DESGASTE DOS POLÍTICOS: PROXIMIDADE E INTIMIDADE! (Cesar Maia)
1. A aproximação dos políticos da população passa por etapas,
sendo todas cumulativas. A proximidade pessoal; a proximidade em comícios; a
proximidade por acompanhar nas ruas a movimentação eventual deles; a
proximidade através de desenhos em cartazes; a proximidade através das
fotografias; a proximidade por panfletos, textos e livros; a proximidade pela
voz através do rádio; a proximidade nos cinemas via cinejornais; a proximidade
pela TV em tele-noticiário e entrevistas; a proximidade pela TV em tempo real;
e a proximidade diversificada através da internet.
2. Nas primeiras etapas, a "distância" mitificava
os políticos e atraía por curiosidade e não apenas pelas ideias e opiniões. A
proximidade crescente vai produzindo intimidade em graus diversos. Se pode
avaliá-los por um leque de razões, que passam pelo comportamento, pela vida
pessoal e pelas opiniões. Quanto maior o grau de intimidade mais amplas as
informações para avaliações.
3. As responsabilidades dos políticos pelos problemas
enfrentados pelas pessoas se torna direta pela maior intimidade. As pessoas têm
seu raio de intimidade que, quando ultrapassado, gera incomodidade e
desconforto. A proximidade virtual dos políticos leva as pessoas a serem mais
críticas em relação a eles.
4. Numa conjuntura adversa em que a taxa de insegurança em
relação ao presente e ao futuro aumenta muito, a intimidade dada pela TV e pela
internet exponencializa o desconforto e a incomodidade em relação aos que as
pessoas acham responsáveis. A proximidade aumenta em muitas vezes o
multiplicador da rejeição, pois a opinião se difunde de forma muito, muito mais
veloz. É verdade também que o contrário produz paixão e popularidade.
5. A velocidade de reversão da paixão à rejeição pode até ser
quase instantânea nos dias de hoje. Por isso o cuidado que devem ter os
políticos num ambiente adverso. A tentativa de reverter uma avaliação negativa
através de exacerbar a proximidade e a intimidade pode ter consequências fatais
e definitivas.
6. É como se entrasse no seu raio de intimidade alguém que
você odeia, o que gera reações semelhantes a um animal acuado. É
semelhante a um odor desagradável que alguém impõe proximidade a você. A
reversão radical da popularidade não é fato incomum na política, especialmente
quando as pessoas se sentem enganadas, como no Plano Cruzado, no curralito
argentino, na adesão de Blair a guerra do Golfo, ou agora entre nós, no
- digamos - Plano Dilma.
7. O caminho escolhido por Dilma e sua equipe nos últimos
dias tem sido buscar uma superexposição, escolhendo cenários e discursos
- diários para a TV. Provavelmente as TVs têm sido contatadas pela equipe
presidencial para essa cobertura diária, em nome da estabilidade. E não tem se
furtado a doar quase diariamente um bloco/palco para Dilma. O resultado será
agravar a rejeição a ela. Se as pesquisas fossem além dos porcentuais e
alcançassem sentimentos, se poderia mensurar a rejeição qualitativa.
8. Jacques Seguelá, publicitário, assessor de imagem de
François Mitterrand, num capítulo do livro "Em Nome de Deus”, sobre a
curva positiva de popularidade de Mitterrand, aconselhava intermitência e
lembrava que a exposição "ao sol", contínua, de um presidente traz
queimaduras e a superexposição, queimaduras de até terceiro grau que afetam
definitivamente a saúde política do presidente. Dilma e equipe escolheram se
expor ao sol excessivamente. Uma escolha desastrosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário