"Realmente o governo
brasileiro não dá a mínima para o Brasil. Interessa-lhe única e exclusivamente
a plataforma de poder, a máquina para fazer política, assegurar empregos e
outros que tais cujos detalhes o fim da fase do segredo de Justiça poderá
esclarecer.
Tivessem algum
apreço pelo País, a presidente Dilma Rousseff e os que a cercam teriam pensado
duas vezes (ou quantas fossem necessárias) antes de levar um discurso de cunho
partidário à abertura da Assembleia-Geral da ONU, evitando também no campo
internacional a proposição de "diálogo" com gente que não conversa,
degola.
À presidente da
República não parece ter ocorrido nem por um minuto que estaria ali na
representação de um País e seu posicionamento no mundo. Foi à Organização das
Nações Unidas com o mesmo espírito com que se dirige a um encontro do PT, à
biblioteca do Palácio da Alvorada, ao canteiro de obras do Rio São Francisco ou
onde grave sua participação no horário eleitoral da televisão ou recite a
cantilena sobre a história do partido que salvou o Brasil.
Ainda que fosse
tudo verdade, que tudo caminhasse àquelas maravilhas por ela contadas, que o
dito combate à corrupção não se expressasse em repetidas operações
"abafa", que o País tivesse sido inventado há 12 anos, não caberia à
presidente aproveitar-se da tribuna da ONU para produzir cenas às câmeras de
João Santana.
Não é bom nem
imaginar qual terá sido a avaliação dos chefes de Estados ali presentes diante
de uma presidente exclusivamente concentrada em enaltecer a si de maneira
provinciana e, sobretudo, sectária na medida em que não falou como porta-voz do
Estado brasileiro, uma instituição permanente, preferindo se colocar como
porta-bandeira de uma corrente partidária em episódio transitório que se
encerra dentro de um mês.
A presidente já havia
deixado de lado a compostura quando chancelou o uso da mentira na campanha e
aceitou vocalizar indelicadezas contra uma adversária. Na ONU, não desencarnou
da candidata. No dia a dia, deixou em segundo plano suas funções. Ocupada com
seus afazeres eleitorais, há tempo não recebe embaixadores que esperam para
apresentar suas credenciais a fim de exercer a representação dos respectivos
países. Já são 28, noticia O Globo.
Poderia até ser um
exemplo menor, mera falta de cortesia, se o constrangedor discurso nas Nações
Unidas não tivesse deixado patente que o governo brasileiro só tem olhos e põe
realmente as mãos à obra quando o assunto é eleitoral.
Falo, não faço. A displicência com que o ex-presidente Lula
trata o convite da Polícia Federal para que deponha como testemunha em um dos
inquéritos ainda restantes do mensalão não combina com a maneira incisiva com
que a presidente Dilma vem abordando a questão do combate à corrupção.
O assunto entrou na
campanha depois do acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo
Roberto Costa. Desde então, a presidente tem acentuado que os governos do PT
foram dos mais combativos e mais ativos na criação de controles. Segundo ela,
só há tantos escândalos porque a corrupção passou a ser combatida.
Ocorre que desde
fevereiro a PF tenta sem sucesso ouvir Lula sobre uma denúncia feita por Marcos
Valério de Souza a respeito de um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para
o PT. O advogado Márcio Thomaz Bastos posterga o depoimento e Lula trata o tema
com ironia. "Só se você me convidar", respondeu à jornalista que o
indagou a respeito nesta semana.
Como não está
intimado, não é obrigado a comparecer. Paulo Okamoto, um de seus assessores,
diz que depois das eleições "talvez" o ex-presidente compareça. De
onde se conclui que a disposição para colaborar com o combate à corrupção não é
ampla, geral e muito menos irrestrita. Tem seus limites".
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