quarta-feira, 14 de maio de 2008

SOBRE O NEOLIBERALISMO E A DENGUE

A epidemia de dengue que assola o Brasil mostra, hoje, em maio de 2008, uma mortalidade superior à do período de Fernando Henrique Cardoso, que se encerrou em 2002. Àquela época o bravateiro e então eterno candidato a presidente – Lula da Silva – aproveitava a infelicidade popular para imputar ao ministro da Saúde (José Serra, atual governador paulista), a culpa pela doença. Os profissionais da mentira simplesmente diziam que dengue e outras moléstias eram derivadas da “perversa política neoliberal de FHC e do FMI”. À peculiar torpeza de raciocínio que sempre marcou o lulismo e suas linhas auxiliares junta-se, agora, o cinismo dos que não querem assumir as responsabilidades pelos próprios atos e omissões. Relembre-se que, quando alguém do PT ou do PC do B (principalmente este), abria a boca, de cada três palavras proferidas, uma era o fatídico vocábulo “neoliberalismo”. Alguém, nos dias que correm, ouve qualquer referência à “política neoliberal” por parte deles? Só por curiosidade, quais são as atuais imprecações desta turma de fâmulos, tão recheadas de críticas passadas ao neoliberalismo? Como o discurso da “herança maldita” de FHC já não cola mais (apesar de eventualmente aparecer aqui e ali), o lulismo passou a cultivar o “amor aos pobres” numa incrível despolitização, cuja manifestação mais evidente é a recente aliança de Pimentel e Aécio para tentar eleger o prefeito de Belo Horizonte. De fato, Pimentel e Aécio, como se fossem mandarins iluminados, já decidiram o que é melhor para os cidadãos da capital mineira. Escolheram um obscuro empresário aposentado com cara de Chuck (o boneco assassino), para ser o próximo prefeito belorizontino. Dispensaram-nos, assim, do trabalho ou de qualquer esforço no sentido de escolher o dirigente da cidade. Eles já escolheram, tal qual o faziam os generais de outrora, no período militar, quem iria nos governar. Só nos cabe dizer: “sim, bwana! Painho mandou, nós obedecemos! Perfeitamente, meu sinhôzinho!” E da mesma forma que os generais, quanto mais medíocre e mais sem luz própria for o escolhido, melhor. Os generais escolheram, é bom não esquecer, gente como Collor e Maluf, somente para ficar em dois exemplos notórios. Não é que o povo também não tenha votado neles em outros momentos, mas sua escolha pode sofrer alterações e, além de tudo, a soberania popular é inquestionável (até quando o povo opta por Barrabás, como aconteceu em priscas eras na primeira eleição direta da história,, quando o Justo foi preterido pelo bandido).
Para fins de informação geral, é bom saber que o cerne do ideário neoliberal tão malhado em outras épocas (o famoso “Consenso de Washington”), é o ajuste fiscal macro-econômico, com o objetivo de garantir o pagamento da dívida pública que alimenta os gigantescos ganhos dos banqueiros. A forma concreta de operar este ajuste se faz com a elevação do chamado “superavit primário”. Entenda-se este superavit como uma espécie de “poupança” para pagar os juros devidos pelo governo, ou seja, a parcela dos tributos arrecadados, ou do ganho das estatais, que irá encher o bolso dos banqueiros. Para se ter uma idéia do montante deste superavit, autoridades governamentais anunciam sua elevação para o equivalente a 5% do PIB, numa sangria inimaginável dos recursos do Povo brasileiro para abarrotar os cofres da banca. Não por acaso, o apoio político que o atual governo apresenta está ancorado entre os magnatas das finanças nacionais e internacionais. Lula e seus asseclas alardeiam ter pago a dívida do governo com o FMI. Contam isto como se fosse uma grande vantagem. A verdade, no entanto, é o contrário do que dizem. A dívida com o FMI, e outros, era uma dívida de longo prazo, a juros baixíssimos de 3% a 4% ao ano. Trocaram esta dívida externa, que seria extremamente vantajosa para o País (ainda mais com a desvalorização internacional do dólar), por uma dívida interna de centenas e centenas de bilhões de reais (que já ultrapassou em muito a caso do TRILHÃO de reais), e sobre a qual se pagam juros reais de quase 10% ao ano. Os banqueiros evidentemente agradeceram a generosidade. Passaram a, simplesmente, aplicar seus capitais em títulos do governo brasileiro e, assim, ganham o dobro do que ganhavam antes com empréstimos oficiais. E a cada entrada de mais dólares, o governo é obrigado a esterilizá-los pela emissão de mais e mais títulos da dívida pública (com o objetivo de evitar a subida da inflação). A internalização da antiga dívida externa obriga o governo a ampliar, crescentemente, a carga tributária para poder dar conta das obrigações financeiras contraídas pelo Banco Central. É um gigantesco processo de extração e acumulação de capital nas mãos dos banqueiros, em aliança com a “nova classe” de ex-sindicalistas gestores de fundos de pensão e outros negócios financeiros. Não satisfeitos com os ganhos em alta escala (com os títulos do governo), este bloco de poder (financistas nacionais e internacionais mais os sindicalistas travestidos de “banqueiros anarquistas”), passaram a operar com outra modalidade de expoliação – o crédito consignado – atingindo agora pequenos mutuários, aposentados e pensionistas. Quer dizer, além do elefante que é o Estado, implementaram um vasto processo de extração de sangue de pulgas. São necessárias milhões destas para encher um copo de sangue, com certeza. É um vampirismo na mais pura acepção do termo pois suga o sangue e a vitalidade dos mais débeis e mais fracos.
Paralelamente ao ajuste fiscal, o ideário neoliberal preconiza outras medidas (que foram adotadas, aliás, desde o governo Collor), como a abertura comercial para o exterior, a privatização das empresas estatais e a implantação de “políticas compensatórias” (traduzidas em ações como as famosas bolsas-esmolas), estas para amenizar os efeitos daquelas restrições fiscais e outras. De uma certa forma, Lula conseguiu tornar real o projeto político de Collor (a aliança entre os “descamisados” e as elites), incluindo agora o vasto aparelho sindical e sua miríade de organizações não governamentais, todos vivendo parasitariamente da inesgotável cornucópia de onde jorram os recursos públicos. Um marciano que, por acaso, observasse os acontecimentos no Brasil se espantaria com a vitalidade do processo de produção capitalista. É uma façanha notável, com efeito, fazer funcionar uma estrutura produtiva com tantos gigolôs mordendo uma parte do que foi produzido, por anos e anos sem fim. A sociedade brasileira é algo digno de merecer um estudo, mais antropológico que econômico, para entender o milagre de sua sobrevivência no tempo. Como explicar uma sociedade onde uma minoria trabalha, investe e produz para alimentar um exército parasitário de reserva incalculável, composto de banqueiros, burocratas, aparelho repressivo e judiciário, bem como políticos, ONG’s, sindicatos e toda uma vasta gama de comensais improdutivos devotados a um consumo cada vez mais desbragado?
Voltando à questão inicial sobre a presente epidemia de dengue, os homens de Lula querem atribuir a responsabilidade por sua eclosão ao próprio povo brasileiro. Ou, como declarou uma autoridade sanitária a respeito- o Dr. Temporão: “A sociedade como um todo falhou, pois não avaliou a possibilidade concreta do que poderia acontecer. Todas as instâncias do Sistema Único de Saúde negligenciaram o problema”. Chega-se ao requinte de dizer que a epidemia em causa é fruto da ampliação do consumo entre os pobres. Estes estariam produzindo mais lixo e viajando mais pelo mundo afora, possibilitando com isto a ampliação das oportunidades de contaminação das pessoas. O Conselheiro Acácio diria que o mal de Alzheimer se deve ao incremento do número de velhos. Maior número de idosos implicaria em maior número de dementes senis, claro. Portanto, para impedir isto bastaria não deixar o povo envelhecer, matando-o antes.
Quer dizer, os bilhões e bilhões de reais gastos anualmente na gigantesca estrutura destinada a cuidar das doenças da população – pois da Saúde é que não cuidam – não tem nada a ver com o problema. Luis Inácio, o que nunca sabe de nada, nunca viu nada e nunca se responsabiliza por nada, parece ter introduzido na vida nacional uma nova pauta. Se a população está doente, a culpa é dela. O Ministério da Doença (este verdadeiro cartório) tem como objetivo real criar oportunidades de negócios para os amigos e associados e, não, para ficar aí se preocupando com probleminhas do cotidiano das pessoas comuns. Pois não há aqueles que vivem do negócio da morte - funerárias, crematórios, cemitérios etc.? Porém, antes da despesa final do cliente (quando ele entrega a alma ao Criador), há que se extrair algum suco deste osso, e é para isto que serve a estrutura cartorial médica. Oh! Temporão! Oh! Costumes! Temos, hoje, um ministro da doença (ele diz que é da saúde), inepto e ressentido cujo único objetivo é fazer um acerto de contas com o prefeito do Rio de Janeiro, que o demitiu anos atrás por incompetência. Em revide à justa demissão sofrida, tenta jogar nas costas da prefeitura carioca os custos de uma política de saúde da qual ele e seus amigos são os grandes culpados, os grandes responsáveis. A ausência de uma oposição de verdade impede que a população perceba o buraco em que está enfiada e o logro a que está submetida. A única força política partidária que se posiciona como oposição é o DEM, mesmo assim com severas restrições. Os tucanos, estes falsos oposicionistas sempre de salto alto, no fundo, no fundo, não passam de petistas de fraque e punhos de renda. Ou o contrário, também se pode dizer: os petistas não passam de tucanos de macacão (para tomar emprestada a célebre comparação feita por Brizola entre o PT e a UDN de triste memória). Qual a diferença, por exemplo, entre Artur Virgílio (líder do PSDB no Senado), e a pavorosa Ideli Salvati (líder do PT) na mesma Casa? Talvez o ilustre senador amazonense seja mais delicado de trato que aquela horrenda senhora. Ambos são face da mesma moeda, versões contemporâneas do médico e do monstro. Um eventual cruzamento entre eles – num deliberado incesto de irmãos de fé – produziria o ser monstruoso que o futuro aguarda – um petecano de carne e osso.

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