terça-feira, 2 de setembro de 2008

A meu pai

Nascido em 12 de abril de 1923, e falecido em 26 de agosto de 2008, era meu pai - Ephigênio de Oliveira Carvalho - a resultante de uma mistura de panteismo com ceticismo. Ensinou-me a ler Augusto dos Anjos e o grande poeta persa Omar Khayyán, cuja Rubaiata 161 segue abaixo. Creio que ele gostaria que tais versos lhe fossem dados por epitáfio.


Rubaiata 161

"Não só aqueles
que a velhice colheu,
como aqueles
que só conheceram
a juventude,
um a um foram partindo
mal haviam chegado.

Ninguém cria raízes
neste mundo enganador...

Uns partiram,
partirão os demais.

E os outros que estão para chegar
partirão também".

Seu talento como sonetista brindou-nos com uma das mais vívidas descrições do processo político brasileiro. No soneto denominado "3 de outubro" (data em homenagem ao dia no qual se realizavam as eleições após 1930), dizia ele, em 1960:

Ei-los vendilhões da Pátria escravizada,
Ei-los a disputar a marmita e a gamela.
Imorais fariseus arautos da embrulhada,
A preparar ao povo a cangalha e a sela.

E este povo infeliz que tomba na esparrela,
Que não compreende a fraude nem entende nada,
Não vê que esta canalha a própria pança zela,
E quer ver a caveira à plebe degradada.

No fim da apuração o eterno resultado
(Que desde oitenta e nove a nação avassala),
Levando ao poder o patife e o tarado.

C'o ajuda do eito vil e c' os votos da senzala,
Caco se elege e Ali-Babá é deputado,
Numa competição de rifa e de cabala.

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