domingo, 4 de janeiro de 2015

A posse de dona Dilma

A posse de dona Dilma mostrou aspectos singulares. O primeiro deles foi a ausência de povo na solenidade. Visíveis, apenas os gatos pingados dispersos na imensidão do planalto. Nem mobilizando sua vasta e dócil clientela (tangida a tubaína e a pão com salame, além de uns trocados para ajuda de custo), o governismo conseguiu ocupar a Esplanada dos Ministérios. A comemoração mostrada pelas TV's parecia, antes, o fim de um périplo, que a marca do início de novo mandato. As festas universais comemoram o nascimento, o casamento e a morte. A do último dia primeiro de janeiro de 2015 tinha inegável cheiro de velório.

No multitudinário ministério dilmista - mais de três dúzias - duas ausências de faziam notar: negros e mulheres. Entre os primeiros, apenas dois - vá lá que sejam três - poderiam ser assim classificados: a ministra das questões raciais, o ministro do Esporte e a ministra dos direitos humanos (aceitando-se os pardos e mulatos como parte da comunidade negra). 

Nem dá para se discutir o padrão de competência dos escolhidos, posto que o centralismo patológico de dona Dilma afasta antecipadamente qualquer um que tenha luz própria. Um grupo bisonho como o dos auxiliares da madame dificilmente se verá outro igual. Chama a atenção a presença da Democracia Socialista no coração do governo. A DS é a tendência petista pelas mãos da qual dona Dilma entrou no PT, logo após sair do PDT para manter a boquinha no secretariado gaúcho, nos já distantes tempos do governo Olívio Dutra. Brizola, aliás, se equivocou mais uma vez por considerar a trairagem de Dilma equivalente ao ganho de um simples prato de lentilhas. A troca de partido gerou, de fato, resultados muito mais substanciais.  

Mulheres, apenas meia dúzia, a maioria em cargos mais decorativos e simbólicos, servindo tão somente para dar uma pitada de feminismo naquele antro de machos truculentos e bigodudos. 

A velha fábula a respeito da roupa do rei foi invocada, involuntariamente, por uma criança que acompanhava, atenta, os festejos oficiais. No momento em que dona Dilma era homenageada, com os salamaleques de praxe, pelos dirigentes estrangeiros (a maioria cucarachas latinos e africanos), somente os brancos recebiam uma ou duas bicotas da madame. As africanas e os africanos eram mantidos à distância, parecendo não merecer assim o dar e o receber o ósculo presidencial. Com relação aos poucos xeques anônimos - com seus esfuziantes mantos salpicados de dourado - representantes das realezas misóginas do oriente, ainda dá para entender; esse negócio de beijo só vale se for entre machos, na mais pura tradição muçulmana. Quem tiver dúvidas a respeito dos fatos acima relatados, basta recorrer às imagens disponíveis da cerimônia oficial.  



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