sábado, 11 de outubro de 2014

Ainda a ABIN

Este blog não costuma publicar comentários dos seus escassos leitores (geralmente amigos ou ex-alunos). Raramente o faz, especialmente se forem provenientes de fonte anônima. Respostas são dadas apenas, via e-mail, àqueles que se identificam. 

Um comentarista, no entanto, se deu ao trabalho de esclarecer o papel cumprido pela ABIN, a propósito de postagem anterior onde a atuação dessa importante agência governamental era questionada, por não ter detectado o que ia pelos porões da Petrobrás. 

Provavelmente membro da comunidade de informações, o leitor escreveu:


"ABIN é órgão de inteligência, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional que é diretamente ligado à presidência da República. Não é órgão independente, trabalha legalmente sob demanda da presidência e, como órgão de inteligência, tem por única missão abastecer a presidência com informações para auxiliar na tomada de decisões. A ABIN só responde à presidência, seja de qual partido for e seja quem for e não tem atribuição legal para investigar crimes. Quem tem essa atribuição, em nível federal, é exclusivamente a Polícia Federal." (sic) 

A revista VEJA da semana de 15/06/2013, no entanto, publicou matéria em que informava operação da ABIN em Pernambuco, durante a qual houve a prisão de quatro agentes. Disse a revista:

"É colossal o esforço do governo para impedir que decolem as candidaturas presidenciais do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (sem partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff reacomodou no ministério caciques partidários que ela havia demitido após denúncias de corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas da base aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para Montar a maior coligação eleitoral da historia e, assim, impedir que eventuais rivais tenham com quem se aliar. A maior parte dessa estratégia é posta em pratica a luz do dia, como a volta dos “faxinados” PR e PDT a Esplanada, mas ha também uma face clandestina na ofensiva governista, com direito a espionagem perpetrada por agentes do estado. Um dos alvos dessa ação foi justamente Eduardo Campos, considerado pelo PT um estorvo à reeleição de Dilma pela capacidade de dividir com ela os votos dos eleitores do Nordeste, região que foi fundamental para assegurar a vitória da presidente em 2010.

0 Porto de Suape, no Recife, carro-chefe do processo de industrialização de Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento envolvendo essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Policia Militar deteve quatro espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fingiam trabalhar no local, mas há semanas se dedicavam a colher informações que pudessem ser usadas contra Campos. A Secretaria de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes travestidos de portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças. Apresentaram documentos de identidade e se disseram operários. Acionada logo depois, a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões admitiram que eram agentes da Abin, que estavam cumprindo uma missão sigilosa e pediram que não fossem feitos registros oficiais da detenção. 0 incidente foi documentado em um relatório de uma página, numa folha de papel sem timbre, arquivada no Gabinete Militar do governador. Contrariado com a espionagem, Eduardo Campos ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Jose Elito Siqueira, a quem o serviço secreto do governo está subordinado.

Em uma reunião com aliados do PPS, o governador contou que o general garantiu que não houve espionagem de cunho político, ou de viés eleitoral, mas apenas um trabalho rotineiro. “Nós fazemos apenas monitoramento de cenários para a presidenta”. ponderou o chefe do GSI. Apesar da gravidade do incidente, o caso foi dado como encerrado pelos dois lados. Poucas pessoas souberam da história. A elas, Campos explicou que não queria tornar público o episódio para não “atritar” ainda mais a relação com o Palácio do Planalto nem causar um rompimento entre as partes. Mas houve desdobramentos. “Tive de prender quatro agentes da Abin que estavam me monitorando”, revelou Eduardo Campos. E ainda desabafou: “Isso é coisa de quem não gosta de democracia, de um governo policialesco”. Pediu aos aliados que o assunto fosse mantido em segredo. “Não tenho nada a dizer sobre isso”, desculpou-se na semana passada o deputado Roberto Freire, presidente da legenda, que estava presente a reunião."

Quer dizer, a ABIN tem capacidade operacional para investigar o que ocorre num empreendimento portuário (desde que atenda a conveniências partidárias de dona Dilma), mas não para especular a respeito do que se passa numa empresa do porte da Petrobrás. Ou teria, se houvesse interesse da presidência que, pelo que se está a ver, jamais existiu. 


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