sábado, 11 de outubro de 2014

Ainda a ABIN

Este blog não costuma publicar comentários dos seus escassos leitores (geralmente amigos ou ex-alunos). Raramente o faz, especialmente se forem provenientes de fonte anônima. Respostas são dadas apenas, via e-mail, àqueles que se identificam. 

Um comentarista, no entanto, se deu ao trabalho de esclarecer o papel cumprido pela ABIN, a propósito de postagem anterior onde a atuação dessa importante agência governamental era questionada, por não ter detectado o que ia pelos porões da Petrobrás. 

Provavelmente membro da comunidade de informações, o leitor escreveu:


"ABIN é órgão de inteligência, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional que é diretamente ligado à presidência da República. Não é órgão independente, trabalha legalmente sob demanda da presidência e, como órgão de inteligência, tem por única missão abastecer a presidência com informações para auxiliar na tomada de decisões. A ABIN só responde à presidência, seja de qual partido for e seja quem for e não tem atribuição legal para investigar crimes. Quem tem essa atribuição, em nível federal, é exclusivamente a Polícia Federal." (sic) 

A revista VEJA da semana de 15/06/2013, no entanto, publicou matéria em que informava operação da ABIN em Pernambuco, durante a qual houve a prisão de quatro agentes. Disse a revista:

"É colossal o esforço do governo para impedir que decolem as candidaturas presidenciais do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (sem partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff reacomodou no ministério caciques partidários que ela havia demitido após denúncias de corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas da base aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para Montar a maior coligação eleitoral da historia e, assim, impedir que eventuais rivais tenham com quem se aliar. A maior parte dessa estratégia é posta em pratica a luz do dia, como a volta dos “faxinados” PR e PDT a Esplanada, mas ha também uma face clandestina na ofensiva governista, com direito a espionagem perpetrada por agentes do estado. Um dos alvos dessa ação foi justamente Eduardo Campos, considerado pelo PT um estorvo à reeleição de Dilma pela capacidade de dividir com ela os votos dos eleitores do Nordeste, região que foi fundamental para assegurar a vitória da presidente em 2010.

0 Porto de Suape, no Recife, carro-chefe do processo de industrialização de Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento envolvendo essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Policia Militar deteve quatro espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fingiam trabalhar no local, mas há semanas se dedicavam a colher informações que pudessem ser usadas contra Campos. A Secretaria de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes travestidos de portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças. Apresentaram documentos de identidade e se disseram operários. Acionada logo depois, a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões admitiram que eram agentes da Abin, que estavam cumprindo uma missão sigilosa e pediram que não fossem feitos registros oficiais da detenção. 0 incidente foi documentado em um relatório de uma página, numa folha de papel sem timbre, arquivada no Gabinete Militar do governador. Contrariado com a espionagem, Eduardo Campos ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jose Elito Siqueira, a quem o serviço secreto do governo está subordinado.

Em uma reunião com aliados do PPS, o governador contou que o general garantiu que não houve espionagem de cunho político, ou de viés eleitoral, mas apenas um trabalho rotineiro. “Nós fazemos apenas monitoramento de cenários para a presidenta”. ponderou o chefe do GSI. Apesar da gravidade do incidente, o caso foi dado como encerrado pelos dois lados. Poucas pessoas souberam da história. A elas, Campos explicou que não queria tornar público o episódio para não “atritar” ainda mais a relação com o Palácio do Planalto nem causar um rompimento entre as partes. Mas houve desdobramentos. “Tive de prender quatro agentes da Abin que estavam me monitorando”, revelou Eduardo Campos. E ainda desabafou: “Isso é coisa de quem não gosta de democracia, de um governo policialesco”. Pediu aos aliados que o assunto fosse mantido em segredo. “Não tenho nada a dizer sobre isso”, desculpou-se na semana passada o deputado Roberto Freire, presidente da legenda, que estava presente a reunião."

Quer dizer, a ABIN tem capacidade operacional para investigar o que ocorre num empreendimento portuário (desde que atenda a conveniências partidárias de dona Dilma), mas não para especular a respeito do que se passa numa empresa do porte da Petrobrás. Ou teria, se houvesse interesse da presidência que, pelo que se está a ver, jamais existiu. 


Onde se guarda o dinheiro roubado?

Que os petistas assaltaram o erário, isto já se sabia há muito tempo. Os casos agora fartamente comprovados - Petrobrás, e Banco do Brasil, por exemplo, para se ficar apenas nos maiores ícones da história brasileira - trazem, no entanto, um ponto a ser compreendido e explicado: onde a turma de gatunos guardava o dinheiro? Alguém pode sugerir que era debaixo do colchão. De fato, tal prática não pode ser desconsiderada. O próprio presidente do Banco do Brasil, além de dona Dilma, já confessaram que mantinham dentro de uma gaveta, ou no fundo de algum armário, centenas de milhares de reais. É absolutamente insólito tal comportamento. 

O dirigente da mais importante instituição financeira do Brasil não guardar seu dinheiro no banco onde ele próprio trabalha é, no mínimo, indicativo de algum desequilíbrio. Na ética do mercado, seria questionável se suas aplicações se fizessem naquelas opções mais rendosas e sujeitas a movimentos especulativos, insinuando eventual posse de informações privilegiadas. Mas se ele escolhesse a singela e popular caderneta de poupança, ninguém poria em dúvida sua honorabilidade. Agora, amoitar improdutivamente milhares e milhares de reais é de uma extravagância só comparável com o potlatch, instituição observada em povos primitivos onde o dinheiro, ou valores apreciados, são literalmente incinerados na fogueira.

Dona Dilma é outra que confessa guardar dinheiro vivo, e muito, debaixo do colchão. No seu caso, é provável que não exista categoria haurida, quer da antropologia, da sociologia, da economia ou da psicanálise, que explique sua conduta. A única possível fonte seria a teologia: dona Dilma estaria possuída por alguma entidade maligna. 

Como o Brasil vive tempos tenebrosos iguais aos quais nunca se viu semelhante, é cabível admitir outra espantosa hipótese. Dona Dilma e o presidente do Banco do Brasil, ao esterilizarem seus cabedais, estariam contribuindo, com um sacrifício pessoal, para diminuir a galopante inflação que nos assola. Se for o caso, a esquisita madame, e o exótico presidente do Banco do Brasil, mereceriam encômios de todo o povo pelos seus atos aparentemente absurdos. 

O dinheiro desapropriado da Petrobrás pode estar, portanto, debaixo de algum colchão ou dentro de alguma caixa de sapato velho. Alguém mais cético questionaria tal possibilidade, também com inteira razão. Suspeita-se da circulação da grana pelos circuitos normalmente utilizados pelos traficantes de drogas, terroristas e saqueadores de dinheiro público. A sede de tal rede precisa estar em algum lugar imune à investigação internacional. Os tradicionais centros de lavagem de valores - Suiça, Jersey e outros paraísos fiscais - estão sob monitoramento internacional. 

O lugar mais provável seria, ainda, o caribe, onde um dos estados párias mais notórios - Cuba - articula interesses de lideranças bolivarianas bem como outras traficâncias repudiadas pelo mundo civilizado. Coréia do Norte, pelo seu primitivismo, e Irã, pelo seu envolvimento direto com as guerras no oriente próximo, dificilmente teriam condições de centralizar os interesses financeiros da turma. Reforçando as suspeitas, não se deve esquecer que o tal Alberto Youssef foi um dos membros mais importantes de delegação brasileira que visitou Cuba, há alguns anos, em prospecção de negócios. Certamente, o talentoso operador do petrolão não foi à paradisíaca ilha para gozar das praias, das morenas e do calipso, pacote de delícias equivalentes às oferecidas pela Disneylândia à classe média ascendente.    

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Onde estava a ABIN?

O sistema implantado pelo PT, para privatizar a Petrobrás e outras empresas públicas ou de economia mista, era vasto e complexo. Operando em células, ao modelo de organização leninista, os quadrilheiros possuíam um engenhoso esquema de divisão de trabalho. Evidentemente, em algum lugar uma ponta poderia ficar solta. Qualquer observador ou analista devotado ao estudo da segurança nacional poderia, então, puxar o fio da meada e colocar tudo a nu. 

E por qual razão não o fizeram? Não possui o governo uma agência de informação e inteligência - a ABIN? Ou a turma da espionagem e contra-espionagem ficava apenas no Google, lendo notícias pela internet? Convenhamos, para ter desvendado a teia de gatunos, até por questão de método, bastava seguir o dinheiro (velha recomendação do Garganta Profunda), ou o tesoureiro do PT, o que dá no mesmo.   

Os intelectuais e professores fisiológicos

Faltando poucos dias para o segundo turno, quando será escolhido o próximo presidente da república, causa espanto que os professores fisiológicos que sempre declaram apoio à candidatura oficial, ainda não tenha se manifestado a seu favor. Mau sinal para Dilma. Talvez os intelectuais chapa-branca estejam à espera de um quadro eleitoral mais bem definido, para não perderem o bote na bocada. A prudente postura talvez tenha fundamento. Afinal, os 54 magníficos reitores de universidades federais já fizeram o costumeiro beija-mão, dando uma puxadinha no saco de dona Dilma. E os reitores interpretam e representam o sentimento dominante na Academia. Aécio, porém, pode ganhar, nunca se sabe. Escolher o lado errado é perigoso. Quem sabe, redução das suculentas bolsas (isentas de imposto de renda), que engordam o salário mensal, além de comprar o silêncio da moçada frente aos desatinos e roubalheiras do lulo-petismo. A complacência, certamente, custou mais que um simples prato de lentilhas.  

Dilma, a pardinha

Pontificando junto aos baianos com sua aparência plastificada (não move um músculo sequer, apenas exibe um sorriso congelado e meio abestalhado), dona Dilma conseguiu mais uma proeza. Autodefinindo-se como "pardinha" (sic), a insana criatura quis se mostrar como se fora u'a mestiça similar a tantas que proliferam na boa terra da Bahia. 

Para os desavisados, pardo é uma categoria oficial para definição da cor das pessoas (elas podem ser pretas, brancas, amarelas e indígenas, além de pardas), segundo entendimento do IBGE. Indígena não é cor, de fato, mas tal denominação serve para diferenciá-la da cor amarela (assim entendida a dos que têm procedência ou ascendência oriental). Por algum critério meio mágico, soma-se o preto com o pardo para se chegar ao "negro". Não se sabe a razão de não se fazer o somatório de pardos com os brancos, pois que aqueles também possuem uma matriz européia. A junção arbitrária de pretos e pardos responde mais a um imperativo ideológico e publicitário que sociológico.

Dona Dilma quer, de fato, pegar uma carona na comunidade "negra", entrando pela porta dos fundos e saçaricando na cozinha (onde FHC declarou também ter um pé), através de sua autodefinição como "pardinha". Esta seria algo parecido à categoria de "moreninha", classificação considerada politicamente incorreta, em vista das suas inumeráveis gradações e alusões ao processo de branqueamento da população. 

Fazendo esse passa-moleque, dona Dilma está a afirmar que ela é igual a tantos coloreds que entre nós habitam. Ela poderia, em vez de "pardinha", ter dito que era "mulatinha". Mas aí seria uma tremenda forçação de barra. Com aquele seu peculiar modo búlgaro de ser - carão chapado, punhos e tornozelos grossos como de um macho - ninguém iria acreditar. Melhor ficar como "pardinha" mesmo. 

Dona Dilma é uma piada. De mau gosto, mas sempre uma piada.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quem mesmo é preconceituoso?

Lula da Silva divulgou nota, que teria redigido (incrível, porém, possível), para lamentar declarações preconceituosas contra eleitores nordestinos que deram a vitória a Dilma na região. Estufando o peito e enchendo as bochechas de vento, o boquirroto sindicalista quer, agora, levantar a bandeira do mais rasteiro chauvinismo, contra aqueles que criticam o voto governista costumeiramente apurado nos grotões do Brasil.

Os brasileiros não têm preconceito contra os nordestinos. Prova disso é a origem dos últimos presidentes da república: Sarney, Collor, Itamar (nasceu na Bahia), e o próprio Lula. Mesmo os que nasceram em Minas Gerais não podem ser dissociados do Nordeste, em vista das características da própria formação do estado ao longo de sua história. Em Minas há, inclusive, larga faixa de território classificada como pertencente ao mesmo semi-árido nordestino. 

A verdade é que o voto do Nordeste já foi majoritariamente   da ARENA, depois do PDS, em seguida do PFL, do PMDB, do PSDB e, agora, do PT. Mais que um voto ideológico ou partidário, é um voto governista, governista em prol do governo atual, que seja bem dito, qualquer que seja ele.

As elites brasileiras, das quais sua parcela nordestina é das mais nefastas - basta cotejar os indicadores sociais de Alagoas, Piauí e Maranhão, por exemplo, com os observados no Sul e Sudeste - sempre trataram o povo à base da mentira e das falsas promessas, quando não a pontapés. Um sujeito embrulhão como Lula acenou aos nordestinos com miragens, como a transposição do rio São Francisco, na mais perfeita cara de pau que se tem notícia. Tal vigarice jamais se concretizará por total inviabilidade, já sabida e denunciada há anos.

No início da era Lula da Silva, seu então ministro José Graziano (atual representante do Brasil, e dirigente, da FAO) explicitou o sentimento que vai na alma dessa gente perversa. Relembremos: Em palestra na Federação das Indústrias de São Paulo o tal Graziano aconselhou os empresários. Disse-lhes com todas as letras que se não houvesse uma contenção dos pobres no Nordeste, eles continuariam a invadir São Paulo, e os ricos teriam que continuar a andar de carro blindado, para se protegerem da violência que os baianos, pernambucanos, paraibanos, cearenses e outros eram portadores. Tal absurda consideração se deu no dia 7 de fevereiro de 2003. José Graziano explicitou, apenas, aquilo que vai no âmago das convicções daqueles que nos governam e infelicitam até hoje. 


Metamorfose: o PMDB é o PT amanhã

Os resultados eleitorais do primeiro turno mostram que o PMDB é o PT de amanhã: faces de uma mesma moeda. De partidos com pautas originariamente urbanas caminham, juntos, para os imensos grotões cevados no mais puro assistencialismo e proverbial corrupção. São irmãos siameses que resolveram dividir o butim, em vez de se entredevorarem com ferocidade, como o fizeram em certo momento, até descobrirem o quanto seu DNA eram compartilhado. Agora, sim, assumiram que estão irmanados e condenados a um destino comum.    

O PT e o PMDB não gostam de pobres. Eles gostam mesmo é da pobreza. A perpetuação desta através de políticas compensatórias (receituário clássico do Consenso de Washington), só estatizou a caridade pública (há página memorável de Eça de Queirós, em "O conde de Abranhos", onde o notável escritor português satiriza tal procedimento, vislumbrado por ele com mais de um século de antecedência). A pobreza é nossa, nós é quem sabemos cuidar dela, não se cansam de proclamar os governistas mais graúdos, capitaneados pelos pobres Lula, Dilma, Marta Suplicy, Josué Alencar e outros do mesmo ou maior calibre. A tais figuras se ajunta um patriciado multitudinário e voraz que adora saquear o erário, os fundos de pensão e empresas públicas e de economia mista (como os Correios, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e a mais cobiçada de todas: a mastodôntica Petrobrás, sem desconsiderar as demais, cuja listagem preencheria páginas e páginas em tamanho padrão e fonte corpo doze).   

O circo de horrores, que ambos os partidos protagonizam, pode ser vislumbrado com a recuperação de práticas que eram consideradas extintas na política brasileira. A mais exuberante e significativa delas foi trocar o voto por uma dentadura - episódio envolvendo dona Nalvinha, no município de Paulo Afonso, na Bahia - numa recuperação de costumes típicos dos mais atrasados coronéis nordestinos, coisa digna de minucioso trabalho arqueológico. Quando Victor Nunes Leal escreveu "Coronelismo, enxada e voto", já não se usava mais tão patético modelo de conquista de eleitores. O máximo de cafajestice era fornecer a um pobre diabo qualquer apenas um pé de botina, ou alpercata (antes da votação), e o outro pé, depois, em conformidade com a fala das urnas.

Misturando canalhices soterradas com outras recém paridas, os petistas ameaçam com a supressão da bolsa família, caso as oposições sejam vitoriosas no Brasil. O método terrorista não garante, contudo, os resultados que esperam. A gratidão não é variável política. Nunca foi. Nem Jesus, que promoveu a cura de leprosos e outros doentes, recebeu deles sequer a esmola de palavras de agradecimento. Somente um ou dois desavisados se dignaram a dizer um muito obrigado. 

A ampla cobertura das rádios e das TV's difundem por todo o Brasil as roubalheiras e a corrupção endêmica, marca característica do atual governo. O povo parece desconfiar que, a continuar desse modo, não sobrará dinheiro nem para o modesto adjutório que recebe todo mês. A onda de rejeição aos irmãos siameses, qual uma tsunami, ainda alcançará aqueles que não foram tocados pelo repúdio a tão formidável quadrilha.

Pesquisas e dúvidas

Há grande expectativa com os resultados das próximas pesquisas eleitorais, referentes ao segundo turno que ocorrerá no próximo 26 de outubro. Apesar do ceticismo gerado quanto à validade das mesmas (em função das distorções entre os dados publicados e os dados reais saídos das urnas), não se pode negar que as pesquisas se constituem em referências para o entendimento da marcha dos pleitos. É necessário, no entanto, que os números encontrados sejam melhor entendidos pelos analistas e pelo grande público.

Quando se divulga que dado um intervalo de confiança de 95%, por exemplo, e margem de erro de mais ou menos 2%, não se está afirmando que a verdade esteja compreendida entre o valor encontrado (digamos, 30%), posto no meio de uma variação de 2% para cima (32%) ou para baixo (28%). O entendimento é outro. Quer-se dizer, tão somente que, repetida a mesma coleta dos dados uma centena de vezes, com os mesmos critérios, em 95 delas os resultados estarão compreendidos dentro da variação encontrada no primeiro levantamento. 

Nada se está dizendo quanto aos dados obtidos estarem expressando a verdade da opinião pública na sua integralidade. Veja-se que há uma parcela do eleitorado que não é sondável. E isso acontece por simples razão: os eventuais sujeitos escolhidos para responder ao questionário recusam-se a fazê-lo. Pense-se em pessoas que moram em apartamentos. Acessá-las é quase uma impossibilidade. Dificilmente os que vivem nessas condições se dispõem a abrir suas portas para receber estranhos, a pretexto de responder a uma pesquisa de opinião. 

As razões para essa recusa podem ser variadas, com destaque para a questão da segurança. Portarias eletrônicas e vigilantes porteiros impedem com o maior rigor o trabalho de eventuais entrevistadores. Tais insondáveis escapam, assim, do rol dos potencialmente investigados.

Mas estes são apenas uma parcela do total. Mesmo quando as entrevistas são realizadas nas ruas, nem todos os abordados se dignam a participar. Eles não querem somente não dizer em quem votam ou deixam de votar: eles não querem dar nenhuma informação, também por incontáveis justificativas, inclusive pelo desinteresse a respeito do assunto - política - passando pela proverbial e singela preguiça. Há ainda outros aspectos que contaminam a amostra da qual são produzidos os resultados. Aqueles que entrevistam pessoas nas ruas não captam a opinião dos que não costumam circular a pé pelas cidades. 

Provavelmente por tais fatos, os resultados das urnas possam se apresentar tão diferentes daqueles previstos nas pesquisas. O universo considerado pelos institutos, se muito aquém do real, podem provocar as surpresas que vêm causando no momento. 



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Em quem voto e por quê – Fernando Henrique Cardoso

 (Publicado no Estadão, em 05/10/2014)


 "Poucas vezes o refrão de estarmos numa encruzilhada terá sido tão verdadeiro. Neste domingo os eleitores carregam para a votação o peso de uma responsabilidade histórica. E o mais grave é que, dadas as condições do debate eleitoral e as formas prevalecentes de manipulação da opinião pública, boa parte do eleitorado nem atina qual seja a bifurcação diante da qual o País está.

Numa das mais mistificadoras campanhas dos últimos tempos, a máquina publicitária e corruptora do PT e aliados espalhou boatos de que Aécio Neves acabaria com os programas sociais (em grande parte criados pelo próprio PSDB!) e Marina Silva seria a expressão dos interesses dos banqueiros, tendo nas mãos, com a independência do Banco Central, a bomba atômica para devastar os interesses populares. Por mais ridículas, falsas e primárias que sejam as imagens criadas (também eram simplificadoras as imagens do regime nazista ou do stalinista para definir os "inimigos"), elas fizeram estragos no campo opositor.

A guerra de acusações descabidas escondeu o tempo todo o que a candidata à reeleição deixou claro nos últimos dias: suas distorções ideológicas. Fugindo aos scripts dos marqueteiros, que a pintam como uma risonha e bonachona mãe de família, e do PAC, a presidenta vem reafirmando arrogantemente que tudo o que fez foi certo; se algo deu errado, foi, como diria Leonel Brizola, por conta das "perdas internacionais". Mais ainda, disse com convicção espantosa ser melhor dialogar com os degoladores de cabeças inocentes do que fazer-lhes a guerra, coisa que só os "bárbaros" ocidentais pensam ser necessária.

E o que é isso: socialismo? Populismo? Não, capitalismo de Estado, sob controle de um partido (ou do chefe do Estado). Um governo regulamentador, soberbo diante da sociedade, descrente do papel da opinião pública ("não é função da imprensa investigar", outra pérola dita recentemente por Dilma), com apetite para cooptar o que seja necessário, desde empresários "campeões nacionais" até partidos sedentos de um lugar no coração do governo. Algo parecido com o que o lema do velho PRI mexicano expressava: fora do orçamento, não há salvação; nem para as empresas, nem para os partidos, nem para os sindicatos, para ninguém. Crony capitalism, dizem os americanos. Capitalismo para a companheirada, diríamos nós.

E sempre com certo ar de grandeza, herdado do antecessor: nunca antes como agora. Para provar os acertos, vale tudo: fazer citações sem respeito ao contexto, escamotear as contas públicas ou até mesmo, para se justificar, dizer: "Nunca ninguém puniu tanto os corruptos como este governo!". Como se as instituições de Estado (Polícia Federal, Ministério Público, tribunais, etc.) fossem mera extensão dos governantes.

Criou-se um clima de ilusão e embuste usando uma retórica baseada no exagero e na propaganda. Será isso democracia? Estamos, pouco a pouco, apesar de mantidas as formas democráticas, afastando-nos de seu real significado. Como em alguns outros países da América Latina. Com jeitinho brasileiro, mas com iguais consequências perversas. O modo de governar (democraticamente ou não) é tão importante para mostrar as diferenças entre os partidos quanto as divergências de orientação nas políticas econômicas ou sociais.

Por mais que a propaganda petista mistifique, as políticas sociais têm o rumo definido desde a Constituição de 1988. Executadas com maior ou menor perícia por parte de quem governa, com maior ou menor disponibilidade de recursos, o caminho dessas políticas está traçado: mais e melhor educação, mais e melhor saúde, mais e melhor amparo a quem necessita (bolsas, aposentadorias, etc.). Já a política econômica perdeu o rumo e destrói pouco a pouco as bases institucionais que permitiram consolidar a estabilidade e favorecer o crescimento da economia.

No conjunto de sua obra, o governo atual rompeu o equilíbrio alcançado entre Estado, mercado e sociedade e dá passos na direção de um modelo à Ernesto Geisel. Tal modelo é incompatível com a democracia e com a economia moderna. Não poderão sobreviver os três ao mesmo tempo.

É esse o fantasma que nos ronda. Reeleita a candidata, a assombração vira ameaça real. Ameaça à economia e ao regime político, pelo menos quanto ao modo de entender o que seja democracia. Não é preciso que nos ensinem que democracia requer inclusão social e alargamento da participação política. Essa foi a luta do meu governo, desde o primeiro dia, em condições muito mais adversas. É este governo que necessita aprender que a inclusão e a participação verdadeiramente democráticas requerem defesa vigilante das liberdades fundamentais (especialmente de imprensa), autonomia da sociedade civil, separação entre partido, governo e Estado. Como o governo mostra dificuldade em aprender, só há um caminho: votar na oposição.

Mas em qual oposição? Com o devido respeito às demais forças oposicionistas, que deverão estar juntas conosco no segundo turno, há um candidato e um partido que já demonstraram na prática que obedecem aos valores da democracia, da inclusão social e da modernização do País. Já mostraram também que sabem governar. O PSDB e seus aliados lançaram as bases sociais e econômicas do Brasil contemporâneo. Aécio é a expressão deste Brasil. Governando Minas Gerais, fez seu Estado avançar (o Estado tem hoje o melhor Ideb do País no ensino fundamental) e marcou a sua administração por inovações na forma de estabelecer e cobrar resultados. Não foi o único governador a se destacar no período recente, mas esteve sempre entre os melhores.

Meu voto, portanto, será dado a Aécio. Não só por ele, mas pelo que ele representa, como uma saída para a encruzilhada em que nos encontramos”.

SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA