Márcio Lacerda, candidato a prefeito de Belo Horizonte - um verdadeiro Tio Patinhas, tal sua fabulosa fortuna - também se coloca politicamente como um daqueles que combateram a ditadura militar. Chega ao requinte de acrescentar que "conhece Pimentel (atual prefeito da capital) há mais de 40 anos, quando lutaram juntos contra a ditadura pela volta da democracia no Brasil". Insinuando cruel perseguição movida contra ele pelos milicos, não pôde arrumar um bom emprego para se sustentar, tendo que se conformar em ser um simples estagiário da antiga Cia. Telefônica de Minas Gerais. Mas ele percebeu que isto não era tão ruim como podia parecer a uma primeira vista. Seguindo famoso conselho dado por Delfim Neto naquele tenebroso período, que pontificava : ("se eu fui estagiário da Gessy-Lever e cheguei a ministro, qualquer um pode fazer o mesmo"). Márcio Lacerda, talvez por também ser economista e captar competentemente as lições do balofo ministro, viu que os milicos eram duros mas podiam ser amaciados. Lulinha da Silva, nos dias atuais, parece que resolveu seguir a mesma recomendação de Delfim Neto. De simples estagiário no zoológico de São Paulo, durante o mandato da Dona Marta Suplicy, o jovem empreendedor já virou promissor empresário durante o mandato do generoso pai (e, por coincidência, navegando nas mesmas águas onde já havia navegado o Lacerda, ou seja, no ramo da telefonia). É verdade que nos tempos em que Márcio Lacerda se estabeleceu - e construiu alianças com os milicos que mandavam nas empresas de telefonia brasileiras, que eram todas estatais - qualquer fornecedor (ou parceiro, como se diz hoje), tinha que passar pelo crivo político dos generais. Ou será que não tinham? Se não tinham, então esta história de perseguição foi uma lorota, simples propaganda enganosa. Lulinha da Silva, fez melhor. Aliou-se com empreiteiros que controlavam a Telemar (atual Oi), e que, por extraordinária coincidência, também são os maiores contribuintes das campanhas de Lula pai, e virou sócio da Telemar. Este parece ser mais esperto que Márcio Lacerda. A continuar neste ritmo vai ter uma fortuna, nos próximos anos, superior à do pobre estagiário de Belo Horizonte.
Em todo caso, justiça seja feita: a ditadura militar fez bem aos negócios de Márcio Lacerda. Se ele tivesse entrado num emprego público, ou em alguma burocracia privada, talvez não fosse, hoje, mais que um sujeito de classe média, tipo funcionário público aposentado reclamando do governo e querendo fazer alguma greve ou manifestação contra os neoliberais de plantão. Sua sorte, ou esperteza, ou convenientes relações comerciais foi se estabelecer e, graças à sua "capacidade de liderar equipes e sua visão moderna e inovadora" levar "uma pequena empresa a se tornar uma das maiores de Minas e do Brasil", conforme rezam seus coloridos comerciais espalhados por toda Belo Horizonte. Mais rico que Maluf - que sempre teve fama de ser serviçal dos militares e capacho da ditadura - Márcio Lacerda é um exemplo de que se pode defender o socialismo e a revolução e, ao mesmo tempo, se tornar um nababo. Aliás, pelos exemplos de outros considerados "subversivos" daqueles tempos (como o lobista José Dirceu e a turma do mensalão), só os tolos não perceberam que combater verbalmente os generais (e por baixo do pano fazer bons negócios com eles), era a grande sacada, o verdadeiro mapa da mina. Estão aí as gordas aposentadorias especiais, as polpudas indenizações e outras sinecuras propiciadas pelo regime lulista da silva.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
A ditadura militar: quem se beneficiou?
Hoje já se tornou uma sólida tradição falar mal da ditadura militar, que vigiu no país entre 1964 e 1985, como estratégia para obtenção de votos em qualquer eleição que se apresente, municipal, estadual ou federal. Os generais daquela época, a maioria já morta e enterrada, sofrem assim como o antigo Bey de Túnis sofria sob a pena de Eça de Queiroz. Na falta de assunto para preencher um artigo que lhe era cobrado, o grande romancista e cronista português sacava do bolso do colete um tema infalível: baixar o cacete no tal Bey (título nobiliárquico do dirigente muçulmano da cidade de Túnis, algo equivalente ao título de Scheik, de Xá ou de Califa). Como a referida figura era detestada por todo o mundo civilizado, fazer-lhe toda e qualquer crítica era garantia de boa recepção por parte dos leitores.
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