quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A OAB e o Bey de Túnis


Eça de Queirós nos conta a história de seu comércio pessoal com o Bey de Túnis. Segundo o notável romancista português, quando faltava assunto para crônica que lhe fora encomendada, não tinha dúvida: sacava do bolso a figura da repulsiva figura que tiranizava a velha cidade do norte da África, e sentava-lhe o pau! Era batata. Em poucos minutos preenchia as linhas necessárias, e sua obrigação estava cumprida. É um truque antigo, portanto, criar um inimigo ou adversário que esteja colocando em risco alguma coisa importante - a paz ou a democracia, por exemplo - para, em seguida, postar-se frontalmente contra esse que patrocina a ameaça. 

O atual presidente da OAB nacional deu uma de Eça. Em suas justificativas para apoiar um manifesto de empresários comensais do erário, o ilustre causídico apontou o dedo para os militares, que estariam – segundo ele - querendo implantar, de novo, uma ditadura militar no Brasil. De onde sua excelência tirou tamanha tolice? Militares, hoje, não têm coragem, sequer, de andar fardados pelas ruas. Estão mais interessados na intendência (salsichão e alho, dizia Marx), e nos seus brinquedos de guerra de alta tecnologia. Outras ameaças - essas sim, reais, à democracia - estão assentadas ao lado da direção da OAB. Milícias armadas travestidas de "movimentos sociais" praticam e defendem condutas que em qualquer país civilizado seriam taxadas como terroristas. Para estes que verdadeiramente ameaçam a Constituição, a voz do presidente da Ordem é um leve, quase inaudível, cicio. 

Faz sentido tal postura. A velha entidade de Faoro devota-se, agora, mais em agir como broker para filtrar pretendentes às vagas nos tribunais superiores, que ser a voz concentrada dos inumeráveis juristas do Brasil.

Por qual razão a OAB afirma que "mudanças, respeitando-se a Constituição, se fazem necessárias?" Isso é de uma obviedade que dispensaria ser enunciado. É um axioma que não merece lembrança por parte de ninguém. A menos que os que assinaram a tal carta à nação saibam o que corre nos subterrâneos dos palácios, lugares onde circulam com ampla desenvoltura, e foco de articulações totalitárias, a começar por convocação para a luta armada, conforme explicitou o presidente da CUT.

Em sendo assim, cabem desculpas a esses patriotas (os presidentes de algumas confederações mais o presidente nacional da OAB), desejando-lhes sucesso e que continuem a alertar o país dos riscos que a democracia brasileira está sofrendo no desgoverno do PT e seus fâmulos.

Nenhum comentário: