"Leio na Folha que também o Palácio do Planalto —
deve ser a presidente Dilma Rousseff — estimula, a exemplo de Lula, a
aproximação com a oposição. Deixem-me ver se entendi direito o modelo: o PT
vence a eleição afirmando que o adversário pretende elevar juros, aumentar
tarifas e provocar recessão. Uma vez vitorioso, eleva juros, aumenta tarifas e
produz recessão. Certo. O PT vence a eleição transformando a oposição no
Belzebu do atraso social e dizendo-se, ele próprio, a voz do povo. Uma vez
vitorioso, vê-se obrigado a cortar benefícios com os quais comprou uma parte do
eleitorado. Entendo. O PT vence a eleição sustentando que qualquer outro
resultado que não o triunfo do partido implicaria uma marcha à ré na história.
Uma vez vitorioso, acuado por suas próprias contradições, demonizado nas ruas,
cobrado por suas promessas não cumpridas, eis que o partido descobre as
virtudes de um “entendimento” com a.. oposição.
O ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, diz que, “em todos os
países democráticos, é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes,
que sejam chamados pelos presidentes em exercício”. E acrescenta: “Essa é uma
prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”. É verdade… No primeiro programa
do segundo turno da campanha do ano passado, Dilma se referiu assim ao tucano
Aécio Neves: “Ele representa um modelo que quebrou o país três vezes, que
abafou todos os escândalos de corrupção, que provocou desemprego altíssimo,
recessão, que esqueceu os mais pobres.”
É mesmo, Dilma? E está querendo conversar com “eles” por quê? Mais
interessante ainda: os petistas decidiram agora distinguir os “bons tucanos”
dos “maus tucanos” — e os “maus”, claro!, são aqueles que não querem bater um
papinho em nome do entendimento. Na lista dos tucanos mauzinhos do PT está o
senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o que é, claro!, uma distinção e
tanto. Espero que o presidente do maior partido de oposição continue persona
non grata aos petistas.
O Instituto Lula, que, num primeiro momento, negou que estivesse em
curso uma tentativa de diálogo, resolveu mudar de posição por intermédio de seu
presidente, Paulo Okamoto, que afirmou à Folha: “Minha opinião é que tanto o
presidente Lula como o presidente Fernando Henrique são políticos importantes,
com responsabilidades e capacidade de analisar o que o Brasil está enfrentando.
Sempre fui a favor de que a gente converse com quem faz política.”
Ah, que bom que Okamoto pensa isso, não é? Na campanha eleitoral, a
candidata à reeleição Dilma Rousseff afirmou o seguinte: “Está em jogo o
salário mínimo. O candidato dele — ela se referia a Aécio — a ministro da
Fazenda (estava falando de Armínio Fraga) acha alto demais e tem que reduzir.
Nós não vamos permitir que o Brasil volte para trás”.
Por que Dilma iria querer um entendimento com gente tão má?
Jaques Wagner, ministro da Defesa e candidato de
sempre à Casa Civil, reconhece que isso pode não ter sido muito elegante e diz:
“Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na alma
brasileira, e na política brasileira, uma dicotomia que não se conversa. Essas
posições, governo e oposição, a gente troca. O que não pode perder é o norte do
país”.
Que bom! Segundo a candidata Dilma, como se evidencia acima, não tem
essa de alterar oposição e governo. Ou o PT vence, ou se trata de retrocesso.
Acho que chega, não é mesmo? Essa conversa já foi longe demais. Se há
tucanos querendo bater um papinho, o PT sempre será um lugar quentinho para
abrigar o diálogo. Basta se bandear. Eu estou enganado ou a população elegeu o
PSDB para liderar a oposição? Não! Eu não estou enganado. Sendo assim, que cada
um honre o voto que recebeu.
Querer um diálogo com a oposição, como agora quer Dilma, com 7,7% de
ótimo e bom, segundo a mais recente pesquisa, é um coisa. Os petistas deveriam
ter se lembrado de dialogar quando a presidente tinha quase 70% de aprovação.
Ah, a minha memória não falha: eles não queriam conversa. A ordem, então, era
destruir até o PMDB, já que davam o PSDB por liquidado.
Vamos fazer um pacto,
gente, em favor da governabilidade? Todos seguiremos as leis e a Constituição
que contemplam, até, o impeachment. Que tal?"