Em seu depoimento junto ao juiz Moro, o lobista Fernando
Moura assim respondeu à indagação do MP, sobre quem era o gerente da Petrobrás
que encaminhou a contratação da empresa Hope no esquema do petrolão:
- Só me recordo do primeiro nome; era “Rogério... um
mulatinho”.
Afirmação tão facilmente feita, e tão assertiva, para identificar o responsável pelos contratos fraudulentos, faz lembrar personagem de
Guimarães Rosa - o ladino Sr. Lalinho - aquele que vendeu a esposa para um migrante
espanhol e depois recuperou a prenda, em picaresco episódio ligado à construção
de estrada de ferro em Minas Gerais.
O Sr. Lalinho era um mulatinho velhaco e serelepe,
inimigo de toda sorte de trabalho, porém amigo do violão e de serenatas. Se sua
história fosse vertida em linguagem de desenho animado, ele seria muito bem
descrito nas aventuras do Wood-Wood, o picapau.
“Rogério, um mulatinho”... Que coisa feia, hem rapaz? Nem
bem saiu da senzala e já está enfronhado com os maus costumes dos brancos da
Casa Grande.
Tal menção no depoimento da delação premiada constante da
Operação Lava Jato traz ao crivo da sociedade brasileira um fato curioso. Não se
veem pretos nem mulatos nos trampos que estão sendo desvendados. Só tem
brancos de olhos azuis, europeus ou seus descendentes diretos: suíços, portugueses,
espanhóis, italianos, levantinos e japoneses. Homem de cor somente o mulatinho
Rogério.
Logo, logo, o ministério de assuntos afrodescendentes vai reivindicar
a inclusão de outros mulatinhos, e mulatinhas, nas patifarias do petrolão. Há
que se democratizar a corrupção com as devidas quotas para responder às complexas questões de gênero e etnia. Talvez, isso seja uma forma perversa, mas sem perder a natureza de inclusão social. Quem não quer participar de uma boquinha assim? Locupletemo-nos todos, dizia Millôr, ou instaure-se a moralidade.
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