciária brasileira. Seu falecimento faz girar o caleidoscópio do destino de milhões de pessoas direta ou indiretamente afetadas pelo turbilhão. Uma coisa, porém, há-de estar clara na consciência de todos. Teori cometeu o mais fatal de seus erros.