sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Imprensa é oposição (em homenagem a Millôr)

Dona Dilma e o PT resolveram provar que possuem algum senso de humor: criaram o dia do humorista (por sugestão, não podia ser outra, de deputado petista do Ceará). A partir de agora, todo 12 de abril será comemorado efusivamente. Todo mundo terá que dar gargalhadas, ao estilo do que se faz na Coréia do Norte. Ai de quem ficar triste... A decisão mostra o tamanho do latifúndio da estupidez reinante. Ponto a favor de Patrus Ananias que vem defendendo a tese da continuidade do latifúndio no Brasil. Patrus tem razão. Ele mesmo é um dos maiores latifundiários da pátria.

Essa gente esquisita não sabe que humor é sempre do contra, não tem como ser enquadrado numa moldura oficial. Só na antiga União Soviética havia humor a favor, A revista Crocodilus era o veículo que, junto com "A Verdade", informavam e divertiam o grande público, com bons modos e respeito, evidentemente. "A Verdade" é a tradução da palavra russa Pravda. A bem da real verdade, nem precisaria haver a tal revista. O jornal porta voz de Stalin já cumpria sua missão duplamente, a começar do título.

Em sua obra "Os órfãos de Jânio", Millôr Fernandes cunhou uma de suas frases definitivas: "Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados". A formidável ironia do grande pensador brasileiro carece de ser sempre, lembrada. Os tempos de hoje estão carregados de obscurantismo. Só a ironia, a formidável arma de toda a história humana, permite apontar o bunda exposta do rei.

A ironia, afinal, “foi, em todos os tempos, o caráter do gênio filosófico e liberal, o selo do espírito humano, o instrumento irresistível do progresso. Os povos estagnados são todos sérios: o homem do povo que ri está mil vezes mais perto da razão e da liberdade que o anacoreta que reza ou o filósofo que argumenta. Ironia, verdadeira liberdade, és tu que me livras da ambição de poder, da servidão dos partidos, do respeito pela rotina, do pedantismo da ciência, da admiração pelos grandes personagens, das mistificações da política, do fanatismo dos reformadores, da superstição desse grande universo e da adoração de mim mesmo”. 

Nestas “Confissões de um Revolucionário”, Proudhon nos ensina um dos caminhos possíveis para a libertação espiritual. A história humana está recheada dos mais acabados exemplos do uso da ironia: Diógenes, Rabelais, Padre Vieira, Marx e Darcy Ribeiro, para ficar tão somente em alguns ícones do pensamento mundial. Isto para não se referir a Borges e ao maior de todos eles, Jonathan Swift. Em sua Proposta Modesta ele garante que “uma criancinha sadia e bem amamentada é, com um ano de idade, um alimento dos mais deliciosos, nutritivos e saudáveis, quer ensopada, assada ou cozida e, não tenho dúvidas, que ela poderá também ser preparada como fricassé ou ragout”.  Os latifundiários da estupidez não precisam se preocupar. Swift não era canibal, apesar da tentadora sugestão.

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