sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Marina, essa negra Fulô

Na campanha de 1982, no Rio de Janeiro, Leonel Brizola foi protagonista de uma das suas mais hilárias intervenções em disputas eleitorais. Participando de debate com os demais pretendentes ao governo carioca – Moreira Franco, Miro Teixeira e Sandra Cavalcanti – Brizola interpelou Moreira Franco com uma observação ferina. 

Moreira - a Dilma de então - fazia 1.001 promessas: faria isso e aquilo para tudo e para todos. O velho caudilho gaúcho então lhe disse: “se tu prometeres dar também casa, comida e roupa lavada, até eu votarei em ti”. A debochada frase deixou o então candidato do PDS (sucessor da ARENA), coberto de ridículo sem ter como replicar. A plateia e os telespectadores caíram na gargalhada.

Marina Silva bem podia utilizar a mesma tática. Em algum próximo debate com dona Dilma, onde esta certamente vai desfiar habitual e tedioso rosário de promessas, Marina poderia dizer que se Dilma garantir que, além de casa, comida e roupa lavada, a roupa ainda será passada e engomada, receberá na hora o seu voto. Se houver tal garantia, Marina poderia dizer que renuncia à sua candidatura à presidência, tornando-se incontinenti entusiasmada apoiadora da madame Rousseff.

Madame Dilma tem o estopim curto e nenhum senso de humor. Não resiste a um golpe de ironia, esta milenar arma dos fracos, mortal contra os poderosos. Todo o país já se apercebeu do jeitão truculento da candidata à reeleição. Acostumada ao estilo façanhudo próprio da Casa Grande, não consegue tolerar qualquer discordância emanada de subalternos e, muito menos, quando vinda da Senzala. 

Marina é a mulatinha atrevida que ousa divergir da sinhá e ameaçar-lhe a posse de seus bens, seus amores. Fossem outros os tempos, correria o risco de ter os dentes quebrados a golpes de tamanco (como não era incomum nos tempos da escravidão), remédio infalível para domesticar mulheres de cor, metidas a Negra Fulô.

O grande poeta alagoano Jorge de Lima, visionário como todo artista, anteviu o conflito entre Dilma e Marina, em seu formidável poema Negra Fulô. O ódio de Dilma tem justificativa. A negra Fulô está a um passo de derrotar a branca sinhá.


Nenhum comentário: