quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Belo Horizonte: todo o poder aos empreiteiros


Do conúbio perverso entre a voracidade e os governos nasceram os empreiteiros. Estes, filhos devotados aos pais, nunca deixaram de prestar-lhes as devidas homenagens com a generosa abertura da sua fornida cornucópia. De maneira vagamente assemelhada com os empresários comuns (que buscam atentamente oportunidades de negócios, com um olho no mercado e outro na concorrência), os empreiteiros têm aqui, claramente definido, um aspecto que marcará sua natureza: diferentemente dos verdadeiros empresários privados, os empreiteiros, na prática, só negociam com o governo, seu único cliente, quer seja no âmbito municipal, estadual ou federal. 

As operações conduzidas pela justiça e pela polícia, em especial a chamada Operação Lava-Jato, escancarou os subterrâneos onde se movem os empreiteiros. A ousadia dessa gente é simplesmente inacreditável. Um dos mais audaciosos dos empreiteiros (Marcelo Odebrecht) chegou a criar um específico departamento para gerenciar as propinas e capilés, com os quais alimentava a cobiça dos políticos, do Brasil e de outras plagas. O corruptor sabia que tal cobiça, universal segundo também denuncia a Palavra, é igual ao abismo e igual ao inferno: nunca se satisfaz. 


Tal conduta deletéria não se restringe, porém, aos grandes empreiteiros. Os ratos são ratos, independentemente do seu tamanho. A grande imprensa não se cansa de apontar exemplos dessa rede corruptora que se espraia do norte ao sul e do leste ao oeste. Apesar do pendor cleptocrático dos   governantes e da burocracia pública, sempre houve uma espécie de "ética" entre estes e os empreiteiros; os governantes, bem ou mal, governavam e os empreiteiros ficavam no seu pedaço, a distribuir os pixulecos que sustentavam e acalmavam aqueles. O mecanismo era simples. As propinas não passavam de custos a serem embutidos no preço final de qualquer obra ou serviço prestado. Por isso o espanto quando se tem notícia de empreiteiro que faliu. Empreiteiro falido é um oxímoro
: se é empreiteiro não é falido; se é falido não é empreiteiro. Empreiteiro falido, somente com fraude.

Imagine-se, agora, um empreiteiro, como Marcelo Odebrecht (o corruptor-mór da República), postulando a presidência do Brasil, ou um Léo Pinheiro se credenciando a governar São Paulo. Seria tão chocante quanto botar o bicheiro Carlinhos Cachoeira na chefia da Polícia Federal. Ou designar Fernandinho Beira Mar para uma delegacia de tóxicos.    


Em Belo Horizonte, contudo, um desses paradoxos corre o risco de se viabilizar. Um empreiteiro está na disputa da prefeitura. Esse exotismo dos mineiros pode ser a senha acenada aos plutocratas do país. Chega de políticos, como diz Kalil? Não. Chega de intermediários entre os empreiteiros e os cofres públicos. Os lucros da turma aumentarão. O sindicato dos patrões das obras públicas esfrega as mãos de alegria. Kalil, quem sabe, até traga um resultado socialmente desejável. Talvez, passe a pagar seus tributos municipais, coisa que ele evita fazer, fugindo do fisco como o diabo foge da cruz. 



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