terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O prestígio de Lula

As pesquisas de opinião pública permanentemente divulgadas possuem vários significados. Eles devem ser buscados além daqueles que são óbvios. O ambiente (“é a economia, estúpido!”), que favoreceu uma expansão das atividades produtivas no Brasil, em linha de continuidade com o quadro geral que afetou todo o mundo, não explica por si só todas as coisas. Muito mais eficiente para a construção da imagem do atual presidente é a atuação do esquema publicitário governamental, única área onde o petismo é sabidamente eficiente (há, inclusive, muitos que suspeitam do uso de ilegais técnicas de propaganda subliminar). À bonança econômica dos últimos cinco anos não correspondeu o governo, de fato, com atos correspondentes que lhe dessem qualquer protagonismo no processo. O componente mais marcante da ação pública foi o fomento ao consumo do governo e das famílias, além da farta distribuição de benesses corporativas. Com baixa capacidade de investimento e uma enorme dificuldade de tornar reais os projetos voltados para a infra-estrutura (portos, estradas, energia, comunicações etc.), o governo Lula surfou, melhor dizendo, boiou na onda da dinâmica seguida pelos ventos econômicos. Tudo isto é sabido de maneira geral. Pode-se arriscar uma interpretação dizendo que o bom do governo Lula é que ele não fez nada! E ao não fazer deixou as forças do mercado agirem segundo sua própria lógica.

Aliás, quando o governo Lula se meteu a protagonista as coisas foram um fracasso retumbante (vide as reformas política, sindical e o Fome Zero, por exemplo). Se há uma influência oculta neste período, por mais paradoxal que pareça, ela é mais tributária de Hayek, o melhor dos economistas liberais, que do estatista Keynes (aquele foi um crítico feroz da intervenção do Estado na vida econômica, questionando a suposta racionalidade que procederia de uma autoridade superior). Assim, enquanto o mundo real da economia brasileira se movia pelo planejamento descentralizado (tal como era concebido por Hayek a livre concorrência), a gigantesca máquina governamental girava em torno de seu próprio umbigo. Enquanto Lula se divertia com viagens e festas pelo mundo afora, sua azeitada máquina de propaganda operava a pleno vapor, atribuindo-lhe a responsabilidade por tudo de bom que acontecia e creditando os eventuais malefícios ao tucanato e a FHC, este bey de Tunis redivivo.
Mas eis que chega a crise. Acostumado a nada fazer, o atual presidente se vê em apuros com as medidas que os agentes econômicos vão tomando por si sós. Não há como Lula agir, se nunca agiu antes. As viagens pelo mundo são cansativas e Lula não é de ferro. Lula vai assistir à banda passar, dado que pouco amigo do estudo e do trabalho. Quando a percepção popular sobre sua incompetência melhor se caracterizar, o encanto das pesquisas de opinião se esvairá como sonho de uma noite de verão. Este cenário está mais próximo do que podemos imaginar.