Um novo laboratório localizado em São Paulo criará
“minicérebros” para ajudar no tratamento personalizado de pacientes com
autismo.
Inaugurado neste sábado (24), a startup de
biotecnologia Tismoo é uma parceria entre o biólogo molecular Alysson Muotri,
da Universidade da Califórnia, e a professora Patrícia Beltrão Braga, da USP.
Eles pretendem, por meio da análise genética dos pacientes, obter um tratamento
mais certeiro para a doença.
De acordo com Muotri, o laboratório é o primeiro do
tipo no mundo. O passo inicial do tratamento é fazer a análise genética
detalhada de cada indivíduo ou família, e detectar a mutação que causou o
autismo. Ele defende que a técnica, em alguns casos, seja feita pelo menos com
o pai, mãe e filho -- no caso de o casal desejar um segundo filho, isso é
importante.
O segundo passo é analisar a mudança nos genes e
mapear os tratamentos possíveis. Boa parte das mutações não está catalogada,
por isso o laboratório irá rastrear na literatura médica tudo o que está em
fase de pesquisa.
O último passo é o dos “minicérebros”. Com o mapa
genético do paciente em mãos, é feita uma reprogramação celular por meio de
células-tronco e são criados esses "minicérebros" com a genética do
autista. São pequenas estruturas de neurônios que recriam em certa medida o
funcionamento cerebral. Desta forma, é possível testar quantos medicamentos
forem necessários para o tratamento.
Mas o "minicérebro" não tem uma estrutura
completa e não é um cérebro em miniatura. Ele não tem consciência, mas simula
de forma rudimentar o tipo de organização que existe no cérebro humano.
A vantagem de usar "minicérebros" em
laboratório é que eles crescem como culturas de células e formam naturalmente
uma estrutura em camadas – similar à que existe no córtex, a superfície do
cérebro, responsável pelo processamento mais sofisticado de informações no
sistema nervoso.
Possuindo tamanho médio em torno de 30 micrômetros
— largura de um fio de cabelo de bebê – essas estruturas são maiores que os
grupos isolados de neurônios em cultura de células bidimensionais. É possível,
assim, medir os impulsos elétricos que trafegam por essa estrutura e verificar
se estão ocorrendo de forma normal.
“Você pode criar 100 ou 200 'minicérebros', gerados
a partir de células-tronco. E com isso pode testar 100 drogas ao mesmo tempo, o
que é uma coisa que jamais um médico conseguiria em um ser humano”, explicou
Muotri.
Por enquanto, o laboratório deverá focar no tratamento de autismo. Muotri diz que, no futuro, devem expandir para outras síndromes.
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