quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Marina Silva e o efeito "Jô Morais"

O experimento eleitoral de Belo Horizonte pode se repetir em escala ampliada nas próximas eleições presidenciais. Vejamos as similitudes entre a situação local e a nacional. Inconformada com a escolha autocrática feita pelo então prefeito petista Fernando Pimentel (que impôs ao seu partido o nome de um estranho no ninho, o obscuro Márcio Lacerda), a chamada esquerda petista embarcou na candidatura de Jô Morais, medíocre deputada federal do PC do B. Márcio Lacerda era uma espécie de dona Dilma, a candidata chapa branca de Lula da Silva. Ambos sem luz própria e sem votos, verdadeiros bonecos de engonço nas mãos de seus patrocinadores. Com uma poderosa máquina administrativa nas mãos (após 16 anos de poder), o então prefeito Pimentel moveu céus e terras e, principalmente, vultosos recursos para alavancar seu candidato (vale à pena lembrar aqui o peso de empreiteiras como a Andrade Gutierrez na execução de obras na capital mineira bem como dos remanescentes ocultos do mensalão, não o mensalão mineiro, mas o mensalão mesmo, o suculento esquema federal cuja gênese está em Belo Horizonte).

Nos momentos iniciais da campanha a turma que apoiava Jô Morais chegou, até, a acreditar na possibilidade de vitória. Afinal, a deputada era mulher, de esquerda, estridente, nordestina e outros qualificativos usuais vistos como positivos pelos adeptos de seu denominado "campo político". Mais importante, a candidata apresentava índices expressivos de intenção de voto nas pesquisas publicadas na primeira fase do processo de disputa. Na medida que a campanha avançava, ela foi se desidratando e findou a jornada com pouco mais de 5% dos votos (vale lembrar aqui a advertência de César Maia no tocante ao desempenho eleitoral de candidatos monotemáticos). No segundo turno, claro, as bases sociais e operativas dos dissidentes do postulante oficial (que apoiavam Jô Morais), voltaram ao redil costumeiro, com exceção de uns gatos pingados sem qualquer expressão eleitoral (inclusive a própria deputada e os áulicos comensais da mesa do vice-presidente José Alencar). Por baixo do pano lideranças expressivas do PT histórico se moveram em envergonhado apoio à deputada, porém, nem o apoio de Patrus Ananias, nem o de Luiz Dulci, resultou em grandes benefícios à candidata que teve uma "entrada de leão e uma saída de cão".

Na hipótese de um eventual segundo turno eles se ajuntam tudo de novo, tal como fizeram para enfrentar o adversário de Márcio Lacerda em Belo Horizonte, à época o deputado federal Leonardo Quintão, do PMDB. Brandindo o velhíssimo discurso stalinista de "campo político", os grupos que apoiavam Jô Morais desencadearam a mais sórdida campanha contra o deputado Quintão e abraçaram - agora, docemente constrangidos - o obscuro e suspeitíssimo Márcio Lacerda, ponta de lança da parcela do mensalão destinado a Ciro Gomes e tocador de uma das obras mais nefastas do período Lula da Silva: a transposição do Rio São Francisco. A engenharia do projeto continuista para o próximo ano parece que seguirá o mesmo roteiro da experiência belorizontina. Afinal de contas, o sucesso da empreitada mostrou sua viabilidade além de indicar os pontos fracos da estratégia adotada. Ou alguém imagina que os malucos do MST, que devem apoiar uma eventual candidatura Marina Silva, iriam votar num nome do PSDB, do DEM ou do PMDB no segundo turno da eleição presidencial?

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